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3. TRIBUTO, NORMA JURÍDICA TRIBUTÁRIA, FATO JURÍDICO-TRIBUTÁRIO

3.3. O FATO GERADOR DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

3.3.3. Espécies de fatos geradores

Diversas são as possíveis classificações empreendidas pela doutrina tributária em derredor do fato gerador. Deter-se-á, aqui, na distinção entre fatos geradores simples e complexos; fatos geradores instantâneos, continuados e complexivos, bem como, segundo as regras do próprio CTN, nos casos de fato gerador como situação de fato e como situação jurídica e de fatos geradores submetidos a condição.

Quanto à estrutura do tipo, diz-se que se trata de fato gerador simples quando se trata de fato isolado, único singelo, a exemplo do IPTU e do ITR, que reputam bastante a propriedade, o domínio útil ou a posse (ad usucapionem). O fato gerador será complexo quando composto por um conjunto de fatos que somente irradiarão a eficácia jurídica de constituir a obrigação tributária se todos os fatos ocorrerem de modo integrado, de sorte que, não correndo algum(ns) desses fatos que compõem o conjunto de fatos que integra o tipo tributário, não surgirá a obrigação tributária294; pode-se citar como exemplo de fato gerador complexo o imposto de renda

Tomando-se por critério o momento de ocorrência do fato gerador, têm-se três classes: instantâneos, continuados e complexivos, conforme indica Amílcar de Araújo Falcão, baseado em Aquille Donato Giannini, Ezio Vanoni e Wilhelm Merk. Diz-se instantâneo o fato gerador que ocorre em um determinado momento e, cada vez que ocorre, dá ensejo a uma obrigação tributária nova e autônoma295, a exemplo do imposto de transmissão causa mortis e doações; o fato gerador é continuado quando representado por situação que se mantém no tempo,

292 Cf. BRITO, Edvaldo. ―Planejamento tributário: o legítimo direito de resistir ao pagamento de tributos‖ in.

Grandes questões atuais do direito tributário. 12.º volume. Valdir de Oliveira Rocha (Coordenação). São Paulo: Dialética, 2008, p. 94/97.

293 Cf. TIPKE, Klaus. LANG, Joachim. Direito tributário [Steurrecht]. Vol I. Porto Alegre: Sergio Antonio

Fabris, 2008, 364.

294 Cf. FALCÃO, Amílcar de Araújo. Fato gerador da obrigação tributária. 6.ª ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:

Forense, 2002, p. 68. Cf. SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 439-440. Cf. CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário. Fundamentos jurídicos da incidência. 6.ª ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 144-137. Cf. CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 17ª ed. rev. e amp. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 253-255.

295

Cf. FALCÃO, Amílcar de Araújo. Fato gerador da obrigação tributária. 6.ª ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 70.

porém é tomada em cortes temporais, a exemplo do que ocorreu com o IPTU, que tem por corte o primeiro dia de cada exercício (1.º de janeiro)296. Por fim, são complexivos (ou periódicos) os fatos geradores cujo ciclo de formação se ultima em um determinado período de tempo, sendo formado por um conjunto de fatos considerados em sentido global — e, portanto, podem ser enquadrados como fato gerador complexo, exigindo para sua configuração a concorrência de todos os fatos integrantes desse conjunto297.

Segundo o art. 116, do CTN298, o fato gerador tributário pode referir-se a uma situação de fato ou a uma situação jurídica. Esse dispositivo regula, na verdade, tanto a caracterização do fato gerador, como o momento em que este se concretiza, tomando em consideração que o legislador tributário pode optar em pôr como pressuposto para o surgimento da obrigação concernente ao tributo um fato puro, não qualificado juridicamente por normas de outros ramos do direito, quando se estará diante de uma situação de fato, ou por tornar fato jurídico tributário uma situação decorrente de um fato já juridicizado, hipótese em que se estará diante de uma situação jurídica.

Constitui norma geral de direito tributário a orientar a interpretação do fato gerador que pode sofrer exceção, conforme se percebe da parte inicial da redação do dispositivo (―[s]alvo disposição de lei em contrário‖). Traz como regra geral (art. 116) para o momento de ocorrência do fato gerador: (I) o instante em que se verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que a situação de fato compreendida no aspecto material produza os efeitos próprios; nessa linha, a exemplo do aspecto material da contribuição de melhoria, ocorrida a valorização imobiliária decorrente de obra pública — desde que precedida a cobrança de lei na forma do art. 82 do CTN — configura-se o fato gerador; ou (II) definitiva constituição, nos termos do direito aplicável, da situação jurídica que a norma ponha como aspecto material da hipótese de incidência do tributo, de modo que, no caso do imposto sobre transmissão inter

296 Cf. AMARO, Luciano da Silva. Direito tributário brasileiro. 11ª ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005, p.

268.

297 Cf. FALCÃO, Amílcar de Araújo. Fato gerador da obrigação tributária. 6.ª ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:

Forense, 2002, p. 71. Cf. AMARO, Luciano da Silva. Direito tributário brasileiro. 11ª ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 268.

298 ―Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o fato gerador e existentes os seus

efeitos:

I - tratando-se de situação de fato, desde o momento em que o se verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios;

II - tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que esteja definitivamente constituída, nos termos de direito aplicável‖.

vivos de bens imóveis ou imposto sobre doações, considera-se ocorrido o fato quando a

transmissão (efeito) se concretiza. Exemplo de hipótese de exceção a que alude o caput do art. 116 é justamente o IPTU: a situação jurídica de propriedade se constitui em um determinado momento — na forma indicada pela lei civil —, entretanto, as leis municipais normalmente elegem como momento de ocorrência o primeiro dia do exercício financeiro (1.º de janeiro).

Por fim, cumpre fazer breve referência ao tratamento que o CTN confere aos fatos geradores relacionados a condição. Como já exposto no capítulo 2 deste trabalho, a condição é fato jurídico, em sentido amplo, que se agrega como elemento acidental a um negócio jurídico ou ato jurídico em sentido estrito, de modo a interferir na eficácia deste.

O CTN determina, como regra geral, que, caso suspensiva (a produção de efeitos do negócio jurídico ou do ato jurídico em sentido estrito fica sobrestada até que esta se realize), o fato gerador só se considera ocorrido após o seu implemento (art. 117, I, do CTN); caso a condição seja resolutiva (o negócio jurídico ou ato jurídico em sentido estrito produz efeitos que podem cessar com a ocorrência da condição), o fato gerador reputa-se ocorrido desde a celebração do negócio (art. 117, II, do CTN).

Observe-se, a propósito, que o dispositivo atrela a eficácia do fato gerador da obrigação tributária à produção de efeitos do ato ou negócio que a norma tributária põe em seu antecedente — e não à validade deste. Sobre esse aspecto far-se-ão comentários mais detalhados no próximo capítulo

Em síntese, portanto, tem-se que fato gerador da obrigação tributária é, pois, sempre: (i) um fato exaustivamente previsto em lei, integrante de um tipo tributário (princípios da legalidade e da tipicidade); (ii) de conteúdo econômico; (iii) para cuja concretização a vontade é irrelevante; (iv) que tem a específica eficácia jurídica de criar a obrigação tributária.