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Parte III – Apresentação e discussão dos resultados

III.1. Características gerais das unidades de acolhimento

III.1.2. Espaço físico

No que se refere ao espaço físico, nenhuma das três unidades de acolhimento possui instalações próprias. Por isto, funcionam em residências regulares, inseridas na comunidade, e alugadas pela prefeitura. Tal aspecto impõe um caráter de transitividade aos serviços, que por vezes precisam mudar de endereço, e dificulta também o investimento da prefeitura em melhorias no espaço físico, já que a utilização do local é sempre provisória.

As unidades de acolhimento I e II estão situadas, até o momento da presente pesquisa, na zona oeste da cidade, e a unidade de acolhimento III está na zona norte, em ambientes

residenciais adequados e que se assemelham à realidade socioeconômica e cultural dos acolhidos, conforme preconizado nas Orientações Técnicas (2009).

Na Unidade de Acolhimento I existe um quarto para meninos, um quarto para meninas, e um berçário. Os quartos estão equipados com beliches e guarda-roupas, e o berçário com berços e guarda-roupa. Existe um banheiro especifico para o berçário e outro para as demais crianças. Além disso, há a sala, a varanda e um terraço, para atividades de convivência e brincadeiras. Cozinha, depósito, banheiro para os funcionários, quarto de despejo, quintal e lavanderia são espaços nos quais as crianças não circulam. Há também uma sala grande na entrada, reservada, destinada, simultaneamente, ao trabalho da coordenação, da equipe técnica, e ao atendimento às famílias. Como problemática do espaço físico, as entrevistadas apontaram a necessidade de maior espaço para o lazer das crianças, pois a varanda e o terraço são insuficientes. Além disso, o espaço disponível para o trabalho da coordenação e da equipe técnica é muito restrito, sendo necessário maior número de salas, na avaliação das entrevistadas.

Comentou-se também sobre a preocupação em relação à ausência de câmeras de segurança monitorando o dia-a-dia das crianças acolhidas, artifício que poderia inibir situações de maus-tratos dentro do próprio serviço, ou mesmo proteger a equipe quando acusada de lidar com as crianças e adolescentes acolhidos de maneira inadequada ou violenta. Porém, a utilização deste mecanismo deve ser ponderada, pois a privacidade dos acolhidos e o caráter residencial da unidade estariam prejudicados.

A Unidade de Acolhimento II compreende duas residências anexas em um mesmo terreno. A casa menor é reservada para a coordenação e a equipe técnica. Lá, existe um escritório de trabalho, uma sala de reuniões, um banheiro para os funcionários e um depósito. Ao lado, a casa principal é a residência das crianças. Existem três dormitórios, também equipados com guarda-roupas e beliches, e divididos em quartos masculino e feminino. Além

disso, existe o banheiro, a sala, a varanda e um terraço. Nos fundos, funciona a cozinha da casa, em área isolada das crianças. O muro da casa é baixo e gradeado, permitindo ampla visibilidade da rua e vice-versa, o que foi apontado como ponto negativo pela equipe, por deixar a instituição muito exposta. Além disso, demonstrou-se preocupação também com a existência de um terreno baldio ao lado da casa, que poderia comprometer a segurança do ambiente, segundo as entrevistadas. Por fim, a questão da falta de privacidade para a coordenação e a equipe técnica também foi levantada, pois é constante a interrupção do trabalho para atender demandas das crianças e dos educadores sociais, que solicitam atenção com frequência.

A Unidade de Acolhimento III, por sua vez, caracteriza-se por funcionar em um prédio de primeiro andar. No térreo, está a garagem e a lavanderia. Já na parte superior, encontra-se a residência propriamente dita: cozinha, salas e varanda amplas, três suítes que acomodam os adolescentes, divididas em dormitórios masculino e feminino, equipadas com beliches e guarda-roupas. No interior da casa, existe um espaço para a coordenação e a equipe técnica, incluindo duas salas e um banheiro para funcionários. Porém, como dificuldade, mais uma vez, a equipe apontou a falta de privacidade para trabalhar, pois os adolescentes conseguem ouvir facilmente as conversas realizadas na sala, além de entrarem no espaço frequentemente, interrompendo atividades. Outro ponto negativo do espaço físico é a varanda da casa, que possibilita visualizar uma das principais avenidas da zona norte da cidade, deixando os adolescentes muito expostos, na avaliação da equipe. Esta varanda é também utilizada pelos adolescentes para sair da unidade de acolhimento sem autorização prévia, pulando o muro, aspecto que tem preocupado a equipe técnica.

É possível notar que as três unidades de acolhimento guardam em comum a característica de manter, no mesmo espaço, a residência das crianças e adolescentes e o ambiente de trabalho da equipe técnica, aspecto que foi apontado como dificultador do

trabalho, pois falta privacidade e tranquilidade para os profissionais discutirem os casos, atenderem às famílias, realizarem reuniões e elaborarem relatórios. Por outro lado, a presença da equipe técnica diariamente no serviço de acolhimento foi também avaliada como positiva, por fortalecer os vínculos dos profissionais com os acolhidos e possibilitar melhor supervisão do atendimento que está sendo prestado pelos educadores sociais. Nas Orientações Técnicas (2009), recomenda-se que exista uma sala separada para equipe técnica e para a coordenação, e que estes espaços estejam separados da moradia das crianças e adolescentes, para facilitar a rotina de trabalho.

As três unidades apresentam também infraestrutura bastante restrita, mobiliadas apenas com itens básicos e oferecendo pouco conforto aos acolhidos. Está ausente, por exemplo, ambiente adequado para estudo, espaço que é recomendado nas Orientações Técnicas (2009). Além disso, os espaços de lazer e convivência também oferecem opções muito restritas e sem atrativos.

A organização do espaço físico de modo semelhante a um ambiente doméstico regular é um aspecto importante para a convivência familiar. Busca-se, portanto, a superação dos antigos abrigos e orfanatos com estrutura institucional, marcados, por exemplo, pela existência de dormitórios coletivos ao invés de quartos que acomodam pequena quantidade de crianças. O atendimento em unidade que se assemelhe a um ambiente doméstico garante, portanto, maior conforto, privacidade e respeito à individualidade dos acolhidos.