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FUGURA 3 – Categorias da investigação: os modos de ser e agir do pianista colaborador

5.2 A ATUAÇÃO PROFISSIONAL: AGIR COMO PIANISTA COLABORADOR 103

5.2.3 Espaços e situações de atuação 112

 

  A diversidade de espaços e situações em que os pianistas colaboradores atuam no CEP-EMB é uma característica do trabalho.   Os pianistas destacam principalmente estes espaços e situações em que são requisitados para atuar: as aulas de canto e de instrumentos de cordas, madeiras e metais; os corais e as orquestras da instituição; as aulas nos núcleos da Música Popular e da Música Antiga. Cada um desses espaços e situações apresentam dinâmicas próprias que delimitam os modos de ser e agir dos pianistas colaboradores.

Janaína, Karina, Dinorá e Mirela percebem que as diferenças entre os contextos da música popular e da música erudita exigem delas habilidades e conhecimentos também distintos no momento em que atuam. Para elas, é necessário dialogar entre esses gêneros, adquirir conhecimentos sobre cifras e desenvolver a habilidade de improvisar. Segundo Karina, essa habilidade é uma característica notável da música popular capaz de gerar marcas pessoais que não estão presentes na música erudita:

De correpetição? Bom, tem a outra faceta, né?! Por exemplo: tem essa coisa da música popular, que dá oportunidade de colocar muito de você naquilo que está tocando... E isso, na música erudita, você fica limitado à partitura, né. [...] (EK, p. 24, grifo nosso).

Tocar música popular apresenta especificidades e uma linguagem própria que também é reconhecida pela literatura (WHITE, 2010; GAROTTI JUNIOR, 2007). Ao investigar o pianista colaborador que atua com o vocalista de jazz, White (2010) aponta as introduções das músicas como oportunidade de o pianista compor, confirmando o comentário de Karina sobre “colocar muito de você naquilo que está tocando...” (EK, p. 24). Além disso, White (2010) destaca a atuação do pianista na execução e criação de voicing de acordes e as passagens em que o pianista colaborador faz um solo improvisado. Ao investigar o pianista colaborador que toca repertório da música popular, Garotti Júnior (2007) destaca que há algumas etapas de elaboração do acompanhamento pianístico na música popular: a compreensão e análise formal da peça cujos elementos musicais são referenciais ao trabalho, a busca de experimentações entre o pianista e o músico para decidir questões interpretativas e a execução final da música. No contexto da música popular, destaca o autor, há “experimentações mútuas” entre o

pianista e o músico visando à elaboração em conjunto do acompanhamento (GAROTTI JUNIOR, 2007, p. 91).

Ainda quanto à música popular, Dinorá comenta sobre sua experiência durante a formação universitária, em que destaca a influência da diferença de gênero na prática em conjunto. Suas observações revelam concepções sobre os modos de ser e agir do pianista colaborador, confirmando a predominância masculina na música popular.

O núcleo da Música Antiga foi um espaço mencionado por Karina e Antonieta. A atuação nesses contextos exige habilidades de tocar o cravo e realizar o baixo contínuo, que, de acordo com as pianistas, podem ser adquiridas e aprimoradas ao longo do trabalho.

Solange percebe que há diferenças em seus modos de ser e agir entre a aula de canto e a aula de instrumento. Na situação do canto, o professor está orientando diretamente o aluno, comentando sobre a técnica e marcando as respirações, e, conta a pianista, ela se limita a tocar o piano, opinando sobre a interpretação musical quando solicitada. No caso do aluno de instrumento, Solange destaca que, quando o professor não está presente no ensaio, ela segue as recomendações do docente e pergunta ao aluno as questões de dinâmica e respiração. Solange e o aluno avaliam, então, o que pode ser melhorado.

Além dessas situações, a pianista menciona o palco, reconhecendo que o modo de tocar o piano nos “concertos de última hora” tem exigências distintas em comparação a “fazer leituras numa sala de aula” (ES, p. 153). Essas diferentes habilidades ao piano são confirmadas por Adler (1965), ao definir as funções de coach e acompanhador: o coach é o profissional que se destina ao ensino do repertório para o cantor; por outro lado, a apresentação em público é função do pianista acompanhador, portanto, o domínio do repertório é essencial – o que confirma o relato de Solange.

A variedade de espaços e situações é vista, por alguns pianistas, como uma oportunidade de mudar a perspectiva na carreira ou, nas palavras de Eleonore, de “se especializar” em determinada área (EE, p. 222). Essas alternâncias, segundo Mirela, estão relacionadas à identificação do pianista colaborador com um espaço de trabalho e sua necessidade de delimitar a atuação: “Eu acho que a gente às vezes tem um gosto, e a gente aprimora isso! Sempre vai ter ao longo de nossa vida! Não dá pra ser tudo, né?!” (EM, p. 171). Para Solange, essa especialização permite o contato do pianista colaborador com novos repertórios e novas situações de trabalho.

No caso de Karina, a identificação com o contexto da música popular foi influenciada por experiências em que acompanhou professores de canto que estimularam a sua

especialização nessa área. Em seu relato, além do prazer em tocar música popular, Karina destaca a admiração pessoal e profissional que tem por seus colegas (EK, p. 25).

Janaína também preferiu direcionar a sua atuação: desenvolve um trabalho especializado com alunos de cordas que é influenciado pela sua familiaridade com o violoncelo, instrumento complementar em sua formação musical e com o qual se identificou: “Me a-pai-xonei, e não largo nunca mais!” (EJ, p. 5, grifo nosso).

Sobre a atuação com os instrumentistas de cordas, Katz (2009) destaca que há técnicas específicas a serem aprendidas e dominadas pelo pianista colaborador. Um violino, por exemplo, ao produzir sons pela fricção de seu arco nas cordas sugere um som legatto que seja imitado pelo piano. Por isso, Katz (2009) defende que “dedos planos, fortes e o mínimo de articulação são a melhor escolha; qualquer som de martelos ou teclas soaria como estrangeiro” (KATZ, 2009, p. 162, tradução nossa43). Outras técnicas são sugeridas por Katz (2009) neste tipo de trabalho para imitar o tremolo e o pizzicato.

Se alguns pianistas colaboradores pretenderam, em algum momento, se especializar, outros optaram pela abrangência da atuação, buscando atender às demandas emergentes em diversos espaços e situações da escola.

Ao refletir sobre esses espaços e situações, Mirela aponta os concertos de formatura dos alunos e comenta que o piano pode ter duas funções: a de orquestra, quando o piano está produzindo a maior parte dos efeitos orquestrais por meio de reduções; e a de contínuo, quando, eventualmente, um repertório barroco está sendo executado por uma orquestra e o piano complementa-a realizando o contínuo (EM, p. 169).

Outra situação de trabalho apontada pelos pianistas são as reuniões do NPAC. De acordo com Leela e Dinorá, é possível trocar informações entre os pares, fazer encaminhamentos pedagógicos e administrativos à direção, dirimir dúvidas e discutir sobre as dificuldades na e da atuação. Antonieta reforça essas ideias e acrescenta que as reuniões de núcleo oportunizam a mediação de diferentes concepções pedagógicas e facilitam o contato entre os professores em meio à ampla estrutura pedagógico-administrativa e à quantidade de profissionais na escola:

Geralmente, essas pessoas [professores] não têm muita conversa! Então, o diálogo é uma grande dificuldade na Escola [de Música], né! Porque é uma escola muito grande, muitos professores... Quer dizer, você vai numa universidade, você tem um professor de violino, um professor de viola, um professor de sax. [risos] Então você chega na Escola de Música, tem dez professores de violino, três de sax, cinco de                                                                                                                

43

flat, fleshy fingers and minimum articulation are the best choice; any sound of hammers or keys would be foreign (KATZ, 2009, p. 162).

canto... Então assim, aqueles professores já têm que entrar num consenso nas suas coordenações, que são muito diversas... (EA, p. 195).

Corcoran (2011), ao investigar a profissão do opera coach, também constatou essa diversificação de espaços e situações, que se evidencia pelas “experiências de trabalho, ambientes de coaching e conhecimentos acumulados” pelo pianista colaborador ao longo de sua atuação (CORCORAN, 2011, p. 173, tradução nossa44). De modo semelhante, ao se referir à atuação do pianista, Muniz (2010) apresenta várias possibilidades de trabalho para o profissional e explicita contextos que definem funções específicas: pianista colaborador em orquestras e em cursos de graduação em canto; pianista correpetidor em óperas; pianista colaborador em concursos e festivais de música.