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FUGURA 3 – Categorias da investigação: os modos de ser e agir do pianista colaborador

4.6 A REDAÇÃO DOS RESULTADOS

significados (SZYMANSKI; ALMEIDA; PRANDINI, 2011). A categorização de dados prosseguiu até a análise da última entrevista e buscou incluir as particularidades de cada situação e as características que foram comuns aos entrevistados, gerando a versão final no Apêndice H. Esse documento serviu de base para a redação dos resultados.

A análise das entrevistas gerou um segundo volume de dados que selecionou e agregou as diversas falas conforme as categorias propostas e constituíram o Caderno de Redução de Dados (CRD) com 99 páginas. Como o próprio nome sugere, esse Caderno diminuiu o volume dos dados e foi o principal material consultado para redigir e apresentar os resultados. De acordo com o que cada entrevistado tratava os assuntos foi possível agrupar na mesma categoria: (1) trechos discursivos em diferentes momentos de uma única entrevista e (2) trechos discursivos de entrevistas distintas que se referiam à mesma categoria. Uma parte do CRD foi disponibilizado para exemplificar essa redução de dados (APÊNDICE I).

4.6 A REDAÇÃO DOS RESULTADOS  

Na redação dos resultados, as citações diretas das entrevistas foram privilegiadas porque são capazes de promover a experiência vicária ou indireta (STAKE, 2011). Segundo este autor, as palavras do entrevistado são mais detalhadas, descrevem as experiências deste com mais fidedignidade e despertam sentimentos semelhantes no leitor, aproximando-o da experiência vivida. Logo, a estratégia revelou-se adequada às características da abordagem qualitativa dessa investigação.

A importância e a preferência pelas citações diretas estimularam reflexões sobre a transcrição e a retextualização. No primeiro caso, como lembra Gibbs (2009), a transcrição refere-se a mudança de meios – do contexto interacional da fala para o texto digitado e aponta preocupações sobre “precisão, fidelidade e interpretação” dos dados (GIBBS, 2009, p. 28). A retextualização é um conjunto de procedimentos de natureza linguística das entrevistas e objetiva adequar a essência da oralidade da entrevista ao estilo narrativo e textual da dissertação, facilitando a fluência na leitura. A preocupação com a fidelidade e a validade dos dados estimularam a adoção de ambos procedimentos.

O emprego da retextualização de entrevistas em investigações qualitativas tem sido discutido no Jornalismo Científico e na Linguística (RODRIGUES, 2010; KO FREITAG, 2009; GOMES, 2002). O termo é definido como um processo intencional de transformação de fontes orais da comunicação em textos escritos (RODRIGUES, 2010). Embora as entrevistas

representem uma fonte oral, Rodrigues (2010) alerta que a retextualização não é sinônimo de transcrição. A mudança entre fontes envolve cuidados procedimentais, compreensões e reflexões que devem abarcar o caráter interacional da entrevista, as especificidades da linguagem oral e o respeito aos significados, sentidos e conhecimentos produzidos entre os sujeitos (RODRIGUES, 2010).

Segundo as autoras, o amplo emprego de entrevistas e a necessidade de representá-las e divulgá-las em textos jornalísticos evidenciam a importância em discutir a retextualização – em especial, os usos de marcadores discursivos nesse processo. Ko Freitag (2009) esclarece que, embora não haja consenso na literatura sobre a definição e a terminologia dos marcadores discursivos, estes são “elementos linguísticos” que emergem de situações interacionais e orais da comunicação. A autora defende a necessidade de considerar e incluir os marcadores discursivos em ambas as dimensões “textual” e “interpessoal”, sugerindo estratégias de normatização e gramaticalização deles na linguagem escrita.

Rodrigues (2010) analisa até que ponto os marcadores discursivos são mantidos ou suprimidos na retextualização. Gomes (2002) amplia a perspectiva e destaca quatro estratégias que podem ser adotadas nesse processo: a eliminação, a substituição, o acréscimo e a reordenação dos marcadores discursivos e de outros elementos linguísticos. Todas as estratégias tiveram como objetivo a clareza e a concisão de informações que, segundo Gomes (2002), são necessárias em matérias jornalísticas que buscam divulgar amplamente os conhecimentos na sociedade.

De modo geral, as autoras defendem que, independente dos caminhos escolhidos, o tratamento lingüístico na retextualização deve ser feito com bastante cautela, de modo a respeitar as ideias e pontos de vista originalmente produzidos entre entrevistador e entrevistado (RODRIGUES, 2010; KO FREITAG, 2009; GOMES, 2002). Elas alertam que todo marcador discursivo, ao preservar as condições interacionais e subjetivas das entrevistas, deve ser mantido.

A partir dessas recomendações, foram adotados procedimentos específicos para a retextualização das entrevistas. Por exemplo: o acréscimo de marcadores discursivos ou de outros elementos linguísticos nas entrevistas foram indicados entre colchetes; a eliminação de palavras, expressões e informações repetitivas foram indicadas por reticências entre parênteses; o acréscimo de emoções registradas nas gravações e que contextualizaram o sentido da entrevistas também foram apontados entre colchetes; e as palavras, marcadores discursivos ou frases enfatizadas oralmente pelos pianistas entrevistados foram sublinhadas.

Esses procedimentos de retextualização e os respectivos símbolos estão descritos no Quadro 2 a seguir:

Quadro 2 – Sinais utilizados na retextualização das entrevistas

Sinal Significado

[exemplo] Acréscimo de palavras, marcadores

discursivos e outros elementos lingüísticos que complementaram o sentido do texto e para assegurar a clareza das informações.

[...] Eliminação de palavras ou partes do texto

que estavam repetitivas, revelavam informações que pudessem comprometer o anonimato e a confidencialidade do participante, ou eram intercaladas por falas e reações do entrevistador

[risos coletivos], [entrevistado cantou uma melodia], [entrevistado mudou o tom de voz]

Algumas emoções e reações foram apontadas entre colchetes para contextualizar e integrar os significados produzidos nas entrevistas

Palavras sublinhadas Expressões que eram bastante enfatizadas nas falas dos entrevistados

Fonte: elaborado pelo autor

Para referenciar e citar as falas originais a cada um dos entrevistados foram atribuídos códigos. A elaboração desses códigos levou em consideração a letra inicial do nome de cada pianista. O Quadro 3 apresenta os códigos utilizados, relacionando-os aos nomes dos(as) pianistas entrevistados(as):

Quadro 3 – Códigos utilizados nas referências às falas dos pianistas colaboradores

Nome do(a) pianista colaborador(a) Código utilizado Intervalo de páginas no Caderno de Entrevistas com Dados Brutos

Janaína EJ 1-17 Karina EK 18-35 Breno EB 36-56 Leela EL 57-75 Rafaela ER 76-98 Dinorá ED 99-115 Solange ES 116-154 Mirela EM 155-177 Antonieta EA 178-196 Clara EC 197-215 Eleonore EE 216-226

A partir dos procedimentos de análise e interpretação dos dados explicitados no subitem 4.5 desta dissertação e do Apêndice H, a redação dos resultados foi orientada, principalmente, a partir de três grandes categorias: (1) as trajetórias pessoais e formativas dos pianistas colaboradores; (2) a atuação profissional e (3) as percepções sobre os modos de ser e agir na profissão. Na primeira categoria emergiram: a iniciação musical ao piano; os contextos de formação; as aprendizagens na prática; as práticas musicais em conjunto e a escolha profissional. A atuação profissional constituiu-se a partir de dez subcategorias: a inserção profissional; as habilidades, conhecimentos profissionais e características psicológicas; os espaços e situações de atuação; as dificuldades da/na atuação; as interações no trabalho; os princípios e estratégias da atuação; as concepções sobre leitura à primeira vista; as dimensões pedagógicas da atuação; as concepções sobre o ensino de música e a estrutura e organização do trabalho na escola. Por último, foram organizados na terceira categoria: as percepções sobre si mesmo; as percepções dos pianistas sobre como os outros os veem; os calores e representações da profissão e o papel do pianista colaborador na escola. Essas categorias foram organizadas e ilustradas na Figura 3 a seguir:

Figura 3 – Categorias da investigação: os modos de ser e agir do pianista colaborador

Fonte: elaborado pelo autor

Para uma melhor compreensão e interpretação desta Figura 3, é imprescindível: considerar os procedimentos metodológicos descritos no capítulo 4 e consultar a categorização do Apêndice H. Cada uma dessas categorias será detalhada no capítulo a seguir, que se destina aos resultados e discussões da investigação.

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo são apresentados os resultados da investigação e a análise desses por meio da articulação com a literatura.