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FUGURA 3 – Categorias da investigação: os modos de ser e agir do pianista colaborador

5.2 A ATUAÇÃO PROFISSIONAL: AGIR COMO PIANISTA COLABORADOR 103

5.2.9 Estrutura e organização do trabalho na escola 138

 

  Ao descreverem o dia a dia na escola, os pianistas colaboradores identificam, entre as diversas experiências, alguns procedimentos que são semelhantes e podem ser reaplicados de uma situação a outra. O acúmulo dessa experiência permite aos profissionais encaminhar soluções advindas de vivências anteriores, diminuindo as tensões e incertezas geradas por novas situações-problema, familiarizando-os com procedimentos que se transformam em rotina de trabalho. Essa rotina se delineia na estrutura e organização que são próprias ao trabalho dos pianistas colaboradores no CEP-EMB.

O processo de estruturação e organização da colaboração musical é evidenciado quando Janaína relata sobre o surgimento do NPAC, motivado pelo aumento da oferta de vagas para alunos e pela crescente contratação de pianistas colaboradores pela instituição. O crescimento da atividade foi acompanhado pela necessidade de “atender vários outros Núcleos”, que encaminhavam os alunos para desenvolverem repertório com os pianistas (EJ, p. 6). Janaína destaca, ainda, que a organização do NPAC foi marcada também pela aquisição

de piano para a escola e pela reserva de uma sala especificamente para as atividades de colaboração musical.

O repertório é um elemento importante na organização do trabalho dos pianistas colaboradores na escola. Da análise da maioria das entrevistas, nota-se que o repertório é escolhido pelos professores de instrumento ou canto e posteriormente encaminhado ao NPAC. Essa escolha prévia delimita a música, o compositor, o estilo e os desafios técnicos e interpretativos a serem trabalhados entre os alunos e os pianistas colaboradores. Diferentemente do que se identifica nesses relatos, Adler (1965) aponta que a escolha do repertório e do programa é um procedimento cuja responsabilidade envolve a ambos: o pianista e o músico solista. Para o autor, as decisões envolvem, pelo menos, três fatores: as preferências pessoais do solista, as influências do professor de instrumento/canto e as preferências do público e de agentes culturais possivelmente envolvidos.

A organização de cursos em nível básico e técnico no CEP-EMB influencia e auxilia os pianistas colaboradores no desenvolvimento do trabalho, por exemplo, na definição de quais músicas precisam tocar e quais estratégias a adotar nos ensaios. Na percepção de Janaína, os cursos ofertados na escola definem os diferentes níveis de desenvolvimento musical dos discentes e permitem diagnosticar as formas de organização das apresentações finais, incluindo a quantidade de peças, o tempo de duração do evento, o tipo de repertório e a formação instrumental que serão necessários no dia do recital. Assim ela conta:

Então, normalmente... vamos dizer: o aluno tem, em média, três, quatro ou mais peças, dependendo de seu nível. Alguns [alunos] do [curso] básico se formam tocando dez peças, outros se formam tocando três...! Três concertos, vamos dizer, mais alguma coisa camerística. [O repertório] do [nível] técnico já é mais elaborado, né?! É um recital completo, em torno de 50 minutos de duração. Normalmente é com piano... Alguns fazem concertos por meio da correpetição com o piano e depois vão fazer uma pequena camerata [com outros instrumentos] no dia da apresentação. (EJ, p. 10, grifos nossos).

Janaína reconhece também a diversidade de atuação do colaborador em áreas da música erudita e da popular e a grande quantidade de alunos como características importantes da estrutura e organização do CEP-EMB, o que exige demanda de profissionais para o NPAC (EJ, p. 16).

Para Breno, a “estrutura escolar” delimita os horários de trabalho do pianista colaborador, a duração das aulas, as formas de atender aos alunos e os conteúdos a serem abordados (EB, p. 43). Ainda que os alunos tenham diferentes necessidades pedagógicas e

diferentes tempos de amadurecimento de uma música, segundo o pianista, o trabalho tem de se adequar àquele horário e à duração do tempo de aula.

Na visão de Rafaela, a organização do tempo escolar em ciclos bimestrais e semestrais influencia sua atuação porque exige prazos para preparar e apresentar repertório em recitais e provas de alunos. Esse desafio é notado quando ela compara o trabalho no CEP-EMB com o no conservatório em que trabalhava anteriormente – neste escolhia o repertório e ensaiava gradativamente sem uma data previamente definida (ER, p. 80).

Com uma percepção diferente dos outros pianistas, Mirela entende que a organização da escola e do NPAC lhe dão liberdade para trabalhar “com um ou outro grupo”, e por isso não há regras que estabeleçam quais grupos instrumentais ou vocais devem ser formados (EM, p. 176). Ela atende conforme as demandas e as solicitações que chegam ao núcleo.  

5.3 PERCEPÇÕES SOBRE OS MODOS DE SER E AGIR NA PROFISSÃO  

Além das trajetórias pessoais, formativas e da atuação, os pianistas colaboradores relatam como percebem a si e como pensam que outros profissionais da escola – professores de instrumento/canto e maestros – os percebem. Também, revelam os valores e representações da profissão e definem qual o seu papel como pianistas colaboradores.

5.3.1 Percepções sobre si mesmo: as identidades profissionais

 

De acordo com as circunstâncias da profissão, os entrevistados se percebem de modos distintos. Cada história de vida, cada trajetória de formação e de atuação de um profissional compôs modos específicos de ele ver a si e ao mundo profissional, em que as subjetividades e as redes interativas do trabalho foram constituindo (e ainda constituem) suas diversas identidades profissionais.

A importância da identidade no mundo do trabalho é destacada por Dubar (2005). Segundo o autor, as relações sociais estabelecidas entre os indivíduos e as instituições produzem significados. Nessas relações se dá o reconhecimento, a aceitação, e/ou a negação do que o indivíduo é, e portanto, “a identidade é o que o indivíduo tem de mais valioso” (DUBAR, 2005, p. XXV). A identidade imprime sentidos às ações do indivíduo, localizando- o em contexto de trabalho e permitindo que ele desenvolva um projeto que é, ao mesmo tempo, profissional e pessoal.