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A especulação fundiária e as expectativas que acompanhavam a aquisição de terras em Goiás no contexto da frente pioneira: o fechamento das terras livres

A emergência do mercado capitalista de terras em Goiás 1950/64: grilagem, especulação e absolutização da propriedade fundiária

3.3 A especulação fundiária e as expectativas que acompanhavam a aquisição de terras em Goiás no contexto da frente pioneira: o fechamento das terras livres

A atuação da Estranha Caravana nos dá a dimensão da estruturação do mercado de terras e de como ele atraiu não apenas os setores tradicionais ligados ao agro, mas diferentes grupos sociais que passaram a investir seus capitais na terra como um negócio. A corrida de

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títulos intensificou no início dos anos 1960, quando a grilagem se alastrou feito praga pelos sertões goianos, adentrando toda a área da Amazônia Legal, com grileiros estabelecendo cercas imaginárias ancoradas num título produzido, de grandes extensões de terras. A rapidez com que se deu a alienação de terras públicas para o domínio privado levou o deputado Venerando Freitas (PSD), em entrevista ao jornal O Popular, a dizer: “Aqui em Goiás, segundo é voz corrente, há indivíduos que, por verdadeiro passe de mágica, são proprietários de milhares de alqueires de terras”403

.

A aquisição de terras alcançou os lugares mais remotos, inclusive áreas que não haviam ainda sido contempladas por estradas, mas que foram valorizadas pela expectativa de que se consolidasse futuramente o projeto de interiorização do país, os meios de comunicações e as condições para a reprodução ampliada do capital. As possibilidades abertas pelo mercado de terra em Goiás, com o crescente interesse do capital, provocaram a reação de setores da imprensa, que denunciou as negociatas de terras públicas em benefícios dos especuladores. Em reportagem publicada no vespertino Diário da Tarde, no ano de 1960, foi divulgado o interesse das terras virgens em Goiás e Mato Grosso, que estavam sendo loteadas e vendidas pela empresa Brazil Land Corporation, de Nova York.

“Firma norte americana está interessada em terras virgens em zonas não desenvolvidas em Mato Grosso e Goiás, a preço aproximado de um dólar (Cr$ 200,00) por hectare, para revenda. Oferta com plantas, mapas e detalhes em português ou preferencialmente em inglês, para Brazil Land Corporation, 307, Fifth Avenue – Nova York. N.Y. – USA”. Eis o humilhante anúncio transcrito na revista agrícola “Chácaras e Quintais”, de novembro último, comentado pelo dr. Joaquim Mourão de Serpa Pinto, sob o título: - PERIGO À VISTA. Como se vê do próprio anúncio, a aquisição de extensas glebas de milhares e milhares de hectares não são destinadas a lavoura, mas para grossas especulações de revenda aos milionários americanos que, a preço de dólar o hectare, poderão comprar todo o Brasil desconhecido, isto é, terras virgens como declara o referido anúncio – agora, justamente quando se abrem as portas para essas terras, futuras reservas para a exploração madeireira e pecuária404.

A denúncia de que as terras do norte goiano e do Mato Grosso despertavam o interesse do capital estrangeiro não era descabida. Pouco tempo depois, o mesmo periódico publicou uma denúncia feita pelo sr. Jacob Oscar Scwarzkopf, antigo Diretor Tesoureiro da Câmara de Comércio Teuto-Brasileira do Rio de Janeiro, e que naquele momento residia em Anápolis (GO), de que terras não desenvolvidas de Goiás e Mato Grosso estavam sendo vendidas na Alemanha:

403 O Popular, 15 de março de 1962, p. 3

Atualmente estão sendo oferecidas para a venda grandes lotes de terras situadas nos Estados brasileiros Mato Grosso e Goiás. Êstes Estados estão somente no início de seu desenvolvimento. Aquelas terras talvez nunca ou somente em anos ou dezenas de anos, podem ser desenvolvidas. O registro de imóveis somente foi estabelecido nestes Estados algum tempo atrás e ainda não se pode falar que tais registro são realizados com ordem e honestidade. No Estado de Goiás o interêsse na compra de terras recebeu um grande impulso pela mudança da Capital para Brasília. Vendedores de terras mais ou menos sem escrúpulos conseguiram em tempo oportuno apropriar-se de grandes extensões de terras para vende-las depois405.

A rápida apropriação das terras devolutas levou o periódico Diário do Oeste, em reportagem publicada em fevereiro de 1961, a afirmar que poucas faixas de terras devolutas estavam disponíveis em Goiás, já que a especulação dos que buscavam rentáveis investimentos com aquisição de títulos fundiários já havia se apoderado das melhores terras:

Atualmente, restam ao Estado apenas pequenas faixas de terras devolutas, que são arenosas, alagadiças ou impróprias para a lavoura, porque tudo foi açodadamente alienado, trabalhando-se, nesse sentido, nas caladas da noite, numa azáfama tremenda na distribuição de quinhões entre os protegidos para rendosas negociatas406.

A expectativa da terra como bom um negócio chegava em muitos casos a se converter em um problema que transcendia os principais grupos litigantes: grileiros e posseiros. Não raros os casos, fazendeiros compraram títulos de propriedades inexistentes ou alvo de litígio de vários grupos. Um dos membros da tradicional família da oligarquia goiana, que dominou o estado durante boa parte da Primeira República407, e que ainda hoje conservam influência e poder, o advogado e “sertanista” Leolídio, da família Caiado, denunciou uma situação corriqueira decorrente das orgias especulativas com o negócio de terras:

Mais de trinta mil alqueires de terras férteis estão sob a ameaça de serem apossadas por elementos inescrupulosos. Tais terrenos estão situados nas proximidades da extremidade sul da Ilha do Bananal, ao longo do Araguaia, desde o Crixás até o rio Pintado. (...) Segundo o sertanista goiano, o pior se configura no fato de que partes das glebas estão sendo vendidas a terceiros que, mais tarde, irão amargas os prejuízos.408

A denúncia de Leolídio Caiado trata de um fato aparentemente corriqueiro, a aquisição de títulos fundiários por terceiros que, motivados pelas propagandas de um vantajoso negócio, se depararam com terras inexistentes, ocupadas por posseiros ou alvo de disputa de diversos

405 Diário do Oeste, 28 de janeiro de 1961, p. 3. 406 Diário do Oeste, 4 de fevereiro de 1961, p. 1. 407

Para maiores informações sobre as oligarquias dominantes no período da Primeira República, ver: CAMPOS, Francisco Itami. Coronelismo em Goiás. 2ª Ed. Goiânia: Vieira, 2003.

grupos. No município de Peixe, o jornal O Popular noticiou que fazendeiros amargaram prejuízos comprando títulos de propriedades que não existiam ou que pertenciam a terceiros, provocando uma verdadeira febre especulativa com as terras do norte de Goiás:

Centenas de fazendeiros já foram prejudicados com a compra de terras que não existem. Os senhores José Edmar Sampaio e João Cruz Filho foram prejudicados e faziam parte da comissão. Os dois compraram mais de cem alqueires de terras cada um. E agora vão perder o trabalho, o tempo e o dinheiro, pois as terras que compraram pertenciam a outros e êles nada podem fazer409.

Houve situações em que os grileiros declararam áreas maiores que as realmente existentes nos municípios em que as terras estavam encravadas, como é o caso de Stanley Amo Selig, que, adquirindo terras desde o final dos anos 1950 em Goiás, se apoderou de todas as terras do município de Ponte Alta do Norte410

.

A frenética aquisição de títulos fundiários marcou o fechamento das terras livres, fenômeno que foi descrito por um sertanejo do norte goiano, que, espantado ao observar as transformações provocadas pelo desenvolvimento econômico na região, nos anos 1950, disse: “Deus criou o mundo, e o Diabo, o arame farpado. Tão cercando tudo isso aqui, num demora muito vai, virar rua. E num pode mais nem tirá pau de cangalha”411

.

A percepção de que a chegada das estradas e da modernização acarretou o cercamento das terras mostra como tal processo impactou diretamente o camponês. O fechamento da fronteira para a produção camponesa se processou pela conversão da terra em propriedade capitalista, que suprime qualquer sentido alternativo de propriedade. Sobre esse processo, José Graziano da Silva esclarece:

O „fechamento‟ não tem o sentido de utilização produtiva do solo, mas sim o de que não há mais „terras livres‟, „terras sem dono‟ que possam ser apropriadas por pequenos produtores de subsistência. Há, sim, zonas não efetivamente ocupadas, mas onde a terra já representa uma mercadoria que já tem preço, e está sujeita, portanto, aos mecanismos de compra e venda; aí a terra já não é „livre‟ e está submetida a uma apropriação privada que reclama uma definição precisa de sua propriedade jurídica412.

Esse fenômeno constitui a etapa inicial do fechamento da fronteira para os camponeses com o estabelecimento do mercado capitalista de terras, que marcou a realidade goiana e outras regiões da Amazônia Legal, situadas mais ao centro-oeste do país, como é o caso do

409 O Popular, 09/03/1961, p. 8.

410 DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL. Seção I. Suplemento ao n. 47. Brasília: Câmara dos Deputados, 12

de jun. 1970, p. 6.

411 Depoimento extraído do trabalho FERNANDES SOBRINHO, op. cit., 1997, p. 17. 412 SILVA, op. cit., 1981, p. 117.

Mato Grosso. Alcir Lenharo413, em estudo sobre a questão fundiária no Mato Grosso, constatou que os conflitos agrários e a vasta apropriação de terra pelo capital tiveram início antes dos anos 1960:

Os conflitos de terra nas áreas mais intestinas do país são costumeiramente apreendidos e datados em especial a partir dos governos militares pós-64. Não que tal baliza seja desmerecedora de crédito; acontece, porém, que em muitas dessas áreas de conflitos as disputas vinham sendo fermentadas em momentos anteriores, agravando-se o estado de violência a partir da política geral de colonização que os governos militares incrementaram desde os anos 60414.

Lenharo415 observou que a aquisição de terras “para quem nela não trabalha” foi um problema que começou a agravar-se nos 1950, em pleno período de liberdades democráticas que, ao invés de conter a rápida alienação das terras públicas para a especulação, atuou como catalisador desse processo. Em sua opinião, a terra tornou-se cada vez mais “fonte segura de acumulação para grandes capitalistas e empresas do centro-sul, bem antes que o boom da penetração das multinacionais entrasse em evidência”416

.

Portanto, esse fechamento não se deu com a expansão das áreas cultivadas em que a produção capitalista substituiu a produção camponesa de subsistência, mas que o desenvolvimento capitalista alcançou terras antes mesmo da chegada da frente de expansão e, em alguns lugares, confrontaria diretamente com as comunidades indígenas. O que queremos dizer é que esse processo se caracterizou pela conversão da terra à forma de mercadoria, cujo preço expressa a forma de renda capitalizada, que só se concretiza com a venda da terra ou por meio da exploração do solo e seus recursos, que, por sua vez, depende da dinâmica do mercado de terras, da tendência que seja viável a exploração futura da terra. Segundo Graziano da Silva, esse fechamento é “de fora para dentro, onde a terra perde o seu papel produtivo e assume apenas o de „reserva de valor‟ e de meio de acesso a outras formas de riquezas a ela associadas”417

.

Nessas condições, a renda fundiária assumiu a forma de mais-valia transformada e retida pelo proprietário, pois é apropriada no processo de distribuição da mais-valia social e não como pagamento direto do camponês ao proprietário para o uso da terra. A renda se converteu, assim, em “uma criação específica do capital”, pois é a única que faz “surgir um

413

LENHARO, Alcir. A terra para quem nela não trabalha: a especulação com a terra no oeste brasileiro nos anos 50. In: Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 6, n. 12, p. 47-64, mar./ago. 1986.

414 LENHARO, op. cit., 1986, p. 47 415

Ibid. .

416 Ibid., p. 48.

valor diferente de si mesmo, de sua produção”418

. Neste caso, o valor é tratado como um sentido metafórico, como expressão imaginária:

Na expressão „valor do trabalho‟, o conceito de valor não só perdeu, mas se transformou em seu contrário. É uma expressão imaginária, como, por exemplo, valor da terra. Essas expressões imaginárias, no entanto, surgem das relações de produção, são categorias que buscam expressar as formas em que se manifestam relações essenciais.419

É por isso que, quando capitalista compra a terra, ele não está interessado diretamente na terra em si, pois o que ele compra é a renda da terra, que é o direito de reter uma parte da mais-valia social. Segundo Martins:

Quando o capitalista compra a terra, ele converte o seu capital em renda capitalizada, renda antecipada, em direito de extrair uma renda da terra e ao mesmo tempo direito de recobrar inteiramente e até com acréscimo o seu capital, mediante a simples conversão contrária de renda capitalizada em capital420.

Nessa situação, o dinheiro usado para adquirir terras tem função semelhante à de um ativo financeiro, cujo capital investido na compra da terra é valorizado independentemente de qualquer investimento produtivo no solo, como é o caso das terras no norte goiano da Amazônia Legal. Para compreender essa nova configuração da terra no plano econômico, é necessário levar em consideração como se constitui a especulação e o mercado fundiário, discutindo os processos sociais que conformam a renda.

Para tanto, acreditamos que pode contribuir para essa reflexão o pensamento de David Harvey. Para este autor, a teoria da renda não consegue explicar com toda sua complexidade a especulação fundiária, devendo-se por isso, recorrer à análise sobre o mercado fundiário:

A teoria da renda fundiária resolve o problema de como a terra, que não é produto do trabalho humano, pode ter um preço e ser trocada como uma mercadoria. A renda fundiária, capitalizada como juro sobre algum capital imaginário, constitui o „valor‟ da terra. O que é comprado e vendido não é a terra, mas o direito à renda fundiária produzido por ela. O dinheiro exposto é equivalente a um investimento que rende juros421.

A formação do preço da terra está imbricada com a taxa de juros no mercado de capitais e a perspectiva de “receitas futuras antecipadas da renda”, o que, na compreensão de

418

ROSDOLSKY, Roman. Gênese e estrutura de O Capital de Karl Marx. tradução: César Benjamim. Rio de Janeiro: EUERJ: Contraponto, 2011, p. 46.

419 MARX apud ROSDOLSKY, op. cit., p. 488. 420

MARTINS, José de Souza. Os camponeses e a política no Brasil: As lutas sociais no campo e seu lugar no processo político. Petrópolis- RJ. Editora Vozes, 1990, p. 167.

Harvey422, marcaria a tendência da terra no capitalismo de assumir a forma de capital fictício, explicando o fato de terras ociosas terem um preço.

Os movimentos na taxa de juros impõem fortes ritmos temporais e colocam os movimentos de preço da terra dentro de uma estrutura geral definida pelas relações entre acumulação do capital e a oferta e demanda de capital monetário. As tendências de longo prazo para uma taxa de juros decrescente ou pletoras temporárias de capital monetário vão em geral resultar em um aumento nos valores da terra.423

Partindo dessa compreensão, depreende-se que o surgimento do mercado fundiário em Goiás é produto do notável desenvolvimento econômico do governo JK, que marca, segundo Francisco de Oliveira424, o auge da acumulação capitalista no país, com a consolidação de uma economia urbano-industrial. A grande quantidade de capital entesourado direcionou-se à terra, inserindo-a de uma forma mais geral à circulação capitalista. Seguindo essa linha de raciocínio, Harvey425 afirma: “Cuanto más capital excedente haya (a corto plazo a través de la acumulación excesiva y a largo plazo), más probable será que la tierra sea absorbida al interior de la estructura de circulación de capital em general”.

Este fenômeno foi compreendido por Eagler426, que notou que com a industrialização do pós-1930, houve uma valorização da terra enquanto ativo financeiro, cujo investimento garantia o direito de participação nos frutos futuros do trabalho. Mas foi, sobretudo nos anos 1950, quando a transição para a economia industrial se consolida, é que essa nova configuração da terra ganha destaque. Segundo Muller427, nesse momento verifica-se “um sistema econômico dominado pelo capital industrial, tanto em termos de acumulação quanto de contribuição para o crescimento do PIB”428

.

Este modelo de acumulação conduzido pelo capital industrial promoveu o alargamento da fronteira no sentido da unidade territorial e econômica do país, pois a integração espacial “perturba a universalidade da forma de valor”429

e, com isso, pressiona o capital a se expandir

422 HARVEY, op. cit., 2013, 471. 423 Ibid, p. 471.

424

OLIVEIRA, op. cit., 2003

425 HARVEY, David. La teoría de la renta. In: Los límites del capitalismo y la teoría marxista. México: Fundo

de Cultura Econômica, 1990, p. 351.

426

EAGLER, Claudio. Preço da terra, taxa de juro e acumulação financeira no Brasil. Revista de Economia

Política, Rio de Janeiro, v. 5, nº 1, p. 112 a 135, jan./mar.1985.

427 MULLER, Geraldo. Indústria e agricultura no Brasil: do latifúndio-minifúndio ao CAI. & Formulações gerais

sobre o CAI. & A agricultura Brasileira no CAI. In: MULLER, Geraldo. Complexo Agroindustrial e

modernização agrária. São Paulo: Editora Hucitec, 1989, p. 29.

428 MULLER, op. cit., 1989, p. 29.

incorporando mercados externos nos quais predominam relações não capitalistas de produção, sujeitando a renda da terra ao capital e os movimentos especulativos no mercado fundiário.

A especulação fundiária e o aumento dos preços das terras nesse momento engendraram vários estudos que buscaram explicar sua dinâmica. Entre estes estudos destacam: Eagler430, Sayad431, Rangel432, Reydon433. Apesar das diferentes interpretações em relação ao preço da terra, um ponto comum entre essas análises é buscar compreender a apropriação que se dá a partir da valorização de capital na órbita financeira.

O economista João Sayad, em estudo sobre a relação do preço da terra e do mercado financeiro, afirmou que “os „bens de raiz‟ representam no Brasil a principal forma de retenção de riqueza por parte do setor privado, desempenhando o papel do outside Money dos modelos neoclássicos do crescimento” 434. Nesse sentido, “no caso brasileiro, a reserva de valor alternativo ao capital produtivo é a terra”435

.

Rangel436, que analisou a flutuação do preço da terra inversamente ao movimento do ciclo econômico (no momento de ascensão ocorre queda do preço, e nos momentos de crise, eleva-se), inferiu que terra é preferida a outros investimentos, o que, em seu entendimento, inibe o desenvolvimento do mercado de capitais. Por isso, a compra e venda de terra para a apropriação de um rendimento de origem especulativa, que ele denomina de quarta renda437, engendra o mercado de títulos imobiliários “como o primeiro mercado financeiro no Brasil”438

.

Já Eagler439 analisa a terra a partir de sua relação com a taxa de juros do mercado: A conclusão que se pode retirar desta análise é de que, a partir do desenvolvimento de um sistema financeiro capaz de valorizar de modo fictício as massas de capital, o preço da terra agrícola reflete de modo inverso às variações da taxa de juro o que inevitavelmente permite que se especule em dois mercados distintos: o de títulos e o fundiário440.

430 EAGLER, op. cit., 1985.

431 SAYAD, João. Preço da terra e Mercado Financeiro. Pesquisa e Planejamento Econômico. Vol. 7, nº 3, p.

623-662

432 RANGEL, Ignácio. A questão agrária brasileira. Recife: Comissão de Desenvolvimento Econômico de PE,

1962;

433 REYDON, Bastiam. Mercado de terras agrícolas e determinantes de seus preços no Brasil: um estudo de

casos. [Tese de Doutorado]. Campinas. Instituto de Economia Unicamp, 1992.

434 SAYAD, João. Preço da terra e Mercado Financeiro. Pesquisa e Planejamento Econômico. Vol. 7, nº 3, 1997,

p. 625.

435

SAYAD, op. cit., 1997, p. 625.

436

RANGEL, op. cit., 1962.

437 As outras três rendas são Renda Diferencial 1 (localização e fertilidade), Renda Diferencial 2 (investimento

de capital) e Renda Absoluta.

438

RANGEL apud EALGER, op. cit., 1985, p. 114.

439 EAGLER, Claudio, op. cit. 1985. 440 Ibid., p. 133.

Ainda que estes estudos tenham como enfoque principalmente a valorização das terras no período dos governos militares, assunto que abordaremos no sexto capítulo, esse processo de valorização fictícia de capitais no negócio com terras tem início nesse período, marcando, assim, um momento importante da formação do mercado capitalista de terras no Brasil, que se consolidará com o golpe empresarial-militar de 1964.

Reydon441 observou em sua pesquisa sobre os determinantes dos preços de terras agrícolas que é preciso levar em consideração os custos de manutenção das terras para deixá- las ociosas, para compreender os movimentos especulativos de capital em títulos fundiários. No caso da terra, dois tipos de custos associados à sua aquisição devem ser observados: o procedimento associado à transformação de formas precárias de posse em propriedade legalmente aceita e o imposto sobre a propriedade da terra (ITR)442. E, podemos acrescentar, ainda, a garantia de propriedade pelo estado.

Vimos, através da análise da grilagem, como era reduzido os custos para transformar formas precárias de posse em propriedade privada. Além desse fator, o que tornava a terra

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