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Um novo método de roubos das terras públicas e de expropriação: o comércio de terras devolutas e a corrupção no Departamento de Terras e Colonização (DTC) no

propriedade privada

4.2 Um novo método de roubos das terras públicas e de expropriação: o comércio de terras devolutas e a corrupção no Departamento de Terras e Colonização (DTC) no

governo José Feliciano (1959-61)

Logo nos primeiros meses de governo, José Feliciano foi assombrado pelas denúncias divulgadas nos principais jornais do estado sobre irregularidades e falcatruas na venda de terras devolutas, com rumores de participação do diretor do diretor do DTC, José Fernandes

elegeu, eis que o partido brigadeirista enverga a sua armadura medieval e investe contra a grande e patriótica realização, tentando destruí-la. (...) E essa campanha para embargar as obras de Brasília – afirmam os desarvorados líderes – é para ter caráter nacional, comprometendo-se a dar inteiro apoio à infausta iniciativa. Vamos ver como procederão os líderes udenistas em Goiás, nesse conluio. Já podemos vê-los a dizer, solertemente, que estão a favor de Brasília, que a defendem, etc., porque, em vésperas de eleições não têm a coragem de afirmar as suas convicções, quando contrária, aos interesses populares. Mas não terão também a coragem de se pôr ao lado do povo goiano para defender uma das suas mais caras e sentidas aspirações, pois poderiam ser destituídos pela direção nacional do partido”. O Popular, 18 de junho de 1958, p. 3.

572 Jornal Cidade de Goiás, 19 de janeiro de 1958, p. 1. Extraído de MOREIRA, op. cit., 2000, p. 139

573 A oposição na figura de Alfredo Nasser, diretor do Jornal de Notícias, assim se posicionou em relação ao

rompimento da aliança que pavimentou a concretização do projeto da nova capital: “A política da prorrogação, foi sem dúvida uma revolução nos costumes e métodos políticos até então, vigorantes em Goiás. Muitos adversários, mais para ferir o sr. José Ludovico, não quiseram ver o lado positivo dessa orientação, entendendo que os partidos deviam forçosamente estar na linha de oposição sistemática ou do apoio incondicional, até hoje não compreende como à oposição goiana, sem prescindir do direito de crítica, e sem entrar na barganha, abria ao govêrno um crédito de confiança, em benefício de um programa de elevados objetivos”. Jornal de Notícias, 4 de janeiro de 1959, p. 1

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A oposição era composta por UDN, PSP, PTB, PSB, PCB, PL e PR. Cf: MOREIRA, op. cit., 2000, p, 137.

575 Segundo Moreira (op. cit., 2000, p. 138) “Feliciano não aproximou-se dos partidos oposicionistas, pelo

Peixoto, que permaneceu no cargo que ocupava depois da saída de José Ludovico e, segundo informações do Jornal de Notícias, de ter rompido com o antigo governador576.

A que mais causou impacto foi a venda de portarias falsas pelo advogado José Medina Mendonça577, no total de 20 mil alqueires, com a assinatura de José Fernandes Peixoto, além de outro documento apresentado ao comprador da terra, assinado por José Feliciano, quando era secretário de estado da Educação de José Ludovico, atestando os bons antecedentes do referido advogado. Segue a versão do corretor de imóvel implicado no caso, Mário Conte, residente na cidade de Presidente Prudente:

Em meados de novembro último na cidade de Presidente Prudente, Estado de São Paulo, fui apresentado ao Sr. José Medina Mendonça que fêz ampla explanação sôbre terras devolutas de Goiás, afirmando que estava naquele Estado com finalidade de fazer propaganda de Goiás. José Medina não se limitou a conversas e passou a apresentar grande número de documentos assinados pelo Diretor do Departamento de Terras, Dr. José Fernandes Peixoto, e do Sr. José Feliciano Ferreira, documentos êsses que o autorizavam a angariar requerimentos de terras, receber dinheiro para o Estado de Goiás, dar quitações etc. “Os papéis apresentados pelo Sr. José Medina de Mendonça não podiam deixar ninguém em dúvidas, pois êle até acrescentou o seguinte documento: „Armas da República. Secretária de Estado da Educação – Ofício – Atestado que conheço a anos o bacharel José Medina Mendonça, advogado foro desta Capital e posso afirmar que nada existe que lhe desabone a conduta. – Goiânia 4 de março de 1958. (assinado) Dr. José Feliciano Ferreira Secretário de Estado da Educação e Cultura, (firma reconhecida no cartório do 4º ofício de notas). Entretanto dias depois tomei conhecimento de atos desabonadores praticados por José Mendonça Medina (sic) em Presidente Prudente foi quando resolvi vir até Goiânia e me inteirar dos fatos.

„Logo que cheguei procurei o Dr. José Fernandes e lhe exibí os documentos que José Medina deixara em meu poder. O Diretor do Departamento de Terrasmostrou-se surpreso, pois aquêles documentos não haviam sido feitos por êle. Mediante isso, aquela repartição iniciou um processo contra o Sr. José Medina, que tem o protoco n. 75790/58.

„Saindo do Departamento de Terras, procurei o Sr. José Medina, que ficou apavorado quando lhe contei os fatos anteriores. Foi nesta ocasião que José Medina me deu o cheque de 40 mil cruzeiros para a devolução do negócio que havíamos fechado em Presidente Prudente, ou seja, uma portaria assinada pelo Dr. José Fernandes Peixoto, auotorizando (sic) o Sr. Juvenal de Souza, agrimensor a medir e demarcar 20 mil alqueires de terras devolutas situadas no lugar denominado „Lontras‟ no município de Araguacema. Esta portaria havia sido vendida a mim pela quantia do cheque „de acôrdo com esta portaria eu estava autorizado a requerer terras nesse local578.

576 Jornal de Notícias, 15, de abril de 1959, p. 8.

577 José Medina Mendonça foi um conhecido grileiro que atuou não apenas em Goiás, mas também em outros

estados. No Maranhão, participou da grilagem de Pindaré, no município de Imperatriz. Sobre o assunto Cf: ASSELIN, op. cit., 1982.

O Jornal de Notícias, que caracterizou o acontecimento como um novo método de roubo de terras, tempos antes havia denunciado o envolvimento de José Fernandes Peixoto, lançando mão do parecer do titular do cartório do 4º Ofício, que a assinatura era mesmo do diretor do DTC579e nos estreitos laços de amizade entre ele o advogado José Medina: “A nossa convicção tornou-se mais sólida quando soubemos que José Medina, que está processado por estelionato, foi amigo íntimo do sr. Fernandes Peixoto”580.

Por sua vez, O Popular e o Diário da Tarde abriam espaço para Fernandes Peixoto se defender, apresentando sua versão oficial as autoridades responsáveis por investigar a denúncia, na qual negou qualquer envolvimento ou laços de amizade com o mencionado advogado. Acrescentou que os documentos em posse de Mário Conte “são inteiramente fictícios, são, entretanto, parecidos com os verdadeiros, os papéis alguns são idênticos aos do Departamento de Terras, não sei como os conseguiu, outros têm timbre de outras repartições”581

. O Popular, destacando o caráter ilibado de Fernandes Peixoto, apresentou com destaque o resultado do exame de grafoscopia, que atestou que a assinatura do diretor fora falsificada pelo advogado José Medina:

Os testes revelam que as quatro assinaturas atribuídas ao sr. José Fernandes Peixoto, bem como os originais dos documentos não passavam de puro estelionato praticado por Medina, que tentara imitar a firma do titular da Divisão de Terras, fazendo-o até certo ponto com relativa perfeição, já que os documentos forjados lograram ter reconhecimento em tabelião582.

O problema envolvendo a venda de terras devolutas de Goiás ganhou destaque nos primeiros meses do governo José Feliciano, com grande cobertura pelo Jornal de Notícias, que, em sucessivos editoriais, abordou o assunto. A denúncia agora era de que José Fernandes Peixoto incumbiu corretores de vender terras devolutas em vários estados:

(...) fomos informados de que o sr. José Peixoto mandou corretores vender terras do Estado em diversos lugares. Assim, em São Paulo fazem êsse serviço as imobiliárias Santa Cruz e Canãan, e mais o escritório do sr. José Conde. Há também corretores no Rio de Janeiro e no Triângulo Mineiro583. Dias depois, o referido periódico divulgou atividade da imobiliária Santa Cruz, que através de propagandas nos jornais de São Paulo, sobre a localização das terras, seu potencial de valorização e facilidades no pagamento, conduzia a venda de terras devolutas de Goiás:

FARTA PROPAGANDA EM JORNAIS PAULISTANOS – MAIS CASO PARA O DIRETOR EXPLICAR

579 Jornal de Notícias, 4 de abril de 1959, p. 1. 580 Jornal de Notícias, 4 de abril de 1959, p. 1. 581

Diário da Tarde, 22 de abril de 1959, p. 8.

582 O Popular, 19 de abril de 1959, p. 5. 583 Jornal de Notícias, 7 de abril de 1950, p. 1.

O clichê que ilustra estava nota é de um recorte do jornal “Folha da Manhã”, de São Paulo, e nêle se lê o seguinte anúncio:

“TERRAS EM GOIÁS – PROGRESSO E VALORIZAÇÃO – Próximas à futura Capital da República – BRASÍLIA – localização privilegiada, junto à Rodovia Oficial BR-14, com ônibus diários. Terras para cultura a partir de Cr$ 1.200,00 o alqueire. Lotes desde 40 alqueires, com grandes facilidades de pagamentos, sem juros. Títulos de procedência do Estado de Goiás. IMOBILIÁRIA SANTA CRUZ – Rua Alvares Penteado, 180 – 3º andar”584. É difícil dizer se havia a participação direta do sr. Peixoto no caso envolvendo a venda de terras através de portarias falsas por José Medina, porém, diante da quantidade de casos citados, é possível deduzir que a venda de terras devolutas em São Paulo e em outros estados não tinha origem apenas da falsificação de documentos e portarias de terras devolutas por grileiros585, mas foi resultado da política dos diferentes governadores goianos em atrair capitais de importantes lugares onde estavam concentrados (São Paulo, Rio de Janeiro, Triângulo Mineiro) e de fora do país.

Foi com este objetivo que o governo promoveu o rápido levantamento das terras devolutas para vende-las e institucionalizar o mercado fundiário. Sobre a questão, o Jornal de

Notícias, periódico que mais explorou o caso visando desgastar a imagem de José Feliciano,

divulgou no editorial de 14 de abril de 1959 uma portaria aprovada por José Fernandes Peixoto, que autorizava apenas um agrimensor a medir 300 mil alqueires em várias cidades do norte goiano, denunciando ainda o beneficiamento dos apadrinhados pelo diretor do DTC586

. É verdade, como questiona a reportagem, que, por estar à frente do executivo e dos órgãos que administravam o controle das terras públicas, a base governista priorizava os interesses de seus correligionários. É verdade também que muitos agrimensores estavam envolvidos nas irregularidades com a demarcação e venda terras devolutas. Porém, o problema era de maior amplitude, dado que a pilhagem das terras devolutas não se restringia a este partido e nem à gestão de José Feliciano. Nesse sentido, é válida a premissa levantada por Alcir Lenharo587, de que o jogo partidário eleitoral não serviu como barreira para a depredação do bem público; na verdade, foi ele, o canal principal de apropriação do capital das terras públicas.

Por outro lado, o problema não deve ser avaliado pelas numerosas verbas para a medição de terras devolutas, cujo objetivo, como demonstrou um conjunto de agrimensores,

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Jornal de Notícias, 10 de abril de 1959, p. 1.

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Assim como José Medina, que falsificou a assinatura e documentos para conduzir a venda de terras devolutas, João Inácio, além da grilagem tradicional de terras, através de registro paroquiais, utilizou-se também “de títulos definitivos de compra de terras devolutas, também falsos”, conforme CPI de terras. DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL. Seção I. Suplemento ao n. 47. Brasília: Câmara dos Deputados, 12 jun. 1970, p. 5.

586 Jornal de Notícias, 14 de abril de 1959, p. 8 587 LENHARO, op. cit., p. 1986, p. 48.

ao responderem as acusações de desvio moral em seu ofício, era de realizar o levantamento das terras públicas para evitar a atuação de grileiros e para conter a especulação fundiária588. O problema com venda de terras devolutas é que elas eram voltadas, uma vez mais, aos interessados na terra como negócio, e não para os camponeses, o que explica o empenho do governo em fazer propagandas das terras nos principais estados e países capitalistas.

Por estas questões, não demorou muito para que essa política se convertesse em outro mecanismo de expropriação dos posseiros, provocando os protestos pelos que se julgavam prejudicados por esse processo. Agora, não estava apenas em questionamento a medição e a falsificação de portarias, mas também irregularidades na venda de terras por agrimensores que extorquiam posseiros e compactuavam com grileiros e especuladores:

Novamente ontem, tiveram repercussão na Assembléia Legislativa as denúncias feitas pela Imprensa contra agentes do Departamento de Terras, principalmente agrimensores, mancomunados, segundo se diz, com o próprio diretor daquele Departamento, vêm cometendo inomináveis arbitrariedades em várias localidades do Norte do Estado, explorando de maneira cruel a ingenuidade dos lavradores e posseiros589.

A participação dos agrimensores na venda de terras devolutas e os obstáculos impostos aos posseiros para permanecer em suas terras levaram a deputada Ana Braga (PSD), em sessão na Assembleia Legislativa, a chamar a atenção para o assunto e exigir providências de José Feliciano. Segundo a parlamentar, posseiros dos municípios de Peixe, Porangatu, Porto Nacional, Brejinho de Nazaré e Cristalândia estão sendo ludibriados e extorquidos por agrimensores, que cobram quantias maiores do que as estipuladas pela lei, “por medições de glebas requeridas por posseiros”590

.

Os elevados custos para medição das terras dificultavam aos posseiros a regularizar seus domínios e constituíam, portanto, outra estratégia para expropriá-los. No entanto, os camponeses se deparavam com outros obstáculos, verifica-se também a venda de terras fictícias por agrimensores ou medição de terras que já haviam sido medidas, como ocorreu na cidade de Riozinho, município de Porangatu, onde um missivista, cuja identidade não foi revelada pelo Jornal de Notícias, denunciou abusos dos que deveriam zelar pelo patrimônio público e agir de acordo com as regras estabelecidas pela lei:

Relata, por exemplo, o missivista: “Agora o próprio Diretor acaba de mandar uma turma de agrimensores para medir umas terras que já se acham medidas e que já tem o título definitivo, no munícipio de Porangatu (Riozinho)”.

588

O Popular, 07 de maio de 1959, p. 1.

589 Jornal de Notícias, 24 de abril de 1959, p. 1. 590 Diário da Tarde, 4 de agosto de 1959, p. 1.

Depois de dizer que “fatos como êsse precisam ser denunciados”, informados o signatário que, “caso fôr preciso de provas para apurar a verdade do que ora denunciamos, que o sr. Governador afaste o diretor do Departamento de Terras, nomeando uma comissão de inquérito composta de homens honestos, que as testemunhas aparecerão voluntariamente, e a hora que fôr preciso. Tudo que vai escrito poderá ser provado, dependendo apenas do sr. Governador”591

.

A corrupção com a venda de terras devolutas no governo de José Feliciano ganhava cotidianamente os noticiários da imprensa, e o problema se agrava à medida que as terras eram valorizadas pelo cruzeiro rodoviário construído para abrigar Brasília, resultando em protesto na cidade de Araguacema, no final do ano de 1960, como noticiou o Diário do Oeste. Petrônio Arbuers (UDN) e Longinho Vieira Júnior (PSD), respectivamente prefeito atual e eleito de Araguacema, estão em Goiânia, acompanhados de representantes de 5 mil pessoas, a fim de protestar contra a Divisão de Terras e Colonização do Estado. Alegam que a está lesando os moradores de uma área de 25 mil alqueires, legalizando a apropriação indébita da mesma feita por várias figuras de projeção em Goiânia592.

As acusações de que o DTC favorecia políticos e grupos influentes em detrimento de outros requerimentos de compra e regularização de terras devolutas, ganhou destaque em matéria publicada pelo periódico Diário do Oeste: “(...) não se obedece, no Depto. De Terras, para se atender aos interessados, a nenhum critério de ordem. Deputados e pessoas de influência política têm privilégio a qualquer pedido seu, preterindo-se no DTC o público propriamente dito, cujos interêsses são relegados”593

.

Os problemas nesse órgão intensificariam, levando o seu fechamento no ano de 1961, pelo governador Mauro Borges Teixeira, que em seu lugar criou o Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDAGO), no ano de 1962, para conduzir a administração das terras devolutas no norte goiano e para promover a implantação dos projetos coloniais.

Levando em consideração a cobertura da imprensa sobre a irregularidade na venda de terras devolutas pelo governo goiano, observa-se que ela ganha força no início da gestão de José Feliciano. O caudaloso comércio de terras era reflexo, em grande medida, da política de terras devolutas criada por José Ludovico e de seu empenho em transferi-las ao domínio privado para homens de cabedal. Ademais, demonstrava a celeridade em executar o levantamento das terras devolutas e normatizar o seu mercado.

591

Jornal de Notícias, 5 de abril de 1959, p. 1.

592 Diário do Oeste, 28 de dezembro de 1960, p. 3. 593 Diário do Oeste, 2 de março de 1961, p. 1.

Com efeito, é difícil acreditar que esses problemas que ganharam destaque nos primeiros meses do governo de José Feliciano, seja apenas fruto da política implantada por esse governador. É nesse sentido que Clotário de Freitas, vice-líder do PSD na Assembleia Legislativa, questionou os ataques da oposição e da imprensa, eximindo o governador da corrupção na venda de terras devolutas, o que fica claro através de seu esforço em apoiar a criação de uma CPI para investigar o problema.:

O sr. José Feliciano assumiu o govêrno há menos de quatro meses e nesse período nenhuma venda foi homologada. Na escolha do Diretor do Departamento de Terras e Colonização também foi cauteloso o governador goiano. O sr. José Fernandes Peixoto vinha exercendo essas funções desde o início do govêrno passado e nelas foi conservada, eis que sôbre sua pessoa jamais pesou suspeição594.

O mesmo deputado, meses depois, destacou a exploração eleitoreira sobre da oposição, argumentando que apenas com a conclusão da CPI poderia o governador tomar alguma iniciativa para solucionar as irregularidades do comércio e aquisição de terras devolutas595. Para reforçar o seu argumento citou a falta de empenho da oposição em apoiar a CPI de terras devolutas:

Nós sabíamos que as oposições não tinham o menor interêsse em apurar as irregularidades havidas no caso das terras devolutas. Bastou o governador mostrar-se efetivamente interessado em apurar o que de fato existe de imoral no caso, para ninguém mais falar nada.

O que de verdade existe em tudo isto o povo goiano já sabe. Muita gente bôa, que vive pregando moral, que vive combatendo corrupção, deve ser estar fazendo promessa para que a Comissão de Inquérito não seja realizada. Daqui fazemos, porém, nosso apêlo aos membros da Comissão. Apurem a verdade que fique de uma ver por tôdas esclarecido se há ou não bandalheiras na venda das terras devolutas do Estado596.

É evidente que nesse momento ocorre o recrudescimento dos problemas com a venda e aquisição de terras devolutas, entretanto, a intensa exploração do assunto, principalmente pelo Jornal de Notícias, tem como finalidade tirar qualquer responsabilidade na política de terras devolutas criada por José Ludovico. Isso porque o ex-governador, depois de perder espaço em seu partido, se aproximou da oposição597 e disputou o cargo executivo em 1960,

594 O Popular, 21 de maio de 1959, p. 1.

595 Diário da Tarde, 30 de setembro de 1959, p. 1. 596

O Popular, 3 de junho de 1959, p. 1.

597

No dia 13 de novembro de 1959, o Jornal de Notícias abordou o assunto dizendo que José Ludovico era o candidato preferido pelas oposições, ficando à frente de nomes como Emival Caiado da UDN: “Não existe, de modo nenhum, qualquer prevensão ou má vontade contra a candidatura do prestigioso correligionário e dinâmico parlamentar Emival Caiado, por parte das Oposições. A verdade infudível e irredutível, é a que está nas sensatas e francas palavras do deputado Alfredo Nasser, quando afirmou que as Oposições saíram derrotados do último pleito, e que por isso necessitavam de se aliar ao sr. José Ludovico com seu valoroso contingente. Demais, as

pelo PSP, contra Mauro Borges Teixeira, que se sagrou vencedor do pleito. O referido periódico buscou no rompimento de Fernandes Peixoto com José Ludovico eximir este de qualquer responsabilidade com o escândalo no DTC, que tem origem em seu governo, atribuindo os problemas das terras devolutas apenas ao diretor desta repartição, que se aliava ao sabor do momento e imbuídos por ambições pessoais, com os diferentes partidos598

.

Nesse sentido, o jornal dirigido por Alfredo Nasser forjava a imagem de José Ludovico como político comprometido com a causa camponesa, que através de discriminação de terras combateu a grilagem e o saque das terras devolutas, além de ter sido responsável por propor uma solução para os posseiros de Trombas.

Ninguém que tenha sentimento de justiça, pode deixar de reconhecer que tal

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