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3.1 PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DOS REFERENCIAIS

3.1.4 Estrutura e organização do documento

No âmbito desta investigação, o documento, intitulado Referenciais da Educação da Rede Municipal de Ensino de Caxias do Sul - Planos de Trabalho de Língua Portuguesa, compreende uma organização trimestral, que contempla objetivos, conceitos, habilidades e critérios de avaliação, previstos para cada etapa escolar. Nesse sentido,

A partir desses referenciais, cada escola organizará o seu currículo, suscitando novas indagações, incorporando outros elementos próprios de seu contexto, de forma a contemplar a diversidade e o fazer aprender, provocando assim, a continuidade do debate. (CAXIAS DO SUL, 2010, p. 4)

Dito isso, nesta seção, explicito os elementos que constituem os Planos de Trabalho de Língua Portuguesa do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, exemplificando sua estrutura e organização.

É importante esclarecer que, em se tratando de nomenclatura referente aos Anos Finais do Ensino Fundamental, a organização adotada segue o que está exposto no artigo 2°, da Resolução nº 3, de 3 de agosto de 2005, do Conselho Nacional de Educação, que prevê a organização dos Anos Finais em quatro anos, com idade prevista para início e conclusão de 11 a 14 anos, respectivamente.

Os Planos de Trabalho de Língua Portuguesa aqui evidenciados constituem-se do detalhamento de competências, habilidades, atitudes, valores, objetivos gerais, conceitos, conteúdos e critérios de avaliação, cuja especificação é trimestral, atendendo à organização legal que rege as escolas. Para fins de exemplificação, segue a ilustração.

Figura 14 - Planos de Trabalho de Língua Portuguesa

Fonte: Referencial da Educação – Planos de Trabalho de Língua Portuguesa

Analisando os tópicos constituintes dos Planos de Trabalho, percebo a existência de um macroplanejamento, com dimensão trimestral, cuja finalidade é ser um guia-orientador para as aulas do professor.

A estrutura elaborada considera o que deve ser aprendido pelo estudante e, por decorrência, o que deve ser ensinado e avaliado pelo professor. Neste sentido, os Planos de Trabalhos são construídos tendo como referência a aprendizagem do aluno. Segundo os princípios orientadores desse documento, “a aprendizagem acontece na e pela interação do sujeito com o objeto de conhecimento, interação essa mediada pela linguagem”. (CAXIAS DO SUL, 2010, p. 25). Logo, o professor, ao invés de pensar, primeiramente, o que deve ensinar; reflete o que o estudante precisa aprender.

Sob essa ótica, a estrutura do documento prevê o registro de objetivos gerais do trimestre, com um norteador do planejamento do professor, tendo como foco a aprendizagem discente. Nesse âmbito, consideram-se os critérios de avaliação, tanto em seus aspectos quantitativos quanto qualitativos, os quais retratam o desempenho do aluno em consonância com o que foi proposto no

objetivo. Para tanto, os critérios de avaliação precisam ser formulados pelo professor de modo coerente aos objetivos propostos no planejamento curricular.

É fundamental acrescentar que a construção do documento tem como cerne o desenvolvimento de competências e habilidades, isto é, a capacidade de compreender e resolver diferentes problemas, aplicando os saberes em situações cotidianas, sejam escolares ou não. Ainda nesse viés, os Planos de Trabalho orientam para a formação de conceitos a serem construídos pelos estudantes, ao longo do percurso escolar.

No entanto, para o desenvolvimento de competências e habilidades, bem como para a formação de conceitos, faz-se necessário ao professor saber quais informações, conhecimentos e saberes são imprescindíveis para a construção da aprendizagem. Na distinção desses conceitos, Charlot esclarece:

A informação é um dado exterior ao sujeito, pode ser armazenada, estocada, inclusive em um banco de dados; está “sob a primazia da objetividade”. O conhecimento é o resultado de uma experiência pessoal ligada à atividade de um sujeito provido de qualidades afetivo-cognitivas; como tal, é intransmissível, está “sob a primazia da subjetividade”. Assim como a informação, o saber está “sob a primazia da objetividade”; mas, é uma informação de que o sujeito se apropria. Desse ponto de vista, é também conhecimento, porém desvinculado do “invólucro dogmático no qual a subjetividade tende a instalá-lo”. O saber é produzido pelo sujeito confrontado a outros sujeitos, é construído em “quadros metodológicos”. Pode, portanto, “entrar na ordem do objeto”; e torna-se, então, “um produto comunicável”, uma “informação disponível para outrem”. (CHARLOT, 2000, p. 61).

A distinção entre conceito e conteúdo/informação também se encontra explicitada no caderno pedagógico que orienta as concepções curriculares (2010):

informação é definida como um conjunto de dados (sensações, fatos, ideias), que pode ser transmitido, apreendido e memorizado. No âmbito escolar, os conteúdos são informações veiculadas. A inter-relação e a sistematização de informações dão origem à formação de conceitos, que, por seu turno, é fruto de abstração e generalização e, portanto, só pode ocorrer cognitivamente. (CAXIAS DO SUL, 2010, p.25)

A organização do referencial curricular prevê a aprendizagem de conteúdo, não como propósito isolado, de memorização, como um fim, mas como meio para o desenvolvimento de competências e habilidades, bem como para a formação de conceitos.

Além de uma aprendizagem de viés epistemológico, há, no documento, uma intenção para a construção de aprendizagens relacionais, por meio da adoção de atitudes e da constituição de valores. Nesse sentido, atitudes como “Busca de soluções frente a situações que se configurem problema para si, para o grupo e/ou para o ambiente”; “Cooperação com o grupo nas diferentes atividades propostas”; e valores como “amor”, “respeito”, “tolerância”, “responsabilidade”, entre outros, são algumas das propostas sugeridas no referencial curricular para serem trabalhadas em sala de aula. (CAXIAS DO SUL, 2010, p. 6-7).

Isso significa que não basta ao aluno aprender na escola apenas ler e escrever, por exemplo, é preciso também aprender a se relacionar com os outros, com o mundo e consigo próprio.

Com a intenção de exemplificar a consistência teórica na qual foi elaborada o documento, na sequência, apresento a organização dos objetivos gerais dos trimestres do 6º ano do Ensino Fundamental e sua lógica de construção. A opção pelo ano referido se justifica por ser esse o primeiro ano dos Anos Finais, portanto, o que, provavelmente, introduz o planejamento mais voltado a componentes curriculares específicos. Por sua vez, a escolha dos objetivos deve-se ao fato de que esses sintetizam e reúnem os pressupostos básicos dos referenciais curriculares, tais como: habilidades, conteúdos, conceitos, entre outros.

Assim, para compreender um pouco mais a organização dos Planos de Trabalho, são explicitados três objetivos gerais, relativos aos três trimestres do 6º ano, no componente curricular de Língua Portuguesa.

Figura 15 - Objetivos gerais dos Planos de Trabalho de Língua Portuguesa

Fonte: Referencial da Educação – Planos de Trabalho de Língua Portuguesa

Um olhar atento à formulação dos objetivos gerais do 6º ano, nos primeiro, segundo e terceiro trimestres, permite identificar sua estrutura composicional a partir de duas dimensões:

a) a construção inicial do objetivo destina-se ao professor, uma vez que indica o planejamento de situações de aprendizagem a serem oportunizadas aos alunos, ou seja, o que deve ser ensinado. Os verbos “proporcionar”, “promover”, “propiciar” elucidam essa contextualização.

b) na sequência, a formulação da frase direciona-se à aprendizagem do aluno, isto é, ao propósito do que é ensinado. As expressões “a fim de que”, “para que” circunstanciam o sentido de finalidade.

Assim, ao mesmo tempo que o objetivo orienta para o que deve ser trabalhado trimestralmente, ao longo do ano, também aponta os propósitos que convergem à aprendizagem do estudante.

A figura sintetiza a construção frasal do objetivo geral:

Figura 16 - Estrutura do objetivo geral

OBJETIVO GERAL O QUÊ? (Ensino do professor)

PARA QUÊ? (Aprendizagem do aluno)

Fonte: adaptada do Caderno Pedagógico

Considerando o conteúdo temático desenvolvido nos objetivos gerais, entendo que esses fazem referência a uma aprendizagem e a um ensino de língua voltado à leitura compreensiva e à produção oral e escrita de discursos. Logo, a compreensão, por parte do leitor, da forma como estão estruturados os objetivos implica diretamente na concepção de um ensino que diz respeito à utilização da língua, orientando o planejamento docente e a execução de aulas com esse fim. Desse modo, é sob um viés que valoriza o uso da língua, que estão organizados os referenciais curriculares de Língua Portuguesa.

Por certo, o fato de ter vivenciado o processo de reestruturação curricular, desde sua origem, permitiu-me contextualizar e descrever, mesmo que brevemente, um pouco do que representou a organização e a implementação dos documentos curriculares na Rede Municipal de Caxias do Sul.

3.1.5 Referenciais Curriculares de Língua Portuguesa: uma inter-relação