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OS ESTUDOS DE KUH: o engajamento do aluno e a chave para o sucesso estudantil

Capítulo 2 2 ESTADO DE CONHECIMENTO: o comprometimento discente com a

6. É duradoura a influência da universidade? (A questão é que efeitos causam a longo prazo).

2.1.6 OS ESTUDOS DE KUH: o engajamento do aluno e a chave para o sucesso estudantil

Para aumentar as chances de um estudante ter sucesso na universidade, várias pesquisas sobre o desenvolvimento do aluno sugerem focar no engajamento estudantil (KUH, et al.,

28 Tradução livre de: There are neither enough carrots nor enough sticks to improve undergraduate education without the commitment and action of students and faculty members. They are the precious resources on whom the improvement of undergraduate education depends.

1991; KUH, et al., 2005a), ou seja, centrar-se no que os estudantes fazem durante o curso, como eles fazem e o que eles melhor aprendem.

Engajamento tem dois componentes chaves. O primeiro é o montante de tempo e esforço que o estudante põe em seus estudos e outras atividades que conduzem para experiências e resultados que constituem o sucesso do estudante. O segundo é a forma como a instituição aloca seus recursos humanos e outros, organiza e possibilita serviços para incentivar os alunos a participarem e se beneficiarem de tais atividades29. (KUH, et al., 2005a, p. 4).

Os altos índices de engajamento estudantil são associados a um conjunto de práticas e condições educacionais, tais como: o contato entre professor-aluno; aprendizagens colaborativas e ativas; percepção do aluno quanto ao ambiente universitário; satisfação; persistência; realização educacional, entre outros (ASTIN, 1984, 1985; TINTO, 1993; PASCARELLA; TERENZINI, 1991, 2005; CABRERA; COLBECK; TERENZINI, 1999).

De acordo com Kuh e colegas (2005a), para que de fato ocorra o sucesso estudantil, são necessários altos índices de engajamento do aluno.

Para tanto, Kuh questiona: As instituições estão sendo eficazes o suficiente a fim de envolver os estudantes? Elas estão acrescentando valores às experiências estudantis a fim de estimular os alunos a investirem mais esforço em atividades que vêem contribuir para sua aprendizagem e desenvolvimento pessoal? Quando isso ocorre, o que se pode aprender sobre criar ambientes para uma melhor aprendizagem dos alunos?

Uma série de estudos realizados por Kuh et al (2005a) procurou dar respostas a tais questões. Dentre eles, o Student Success in College30, que além de destacar as condições

associadas ao empenho e persistência estudantil, também, propiciou avaliar importantes propriedades existentes nas faculdades e universidades, incidindo sobre a forma como uma instituição pode olhar para si própria de forma crítica, a fim de determinar os pontos a serem melhorados e, por extensão, aumentar o sucesso do aluno.

O Assessing Conditions to Enhance Educational Effectiveness: The Inventory for

Student Engagement and Success (ISES) também procurou responder às questões acima mencionadas. O livro Student Success in College e o ISES, foram baseados em dados do

29 Tradução livre de: Engagement has two key components. The first is the amount of time and effort students put into their studies and other activities that lead to the experiences and outcomes that constitute student success. The second is the ways an institution allocates its human and other resources and organizes learning opportunities and services to encourage students to participate in and benefit from such activities.

30 KUH, George D…. [et al.]. Student Success in College: creating conditions that matter. San Francisco: Jossey- Bass, 2005.

projeto Documenting Effective Educational Practice (DEEP), o qual se utilizou de informações do National Survey of Student Engagement (NSSE).

Os resultados das pesquisas/estudos destacaram a importância do envolvimento como um indicador de desempenho do estudante e institucional; isso sugere que o envolvimento estudantil é uma medida de qualidade institucional. Neste sentido, o autor evidencia o papel que as instituições têm em induzir os alunos a participarem das atividades educacionais por ela propostas (KUH et al., 2005b; KUH et al., 2008).

Percebe-se através da linha do tempo que os aspectos envolvimento, engajamento e/ou comprometimento do estudante, não constituem questões simples.

Em estudos mais recentes, o termo engajamento é geralmente utilizado para representar construtos tais como a qualidade do esforço e envolvimento em atividades produtivas de aprendizagem (KUH, et al., 1991; KUH, et al., 2005a; KUH, 2009). O engajamento ativo do aluno em atividades universitárias quer seja dentro ou fora da sala de aula é visto como uma possibilidade de sucesso no meio universitário, proporcionando o desenvolvimento do discente em inúmeras áreas, e também incentivando-o a persistir na universidade (HARPER; QUAYE, 2009).

Em relação ao desenvolvimento em diferentes áreas têm-se pesquisadores como Cabrera e outros (1999), Kuh, Palmer e Kish (2003) que apontam o engajamento como sendo um fator colaborador para o ajustamento universitário; Anaya (1996) e Baxter Magolda (1992) descobrem que a proposta do engajamento educacional produz ganhos e benefícios no desenvolvimento cognitivo e nas habilidades mentais dos estudantes; Harper (2008) fala sobre o desenvolvimento social; Torres, Howard-Hamilton e Cooper (2003), destacam o desenvolvimento psicossocial, que colabora com questões de identidade em relação a gênero e raça, proporcionando uma autoimagem positiva, e ainda, Evans (1987) e Rest (1993) indicam maior desenvolvimento étnico e moral.

O sentido em que o termo engajamento vem sendo usado acima, abrangendo a qualidade do esforço e envolvimento empregado nas atividades estudantis, parece evidenciar certa semelhança com a teoria do envolvimento de Astin (1984), a mais lembrada na literatura da Educação Superior. No entanto, “Há uma diferença qualitativa básica entre envolvimento e engajamento: é totalmente possível ser alguma coisa sem ser engajado 31.” (HARPER; QUAYE, 2009, p. 5).

31 Tradução livre de: there is a key qualitative difference between involvement and engagement: It is entirely possible to be something without being engaged.

Harper e Quaye (2009) exemplifica dizendo que um aluno pode estar envolvido em um grupo de estudos, mas contribui pouco, quase não interage, não questiona, ou seja, não está engajado. Esse exemplo vem ao encontro da diferença estabelecida por Felicetti e Morosini (2008; 2010) entre compromisso e comprometimento, onde o primeiro se relaciona a tudo que é feito, isto é, pode-se fazer parte de um grupo de estudos, mas o que se faz, como se faz e o quanto se faz, é que determina o comprometimento/engajamento, sendo este então muito maior que o compromisso/envolvimento.

Em suma, para que o compromisso se estenda a um comprometimento, e da mesma forma o envolvimento a um engajamento, é necessária, de acordo com o cenário acima apresentado, uma dinâmica de ações dentro das instituições de Educação Superior, bem como das ações do protagonista em cena: o aluno.

As ações que permeiam o contexto educacional são desencadeadas por um vasto espectro de intervenientes, tais como as teorias que as fundamentam, modificam e oportunizam um novo caminhar no cenário da Educação Superior.

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