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Que evidências se tem de que diferenças na aprendizagem e desenvolvimento cognitivo são atribuídas a diferentes experiências universitárias dentro da

Capítulo 2 2 ESTADO DE CONHECIMENTO: o comprometimento discente com a

4. Que evidências se tem de que diferenças na aprendizagem e desenvolvimento cognitivo são atribuídas a diferentes experiências universitárias dentro da

mesma instituição?

Respondendo à primeira questão, alguns estudos indicaram que os ganhos cognitivos não estão limitados a ganhos acadêmicos. Afigurou-se que os alunos também adquirem ganhos importantes na sua capacidade de processos complexos de pensamento. Isso engloba capacidades intelectuais tais como elaboração de conceitos, analisar dados e argumentos de forma consistente, habilidades de pensar abstratamente e discriminar quantidades de

abstrações. No entanto, segundo o autor, não se tem até então base de dados convincentes e comparáveis para avaliar a influência da universidade sobre os processos cognitivos, tais como o julgamento reflexivo ou o pensamento crítico. Isso se dá devido ao fato de que os aspectos intelectuais ou desenvolvimento cognitivo, em relação à Educação Superior, têm uma conceituação complexa. Complexidade cognitiva é entendida como a capacidade que a pessoa possui de atender a uma grande variedade de estímulos cognitivos podendo organizar suas relações sob um complexo ambiente externo e sob diferentes caminhos (HARVEY; HUNT; SCHRODER, 1961).

A resposta à segunda questão se apontou mais complexa devido ao âmbito e concepções das investigações em que se apresentaram as mudanças estudantis na universidade. Na maioria das vezes, os estudos a respeito foram longitudinais e tentaram incluir diferentes grupos de indivíduos, como por exemplo, os que não frequentavam a universidade, os que estavam em curso ou os que já eram formados. Os dados apontaram que é quase impossível controlar as diferenças individuais entre indivíduos, atribuindo aleatoriamente diferentes níveis de exposições na universidade. Tais estudos dependem de critérios estatísticos mais completos, com análise de covariância, regressão múltipla e não apenas um estudo longitudinal como ocorreu. Enquanto não se tem provas convincentes, dados sugeriram que a faculdade vem influenciando verbal e matematicamente a aprendizagem. A não existência de uma base de dados comparáveis para avaliar a influência da universidade sobre processos cognitivos tais como o pensamento crítico ou reflexivo, dificultou maiores conclusões, nessa época. Isto é lamentável, mas também compreensível, pois muitas das medidas utilizadas para avaliar processos de pensamento crítico ou reflexivo exigem entrevistas detalhadas a respeito. Portanto, não houve evidências que sugerissem que o desenvolvimento da flexibilidade intelectual é atribuível à experiência própria da universidade, e não apenas como um processo natural de maturação intelectual que ocorre ao longo de um período de quatro anos. Esta prova, no entanto, é menos convincente do que a que se refere à influência da universidade em aprendizagem verbal e matemática.

Quanto à terceira questão, uma das hipóteses testadas através das investigações já existentes é que medidas tradicionais de qualidade institucional influenciam na realização do estudante, como por exemplo, a proporção professor-alunos, o tamanho da biblioteca, a seletividade do corpo discente, a qualificação dos professores.

Observa-se a necessidade de medidas menos globais em relação ao ambiente universitário, mas sim mais específicas e proximais às experiências dos estudantes. Isso pode incluir, mas não se limitar, a frequência e a intensidade do envolvimento em atividades

extracurriculares e culturais, a qualidade e foco das interações com seus pares, a extensão e a qualidade da interação informal com professores e a qualidade da instrução formal recebida. Tais ambientes podem se apresentar ao estudante como um conjunto desafiador de experiências acadêmicas, culturais e intelectuais. Esses ambientes encorajam o envolvimento e o esforço do estudante, onde o grau de envolvimento e a qualidade do esforço do mesmo influenciam diretamente em sua aprendizagem.

Estudos referentes à última questão lembram que a maioria das instituições não são organizações monolíticas, com um único conjunto uniforme de estímulos ambientais capazes de afetar igualmente a todos os estudantes. Pelo contrário, os indivíduos são membros de diferentes subambientes dentro da mesma instituição que pode ter substancialmente diferentes influências sobre o crescimento e desenvolvimento cognitivo.

A frequência e a qualidade da interação entre aluno e professores tendem a ser significativa e positivamente associadas às realizações acadêmicas. Porém, nem todos os tipos de interações em aula com professores têm uma influência no desempenho acadêmico dos alunos. Os fatos mais marcantes na interação parecem ser as preocupações centradas na carreira estudantil e questões intelectuais. Outras provas sugerem que a relação entre a aprendizagem do aluno versus sua pessoa e a adaptação no ambiente é complexa. O foco nas interações curriculares é necessário para adequar-se ao nível de desenvolvimento cognitivo, ou seja, pessoa versus ajuste no ambiente instrucional. A validade interna das experiências de avaliar a influência dessas intervenções curriculares, no entanto, não é particularmente forte. Existem elementos que sugerem que o pensamento crítico pode ser influenciado positivamente por abordagens de instrução que maximizam o envolvimento e participação do estudante em um nível relativamente elevado da atividade cognitiva. A investigação em que estes resultados se basearam, porém, é correlacional e não de natureza experimental. Resultados dos estudos de Pascarella (1985) sugerem que o desenvolvimento cognitivo estudantil é reforçado pela instrução de procedimentos que promovem a participação ativa do aluno no processo de aprendizagem em um nível bastante elevado de troca entre estudantes e intelectuais. Logo, a partir de intervenções curriculares, esses dados parecem reforçar o potencial importante de cursos e aulas como um mecanismo institucional capaz de estimular o desenvolvimento cognitivo dos alunos.

A aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo na universidade, são vistos por Pascarella (1985) como função de influências diretas e indiretas em cinco grandes blocos de variáveis, como segue na figura 11.

Aprendizagem e desenvolvimento cognitivo são diretamente influenciados pelas características próprias dos estudantes, por suas interações com agentes de socialização e pela qualidade de seus esforços. Interação com professores também inclui as interações em sala de aula e a qualidade intelectual dos conteúdos e instruções que receberam. Características organizacionais e estruturais do ambiente universitário influenciam indiretamente a aprendizagem, e os resultados cognitivos agem mediante as interações com agentes de socialização e a qualidade do esforço do estudante. Esse modelo é sugerido por Pascarella para entender as influências que intervêm na aprendizagem e desenvolvimento cognitivo na Educação Superior.

Os estudos de Pascarella apresentados até aqui correspondem a resultados obtidos de pesquisas realizadas anteriores a 1985; observa-se, porém, que seus estudos continuaram nas propostas indicadas por ele acima, e resultaram em importantes respostas para a melhoria da Educação Superior, como pode ser observado a seguir.

Figura 11 – Um modelo geral para avaliar os efeitos dos diferentes ambientes institucionais na aprendizagem e desenvolvimento cognitivo estudantil

Fonte:Adaptado e traduzido dePascarella (1985).

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL CARACTERÍSTICAS DA INSTITUIÇÃO  Ambiente  Relação aluno-professor  Seleção  % de residencial ANTECEDENTE ACADÊMICO/TRAÇOS PRÉ-UNIVERSITÁRIOS  Capacidade  Conquista  Personalidade  Aspiração  Etnia 

INTERAÇÃO ENTRE AGENTES DE SOCIALIZAÇÃO  Professores  Colegas QUALIDADE DO ESFORÇO DO ESTUDANTE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO COGNITIVO AMBIENTE INSTITUCIONAL

Pascarella, após os estudos apresentados no College Environmental Influences on

Learning and Cognitive Development: A Critical Revew and Synthesis (1985), continua suas investigações a respeito da influência da universidade sobre os estudantes, e juntamente com Terenzini publica o livro How College Affects Students: Findings and Insights from Twenty

Years of Research em 1991. Mais tarde, em 2005, publicam o segundo volume: How College

Affects Students: A Third Decade of Research.

O volume de 1991 faz uma revisão e síntese da investigação a respeito da influência da universidade sobre os estudantes; apresenta uma discussão detalhada sobre a evolução dessa linha de pesquisa como uma área de estudo; aborda a influência da universidade sobre a aprendizagem e desenvolvimento cognitivo; inclui o desenvolvimento de competências intelectuais e analíticas; aborda as dimensões do crescimento pessoal e da realização socioeconômica; inclui os efeitos a longo prazo da universidade sobre a qualidade de vida dos estudantes; aponta alguns indícios do impacto causado pela influência da universidade e discute implicações das provas de prática institucional e políticas públicas, entre outras questões (PASCARELLA; TERENZINI, 1991).

No volume de 2005, os autores revisam as conclusões do volume anterior, sintetizam e comparam o que foi aprendido desde 1990 acerca das influências da universidade sobre a aprendizagem dos alunos e observam que: “O impacto da universidade é, em grande medida determinado pelo esforço individual e do desenvolvimento no âmbito acadêmico, interpessoal e extracurricular ofertados no campus 24.” (PASCARELLA; TERENZINI, 2005, p. 602). Em cada um dos capítulos do último volume eles apresentam provas relativas a uma categoria ou resultados específicos, tais como o ensino ou o desenvolvimento psicossocial. Trazem uma análise abrangente da literatura a respeito do que se sabe acerca do impacto da universidade sobre os estudantes.

Pascarella e Terenzini (2005) adotam um quadro organizacional resumindo o volume em termos de seis questões fundamentais:

1. Os alunos mudam durante os anos na universidade, e em caso afirmativo, quanto e em que direção? (A questão é mudança)

2. Em que medida é que essas mudanças são atribuíveis ao atendimento universitário em vez de outras influências, tais como normais ou maturação advindas não de experiências universitárias? (A questão é rede de efeitos).

24 Tradução livre de: the impact of college is largely determined by individual effort and development in the academic, interpersonal, and extracurricular offering on a campus.

3. São essas mudanças diferencialmente relacionadas ao tipo de instituição em que participou? (A questão são os efeitos entre faculdades)

4. São essas mudanças relacionadas às diferentes experiências dos alunos dadas em

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