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Capítulo 2 2 ESTADO DE CONHECIMENTO: o comprometimento discente com a

6. É duradoura a influência da universidade? (A questão é que efeitos causam a longo prazo).

2.1.4 OS ESTUDOS DE TINTO: integração social e acadêmica do aluno

Em 1987, têm-se os estudos de Tinto, voltados à integração social e acadêmica do aluno. O autor se centra no papel que as instituições de ensino desempenham para influenciar o desenvolvimento social e intelectual de seus alunos. Neste sentido, Tinto diz: “[…] as instituições e os estudantes seriam mais bem servidos se uma preocupação para a educação dos alunos, sua inserção social e crescimento intelectual, fosse o princípio orientador da ação institucional26.” (1987, p. 5).

Esta preocupação de Tinto é devida ao grande número de alunos evadidos da universidade. Ele vê as questões de integração social e acadêmica como formas de manter o aluno na faculdade, e que o segredo para o sucesso da permanência reside no entusiasmo com que as instituições se envolvem no desenvolvimento social e intelectual dos seus alunos. Embora as faculdades sejam constituídas por um aglomerado de comunidades social e intelectual, composto por estudantes, professores e pessoal, cada uma com diferentes formas de associação e subordinação dos seus membros e entre si, o envolvimento e participação do estudante com o todo da instituição se refletem como principal fonte de compromisso para com sua própria aprendizagem.

Segundo Tinto (1987), as taxas de evasão nas instituições de ensino refletem as características e circunstâncias particulares da instituição, onde as evasões entre os grupos de alunos podem indicar uma ampla diferença na natureza das suas experiências no domínio da Educação Superior, porém apenas o conhecimento das experiências dos indivíduos dentro das configurações institucionais específicas pode dizer o caráter único da evasão nas universidades. Em muitos aspectos a evasão é um evento idiossincrático. Entretanto, da diversidade de comportamentos relatados a respeito dessa questão, oriundos da investigação,

activities; progress is made toward the development of personal identities and more positive self-concepts; and there is an expansion and extension of interpersonal horizons, intellectual interests, individual autonomy, and general psychological maturity and well-being. Thus, it can be said that nature and direction of freshman-to- senior changes appear to be reasonably stable and to some extent predictable (PASCARELLA; TERENZINI, 1991, p. 563-564).

26 Tradução livre de: [...] institutions and students would be better served if a concern for the education of students, their social and intellectual growth, were the guiding principle of institutional action.

surgiu certo número de temas comuns, como principais causas da evasão universitária. Esses temas por um lado dizem respeito às disposições próprias dos indivíduos que ingressam na faculdade, por outro lado, ao caráter das suas experiências interacionais na instituição após a entrada.

No nível individual, há dois atributos que se destacam como principais causas de evasão: a intenção e o comprometimento do estudante. Ambos referem-se à disposição e importância pessoal, com as quais cada aluno, em particular, entra na instituição de Educação Superior. Estes não só ajudam a definir o perímetro de realização individual, mas também servem para estimular o aluno às experiências proporcionadas pela instituição.

No nível institucional, há quatro formas de experiência individual que influenciam a evasão dos alunos, que são: adaptação, dificuldade, incongruência e o isolamento. Cada um descreve um importante resultado interacional, decorrente de experiências individuais no interior da instituição. Embora essas experiências sejam em grande parte resultante de eventos realizados na instituição após o ingresso, elas necessariamente também refletem os atributos, habilidades e disposições dos alunos antes da entrada e o efeito de forças externas sobre a participação individual na universidade.

As novas experiências sociais e intelectuais durante os anos na universidade de acordo com Tinto (1993) constituem-se em um fator importante para a maioria dos jovens, contribuindo para com o crescimento pessoal e profissional a fim de que possam melhor enfrentar a questão da carreira quando adultos. Eles entram na universidade com a esperança de que serão capazes de formular, para si, não para os pais, uma significativa resposta a essa importante questão. A universidade é para seus alunos a experiência de uma descoberta bem como uma confirmação. Isso significa que a universidade faz parte do complexo processo de crescimento pessoal.

O comprometimento individual quer seja expresso como motivação, energia, ou esforço também se revela relacionado à evasão existente nas instituições de Educação Superior.

Isto é óbvio, resultados da investigação à parte, que, uma pessoa está disposta a trabalhar para a realização das suas metas é um componente importante do processo de persistência no domínio da Educação Superior. Inversamente, a falta de vontade ou comprometimento demonstra ser uma parte crucial do processo de evasão. O fato inevitável é que a conclusão da universidade requer algum esforço27. (TINTO, 1987, p. 44).

27 Tradução livre de: It is obvious, research findings aside, that, a person's willingness to work toward the attainment of his/her goals is an important component of the process of persistence in higher education. Conversely, the lack of willingness or commitment proves to be a critical part of the departure process. The unavoidable fact is that college completion requires some effort.

Em muitas universidades os recursos são escassos para atender as demandas sociais e acadêmicas o que reflete em pouca vontade de comprometer-se com o investimento de tempo e/ou energia. É também claro que nem todos os alunos que ingressam na universidade possuem comprometimento. E muitas vezes a evasão é o reflexo, não de uma incapacidade, mas da falta de vontade de aplicar-se para a realização dos objetivos desejados.

Dentre as formas de interação que mais intervêm para uma maior retenção dos alunos na universidade, Tinto (1987, 2000, 2005) menciona o envolvimento na vida estudantil do colégio e a variabilidade de atividades que envolvem os estudantes e professores. O caráter de interações do corpo docente e aluno dentro dos domínios da formação acadêmica, mais especificamente na sala de aula, podem influenciar a probabilidade de novas interações fora da sala de aula. O contato informal entre professores e alunos, ou seja, aquele que ultrapassa a mera formalidade do trabalho acadêmico e intelectual, tais como as questões sociais, é visto pelos estudantes como caloroso e gratificante. Esse contato é bem mais importante no início da carreira estudantil, pois mais tarde a adesão intelectual e social já está estabelecida. As interações com o corpo docente estão associadas ao aumento do desenvolvimento intelectual e social evidenciando estarem fortemente associadas com a persistência na instituição. As ações em um domínio interacional quase sempre têm ramificações em outros domínios de atividades. Experiências informais no sistema acadêmico mais o feedback sobre as experiências no domínio formal, contribuem fortemente para a persistência na universidade. Instituições com altos índices de evasão são aquelas que geralmente apresentam baixas taxas de contato entre professores e alunos, enquanto que aquelas que apresentam baixos índices de evasão são marcadas por altas taxas interacionais.

Ainda segundo Tinto (2005), há outras formas de interação, tais como: programas extracurriculares, atividade remunerada na instituição, a existência e variedade de clubes, associações de estudantes, programas culturais, atividades sociais e intelectuais, e outros semelhantes, como locais de encontro natural para estudantes e professores. Todas essas formas de interação reforçam a permanência do estudante na instituição.

A integração nos meios acadêmicos e sociais da universidade, bem como o formal e o informal, o coletivo e individual não constituem um processo distinto, não resultam totalmente independentes, pelo contrário, são mutuamente interdependentes, caso contrário seria distorcer o caráter integrador das experiências individuais na faculdade. Ambos são essenciais para o desenvolvimento integral do indivíduo. As experiências individuais no formal e informal dos domínios das universidades e dos sistemas sociais da instituição são centrais para a retenção estudantil.

O estabelecimento de uma variedade de habilidades, metas e compromissos atribuem ao aluno tanto o papel de ator como o de intérprete das interações que ocorrem dentro da instituição. E apesar dos eventos sociais desempenharem um papel importante na formação comportamental dos alunos, eles possuem importância secundária em relação aos da vida intelectual da instituição, pois a centralidade da vida intelectual é que dá continuidade à aprendizagem e a persistência dos alunos.

Para que haja alunos envolvidos ativamente na sua própria aprendizagem, é preciso que o conjunto universitário esteja envolvido com a aprendizagem. Para que os alunos se tornem comprometidos com os objetivos da educação, deve-se em primeiro lugar se demonstrar um compromisso com os objetivos e para com os alunos. Não se pode esperar que os alunos façam o que a instituição é incapaz ou não quer fazer. Compreendida desta forma, a análise de retenção do aluno pode ser vista, como uma análise aplicada à questão de aprendizagem dos alunos.

O sucesso não pode estar voltado apenas para a questão de retenção nos programas, mas sim, programas preocupados com a educação em geral. Isto depende da construção de comunidades educativas na faculdade, programas e níveis de aula que integram alunos para a vida intelectual e social nos cursos da instituição. Comunidades educativas que estão comprometidas com os seus alunos e que os envolve na comunidade educacional da vida estudantil também geram envolvimento na aprendizagem e, por extensão, o comprometimento com os objetivos da educação, logo, uma maior permanência estudantil na universidade.

Tinto (1987), em todo seu livro Leaving College. Rethinking the Causes and Cures of

Student Attrition, aborda todas as questões acima mencionadas de forma mais bem elaborada a respeito da relevância da interação social e acadêmica na universidade, a fim de reter o estudante na instituição. E no objetivo de estudo deste trabalho, comprova-se o papel dessas interações como forma de estimular e proporcionar ao aluno o desenvolvimento de um maior envolvimento para com sua aprendizagem.

2.1.5 OS ESTUDOS DE CHICKERING e GAMSON: sete princípios para boa prática

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