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5. FATZER EM JOGO: EXPERIMENTOS COM O TEATRO MÁQUINA

5.2 Relatos por dia

5.2.2 ETAPA DE TRABALHO

A etapa de trabalho 2 teve um plano operativo diferente da etapa de trabalho 1. Para essa etapa, rearranjei as atividades do plano operativo da primeira etapa, mas, especialmente, propus outra qualidade para as atividades. Essa nova proposição, que alterou o formato, mas permaneceu com os jogos de improviso

baseados nos textos, já encontrou um grupo bem mais à vontade com o texto e seus personagens. Por considerar que as situações centrais do Fatzer já foram expostas e o grupo já se relacionou com as principais questões de forma confortável, propus um novo plano operativo com situações dirigidas, porque as situações dramáticas já foram construídas e os personagens já eram conhecidos.

Dia 0171 Atividades: a) Jogo As colheres b) Discussão c) Leitura do texto d) Discussão e) Relato pessoal f) Jogo A carteira g) Discussão

h) Leitura dos protocolos

i) Encaminhamentos para o dia seguinte

Relato das atividades:

a) Jogo As colheres

Materiais: sopa, duas colheres, um prato fundo, duas xícaras. Pequena mesa, dois bancos.

Procedimentos: um ator fica fora da sala, os outros quatro já estão dentro. Improvisar a situação a partir da entrada do ator que estava fora, a partir do que cada um acredita ser possível ao personagem que representa. Não há indicação textual, nem de ações para a contracenação. Observar o que os chama a atenção em cada rodada de improvisação, apropriar-se e repetir, adaptando o já construído pelos colegas às novas necessidades.

Indicações: solicitar ao atores que tentem tomar a sopa dividindo as colheres que estão lá, assim como os pratos e as xícaras. Enquanto comem, podem jogar o jogo das pedras. Quando o ator que faz a Sra. Kaumann sair da sala, o ator que faz o Fatzer deve segui-lo.

O dia de trabalho começou no escritório do grupo. Comuniquei aos atores que começava uma nova fase de trabalho e apresentei a eles o novo plano operativo. Pedi para quatro atores irem para a sala de ensaio, ficando apenas um ator no escritório. Levei para a sala de ensaio a sopa e duas colheres, um prato fundo e duas xícaras. Havia também uma pequena mesa e dois bancos. O ambiente foi o

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 71 Dia 02.03.12, de 9h às 12h.

mesmo que preparei quando o grupo improvisou a chegada dos soldados na casa da Sra. Kaumann.

Deixei com eles também o copo com as bolinhas do jogo de azar e orientei que, enquanto esperavam pela Sra. Kaumann, jogassem. Expliquei que eles deveriam improvisar a partir do que fosse trazido pelo ator que não estava ali, ele faria o papel da Sra. Kaumann. Defini com os atores quem faria Kaumann, Fatzer, Büsching e Koch. Dei uma única indicação de ação: quando a Sra. Kaumann saísse, o ator que faria Fatzer deveria segui-la.

Para o ator que ficou no escritório, dei as orientações principais. Ele deveria chegar no lugar trazendo mais colheres e se surpreender porque os outros já estariam comendo, mesmo com a quantidade de talheres insuficiente. Informei quem faria Kaumann, Fatzer, Büsching e Koch. Apresentei ao ator que faria a Sra. Kaumann as frases que deveriam ser ditas para determinados personagens. O ator deveria encarar as frases como base para sua improvisação. As frases eram:

Para Kaumann: “Está satisfeito? Vou falar na frente deles mesmo, você nunca está sozinho!”

Para Fatzer: “Eu não gosto de você! De todos três, você é o que eu menos gosto.”

Para todos: “Vocês podem sair, por favor! Eu preciso que meu marido meta entre as minhas pernas. É rápido.”

Ao final, o ator que faria a Sra. Kaumann deveria sair da sala. O ator que faria Fatzer deveria segui-la.

Com essas frases os atores tinham material para improvisar. Elas traziam o conteúdo, mas não a forma de falar. O ator podia explorá-las no jogo com os outros, que não receberam indicação alguma de resposta para a contracenação.

Primeira rodada: Loreta (Sra. Kaumann), Edivaldo (Kaumann), Luíza (Koch), Aline (Büsching), Levy (Fatzer). A situação se desenrolou rapidamente. Os quatro já estavam comendo. Loreta entrou com as colheres, colocou-as sobre a mesa. Levy não respondeu nada quando Loreta se dirigiu a ele. A reação de Edivaldo foi favorável aos amigos. Ele disse a Loreta quando ela pediu que eles saíssem: “Eles não vão sair.” Loreta recolheu todos os pratos e talheres e saiu.

Procedeu-se a troca de papéis. Pedi que observassem o que os interessou na primeira improvisação e mantivessem, adaptando às novas necessidades.

Segunda rodada: Edivaldo (Sra. Kaumann), Levy (Kaumann), Aline (Koch), Luíza (Büsching), Loreta (Fatzer). Uma ação interessante surgiu da improvisação de Levy. Ele não deixou que Edivaldo recolhesse seu prato. Repetiu a frase de Edivaldo na primeira rodada: “Já chega, ninguém sai”. Luíza promoveu o jogo das pedras72 durante a discussão. Edivaldo saiu, levando apenas um prato.

Terceira rodada: Luíza (Sra. Kaumann), Aline (Kaumann), Loreta (Koch), Levy (Büsching), Edivaldo (Fatzer). Luíza colocou as colheres com força sobre a mesa, sublinhando a frase: “Trouxe mais colheres”. A atriz se confundiu na divisão dos papéis e se dirigiu a Edivaldo como se ele fizesse Kaumann. Os outros atores sustentaram a improvisação, mas Luíza percebeu sua confusão e interrompeu o jogo. O jogo recomeçou. Ela trouxe um elemento novo na sua improvisação, quando Aline disse que ninguém ia sair: Luíza derramou todo o líquido no prato e tentou alimentar cada um, de forma agressiva, repetindo: “Então é isso, ninguém vai sair, ninguém vai sair!” Edivaldo disse que ela estava muito nervosa. Ela recolheu tudo e saiu atônita.

Quarta rodada: Levy (Sra. Kaumann), Luíza (Kaumann), Edivaldo (Koch), Loreta (Büsching), Aline (Fatzer). Levy improvisou uma Sra. Kaumann tensa. Nesta troca de papéis, Luíza acrescentou um elemento novo à frase de Kaumann: “Eles precisam ficar aqui. Nós precisamos ficar juntos. Você não entende.”

Quinta rodada. Aline (Sra. Kaumann), Loreta (Kaumann), Levy (Koch), Edivaldo (Büsching), Luíza (Fatzer). Aline entrou bastante exaltada. Ela não aceitava a decisão de que eles iriam ficar. Disse para Loreta: “Você precisa me comer, você precisa me comer.” Loreta reagiu: “Cala a boca!” Quando Aline saiu, Luíza a seguiu, mas olhou antes para Loreta.

b) Discussão

Na avaliação da situação improvisada, os atores disseram que a cada nova troca de papéis, imaginaram possíveis ações para os personagens. Para a Sra. Kaumann: entrar, ficar nua, não falar nada, deitar-se no meio dos seus hóspedes e abrir suas pernas, tentar agarrar seu marido na frente de todos, ou qualquer um outro, menos Fatzer, deitar-se entre os soldados e de lá dizer ao marido que !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

72 Nessa etapa da prática, o jogo das pedras foi incluído como uma das ações dos personagens,

gostaria que ele metesse entre suas pernas. Para Koch, pensaram em ações que revelassem calma, tranquilidade, envolvendo-se pouco com a discussão. Sugeriram que Büsching brincasse com a situação, risse dela, especialmente pela forma que o marido reage às tentativas de sua mulher. E para Fatzer seria interessante explorar mais o silêncio, o riso, o elogio à comida.

Discuti com o grupo sobre essa nova forma de improviso, com os papéis definidos, mas sem conteúdo prévio para a contracenação. O jogo entre os atores, porque são um grupo e porque estavam já há seis encontros trabalhando com o mesmo material, ganhou com o novo desafio. O improviso é também o improviso com uma nova forma de jogar. A primeira rodada instaurou o novo jogo de improviso e convocou os atores a ficarem atentos à construção do jogo. Os atores comentaram que o lugar do jogador é ao mesmo tempo o do ator e do espectador. Assistem enquanto fazem, mas especialmente jogam, tentando manter a atenção na cena, nas saídas encontradas na contracenação. A cada nova rodada eram instigados a colaborar criticamente, mesmo com o desafio de fazer novamente, acumular, analisar, repetir e propor um adendo à ação do colega ou uma nova ação.

c) Leitura do texto

A leitura do fragmento do qual criei o jogo com a situação dramática foi feita. Segue aqui um trecho:

Entra a Sra.Kaumann

SRA. KAUMANN

Estão todos comendo? Não precisam mais de uma colher? Ou de duas colheres? Para Kaumann Está

Satisfeito, não precisa mais de

Nada? Se você não quer falar, eu quero falar, e se Nunca está sozinho, vou

Falar na frente deles, desses que estão se devorando. Você

Para Fatzer

Eu odeio mais que a todos porque você É o mais durão e podia encontrar o que comer.

Fatzer ri

Por isso eu pergunto: não querem Tomar um arzinho

Ou sair um pouco para que eu

Possa ficar a sós com o que é meu. Falo para qualquer um: Ele tem que meter entre as minhas pernas. Demora Só uns minutinhos, desculpem enquanto isso Mas tenho direito.

Cale essa boca! Você Não tem vergonha?

SRA. KAUMANN

É bem ela que esta me faltando. Quando Tiro sua comida da frente você

Fica irado. Mas Eu vou fazer o que? KOCH

Levantem, peguem o prato E comam lá fora

KAUMANN

Vocês podem ficar aqui dentro. Quando como capim, guarde bem, Não tenho desejo por

Mulher! E Ponto final.

Sra. Kaumann sai Fatzer sai

(BRECHT, 2002b, p.135-137)

e) Discussão

Discuti como era interessante a semelhança entre as reações encontradas pelos atores e as que estavam no texto. Minha estratégia de não ler o texto, mas improvisar a partir de uma proposição retirada do texto para só depois ler o trecho original, vinha trazendo frutos interessantes. Acredito que sem o texto prévio, mas conhecendo a situação através da proposição da atividade que eu levava, os atores se sentiam mais à vontade para trabalhar. Minha estratégia foi a de fazer um tratamento dramatúrgico no fragmento para aproximar os atores das situações a serem improvisadas, a fim de experimentar a possibilidade de apropriação crítica através do jogo e da imitação.

e) Relato pessoal

Procedimentos: contar uma história que viveu a partir de tema pré- determinado.

Situação: descrever uma situação em que precisou emprestar todo o dinheiro que tinha.

Enquanto o grupo discutia a primeira etapa, sem formalizar o fim de uma atividade e o início de outra, perguntei a eles se alguma vez tiveram que emprestar dinheiro, se já tiveram que entregar todo o dinheiro que tinham para alguém e ficar

sem nada. A princípio todos disseram que sim e foram contanto suas histórias. Não pedi que as recontassem. A atividade do relato, nessa segunda fase de trabalho, teve função prioritária de prólogo. O interesse pelas situações particulares era menor diante dessa nova função. A situação tema do relato seria também a que os personagens iriam experimentar no fragmento a ser trabalhado. Ao relatar experiências semelhantes, os atores se aproximaram do tema do fragmento seguinte. Exercitando a observação, puderam assimilar parte das ações do relato na leitura da segunda etapa dos jogos de improviso.

f) Jogo A carteira

Materiais: texto impresso.

Procedimentos: manter o texto como material de apoio e lê-lo diretamente, se necessário. Três atores sabem os personagens que vão representar, outros dois não.

Indicações: à medida que as trocas de papéis forem sendo feitas, improvisar trechos do texto. Apropriar-se das construções já feitas a cada troca de papéis.

Segue aqui um trecho do texto lido: KOCH

Passem suas coisas para cá !

Eles puxam a sacola de dinheiro pendurada no peito

Fatzer!

Onde você estava?

FATZER Lá fora.

KOCH

Não sabemos o que vai

Ser da gente, porque não temos mais nada Para comer. Então a gente esvaziou nossa Carteira e

Você deve guardar porque Um é mais seguro do que quatro E você sempre foi mais

Seguro. FATZER Koch, você É um safado, eu Conheço você. KOCH

Quer dizer então que você não quer guardar?

FATZER

Pense melhor, lhe dou Um minuto.

BÜSCHING

O que é isso, Fatzer?

KAUMANN

Pegue o que a gente esta lhe dando. A gente tem confiança.

FATZER pega

Então passem para cá o que vocês têm!

Ri.

(BRECHT, 2002b, p.209-217)

Depois de feita a leitura do texto, pedi para que dois atores saíssem da sala onde tinha sido lido o texto. Eles seriam os primeiros a fazer o Fatzer e a Sra. Kaumann. A idéia era dar continuidade à cena anterior, quando Fatzer sai atrás da Sra. Kaumann no jogo As colheres. A situação de improvisação a ser trabalhada seria a que contém parte do diálogo dos soldados sobre Fatzer, antes do seu retorno. Enquanto eles conversam, escutam-se os gemidos de uma suposta relação sexual entre Fatzer e a Sra. Kaumann. O retorno de Fatzer obedece à deixa do ator que faz Koch: “Passem suas coisas para cá!”. Os atores que estavam fora da sala não sabiam quem faria Koch, Büsching ou Kaumann. O retorno dos dois (Fatzer e Sra. Kaumann) definiria isso. O jogo improvisacional ganhou em sofisticação: alguns atores sabiam quem eram os personagens, outros não. O olhar do ator que faz a Sra. Kaumann define quem é o seu marido e isso instaura, por eliminação, o lugar do ator que faz Büsching.

O retorno dos atores que faziam Fatzer e a Sra. Kaumann à sala era instaurador do jogo. O olhar para Kaumann marcou, além de uma ação, uma atitude para a Sra. Kaumann, que foi aperfeiçoada nas trocas de papéis. Büsching seria aquele que sobrasse: nem seria Koch, porque não deu a deixa para Fatzer entrar, nem foi olhado por quem fazia a Sra. Kaumann. O interessante é que a indicação de decidir com o olhar quem seria Kaumann pôde ir ganhando outros desenhos. Levy, ao ser indicado que seria Kaumann, se levantou. O olhar da mulher deixou de ser apenas uma indicação e ganhou, com o gesto de se levantar, a dimensão da provocação, do ciúme, de ânimos alterados. A cada nova troca, os atores, desde esse gesto do Levy, passaram a se levantar quando a Sra. Kaumann olhava. O ator que fizesse Fatzer deveria rir ao final, depois de dizer “Então passem para cá o que vocês têm!”. O riso começou meio tímido e foi ganhando proporções muito grandes. Foi outra ação que se tornou atitude, o gesto foi então repetido e enfatizado.

g) Discussão

Os atores realizaram as trocas animados. Eles vinham gostando muito de experimentar a possibilidade de ocupar um lugar recém-ocupado e poder contribuir com suas observações. O estado da improvisação era garantido por não saberem quem seria Kaumann, nem Büsching. Entender o jogo como lugar onde isso se define, dá ao jogo um certo status metodológico.

O grupo discutiu sobre a relação entre essa cena e a trabalhada ao final do encontro anterior. O conselho formado pelos desertores havia decidido em votação se queriam carne ou luta. A votação parecia se configurar como um instrumento de decisão no tipo de soviete criado ali. Mas o que foi revelado através dessa situação trabalhada na segunda etapa, a das carteiras, é que Koch não faz nenhum tipo de consulta, simplesmente decide que todos devem entregar tudo que têm a Fatzer. Por que, nesse caso, não foi feita nenhuma votação? Em que caso é preciso votar? A favor do quê/de quem as personagens optam por uma decisão coletiva? A noção de acordo, tema tão caro às peças didáticas, surge aqui em um novo contexto: para entrar em acordo todos precisam estar de acordo?

h) Leitura dos protocolos

Os protocolos relativos ao último encontro da etapa de trabalho 1 foram lidos. Edivaldo trouxe um protocolo em formato de caixinha de doce de goiaba. Ele vinha explorando a sua história pessoal com a situação de fome dos soldados. Foi muito interessante como Edivaldo elaborou esse material a partir dos seus elementos cotidianos. Fez também um vídeo. Loreta leu uma carta escrita por Rosa Luxemburgo, fazendo da leitura da carta sua forma de apropriação e registro. Luíza escreveu sobre o silêncio e Aline trouxe um modelo de protocolo em que todos teriam que participar, para que o protocolo aparecesse: distribuiu papéis e ao som de Ray Charles cantando Hit the Road Jack, o grupo seguia suas orientações para dobraduras até cada um formar uma pistola, na qual Aline já havia escrito: carne ou luta? Não saber o que se montava ao dobrar o papel, deu à atividade uma qualidade que espelhou, de alguma forma, o modo como as proposições para o jogo vinham sendo construídas: brincando, elas ganhavam forma.

i) Encaminhamentos para o dia seguinte

Solicitei dos atores que produzissem o protocolo desse encontro. Pedi aos atores que relessem todos os trechos que o grupo já havia trabalhado até esse encontro, destacando o que consideravam as falas-chave, os trechos imprescindíveis. Dia 0273 Atividades: a) Jogo A carta b) Discussão c) Relato pessoal d) Jogo A corda e) Discussão

f) Leitura dos protocolos e encaminhamentos finais

Relato das atividades

a) Jogo A carta

Materiais: carta, cigarro, isqueiro, mala com roupas, som de guerra, alarme tocado de forma aleatória.

Procedimentos: leitura dramática com exploração dos materiais. Observação dos gestos criados. Apropriação e repetição. Troca de papéis.

Indicações: Um ator está fora da sala (Sra. Kaumann), ele coloca a carta por baixo da porta. No espaço fechado: um ator (Fatzer) fuma, outro (Menina) quer olhar lá fora e entreabre a porta. O ator não deve ler a carta em voz em alta, nem comentar seu conteúdo.

O dia começou com a apresentação dos materiais para a primeira etapa das atividades. Apresentei tudo o que trouxe e preparei: os sons de guerra e o alarme, o isqueiro e o cigarro, a carta e a mala. Expliquei ainda que a primeira improvisação aconteceria no escritório e a outra na sala de ensaios. Procedeu-se à leitura do trecho para a primeira improvisação, porque nesse caso o texto já seria material improvisacional:

MENINA

O diabo é que sabe porque Ponho você para dentro !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

E gosto que você Engula a minha sopa

E me trate na cama como alguém Que fuma ao mesmo tempo

Aposto que gente como você deve ter sido a Visão derradeira de muitas.

FATZER

Tem uns que ficam colados em mim feito

Merda no cachorro. O que faz eles grudarem em mim Não sei

Se eles aparecerem Diga que não estou. MENINA

Tá com medo deles, neném? FATZER

Nem um pouco, deixa a porta fechada.

MENINA abre a porta Tá ouvindo os tiros?

E o alarme. Olha o que está acontecendo!

FATZER levanta Abre! Tiros? Não falei?

Somos nós que atiramos Eles já estão aí e eu Vou me apresentar!

SRA. KAUMANN fora

Aqui mora um homem chamado Fatzer? Então entregue essa carta a ele!

FATZER Dê aqui! Marie! Dia a eles que agora

Está tudo certo. Nos veremos em breve, eles devem Ir embora! MENINA Ela ouviu e já Foi. Fatzer lê. MENINA É daqueles que

Colam em você feito merda no cachorro? E você se levanta na mesma hora?

FATZER É, levanto.

MENINA

Tá parecendo que a merda Assobia e o cachorro vem! FATZER bate nela

Tome isso, por Ter falado, quando

O assunto é entre homens E agora: pegue a sua mala E ponha a

Roupa nela, como se fosse se mudar Porque nós vamos

Para uma casa velha e vamos morar lá Quase que uma eternidade!

(BRECHT, 2002b, p.221-225)

Nesse trecho fica claro que Fatzer já não está mais no quarto de Kaumann, que mora com essa menina, ainda em algum lugar escondido. Retirei da leitura o trecho com o conteúdo da carta, porque esse era o elemento surpresa da improvisação. Mantendo o conteúdo da carta em segredo, eu poderia criar uma situação de suspense e surpresa, que daria ao jogo dinamicidade e interesse. O conteúdo da carta seria conhecido por cada novo Fatzer, em cada nova troca de papéis. O conteúdo da carta era: “Querido amigo/ Onde você está?/ Precisamos de você, por isso/ Volte para/ Conversar sobre o que/ Acontece com e entre nós, para que não restem duvidas!/ Seus amigos.” O jogo se inicia com a primeira dupla. Descrevo aqui as rodadas iniciais:

Primeira rodada: Edivaldo (Fatzer), Luíza (Menina), Aline (Sra. Kaumann). Nessa primeira rodada, a leitura atropelou a cena. Os atores ainda estavam pouco à vontade com o texto e a improvisação foi prejudicada. A improvisação foi repetida com esse mesmo trio sem trocar os papéis. O tapa na cara foi o gesto que mais chamou a atenção.

Segunda rodada: Luíza (Fatzer), Loreta (Menina), Levy (Sra. Kaumann). A menina feita por Loreta se antecipou às falas de Fatzer, já falava com a porta aberta, não escutou as recomendações de Fatzer.

Terceira rodada: Aline (Fatzer), Edivaldo (Menina), Loreta (Sra. Kaumann). Edivaldo estabeleceu uma relação com o abrir e fechar da porta, tentou fazer disso uma espécie de afronta a Fatzer. Notei aqui que ele se apropriou do que Loreta improvisou na rodada anterior e desdobrou em um gesto mais complexo.

Quarta rodada: Levy (Fatzer), Aline (Menina), Luíza (Sra. Kaumann). Aline fez uma menina atônita, rindo sempre.

Quinta rodada: Loreta (Fatzer), Levy (Menina), Edivaldo (Sra. Kaumann). O Fatzer da Loreta levantou-se apenas na hora de ler a carta, até então todos que fizeram Fatzer esperavam fumando que a menina trouxesse a carta.

Sexta rodada: Edivaldo (Fatzer), Loreta (Menina), Aline (Sra. Kaumann). Loreta pediu para fazer mais uma vez a menina e antes de entregar a carta a Fatzer,