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Evidências Trínítaríanas no Livro de Apocalipse

E

a convicção dos autores deste livro que nenhum estudo so­ bre a Divindade poderia ser completo para os adventistas do sétimo dia sem que se dedicasse cuidadosa atenção ao livro de Apocalipse.

Esse grande livro de visões, ao lado de Daniel no Antigo Testa­ mento, forneceu a convincente estrutura profética para a missão adventista no mundo. Temos encontrado significado especial nas grandes cenas retratadas ao longo do livro, especialmente nos ca­ pítulos 1 1 a 14, que sempre nos pareceram muito significativos.

A questão com a qual agora nos defrontamos é esta: será que o tema trinitariano se encontra subjacente aos panoramas proféticos desse livro culminante da Bíblia, no qual “todos os livros da Bíblia se encontram e se cumprem” (W hite, Atos dos Apóstolos, pág. 585)?

Conforme a experiência dos adventistas com o Apocalipse tem-se desdobrado, torna-se mais e mais claro que o centro des­ se livro fascinante ocorre nos capítulos 11 a 14. Além disso, algo realmente marcante em relação a esses capítulos é o modo como o conflito entre as forças do bem e do mal se manifesta em uma luta entre a Divindade (Pai, Filho e Espírito Santo) e sua contra- parte satânica (o dragão, a besta e o falso profeta).

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O que está se tornando mais e mais claro aos comentaristas (tanto leigos quanto eruditos), no que tange a Apocalipse, é que o dragão constitui uma paródia e contrafação do Pai; a besta se­ melhante ao leopardo procura suplantar e parodiar a obra do Filho; e o falso profeta é a versão enganosa de Satanás em relação à obra do Espírito Santo (Paulien, págs. 105-150).

Ora, se estas observações possuem algum fundamento, faz realmente sentido que o livro de Apocalipse contenha, como um de seus temas-chaves, fortes indicações da profunda unidade do verdadeiro “Trio Celestial”, da plena divindade de Cristo e da personalidade do Espírito. Será que existe evidência digna de cré­ dito neste sentido?

Embora o livro de Apocalipse não aborde diretamente a questão da Divindade, ele parece ter definitivamente pelo menos uma base “trinitariana”, que na verdade pode ser um tema da maior impor­ tância permeando a expressão da Divindade feita pelo revelador.

Este capítulo apresentará evidências em apoio aos três princi­ pais aspectos do conceito trinitariano de Deus: (1) a Divindade manifestada como um conjunto triúno pessoal e profundamen­ te unido; (2) a plena divindade de Cristo; e (3) a personalidade do Espírito Santo. As evidências mais claras são encontradas nos capítulos 1-5, 21 e 22.

Evidências dos Capítulos 1-3

A natureza trinitariana do Deus de Apocalipse é sugerida logo na introdução do livro. Apocalipse 1:4 e 5 diz que toda a visão provém “daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono, e da parte de Jesus Cristo”. Esta passagem claramente focaliza o Pai, o Espírito e o Filho, Ela é dire­ ta em apresentar o Trio Celestial. Ao passo que a referência a “Jesus Cristo” é inegável, as expressões “sete Espíritos” e “aquele que é, que era e que há de vir” merecem comentário adicional.

As razões mais óbvias para que o livro apresente o Espírito Santo como os “sete Espíritos” tem a ver com o seguinte:

1. O significado simbólico dos números (tecnicamente, numero- logia) no livro. Os números 7, 12, 3, 4 e 8 são os mais destacados. Sete, contudo, é o mais preeminente e provavelmente represente algo completo, ou o poder perfeito e criador de Deus.2

2. A implicação de que o Espírito fala e está disponível a todas as sete igrejas.

3. O envolvimento do Espírito nas providências de Deus operando através das numerosas séries de “sete” do livro - sete igrejas (Apoc. 2:1-3:22), selos (Apoc. 6:1-8:1), trombetas (Apoc. 8:6-11:15), trovões (Apoc. 10:2-4), sinais (Apoc. 12:1-14:20) e pragas (Apoc. 15:1-16:21).3

O título dado ao Pai, contudo, é um pouco mais com ple­ xo. Apocalipse 1:8 identifica o mesmo ser como “aquele que é, que era e que há de vir”, e ainda como o Alfa e o Ô mega, o Todo-Poderoso, o Senhor Deus. Q uem é o “Senhor” do verso 8: o Pai ou o Filho?

É importante observar que o livro de Apocalipse nunca aplica a expressão “aquele que é, que era e que há de vir”, ou o “Todo- Poderoso”,4 explicitamente a Jesus (ver Apocalipse 4:8; 11:15 e 17; 16:5 e 7 ).5 Isso constitui evidência bastante forte e im plícita de que o ser identificado como “aquele que é, que era e que há de vir”, em Apocalipse 1:4, não se refere nem ao Filho e nem ao Es­ pírito, mas exclusivamente a Deus o Pai.

Como foi dito no capítulo 1, é altamente significativo que o título “o Primeiro e o Ultimo”, utilizado nos versos subseqüentes (Apoc. 1:10-13, 17, 18), é muito parecido com o título “Alfa e Ômega”, o qual o livro de Apocalipse aplica a Jesus. Além disso, também observamos que em Apocalipse 22:12 e 13 Jesus aplica a Si mesmo as expressões “o Alfa e o Omega, o Princípio e o Fim” (em adição ao título “o Primeiro e o Ultimo”). O uso desses títulos, junto com o fato de que a terminologia de “o Primeiro e o Último” deriva da descrição de Yahweh apresentada em Isaías 44:6, provê forte evidência em favor da plena igualdade e unici­ dade do Pai e do Filho, como regentes coeternos do Universo.

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Adicionalmente, essa equação da identificação do Deus do Antigo Testamento com a do Jesus do Novo Testamento oferece marcante evidência da quase inconsciente e espontânea atribuição de muitas das características do Pai ao Filho. Este é um notável fenômeno das Escrituras, o qual representa constante fonte de consternação para os arianos.6

A evidência a favor da divina unidade da Divindade e da plena divindade do Filho é bastante convincente no Apocalipse; e as su­ gestões em favor da personalidade do Espírito, embora nao sejam tão convincentes, ainda assim são sugestivas.

A evidência inicial aparece nas cartas às sete igrejas. Cada carta conclui com a mesma exortação: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Apoc. 2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22). As Escrituras quase sempre associam fala - no contexto da linguagem verbal - com comunicações que ocorrem entre pessoas. Assim, o fato de o Espírito falar com as igrejas sugere a Sua personalidade.7

Evidências dos Capítulos 4 e 5

Estes capítulos contêm as mais dramáticas (e talvez convin­ centes) evidências para o tema trinitariano no livro de Apocalip­ se (se não explícitas, ao menos im plícitas).

Ranko Stefanovic argumentou de forma persuasiva que a melhor forma de se entender estes capítulos é vê-los como descrevendo a entronização de Cristo no dia de Pentecostes em Atos 2 (Stefanovic, págs. 1-8 e 292-301). Esta marcante visão utiliza as imagens da ce­ rimônia de posse dos reis de Israel. A cerimônia investia o rei com a autoridade do concerto em virtude do fato de que ele segurava a lei de Moisés (o livro do concerto) na mão direita.

O significado disso parece indicar (em Apocalipse 4 e 5) que os privilégios do concerto do povo de Deus estão sendo restaurados através do governo do Deus triúno que reina em função do poder criador do Pai (Apoc. 4:11) e também através das conquitas re­ dentoras do “Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi” (Apoc. 5:5), que Se tornou o ensangüentado Cordeiro sacrificial (verso 6).

Capítulo 4

Esta surpreendente e abarcante visão da cena de entronização celestial revela o tipo de manifestação trinitariana que tanto reflete as crescentes convicções da igreja primitiva acerca da eternidade e da triúna unicidade do Deus de Israel. Sem dúvida, a figura cen­ tral do capítulo 4, identificada como “aquele assentado no trono” (verso 2) e o qual é adorado como “Senhor Deus Todo-Poderoso, que era, que é e que há de vir” (verso 8), é Deus o Pai.

Os títulos apresentados em Apocalipse 4:2 e 8 são claramente coerentes com as cenas reveladas em Apocalipse 1:4 e 8. Uma vez mais, poderíamos destacar que, enquanto Jesus compartilha com o Pai o título de “Primeiro e Último” no capítulo 1, o livro de Apocalipse nunca identifica a Cristo como “Todo-Poderoso” ou aquele “que era e que há de vir” (Apoc. 4:8).

Além disso, devemos observar que diante do trono (e intim a­ mente associado com os 24 anciãos do capítulo 4 e as quatro criaturas dos versos 6-8) acham-se “sete tochas de fogo, que são os sete Espíritos de Deus” (verso 5). Esta cena, que vividamente retrata a íntim a associação existente entre os sete Espíritos, os 24 anciãos e as “quatro criaturas viventes”, im plica fortemente que o Espírito Santo é o catalisador e inspirador dos hinos de louvor encontrados nos versos 8 e 11.

A visão do Espírito é coerente com as convicções trinitarianas pos­ teriores da igreja de que o Espírito Se sujeitou voluntariamente ao Pai (e ao Filho) a fim de inspirar as criaturas inteligentes do Universo a reconhecer que o Pai é “digno” como o Todo-Poderoso Criador e Se­ nhor. O Espírito, contudo, não Se contenta em simplesmente esti­ mular hinos de louvor ao Pai. As Escrituras também O apresentam como profundamente vinculado com o Filho em Sua obra como agente-chefe da redenção - o Leão/Cordeiro de Apocalipse 5.

Capítulo 5

Podemos concluir com segurança que (1) Apocalipse 5 é uma continuação da visão que iniciou no capítulo 4, e que (2) o Filho

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é a figura-chave sendo focalizada à medida que esta grande cena de posse/concerto atinge o clímax.8 Apocalipse retrata o aspecto régio da pessoa do Filho através da figura do leão (verso 5), em­ bora as imagens-chaves que conduzem aos grandes hinos de ado­ ração neste capítulo (versos 9, 10, 12 e 13) tenham a ver com a cena que apresenta o Filho como o cordeiro sacrifical expiatório (versos 6, 9-12).

Vários aspectos trinitarianos da visão chamam a nossa atenção. Em primeiro lugar, podemos observar que os “sete Espíritos”, pre­ viamente descritos como “sete tochas de fogo diante do trono” (Apoc. 4:5), agora aparecem em Apocalipse 5 como os “sete olhos” do Cordeiro que foi morto, e aqui também são descritos como “os sete Espíritos de Deus enviados por toda a Terra” (verso 6).9

Uma identidade tão íntim a do Filho com o Espírito é bastan­ te coerente com os ensinamentos mais amplos de João quanto ao relacionamento entre Filho e Espírito Santo esboçados no quarto evangelho (especialmente nos capítulos 14-17). O Espírito busca ilum inar toda a Terra. E Ele quem “Me glorificará”, disse Jesus, “porque há de receber do que é Meu, e vo-lo há de anunciar” (João 16:14).

Assim, parece absolutamente correto concluir que a visão de Apo­ calipse 5 visa ensinar-nos que as realizações sacrificiais-expiatórias do Leão/Cordeiro capacitam o Espírito a enviar com poder convincente os raios de luz espiritual e redentiva “a toda a Terra” (verso 6).

Em segundo lugar, ao passo que o Céu considera o Leão/Cor­ deiro digno de abrir o livro selado que se encontra na mão do Pai, em virtude de o Filho haver sido morto, Ele é digno de ser morto unicamente por ser o Filho (a passagem não O identifica como tal, mas podemos trazer a imagem de Jesus Cristo de um ponto anterior do livro, onde aprendemos que Ele e o Leão/Cordeiro são a mesma Pessoa). Nenhum ser meramente humano poderia morrer como resgate por muitos (Mat. 20:28). Somente Deus poderia pagar o preço requerido pela transgressão da lei. Mas o Pai, que não assumiu a encarnação, não poderia sofrer tal morte.

Assim, o Filho assumiu a natureza carnal humana, sendo indivi- sivelmente homem e Deus, de modo que Deus (o Filho) pudesse tornar-Se o Cordeiro sacrifical e pagar o custo.

Israel perdera os privilégios do concerto do reino por causa de sua infidelidade, mas o Cordeiro morto, enviado como o Leão/Cordeiro, co-regente do Pai, traz novamente a salvação e a restauração do concerto.10

Em terceiro lugar, a igualdade entre o “Senhor Deus Todo- Poderoso” de Apocalipse 4 e o Leão/Cordeiro do capítulo 5 é fortemente sugerida pelo fato de que a adoração do Senhor Deus Todo-Poderoso por parte dos 24 anciãos e das quatro criaturas vi­ ventes do capítulo 4 (versos 8 e 9) agora (no capítulo 5) se amplia para ambos, “Aquele que Se assenta sobre o trono” (o “Senhor Deus Todo-Poderoso”, o Pai) e o Cordeiro (verso 13).

O assunto da adoração merece explicação adicional. Repetida­ mente o livro de Apocalipse associa atos de adoração por parte de criaturas (“criaturas viventes” [Apoc. 4:9; 5:8], os “vinte e quatro anciãos” [4:10; 5:14] e o próprio João [19:10; 22:8 e 9]) com o fato de que tais seres “caem prostrados” ante os pés das Pessoas a quem adoram. Nos capítulos 4 e 5, as criaturas em adoração não apenas caem diante do “Senhor Deus Todo-Poderoso” que “Se as­ senta no trono” e que “criou todas as coisas” (Apoc. 4:8, 9 e 11; 5:14), mas também caem “diante do Cordeiro” (Apoc. 5:8).

O que deveríamos dizer de tais atos de adoração? Não consti­ tuem tais cenas a mais clara evidência de que Jesus, o “Cordeiro”, recebe a mesma espécie de adoração que o Pai? Não seria, pois, correto concluir que esse tipo de adoração constitui poderosa evi­ dência da plena divindade de Cristo?

Essa conclusão se torna ainda mais convincente quando com­ paramos as cenas de adoração de Apocalipse 4 e 5 com aquelas encontradas em Apocalipse 19:10 e 22:8 e 9. Nestas duas últimas passagens, João fica tão empolgado com as visões recebidas que chega ao ponto de cair prostrado diante dos pés do anjo “para adorá-lo” (Apoc. 19:10; “prostrei-me ante os pés do anjo que me

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mostrou estas coisas, para adorá-lo” [Apoc. 22:8]). Agora, observe cuidadosamente que, nas oportunidades em que isso aconteceu, o anjo repreende a João e lhe recomenda que adore “a Deus” (Apoc. 19:10; 22:9). O que podemos concluir destas cenas?

Se o Cordeiro de Apocalipse 5 fosse apenas um anjo ou um deus criado, não seria idolátrico que Ele recebesse adoração? Claro que seria! Entretanto, não vemos qualquer reprovação aos “vinte e quatro anciãos” e às “quatro criaturas viventes”, como foi feita a João. O contraste entre os atos de adoração em prostração ma­ nifestados em Apocalipse 4 e 5 e os mesmos atos de reverência re­ gistrados em 19:10 e 22:8 e 9 fortemente sugere a plena divindade do Cordeiro.

Talvez pudéssemos resumir assim o que foi dito: o Apocalipse claramente considera o Leão/Cordeiro, o Filho de Deus, e o Deus Todo-Poderoso (o Pai) como legítimos merecedores da adoração celestial. Se Cristo não é Deus, temos aqui uma situação de ido­ latria. Se Ele é apenas uma espécie de semideus, estamos diante de uma situação de politeísmo. Os antitrinitarianos precisam de­ cidir se Jesus é plenamente Deus ou simplesmente algum tipo de meia-divindade semitranscendente. Se ele é plenamente Deus, Sua adoração é perfeitamente aceitável. Se Ele não o é, as únicas alternativas que nos restam são a idolatria e o politeísmo (ambas censuradas pelas Escrituras).

Em quarto lugar, não apenas os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes oferecem louvor e adulação, como ainda Apocalipse 5 am plia e expande essa transcendente cena de ado­ ração celestial com o louvor de “dez milhares vezes dez milhares” de anjos (verso 11) e de “toda criatura” no Céu e na Terra (verso 13). Tudo isso é dirigido “ao que está assentado no trono e ao Cordeiro” (verso 13).

A medida que as implicações dos feitos redentivos do Cordeiro que foi morto se tornam claras a todas as ordens de seres criados do Universo, observamos uma espontânea manifestação de adoração, dirigida indiscriminadamente ao Pai e ao Filho. É desnecessário dizer

que isso oferece poderosa evidência da profunda igualdade entre Eles como co-regentes do reino restaurado. Encontramos, todavia, ainda outras implicações nestas cenas de adoração.

Em quinto lugar, a mais convincente evidência da igualdade entre o Pai e o Filho aparece nos hinos dos capítulos 4 e 5. Con­ forme salientado antes, os hinos contidos em Apocalipse 4:8 e 11 focalizam o Pai, o “Senhor Deus Todo-Poderoso”. Os dois primeiros hinos do capítulo 5 louvam o Filho (versos 9, 10 e

12), e o hino final glorifica tanto o Pai quanto o Filho (verso 13). Devemos observar cuidadosamente que o hino do verso 12 se dirige ao Filho, e que o hino final do verso 13 tem como ob­ jeto tanto o Pai quanto o Filho.

O que constitui um fato convincente, todavia, é que ambos os hinos finais atribuem ao Filho certas características que o capítu­ lo 4 atribui ao Pai. Ainda que seja um pouco repetitivo, observe de que modo os hinos utilizam as várias expressões.

Em primeiro lugar, o verso 12 afirma que o Cordeiro é digno de receber “o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e gló­ ria, e louvor”. No verso 13, contudo, o hino final atribui tanto ao Pai quanto ao Filho muitas das mesmas características e privilé­ gios atribuídos ao Filho no verso 12 — especialmente louvor, honra, glória e poder, termos descritivos previamente associados ao Pai em Apocalipse 4:11.

J. Ramsey Michaels expressou de modo vívido as implicações destes momentos de louvor. Comentando inicialmente Apocalip­ se 5:12, Michaels diz: “Mais uma vez é o Cordeiro quem recebe adoração, mas o que Ele agora ‘recebe’ é mais que um rolo selado. São a Ele atribuídos os mesmíssimos predicados (glória, honra e poder) que em 4:11 foram reservados ao próprio Deus. De fato, a lista tem mais do dobro da extensão. Deus e o Cordeiro rece­ bem precisamente o mesmo tipo de homenagem por parte da corte celestial.

“Esta igualdade entre Deus e Cristo alcança um crescendo no quarto e último hino, uma explosão de louvor ‘de toda criatura

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no Céu e na Terra e debaixo da Terra e no mar, mesmo todas as coisas que neles existem’ ... Assim, utilizando o vocabulário da adoração em lugar de pensamento especulativo, o livro de Apo­ calipse obteve sucesso em elevar o familiar Messias davídico ao nível da Divindade” (Barker, pág. 367).

A convincente evidência apresentada em favor da plena igual­ dade entre o Pai e o Filho é a mais poderosa indicação no livro de Apocalipse de que Jesus Cristo é plenamente divino. Se Jesus pos­ sui todos os “predicados” (ou características) e reais prerrogativas do Pai, conclui-se que a plena divindade do Pai tem de constituir a plena divindade do Filho.

Embora nesses capítulos as evidências sejam mais fortes em favor da plena divindade de Cristo, também encontramos neles indicações em favor da personalidade do Espírito Santo, ainda que de forma menos dramática. No capítulo 5, os “sete Espíri­ tos” tornam-se os “sete olhos” do Cordeiro, “enviados por toda a Terra” (verso 6). As Escrituras m uito freqüentemente associam olhos com inteligência pessoal, e assim as imagens provêem al­ guma evidência sugestiva em favor da realidade do Espírito como uma personalidade.

Evidências dos Capítulos 2 1 e 22

Em Apocalipse 21:1-6, testemunhamos uma das mais como­ ventes cenas de todo o livro. A “prim eira Terra já passou”, e “um novo céu e uma nova Terra” foram criados, tendo a “Nova Jeru­ salém” como capital. Aquele “que é, e que era, e que há de vir” (Apoc. 1:4 e 4:8) agora literalmente “veio” à Terra com a Nova Jerusalém, e habita junto a Seu povo. Esses versos indiscutivel­ mente se referem a Deus Pai, a quem as Escrituras retratam como efetuando coisas paternais - enxugando “de seus olhos toda lágri­ ma” (Apoc. 21:4). Sua confortadora presença parece haver banido completamente a morte, a tristeza, o pranto e a dor.

Além disso, obteremos muitos lampejos se compararmos Apo­ calipse 21:1-6 com Apocalipse 7:9 e 17. Apocalipse 21 retrata a

“grande multidão” dos redimidos como estando em pé diante do trono, e “o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará e os guiará às fontes das águas. E Deus limpará de seus olhos toda lágrima”. Aqui a visão retrata a íntim a relação operacional entre o Pai e o Filho, ao confortarem os redimidos depois de sua pere­ grinação pelo reino do diabo e do pecado. No mínimo, esta cena sugere a profunda unicidade, em propósito, dos dois primeiros membros da Divindade.

Então, Apocalipse 2 1 :22 e 23 apresenta a visão da profunda unicidade destes seres sagrados. Ao descrever a gloriosa Nova Je­ rusalém, João diz que nela não viu “santuário, porque o seu san­ tuário é o Senhor, o Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro”. Encon­ tramos aqui a unicidade da Divindade retratada especialmente através da figura do templo. O significado antitípico do templo do Antigo Testamento alcança um ponto de culminância através da convincente sugestão de que todas as figuras relacionadas ao templo, em última análise, apontam ao triunfo da redenção em­ preendida através dos esforços unidos do Pai e do Filho.

O Pai e o Filho, unidos, não apenas substituem o templo. O Apocalipse agora Os divisa como completando Seu triunfo final sobre o pecado e as forças do mal. Na cena de coroação de Cristo em Apocalipse 5, confirmada em Atos pelo Pentecostes, a visão atinge o clímax com a adoração de “toda criatura” dirigida Àquele “que Se assenta no trono [o Pai], e ao Cordeiro” (verso 13).

Entretanto, o tema do trono alcança seu clímax absoluto em Apocalipse 22:1-3. Pela primeira vez o livro identifica o trono como “o trono de Deus e do Cordeiro”. Agora o ponto é explícito: o Pai e o Filho são plenamente co-regentes, ambos assentados no trono e compartilhando todas as prerrogativas do concerto asseguradas atra­ vés de Seus esforços redentivos operados conjuntamente (e alcança­ dos pelo fato de haverem aniquilado as forças usurpadoras do mal e de haverem restaurado as bênçãos do concerto aos redimidos).11

A visão da co-regência do Pai e do Filho constitui a peça final da convincente evidência em favor da plena divindade de Cristo.

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Claramente, o Filho não apenas compartilha os títulos “Alfa e