• Nenhum resultado encontrado

A figura do Pai também denota a intimidade de relaciona­ mento entre a prim eira e a segunda pessoa da Divindade Essa in­

Objeções Bíblicas à Trindade

2. A figura do Pai também denota a intimidade de relaciona­ mento entre a prim eira e a segunda pessoa da Divindade Essa in­

terpretação é muito mais evidente nos capítulos posteriores do Evangelho de João, especialmente no capítulo 17.

3. Parece, contudo, existir algo mais a ser ensinado pelas imagens de Pai e Filho empregadas no Evangelho de João. Uma vez mais, ob­ serve o texto de João 5:17 e 18: “Mas Ele lhes disse: ‘Meu Pai traba­ lha até agora, e Eu trabalho também’. Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-Lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era Seu próprio Pai, fazendo-Se igual a Deus.” Nestes versos, João sugere claramente que o povo interpretou a reivindicação de Jesus de ter a Deus como “Seu Pai” como uma pretensão de igualdade com Deus, em vez de alguma forma de su­ bordinação de um deus menor ao Deus maior. Jesus “dizia que Deus era Seu próprio Pai, fazendo-Se igual a Deus”.

Além disso, os versos subseqüentes sugerem fortemente uma intimidade típica do relacionamento pai-filho. “Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de Si mesmo, se­ não somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fi­ zer, o Filho também semelhantemente o faz. Porque o Pai ama ao Filho e Lhe mostra tudo o que faz” (versos 19 e 20).

Longe de sugerir que o Pai gerou ou criou o Filho como uma espécie de semideus derivado ou criado, as figuras de Pai e Filho indicam a eterna e profunda intimidade que sempre existiu entre a primeira e a segunda pessoas da Divindade como “iguais” atra­ vés da eternidade (passada, presente e futura).

Colossenses 1:15 e 18

Outro termo grego intimamente relacionado com monogenes é prototokos. Os tradutores normalmente o apresentam como “primogênito” ou “primeiro a ser gerado”. Observe seu uso em Colossenses 1:15 e 18: “Ele é a imagem do Deus invisível, o p ri­ mogênito de toda a criação. ... Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o prim ogênito de entre os mortos, para em to­ das as coisas ter a primazia.”

A interpretação antitrinitariana usual afirma que o termo “pri­ mogênito” se refere ao Pai gerando a Jesus como primeiro ser por Ele “criado” em algum ponto do tempo, antes da origem do mun­ do. Seria esta a interpretação pretendida pelos escritores bíblicos quando usam a palavra prototokos, traduzida como “primogênito”? Antes de apresentarmos uma explanação mais completa do significado de “primogênito” na Bíblia, Max Flatton apresenta al­ gumas interessantes observações preliminares. “Tenhamos claro que alguém não pode nascer e ser criado ao mesmo tempo. ... Se a intenção de Paulo fosse dizer que Cristo foi o “primeiro a ser criado”, ele teria feito uso do termo protoktistos, disponível para isto. Ocorre que nem Paulo nem qualquer outro autor bíblico ja­ mais utilizam esta palavra referindo-se a Cristo” (ibid., pág. 91).

112 / A Trindade

É verdade que a palavra “primogênito” se baseia no fato histó­ rico dos direitos de nascimento que pertenciam ao primogênito literal. Mas a Bíblia a utiliza em sentido não-literal em referência a Cristo. A palavra não tem aplicação real a Cristo como sendo gerado ou nascido como “deus”, a primeira criatura no tempo. Em vez disso, as Escrituras usam o termo para indicar uma'posição privilegiada de dignidade e honra, ou a primazia do filho primo­ gênito, que recebia a herança como “direito de nascimento”. Este último significado é o modo principal como os autores da Bíblia utilizam a palavra. Observe cuidadosamente o seguinte.

As Escrituras claramente indicam o status especial de Davi en­ tre seus irmãos, identificando-o como o “primogênito” (Sal. 89:20-27). Ora, Davi não era literalmente o primogênito entre seus irmãos. Na verdade, ele era o mais moço dos filhos de seu Pai.

Além disso, não apenas a Bíblia designa como primogênitos fi­ lhos que não eram os primeiros nascidos, como ainda se refere a Israel como “Meu filho, Meu primogênito” (Exo. 4:22). Nessa mes­ ma linha, o Novo Testamento fala dos membros da igreja de Cristo como pertencendo à “igreja dos primogênitos” (Heb. 12:23).

Que faremos com semelhante padrão? Está a Bíblia afirmando que apenas “primogênitos” literais poderiam constituir o Israel literal e espiritual? Parece mais que óbvio que a resposta é um enfático “não”!

O Novo Testamento emprega o termo “primogênito” oito vezes. Dentre elas, pelo menos duas indicam alguém que efetivamente foi o primeiro a nascer. Lucas 2:7 parece estar falando de modo literal ao afirmar que Maria “deu à luz o seu filho primogênito”. Hebreus 11:28 refere-se aos “primogênitos” egípcios.

O principal uso no Novo Testamento, contudo, parece ser fi­ gurado, destacando os privilégios e a primazia do primogênito li­ teral. Assim, as Escrituras designam os seres humanos redimidos como a “universal assembléia e igreja dos primogênitos arrolados no Céu” (Heb. 12:23). Obviamente, a igreja não consiste apenas de primogênitos literais. A expressão “primogênitos” enfatiza, antes, seu privilegiado status entre os “filhos de Deus”.

Paulo e João também recorrem ao uso figurado ou metafórico de “primogênito” para referir-se a Cristo como o “primogênito dentre os mortos” (Col. 1:8) ou “primogênito dos mortos” (Apoc. 1:5). Certamente, nenhum deles está tentando conven- cer-nos de que Jesus foi literalmente a primeira pessoa ressuscitada de entre os mortos (para mencionar apenas dois casos, Deus ressuscitara a Moisés e a Lázaro antes de Jesus).

E bastante óbvio que os apóstolos estavam tentando comu­ nicar a idéia de que a ressurreição de Cristo assegurou-Lhe o privilegiado status de “primogênito” no sentido de que Sua vi­ tória sobre a morte O habilita a “assumir a primazia” em “todas as coisas” relacionadas com a vitória sobre a morte e a garantia de salvação eterna.

O uso figurado ou metafórico do termo “primogênito” comu­ nica a “preeminente” autoridade de Cristo sobre a morte, “a fim de que Ele seja o primogênito dentre muitos irmãos” (Rom. 8:29).3 E quem são os “irmãos” dentre os quais Ele é o “primo­ gênito”? Obviamente são os que nEle confiam como o doador da vida através de Sua ressurreição.

Poderíamos ilustrar o conceito bíblico da preeminência do “primogênito” da seguinte forma: embora Bill Gates não tenha sido a primeira pessoa a envolver-se no negócio de programas de computadores, ele pode com justiça ser considerado o “pri­ mogênito do software”, no sentido de sua preeminência univer­ salmente reconhecida e dominante neste ramo de negócios. Poderíamos dizer o mesmo a respeito de Michael Jordan no mundo do basquete, de Pelé no mundo do futebol e de “Mãe Hale” como “primogênita” quanto ao auto-sacrifício e cuidado maternal em favor dos trágicos “bebês do craque” em Nova Iorque.

Numa aplicação adicional, Paulo descreve Cristo como “o pri­ mogênito de toda a criação” (Col. 1:15). O que tem o apóstolo em mente aqui? Da mesma forma como Cristo, o “primogênito” dentre os mortos, comunica Sua primazia sobre a morte, o fato de Ele ser o “primogênito de toda a criação” revela poderosamente

1 1 4 / A Trindade

sua preeminência sobre a criação, na qualidade de Criador de “to­ das as coisas”. Essa linguagem nada tem a ver com a idéia de que Ele haja sido o primeiro ser criado.

Paulo comunica, a seguir, a preeminência de Cristo na criação, como Criador, ao afirmar que todas as coisas foram criadas “por meio dEle e para Ele”, e que “nEle tudo subsiste” (versos 16 e 17). Portanto, assim como os “irmãos” podem ser salvos da morte apenas através da preeminência do “primogênito dentre os mortos”, assim também podem ter sua existência unicamente através da preeminên­ cia dAquele que é o “primogênito de toda a criação” (verso 15).

O contexto da teologia de Paulo sobre a divindade de Cris­ to em Colossenses também apóia a idéia de que Cristo não é literalmente o “filho primogênito” gerado por Deus o Pai. Logo depois de o apóstolo declarar a “preeminência” figurada da primogenitura de Cristo sobre “toda a criação” e “dentre os mortos”, no verso 19 ele declara que “aprouve a Deus que nEle

[em Cristo] residisse toda a plenitude”.

A questão que imediatamente nos vem à mente é: pretendia Paulo dizer que o Pai permitiu que habitasse no Cristo encarnado apenas a “plenitude” de uma divindade qualificada (uma qualidade de na­ tureza semidivina)? Encontramos a resposta em Colossenses 2:9, onde o grande apóstolo afirma que em Cristo “habita corporalmen­ te toda a plenitude da Divindade”. Os leitores recordarão que, no capítulo 2, dissemos que a palavra traduzida como “Divindade” provém do grego theotes, que literalmente significa a própria essên­ cia da divindade, não apenas suas feições ou algumas características selecionadas. Pois é esta mesma essência da natureza divina que ha­ bita “corporalmente” no Cristo encarnado, o “primogênito”!

Hebreus 1:5 e 6; 5:5-10

Novamente estamos lidando com outro uso do termo prótoto- kos (“primogênito”), só que agora o autor bíblico o emprega em conjunção com a sua interpretação do Salmo 2:7 e de haver Cris­ to sido “gerado” pelo Pai como um “Filho”. “[Cristo], tendo-Se

tornado tão superior aos anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles. Pois a qual dos anjos disse jamais: ‘Tu és Meu Filho, eu hoje Te gerei’? [Sal. 2:7]. ... E, novamente, ao introdu­ zir o Primogênito no mundo, diz: ‘E todos os anjos de Deus O adorem”’ (Heb. 1:4-6).

O que o autor de Flebreus está tentando ensinar nestes versos? Como já destacamos nos capítulos 1 e 2, ele está iniciando aqui o tema-chave da carta, ao exaltar a Cristo como “superior”. Pri­ meiro, ele compara Cristo com os anjos. Embora os anjos sejam tão bons e grandes, o autor bíblico exalta a superioridade de Cristo face a eles, argumentando que Deus nunca chamou um anjo de “Filho” ou “gerado”, e tampouco jamais ordenou que um anjo fosse adorado. Ao contrário, os anjos - tão exaltados, mas infe­ riores a Cristo - devem adorá-Lo. Logo, Cristo é obviamente “su­ perior” aos anjos.

Assim, no presente contexto, o que devemos deduzir do fato de que Deus chama a Cristo de “Meu Filho”, “gerado” por Deus, e o “primogênito”?

Os antitrinitarianos são muito rápidos em atribuir a estes ter­ mos uma interpretação extremamente literal, no sentido de que Cristo é verdadeiramente o Filho “gerado e primogênito”, origi­ nado do Pai. Concluem, pois, que Cristo é um “deus” de menor grau de divindade e dignidade que o eterno Pai. E realmente isso o que a passagem ensina?

Obviamente, o que o autor tem aqui em mente não é que Cristo foi gerado pelo Pai como um ser divino, quando muito uma semidivindade menor. Em vez disso, o autor apresenta Cris­ to como havendo sido “gerado” como “Filho primogênito” de Deus na encarnação.

No contexto literário de Hebreus 1, Cristo é Filho de Deus no sentido de que Ele - o Filho eterno e plenamente divino - tor- nou-Se “gerado” como “primogênito” na carne da humanidade, de modo a poder alcançar preeminência redentiva sobre os “an­ jos” que O adoram. Além disso, Hebreus identifica Cristo como

1 1 6 1A Trindade

“gerado” e “primogênito” no sentido de que Ele - o Deus-ho- mem encarnado - Se tornou o “primogênito” de todos os seres humanos, aos quais veio salvar. Sem essa singularidade divino- humana e preeminência sobre todos os outros humanos, não teríamos salvação do pecado.

É mais que certo que Paulo não está tentando diminuir a divin­ dade de Cristo ao proclamá-Lo como o Deus-homem encarnado. O fato de Ele haver Se tornado humano na encarnação, como o “gerado” e “primogênito Filho de Deus”, de modo algum diminui Sua eterna e plena divindade. Uma vez mais, é o próprio contexto de Hebreus 1 que exclui a possibilidade de tal conclusão.

Conforme destacado em capítulos anteriores, Hebreus 1 argu­ menta fortemente em favor da plena divindade do Filho encarnado. Hebreus 1:2 e 3 declara que Cristo é não apenas (1) o Criador “dos mundos”, mas também (2) Aquele em quem habita o “resplendor da glória [do Pai]”, (3) a “expressão exata do Seu ser” e (4) Aquele que sustenta “todas as coisas pela palavra do Seu poder”. O verso 6 evidencia a plena divindade do Filho através da ordem dada a todos os anjos para que “O adorem”. No verso 8, Deus Se dirige direta­ mente a Cristo como “ó Deus”, cujo trono é um eterno assento de poder. Os versos 10-12 aplicam a Cristo o Salmo 102:25-27, um hino de louvor claramente endereçado ao Senhor do Antigo Testa­ mento, Yahweh — o ser eterno e auto-existente. Com absoluta cer­ teza, o livro de Hebreus assume que o Senhor Yahweh do Salmo 102 é ninguém menos que o Cristo encarnado, a quem os próprios anjos dirigem adoração e subordinação.

A palavra “gerado” tem um uso similar em Hebreus 5:5-10: “Assim, também Cristo a Si mesmo não Se glorificou para Se tor­ nar sumo sacerdote, mas Aquele que Lhe disse: ‘Tu és Meu Filho, Eu hoje Te gerei’ [Sal. 2:7]. Como em outro lugar também diz: ‘Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque’ [Sal. 110:4], Ele, Jesus, nos dias de Sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem O podia livrar da morte, e tendo sido ouvido por causa de Sua piedade, embora

sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-Se o Autor da salvação eterna para todos os que Lhe obedecem, tendo sido nomeado por Deus sumo sacer­ dote, ‘segundo a ordem de Melquisedeque’ [Sal. 110:4].”

É obvio que a palavra “gerado” em Hebreus 1:5 se refere a Cristo sendo indicado pelo Pai ao ofício de sumo sacerdote no santuário celestial. Outra vez, o contexto sugere fortemente que as Escrituras não estão usando o termo “gerado” no sentido de Deus o Pai estar gerando um Filho como deus menor, e sim com a conotação de Cristo estar sendo tornado o sumo sacerdote di- vino-humano.

O autor do livro de Hebreus esforça-se tremendamente para demonstrar que Cristo não é apenas o Deus eterno, “sem pai, nem mãe, sem genealogia, que não teve princípio de dias, nem fim de existência” (Heb. 7:3), mas também plenamente humano em Sua experiência de encarnação. E a combinação de ambos os aspectos essenciais de Sua personalidade única (singular) que O qualifica para ser “sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (Heb. 5:6).

Novamente, é o contexto literário de Hebreus 5:5-10 que pro­ vê a chave para entendermos que Cristo foi “gerado” no sentido de haver Se encarnado ou tornado humano. O verso 7 fala dos “dias de Sua carne, [em que] tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem O podia livrar da morte”. É neste sentido, de total e fervente dependência e íntimo relacio­ namento com o Pai, que as Escrituras podem descrever a Jesus como o “Filho” “gerado” do Pai (versos 5 e 8). O texto claramen­ te retrata a subordinação dependente de Cristo enquanto funcio­ nando como o “Filho” humano, e não alguma forma de subordi­ nação da natureza divina de Cristo à do Pai.

Em outras palavras, as Escrituras designam a Jesus como o “Filho gerado” no sentido de sua humanidade encarnada e em Sua íntima e dependente relação com o Pai durante o período de Sua vulnerabilidade humana. Em Sua humanidade, Ele Se quali­

118 / A Trindade

ficou para atuar eficazmente como o sumo sacerdote intercessor, não apenas em virtude de Sua natureza divina eternamente existen­ te, mas também do aprendizado de fiel “obediência pelas coisas que sofreu” (verso 8), como ser humano dependente e “gerado”. Esse sofrimento em obediência “aperfeiçoou” sua humanidade, de modo que veio a tornar-Se “o Autor da salvação eterna”, sendo “no­ meado por Deus sumo sacerdote” (versos 9 e 10).

LeRoy E. Froom resume o uso que Hebreus faz do Salmo 2:7, e Cristo como “Filho unigénito” de Deus, da seguinte forma: “‘Eu hoje Te gerei’ indica que Cristo assumiu a forma humana, com sua seqüência progressiva” de “Nascimento encarnado, Ba­ tismo, Ressurreição e Sacerdócio. Tudo se encontra envolvido em Seu climático nascimento em forma humana, pois retornará se­ gunda vez como Filho do homem. ... Este é o escopo mais amplo da intenção do Salmo 2:7” (Froom, págs. 308 e 309).

As imagens relacionadas com o termo “gerado” usadas em He­ breus não guardam qualquer relação com a idéia de haver Cristo sido gerado por Deus o Pai como alguma forma de divindade infe­ rior, derivada da substância ou essência da natureza divina do Pai.

João 17:3

Muitos freqüentemente usam esta bem conhecida passagem - um inspirado convite para que os cristãos busquem um conheci­ mento mais profundo de Deus - para negar a plena divindade de Cristo: “E a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.”

Os que se opõem à igualdade entre o Pai e o Filho asseguram que a afirmação de Jesus de que o Pai é “o único Deus verdadeiro” mostra que Cristo exclui a Si mesmo de identificar-Se com a ple­ na divindade do Pai. Seria isso o que Jesus está sugerindo?

Em Sua grande oração sacerdotal, fica bastante claro que Jesus não está discutindo o relacionamento de Sua própria natureza com a do Pai. Ele focaliza, antes, “a necessidade de as pessoas re­ conhecerem o único Deus verdadeiro em oposição aos ídolos e

outros falsos deuses” e “a necessidade de reconhecê-Lo como meio de salvação” (Hatton, pág. 78).

Erickson expressa a idéia da seguinte forma: “Ao falar do Pai como o único Deus genuíno (alethinos, o termo grego para ‘ver­ dadeiro’), Jesus está contrastando o Pai não com o Filho, mas sim com outros pretendentes à divindade, os falsos deuses. Efe­ tivamente, Jesus aqui Se vincula muito intimamente com o Pai. Vida eterna é não apenas conhecer o Pai, mas também conhecer Aquele a quem o Pai enviou, Jesus Cristo” (Erickson, Christian

Theology, pág. 714).

Além disso, o contexto do Evangelho de João nos apresenta am­ plas evidências da plena divindade de Cristo. Se Jesus estivesse aqui afirmando que o Pai é a única e exclusiva manifestação do “Deus verdadeiro” no Universo, isso se oporia à igualdade de Jesus com Deus o Pai, tão claramente evidente em João 1:1, 5:18, 8:58 e 10:30-33. Se o Pai é o “único Deus verdadeiro” em contraste com Jesus, não seria lógico concluir que qualquer outra pessoa designada como “Deus” (tal como Jesus) seria um falso deus? Não parece ser isso o que Jesus está procurando expressar no contexto.

I Coríntios 8:6

Citaremos primeiramente o contexto mais amplo da declara­ ção que Paulo apresenta aqui: “No tocante à comida sacrificada a ídolos, sabemos que o ídolo de si mesmo nada é no mundo, e que não há senão um só Deus. Porque, assim que há também alguns que se chamam deuses, quer no céu, ou sobre a Terra, como há muitos deuses e muitos senhores, todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também por Ele” (I Cor. 8:4-6).

De modo muito parecido com o tratamento que dão a João 17:3, os antitrinitarianos utilizam esta passagem como prova de que o Pai é “um Deus”; e uma vez que o texto não identifica ex­ plicitamente a Jesus como “um Deus”, Ele só pode ser alguma

120 / A Trindade

forma menor de Senhor divino. Se fôssemos seguir a lógica da in­ terpretação antitrinitariana, sugeriu Max Hatton, chegaríamos à seguinte perturbadora conclusão: “Se este verso exclui Jesus de ser Deus, por afirmar que só o Pai é Deus, também deve excluir o Pai de ser Senhor, pois diz que só Jesus é Senhor!” (Hatton, pág. 80).

Além disso, no contexto, Paulo está discutindo os ídolos e se os cristãos devem comer alimentos previamente oferecidos a eles. A chave para compreendermos toda a passagem é ver que os ver­ sos 5 e 6 constituem uma explanação ou elaboração interpretativa adicional do significado da expressão do verso 4, que diz: “Não há senão um só Deus”. E quem é este único Deus? Paulo respon­ de que podemos definir este “único Deus” como “o Pai ... e um só Senhor, Jesus Cristo” (verso 6). “Se Paulo não está pensando em Jesus como sendo Deus, por que ele O menciona no contex­ to? Estava Paulo tentando provar que existe apenas um Deus de­ monstrando que ele possuía dois?” (ibid.).

Certamente, Paulo não está tentando opor a divindade de Deus Pai à do Filho, e sim contrastando a divindade de ambos com os falsos deuses e ídolos do culto religioso pagão do primei­ ro século. Se o apóstolo está aqui negando a plena divindade de Cristo, teremos de concluir que ele se encontra em franca contra­ dição com suas expressas afirmações em Colossenses 2:9, onde diz que em Cristo habita corporalmente a plena essência da divinda­ de, e em Filipenses 2:5, onde claramente sugere que Cristo era “igual a Deus”. Wayne Grudem observa que “I Cor. 8:6 não nega que Deus o Filho e Deus Espírito Santo também são ‘Deus’, an­ tes Paulo está dizendo que Deus o Pai é identificado como este ‘um Deus’. Em outras partes... ele fala de Deus o Filho e de Deus Espírito Santo como sendo ‘Deus’. Além disso, neste mesmo ver­ so, ele prossegue falando de ‘um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também por Ele’. Aqui ele está usando a palavra Senhor em seu pleno sentido do Antigo Testamento, o de