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A EVOLUÇÃO DAS ESTRATÉGIAS INTERPESSOAIS

TEORIA DOS TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE

A EVOLUÇÃO DAS ESTRATÉGIAS INTERPESSOAIS

Nossa teoria de transtornos da personalidade leva em conta o papel de nossa história evolutiva na maneira como nossos padrões de pensamento, sentimento e ação foram moldados. Podemos compreender melhor as estruturas, as funções e os processos da personalidade se examinarmos as atitudes, os sentimentos e os comportamentos à luz de sua possível relação com estratégias etológicas.

Grande parte do comportamento que observamos nos animais irracionais é, em geral, considerada “programada”. Os processos subjacentes são programados e expressos no comportamento explícito. Com frequência, o desenvolvimento desses programas depende da interação entre estruturas geneticamente determinadas e a experiência. Pode-se presumir que processos semelhantes do desenvolvimento ocorram nos humanos (Gilbert, 1989). Faz

sentido considerar a noção de que antigos programas cognitivo-afetivo- motivacionais influenciem nossos processos automáticos: o modo como interpretamos, o que sentimos e como nos dispomos a agir em relação aos eventos. Os programas envolvidos no processamento cognitivo, no afeto, na excitação e na motivação podem ter evoluído por sua própria capacidade de manter a vida e promover a reprodução.

À medida que passam pelas sucessivas etapas da vida, as pessoas deparam-se com uma série de desafios e problemas, bem como incentivos e oportunidades. Os indivíduos nascem com um conjunto de necessidades: de sustento, de proteção e de ajuda que persistem por toda a vida. Tais necessidades estruturais são expressadas na forma de desejos, ânsias e impulsos que pressionam por satisfação. Os indivíduos, além disso, têm predisposição não apenas para desejar satisfazer as necessidades da vida, mas também para apegar-se aos recursos humanos, essenciais para o sucesso e a sobrevivência em um ambiente competitivo e, por vezes, hostil. Além das respostas defensivas automáticas, como a reação de luta ou fuga, as pessoas têm estruturas inatas para perceber e responder a ameaças e necessidades menos imediatas. Estratégias automáticas da infância, como chorar e sorrir, por exemplo, evocam respostas de carinho dos cuidadores.

De acordo com a exigência evolutiva de sobrevivência e perpetuação de sua herança genética, os indivíduos estão naturalmente equipados não apenas para experimentar diversos desejos, ânsias e impulsos, mas também para reagir aos cuidadores e, em um maior grau de amadurecimento, a possíveis parceiros. A ativação das diversas necessidades depende parcialmente da proximidade dos recursos humanos. Na primeira infância, a presença de um cuidador é o catalisador para a expressão de toda a necessidade de nutrir-se. Essa necessidade persiste, de forma modificada, durante toda a vida.

A seleção natural presumivelmente ocasionou algum tipo de ajuste entre comportamento programado e as demandas do ambiente ou da cultura. Contudo, nosso ambiente mudou com mais rapidez do que nossas estratégias adaptativas automáticas – em grande parte como resultado de nossas próprias modificações de nosso meio social. Assim, as estratégias predatórias, competitivas e sociais que eram úteis nos arredores mais primitivos nem sempre se ajustam ao atual nicho de uma sociedade fortemente individualizada e tecnológica, com sua própria organização cultural e social. Um ajuste social

ruim pode ser um fator no desenvolvimento do comportamento que diagnosticamos como um “transtorno da personalidade”.

Independentemente de seu valor para a sobrevivência em ambientes mais primitivos, alguns desses padrões derivados da evolução tornam-se problemáticos em nossa cultura atual, pois interferem nos objetivos ​pessoais do indivíduo ou conflitam com as normas de grupo. Assim, estratégias predatórias ou competitivas altamente desenvolvidas capazes de promover a sobrevivência em condições primitivas podem ser inadequadas para um ambiente social, bem como culminar em um “transtorno da personalidade antissocial”. Da mesma forma, uma espécie de apresentação exibicionista que teria atraído colaboradores e parceiros sexuais na vida selvagem pode ser excessiva ou inadequada na sociedade contemporânea. Na realidade, porém, tais padrões têm maior probabilidade de causar problemas se forem inflexíveis e estiverem relativamente descontrolados.

As síndromes sintomáticas também podem ser conceituadas em termos de princípios evolutivos. O padrão de lutar ou fugir, por exemplo, embora supostamente tenha sido adaptativo em situações emergenciais arcaicas de perigo físico, pode formar o substrato de um transtorno de ansiedade ou de um estado hostil crônico. O mesmo padrão de resposta que era ativado ao avistar um predador, por exemplo, hoje é mobilizado por ameaças de traumas psicológicos, tais como a rejeição ou a desvalorização (Beck & Emery, 1985). Quando essa resposta psicofisiológica (percepção de perigo e excitação do sistema nervoso autônomo) é desencadeada pe​la exposição a um amplo espectro de situações interpessoais potencialmente aversivas, o indivíduo vulnerável pode manifestar um transtorno de ansiedade diagnosticável.

Da mesma forma, a variabilidade do conjunto de genes poderia ser responsável pelas diferenças individuais na personalidade. Assim, um indivíduo pode ter predisposição para paralisar diante do perigo, enquanto outro pode atacar, e um terceiro, evitar quaisquer possíveis fontes de perigo. Essas diferenças no comportamento explícito – ou nas estratégias (qualquer uma das quais pode ter valor de sobrevivência em certas situações) – refletem características relativamente persistentes que são típicas de certos “tipos de personalidade” (Beck et al., 1985). O exagero nesses padrões pode levar a um transtorno da personalidade; por exemplo, o transtorno da personalidade evitativa pode refletir uma estratégia de retraimento ou esquiva de qualquer situação que envolva a possibilidade de desaprovação social.

Recursos

A principal via para a satisfação das necessidades da vida é pelo vínculo com outras pessoas. Ao mesmo tempo, os indivíduos dependem dos próprios recursos para enfrentar os desafios do cotidiano. Entretanto, as pessoas anseiam a aceitação por parte daqueles que lhes são íntimos e de seu grupo social. O impacto devastador da rejeição é uma prova da importância dos recursos interpessoais. A dependência dos relacionamentos íntimos e em grupo parece ser um poderoso componente evolutivo dos impulsos inatos. Em eras primordiais, a aceitação, o impulso e a integração na tribo eram cruciais para obter privilégios, alimentação e reprodução.

As pessoas também aproveitavam os próprios recursos herdados para maximizar sua utilização dos recursos externos e também para funcionar de forma autônoma. Ter o direito desempenha um papel importante em indivíduos que se esforçam para ganhar acesso a recursos. É dado o direito aos indivíduos que desfrutam de alto status e privilégios, e isso representa acesso seguro a recursos e proteção contra danos. Ocupar uma alta posição no sistema hierárquico significa não apenas ser uma “pessoa superior”, mas também implica o direito de acesso a outro lado da vida e da sociedade, no qual o prazer é mais garantido, a dor é minimizada e a reprodução é mais provável.

Existem outras formas de “ter o direito” além do status. Por exemplo, uma criança pode sentir-se no direito de ser cuidada pelos pais. Um cônjuge pode sentir-se no direito de ter proximidade, intimidade, apoio, etc. de seu parceiro. A diminuição de um relacionamento (recursos) significa uma atenuação do direito. Uma pessoa que é banida de um grupo ou rejeitada por um amante não tem mais direito aos vários benefícios que tais relacionamentos podem trazer.

Direito e privilégio estão relacionados à força de um vínculo com outras pessoas e grupos. Quando um indivíduo está fundamentalmente vinculado a um grupo, ele tem direito ao apoio do grupo. Quando está fortemente vinculado a outro indivíduo, ele também tem o direito. De modo geral, a pressão pelo direito é uma força vigorosa para a tentativa de alguém de aumentar seu vínculo com outras pessoas ou aumentar o status junto aos demais, a serviço do impulso em direção à segurança emocional e física.

Estratégias

Por que aplicamos a palavra “estratégia” para características que têm sido tradicionalmente rotuladas de “traços da personalidade” ou “padrões de comportamento”? Estratégias, nesse sentido, podem ser consideradas como formas de comportamento programado destinadas para atender objetivos biológicos. Embora implique um plano consciente e racional, a palavra aqui não é usada com esse sentido. Em vez disso, nós a utilizamos da mesma forma que os etologistas a empregam: para denotar comportamentos estereotipados altamente padronizados que promovem a sobrevivência e a reprodução individual (Gilbert, 1989). Esses padrões de comportamento podem ser vistos como a meta fundamental de sobrevivência e reprodução: “eficácia reprodutiva” ou “adequação inclusiva”. Há mais de 200 anos, Erasmus Darwin, avô de Charles Darwin (1791, citado em Eisely, 1961), descreveu essas estratégias evolutivas como expressões de fome, desejo sexual e segurança.

Embora não tenham consciência do objetivo final dessas estratégias biológicas, os animais têm consciência dos estados subjetivos que refletem seu modo de funcionamento: fome, medo ou excitação sexual e as recompensas e punições por satisfazê-los ou não (i.e., prazer ou dor). Os humanos também são instigados a comer para aliviar os espasmos de fome e obter satisfação. Buscamos relações sexuais para reduzir a tensão sexual e também para obter gratificação. Formamos “vínculos” com outras pessoas para aliviar a solidão e alcançar o prazer da camaradagem e da intimidade. Em suma, quando sentimos uma pressão interna para satisfazer certos desejos de curto alcance, tais como obter prazer e aliviar a tensão, podemos estar satisfazendo, ao menos em certa medida, metas evolutivas de longo alcance.

Nos seres humanos, é possível, analogamente, aplicar a palavra “estratégia” a formas de comportamento que podem ser adaptativas ou desadaptativas, dependendo das circunstâncias. O egocentrismo, a competitividade, o exibicionismo e a esquiva do desprazer podem ser adaptativos em certas situações, mas tremendamente desadaptativos em outras. Os indivíduos estão equipados com um repertório de estratégias inatas para explorar e expandir os recursos interpessoais. Cada uma dessas estratégias interpessoais representa um setor especial da personalidade, ao qual nos referimos comumente como traço. Cada uma das estratégias (ou traços) é

moldada para aproveitar os recursos relevantes. As estratégias são ativadas em resposta aos diversos desejos, ânsias e impulsos e são reforçadas pelo prazer quando estes são satisfeitos. Em contrapartida, o fracasso de uma estratégia é seguido de dor. A aceitação por parte de um parceiro romântico, por exemplo, é recompensada com gratificação, ao passo que a rejeição produz abatimento.

Embora existam numerosas estratégias potencialmente desadaptativas, tais como a submissão, a agressividade e a timidez, estas não chegam a um grau que justifique serem incluídas como transtornos da personalidade nos sistemas oficiais de classificação. Outras estratégias de caráter positivo, como bondade, generosidade e autossacrifício, nunca evoluem para transtornos da personalidade, mesmo quando exageradas. As estratégias que de fato fazem a transição para transtornos da personalidade são inflexíveis, excessivamente generalizadas e muito intrusivas. Essas estratégias excessivas interferem no ajuste aos outros e reduzem o bem-estar. Além disso, o transtorno pode se manifestar quando ocorrem certas estratégias inflexíveis na ausência de outras estratégias de moderação. Por exemplo, o narcisismo pode se desenvolver quando estratégias competitivas são reforçadas sem os elementos moderadores de empatia ou reciprocidade social.

A Figura 2.1 traz uma ilustração gráfica do modelo evolutivo para o desenvolvimento de transtornos da personalidade e síndromes sintomáticas. Os esforços adaptativos para satisfazer as metas básicas podem se desenvolver excessivamente de maneiras diversas que levam a uma evolução desadaptativa em direção a diferentes transtornos. Estratégias superdesenvolvidas específicas estabelecem a base do transtorno da personalidade e afetam as avaliações de risco e perda, aumentando a vulnerabilidade a transtornos de ansiedade e afetivos. Com o desenvolvimento de transtornos sintomáticos, o conteúdo cognitivo básico dos esquemas torna- se mais incutido e saliente, solidificando a base cognitiva do transtorno da personalidade.

FIGURA 2.1 Metas, estratégias, avaliação e transtornos.

Para detalhar melhor esse modelo, os transtornos da personalidade podem ser agrupados de acordo com seus recursos principais: interpessoal (“sociotrófico” – com foco para fora) ou individualista (autônomo – com foco para dentro), como representado na Tabela 2.1. Os impulsos predominantes incluem competir, apegar-se, atrair, proteger, controlar, defender e criticar. Todos esses impulsos servem a uma das duas funções básicas: expandir ou proteger recursos ou domínios pessoais; além disso, estão ligados a estratégias inatas. As estratégias são exclusivas e usadas como diagnósticos para observar e compreen​der a função evolutiva de cada transtorno.

TABELA 2.1

Modelo evolutivo dos transtornos da personalidade

Transtorno Recursos Impulso Estratégia funcional

Narcisista Grupos Competir;

expandir Afirmar a qualidade de ser especial de forma assertiva

Dependente Outros Apegar-se;

expandir Afirmar necessidades; agradar os outros de formaassertiva Histriônica Outros; grupos Atrair; expandir Engajar; entreter

Evitativa Outros Proteger Evitar a desvalorização

Antissocial Próprias

habilidades Competir;expandir Enganar, trair, roubar Obsessivo-

compulsiva Própriashabilidades Controlar;expandir Estabelecer padrões e sistemas

Paranoide Self Defender;

Esquizoide Self Proteger Isolar; desapego Passivo-agressiva Self Controlar;

proteger Resistir ao controle externo; discutir Depressiva Self Criticar; proteger Queixa-se, render-se, retrair-se, remoer

Dos transtornos movidos pela meta de expandir domínios pessoais, o da personalidade narcisista é tipificado por uma estratégia de superar os outros na competição por status, bem como de autopromover-se e exigir tratamento especial. O objetivo de apego ou de vínculo é alcançado por meio da asserção de carência e de agradar (transtorno da personalidade dependente), atração e engajamento (histriônica). Indivíduos com transtorno da personalidade antissocial perseguem a meta de expandir seu domínio por meio de estratégias de competição, um pouco semelhante à personalidade narcisista. Eles consideram os outros como objeto legítimo de exploração, ataque físico e privação de suas posses, mas parecem mais individualistas em seu desapego da opinião social, em nítido contraste com os indivíduos narcisistas. Pessoas com transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva fiam-se em sistemas de controle derivados internamente e avaliações para expandir seu domínio pessoal. A capacidade para organizar a resolução de problemas e a eficácia é adaptativa quando usada adequadamente, mas se tornam um problema quando usadas em excesso.

Dos transtornos caracterizados por um impulso para obter segurança, o da personalidade evitativa pode ser visto em termos de uma estratégia de proteção contra situações sociais especialmente desafiadoras e possível desvalorização. Ao mesmo tempo, indivíduos com esse transtorno da personalidade anseiam por um relacionamento com outras pessoas, tornando- os especialmente sensíveis à possibilidade de rejeição, crítica ou zombaria. Eles evitam situações nas quais não se sintam completamente seguros. Na verdade, uma análise fatorial do Questionário de Crenças da Personalidade mostrou um fator em comum para o transtorno da personalidade evitativa e o da personalidade dependente (Fournier, DeRubeis, & Beck, 2011).

O transtorno da personalidade paranoide caracteriza-se por manter-se na defensiva. Esta característica representa um exagero do processo normal de vigilância e proteção contra indivíduos potencialmente nocivos. Os pacientes com esse transtorno concentram seus próprios recursos na satisfação de suas necessidades e são propensos a personalizar ameaças e a contra-atacar quando percebem alguma invasão de seu território. O isolamento é a principal

característica do transtorno da personalidade esquizoide. Esses indiví​duos têm como característica a falta de interesse por outras pessoas e uma estratégia de desapego e indiferença tanto emocional como física. Indivíduos com transtorno esquizotípico são, em muitos aspectos, semelhantes aos paranoides e aos esquizoides, embora suas estratégias sejam muito idiossincráticas e socialmente incomuns. O transtorno da personalidade borderline parece manifestar impulsos e padrões de comportamento que são característicos do amplo espectro de transtornos da personalidade, muitas vezes produzindo motivos conflitantes e sofrimento significativo. Por isso, esses dois transtornos não estão incluídos na Tabela 2.1. Porém, incluímos a conceituação dos transtornos da personalidade passivo-agressiva e personalidade depressiva, que são clinicamente significativos. Ambos se baseiam nos recursos autônomos (self) e são movidos pela meta de proteger seus domínios por meio do controle por resistência indireta ou argumentação (personalidade passivo- agressiva) ou crítica, retraimento e ruminação (depressivo).

Também pode ser útil considerar os conceitos de internalização e externalização ao observar sinais clínicos das várias estratégias. As estratégias de internalização geralmente envolvem inibição e controle excessivo, ao passo que as de externalização refletem comportamentos oportunistas ou expressivos que são mal controlados (p. ex., impulsivo, reativo, hiperativo, agressivo). Como observado por Fournier (Cap. 3 deste livro), essas dimensões são independentes, sendo possível que algumas estratégias dos transtornos da personalidade sejam de externalização/mal controladas (p. ex., antissocial, histriônica) e outras sejam primordialmente de internalização/excessivamente controladas (p. ex., evitativa, depressiva). Alguns transtornos podem discutivelmente refletir baixos níveis de características tanto de internalização quanto de externalização (p. ex., esquizoide) ou altos níveis de ambos (p. ex., borderline, passivo-agressiva). A sobreposição, com o agrupamento dos principais recursos (autônomo ou sociotrópico), é somente parcial e pode oferecer uma maior explicação das diferenças dentro desses grupos. Embora ainda necessite ser confirmada por pesquisas, essa conceituação pode fornecer um método clinicamente útil para reconhecer padrões, reunir mais dados, comunicar-se com os pacientes e desenvolver intervenções terapêuticas.

Sugerimos que tais metas e estratégias sejam analisadas em temos de seus possíveis antecedentes em nosso passado evolutivo. Pode ser que o

comportamento dramático da personalidade histriônica, por exemplo, tenha suas raízes nos rituais de exibição vistos em animais irracionais; a personalidade antissocial, no comportamento predatório; e a dependente, no comportamento de apego observado em todo o reino animal (cf. Bowlby, 1969). Ao olhar para o comportamento desadaptativo das pessoas nesses termos, podemos examiná-lo com mais objetividade e reduzir a tendência a rotulá-los com termos pejorativos, tais como “neurótico” ou “imaturo”.

O conceito de que o comportamento humano pode ser visto de maneira produtiva a partir de uma perspectiva evolutiva foi amplamente desenvolvido por McDougall (1921). Ele desenvolveu uma explicação detalhada da transformação dos “instintos biológicos” em “sentimentos”. Seus escritos prepararam o caminho para alguns dos atuais teóricos biossociais, como Buss (1987), Scarr (1987) e Hogan (1987). Buss discutiu os diferentes tipos de comportamentos exibidos pelos seres humanos, tais como competitividade, domínio e agressividade, e traçou sua semelhança até os comportamentos de outros primatas. Em particular, o autor concentra-se no papel da sociabilidade nos humanos e em outros primatas.

Hogan (1987) postula uma herança filogenética, de acordo com a qual mecanismos biologicamente programados aparecem em sequência desenvolvimentista. Ele vê a cultura como algo que traz a oportunidade pela qual padrões genéticos podem ser expressos. Ele considera a força motriz da atividade humana adulta (como o investimento em aceitação, status, poder e influência) análoga àquela observada nos primatas e em outros mamíferos sociais, assim como nos humanos. Em sua teoria evolutiva do desenvolvimento humano, ele enfatiza a importância da “adequação”.

Scarr, por sua vez, enfatiza especificamente o papel do “dote” genético na determinação da personalidade. Ela afirma:

Ao longo do desenvolvimento, diferentes genes são ativados e desativados, criando mudança maturacional na organização do comportamento, bem como mudanças maturacionais nos padrões de crescimento físico. As diferenças genéticas entre os indivíduos são igualmente responsáveis por determinar quais experiências as pessoas têm ou não têm em seus ambientes. (1987, p. 62)