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Expansão do Terceiro Setor

2 Revisão Bibliográfica

1.3. Terceiro Setor

2.1.4 Expansão do Terceiro Setor

Nas décadas de 80 e 90 o número de organizações do Terceiro Setor cresceu geometricamente. Pesquisa do IBGE (2002) mostrou que neste período foram fundadas 73% das 275 mil organizações sem fins lucrativos existentes no Brasil em 2002. Nesta seção serão apresentados os principais motivos que levaram a um grande crescimento do Terceiro Setor no Brasil neste período e, consequentemente, as razões da grande importância que ele possui na atualidade na sociedade brasileira.

Na literatura estudada, cinco razões recebem o crédito pelo crescimento do Terceiro Setor no Brasil: 1) Publicação da Constituição Federal de 1988; 2) Crise do Estado Brasileiro; 3) Fortalecimento e aprofundamento das Reformas Neoliberais; 4) Formalização de um ambiente legal; 5) O Crescimento do Financiamento das Instituições. A seguir, apresentarei os principais argumentos que justificam estes fatores como indutores do crescimento do Terceiro Setor no Brasil.

A publicação da Constituição Federal no final da década de 80 foi um marco na expansão do Terceiro Setor, pois pela primeira vez as organizações do Terceiro Setor encontraram apoio legal para se organizarem, “sem temerem ser censuradas, fechadas e vigiadas, como eram vulneráveis no tempo da ditadura militar” (CARAVELA, 2000, p. 50- 51) 9. Isso significou reconhecimento político-institucional, mas principalmente liberdade de atuação. Outra razão da Constituição Federal ser um marco para o crescimento do Terceiro Setor foi a inédita garantia de serviços sociais mínimos que deveriam ser prestados pelo Estado. “Pelo menos em tese, nenhuma outra constituição brasileira o social foi tão privilegiado” (CARAVELAs, 2000, p. 52); direitos, como saúde universal, seguro- desemprego, adicional de férias, 44 horas de trabalho semanal e 13º salário para aposentados são exemplos das garantias sociais regulamentadas pela constituição e que faziam parte das principais reivindicações das organizações do Terceiro Setor à época.

A publicação da Constituição Federal em 1988, no entanto, garantiu direito, mas não acesso da população aos serviços públicos. Junte-se a esse fator a crise econômica da década de 80 que

“[...] reduziu a taxa de crescimento dos países centrais à metade do que foram nos vinte anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, levou os

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países em desenvolvimento a terem sua renda por habitante estagnada por 15 anos, (…) esta Grande Crise teve como causa fundamental a crise do Estado - uma crise fiscal do Estado, uma crise do modo de intervenção do Estado no econômico e no social, e uma crise da forma burocrática de administrar o Estado (…).” (PEREIRA, 1997, p. 9)

A pobreza se expandiu com a crise do Estado e as organizações do Terceiro Setor foram apontadas como parceiras naturais para minimizá-la (FERNANDES, 1994; SALAMON, 1995 apud TAVARES, 2000). Este fato inaugurou o terceiro motivo da expansão do Terceiro Setor: o Fortalecimento e Aprofundamento das Reformas Neoliberais.

As reformas Neoliberais foram um conjunto de medidas administrativas, econômicas e ideológicas fundamentadas num texto do economista John Williamson (GTN, 2003; LOPES,1994). Elas são mais conhecidas como “Consenso de Washington” e pretendiam ser uma resposta do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Departamento do Tesouro dos Estados Unido à crise social e econômica que se alastrava na América Latina (LOPES,1994). A reunião ocorreu em Novembro de 1989 e a partir de então a adoção das medidas Neoliberais pelos países foi uma condição obrigatória para recebimento de ajuda financeira dos Organismos Multilaterais aos países.

As medidas do Consenso de Washington foram (GTN, 2003): 1) Disciplina Fiscal; 2) Redirecionamento do gasto público para áreas prioritárias de alto impacto econômico; 3) Reforma Tributária; 4) Liberalização das Taxas de Juros; 5) Adoção de Taxa de Câmbio competitiva; 6) Liberalização do Mercado; 7) Liberar o fluxo de investimentos internacionais; 8) Privatização dos serviços públicos; 9) Desregulamentação das barreiras de entrada e saída de recursos; 10) Assegurar direitos de propriedade.

A adoção dessas medidas iniciou-se no Brasil a partir de meados da década de 90, com a publicação da Reforma do Estado. Dentre outras conseqüências, a implantação das políticas Neoliberais flexibilizou as relações de trabalho, afastou o estado das suas responsabilidades sociais e da regulamentação da relação entre capital e trabalho (MONTAÑO, 2003). As políticas sociais no neoliberalismo “passa a ser pensada de modo residual, apenas para complementar o que não se conseguiu via mercado” (SCHONS, 1995, p. 8) e que o estado, por incompetência, também não conseguiu resolver. Garantias sociais conquistadas na publicação da Constituição Federal enfraqueceram porque serviços não exclusivos como os de educação, saúde, serviços culturais e de pesquisa científica, antes vistos como direitos do cidadão mantidos pelo estado, foram terceirizados, pois poderiam ser oferecidos pelo Setor Privado e pelo Setor Público não-estatal, o Terceiro Setor

(PEREIRA,1998).

Ou seja, dentro do estado neoliberal brasileiro, as políticas sociais tenderam a ser terceirizadas. Como resultado, a sociedade civil organizada (representada pelas organizações do Terceiro Setor e principalmente pelas ONG) assumiu a responsabilidade pela ação social no Brasil. Isso fez com que a quantidade de organizações aumentasse vertiginosamente na década de 90 – 50% das 275 mil organizações do Terceiro Setor em funcionamento em 2002 foram fundadas na década de 90 (IBGE, 2002).

O quarto motivo que desencadeou o crescimento do Terceiro Setor foi inaugurado em 1999 com a decretação da Lei 9.790 que criou a qualificação de OSCIP para as organizações da sociedade civil no Brasil. Essa Lei foi um marco para o Terceiro Setor brasileiro, pois, pela primeira vez, uma ampla gama de instituições pode ter acesso à recursos públicos de forma desburocratizada (FERRAREZI, 2002).

A Lei das OSCIP, conhecida como a Lei do Terceiro Setor, ampliou o acesso aos fundos públicos que financiavam os serviços não exclusivos do estado e, assim, possibilitava a operação dos mesmos pelas organizações do Terceiro Setor. É importante destacar que a Lei das OSCIP regulamentou um tipo de qualificação para organizações não governamentais, não a primeira. Ela apenas teve objetivos diferentes dos dois tipos anteriores de qualificação existentes (Filantrópicas e de Assistência Social respectivamente as Leis N° 8742 de 07 Dezembro de 1993 e N° 91 de 21 de Agosto de 193510) que eram de difícil acesso a grande parte das organizações do Terceiro Setor (FERRAREZI, 2002) e ofereciam isenções fiscais relevantes.

A lei das OSCIP “democratizou” o acesso às qualificações e, dessa forma, o acesso pelas organizações do Terceiro Setor aos recursos públicos. Isso as fortaleceu financeiramente, disseminou seu conceito e a ação de suas organizações.

O crescimento do financiamento das organizações do Terceiro Setor, principalmente as ONG, não se deu apenas pelas vias públicas. Organismos multilaterais tiveram um papel preponderante no repasse de recursos para projetos desenvolvidos por organismos multilaterais (FERREIRA, 2005), assim como as Fundações, conforme discutido anteriormente. O GIFE estima que suas entidades filiadas invista cerca de US$450 milhões anuais em programas sociais diretos ou em parceria com outras ONG (SCHOMMER, 2000).

O crescimento do Terceiro Setor no Brasil, como conseqüência da cinco razões

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As qualificações de Fins Filantrópicos e Assistência Social eram e ainda são de difícil acesso para a maior parte das organizações não governamentais, o que dificultava acesso às linhas governamentais de recursos para implementação de projetos sociais e restringia a ação do estado através das organizações do Terceiro Setor.

apresentadas, fez com que uma promessa fosse formulada: o Terceiro Setor poderia ser a resposta aos problemas sociais no Brasil (FALCONER, 1999).

Contudo, para um setor que nasce e se desenvolve diante de tanta expectativa, as organizações do Terceiro Setor padecem de preparação para responder aos desafios diante das deficiências de gestão que se apresentam (FALCONER, 1999). Com isto, anunciamos o tema da próxima seção: a gestão no Terceiro Setor.