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Fase 3 – Estudo de Caso

2 Revisão Bibliográfica

1.6. Fase 3 – Estudo de Caso

Após a coleta de documentos sobre as Consultorias.org e a identificação dos principais temas que regem o fenômeno, foi possível a coleta de informações que detalhassem mais os dados coletados anteriormente e que, em conjunto com eles, respondessem aos objetivos da pesquisa. Para isso, utilizarei o estudo de caso qualitativo.

Segundo Merrian (1998), o estudo de caso é bastante utilizado quando as problemáticas trazem à tona a necessidade de aprofundar-se na descrição, explicação e análise dos elementos teóricos encontrados no campo empírico. Como a proposta desta pesquisa é desvendar uma organização, isso significa que, de entrada, não existe pressuposto, hipótese ou teoria a ser confirmada, mas apenas perguntas que serão respondidas a partir da ida ao campo. A escolha do estudo de caso favorece, ainda, o alcance dos objetivos propostos nesta pesquisa por que: 1) Questões sobre processos (o que, por que e como) e entendimentos (o que acontece, o que está envolvido) geralmente guiam estudos de caso qualitativo (MERRIAN, 1998); 2) O estudo de caso entende que os fenômenos e suas variáveis são indissociáveis do contexto social em que está inserido (YIN, 1994 apud MERRIAN, 1998).

3.1.1 Critérios de Seleção

O primeiro passo de um estudo de caso é a seleção dos casos que serão estudados. Para Stake (1995), os casos escolhidos devem ser representativos do fenômeno, assim como diversificados para garantir a variedade de conhecimentos a serem gerados a partir da investigação. Merrian (1998) discute que a seleção dos casos na pesquisa qualitativa geralmente é não-probabilística e requer que o autor aponte critérios para sua seleção.

Com base na sugestão destes autores, defini os critérios de seleção das Consultorias.org de forma a ser possível identificar seus atributos essenciais. Entretanto, esses atributos não são estreitos para que seja possível a representatividade e a heterogeneidade dos casos, conforme sugestão de Stake (1995). São eles:

 Caracterizar-se juridicamente como organização do Terceiro Setor;  Prestar ou declarar que presta serviços de consultoria;

 Ter atuação em organizações do Terceiro Setor no Brasil há pelo menos dois anos;  Disponibilizar documentos e outras referências sobre sua atuação;

 Estar dispostas a prestar informações necessárias para a realização do estudo.

3.1.2 Coleta de Dados

O segundo passo do estudo de caso é a coleta de dados que, no caso desta pesquisa, foi uma coleta de dados qualitativos (MERRIAN, 1998). Segundo Patton (2002), dados qualitativos consistem basicamente em declarações das pessoas sobre seus sentimentos, experiências e opiniões sobre o fenômeno em questão, geralmente coletados via entrevistas.

Entrevistas são “eventos discursivos complexos sujeitos a critérios diferenciados de práxis e validação” (GODOI E MATTOS, 2006, p.303). Para não descaracterizar as vantagens mais proeminentes de uma entrevista (incluídas nesta afirmação), os autores sugerem que o entrevistado expresse-se a partir da pergunta do entrevistador (uso de perguntas abertas); que as perguntas sejam elaboradas de forma que essa expressão não seja prejudicada; e que o entrevistador possa, sempre que for adequado, fazer novas perguntas (coerentes com o objetivo da pesquisa). Isso pode garantir uma pesquisa em profundidade.

Por isso, optei por utilizar, nesta coleta de dados, a entrevista semi-estruturada, de acordo com descrição de Merrian (1998) e sugestões de Godoi e Mattos (2006). Nela, apesar de existir um roteiro existente, o entrevistador pode alterar, incluir e excluir perguntas a partir

da reação do entrevistado. O roteiro da entrevista foi baseado no questionário realizado na fase anterior a fim de aprofundar os temas surgidos com este instrumento e expandir outros que não surgiram (Apêndice D).

Em se tratando de um trabalho qualitativo, o objetivo das entrevistas é buscar informações, sentimentos, impressões, lembrança e emoções, não havendo regras de comportamento. Por isso os diálogos não devem ser reduzidos à hipóteses e seus produtos não pretendem generalizações (GODOI E MATTOS, 2006)

Ao final dessa fase, terão sidas entrevistadas pessoas com potencial para responder aos objetivos da investigação. Por isso, essa é uma das fases mais ricas e importantes de todo trabalho.

3.1.3 Análise dos Dados

A base teórica para análise das entrevistas foi a oferecida por Mattos e Godoi (2006): a utilização de elementos da pragmática da linguagem e da análise lingüística do discurso. Esta escolha partiu dos pressupostos da pesquisa qualitativa que, de forma geral, não acredita no formalismo de considerar análise de discursos fenômenos objetiváveis.

O método em questão considera que a linguagem delineia a realidade e que a objetivação requerida de um dado qualitativo é uma boa argumentação, produzida por uma linguagem acessível e persuasível ao público a que vai se dirigir (MATTOS, 2006). Portanto, os principais achados dessa fase da pesquisa pretendem ser uma verificação prudente de uma boa interpretação das opiniões e impressões do entrevistado. Pretendo, enfim, superar o formalismo da entrevista através do reconhecimento de que seus produtos não são fidedignos, imparciais, exatos e autênticos, mas são jogos de linguagem recíprocos, íntimos e que refletem poder e representações (GODOI E MATTOS, 2006).

De acordo com Mattos (2006), cinco etapas são necessárias à análise de um conjunto de entrevistas realizadas com o mesmo objetivo. Eles guiaram a análise das entrevistas desta pesquisa seguindo as etapas sugeridas pelo autor:

a. Recuperação: transcrevi as gravações da entrevista e fiz anotações sobre detalhes que poderiam enriquecer sua análise e que não foram registrados na gravação.

b. Análise do significado pragmático da linguagem: fiz uma primeira leitura das transcrições e observei o contexto pragmático do diálogo – seus pontos altos e

baixos, como o assunto se desenvolveu, dentre outros elementos. Depois, numa segunda leitura, apontei textualmente o “significado nuclear da resposta”, os “significados incidentes” (aqueles que não ocorreram diretamente na pergunta) e as suposições implícitas do contexto. Logo em seguida, revisei o que foi anotado para melhorar a qualidade do material;

c. Validação: remeti o significado nuclear das respostas para verificação dos respondentes, como fonte de confirmação das mesmas.

d. Montagem da consolidação das falas: realizei uma matriz que contém o significado nuclear, os incidentes e os implícitos para cada resposta para melhorar a visualização e a análise que procede desta fase (Apêndice E).

e. Análise de conjuntos: levantei os temas dos primeiros resultados da análise e conectei-os a conclusões e expressões. Desta fase saíram os parágrafos da Análise dos Resultados (Seção 4.0) desta pesquisa.

Ao final desta etapa, concluí a fase de coleta de informações e passei para a quarta e última etapa.