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“Eu quero que todos os jovens do Brasil conheçam a Fundação Estudar.”

A

frase de Renato Mazzola ilustra a nova ambição da Fundação Estudar. O processo de ir além das bolsas começou na reunião anual de 2010, no Insper, em São Paulo, quando Beto Sicupira fez uma veemente reclamação sobre os limites da instituição. A organização era ótima, disse ele, mas uma rede de 500 bolsistas parecia uma gota d’água numa população de 200 milhões de habitantes. A conclusão era clara: se a Fundação Estudar queria provocar impacto de magnitude maior, não poderia mais ficar centrada apenas em seus bolsistas.

A reformulação do conselho, agora com a participação de ex-bolsistas, e a injeção de patrocínio do BTG Pactual, da Ambev e da Falconi, entre 2012 e 2016, abriram caminho para a transformação. A missão conferida a Rodrigo Teles e Fabio Tran era criar mecanismos para atingir milhões de pessoas.

E mecanismos os dois novos diretores criaram. Só em 2013 foram testados 26 projetos – uma média de três empreitadas por mês –, que iam desde produtos educacionais e portais de conteúdo a possíveis fusões e aquisições de negócios já existentes. Eram tantas ideias ao mesmo tempo que as reuniões quinzenais já não pareciam suficientes para manter o comitê atualizado.

O período de explosão de projetos serviu para sedimentar a transformação. Em poucos anos, a Fundação Estudar passou de uma organização eminentemente voltada a cultivar uma rede

de bolsistas para uma entidade de promoção de seus valores. Fabio Tran conta que teve certeza de que estavam no caminho certo quando foi se cadastrar na portaria de um prédio comercial e a recepcionista, ao ouvir que ele trabalhava na Fundação Estudar, disse: “Eu estudo

administração à noite e estou procurando um estágio. O conteúdo do site Na Prática tem me ajudado muito.”

“Nesse momento, a organização já estava mais ciente daquilo em que é boa: alavancar os estudos e a carreira de jovens universitários e recém-formados para que transformem a si e o Brasil, colaborando para disseminar pelo país uma cultura de excelência”, diz Tiago Mitraud, que participou de todo o processo de mudança e no início de 2015 assumiu a direção da Estudar. “Consolidamos o conceito de comunidade estendida, criamos cursos de formação e conferências de carreira para universitários e recém-formados. Em seguida, lançamos dois portais de conteúdo, chamados Estudar Fora e Na Prática, com o objetivo de levar informação qualificada a milhões de jovens brasileiros”, conta Tiago. Hoje, as iniciativas da Fundação Estudar estão organizadas em um tripé: formação de uma comunidade de líderes, estímulo a uma experiência acadêmica no exterior e apoio à tomada de decisão de carreira.

Para expandir o alcance sem perder o selo de qualidade da rede de bolsistas, a Fundação Estudar adotou o conceito de círculos concêntricos – como as ondas formadas pela água quando se joga uma pedra num lago. No círculo mais fechado estão os bolsistas. São centenas. Num segundo círculo, de diâmetro maior, estão os participantes de cursos e conferências de carreira. São milhares. No círculo mais afastado estão os internautas e leitores que têm acesso aos conteúdos produzidos pela equipe. São milhões.

O programa de liderança é uma das iniciativas para o círculo intermediário. Em 2012, 250 pessoas participaram de cursos presenciais da Fundação Estudar. Quatro anos depois, esse e outros programas já atingiram mais de 26 mil jovens em todo o país. A ideia é replicar a experiência da rede de bolsistas, ajudando os jovens a definir seus objetivos e a dar o salto para colocá-los em prática.

O próprio programa de liderança deu um salto quando um participante pediu para organizar uma edição em sua cidade. Tiago resolveu apostar. Nascia a versão compacta do curso, dada por participantes que recebem um treinamento extra para propagar a experiência vivida no programa. “O principal efeito”, diz a bolsista Júlia Evangelista, “é você conhecer gente boa e deixar de pensar que está sozinho, que é loucura querer provocar impacto, ter ambição.”

“Antes de entrar na Fundação Estudar eu sofria do que eu chamo de ‘normose’, que é você achar que tudo é normal, que é normal querer apenas ter um emprego, é normal querer trabalhar pouco, é normal só fazer o que todo mundo faz. Quando você conhece a filosofia da fundação, vê que isso não é normal, não, que isso é pensar pequeno”, afirma Júlia.

Para alertar contra o “pensar pequeno”, os programas presenciais da Estudar percorrem o país, para dar conferências de carreira e cursos sobre autoconhecimento e propósito, liderança, conexão em rede, além de promover iniciativas para aproximar os jovens do mercado de trabalho. Com sua mensagem de cultivar a excelência, a Fundação Estudar consegue cativar centenas de voluntários que a ajudam a disseminar conteúdos para outros jovens de todo o Brasil.

Em 2015, a Fundação Estudar mudou novamente de sede, dessa vez para o Brooklin, na zona sul de São Paulo. Mas levou consigo o espírito “comunitário” da Vila Madalena. Em um paredão coberto com tinta verde-lousa, está escrito o mantra: “Crescer, crescer, crescer”. De vez em quando, algum funcionário reforça a escrita com uma nova camada de giz.

“Eu gostaria de injetar o DNA da Estudar nos jovens brasileiros”, afirma Florian Bartunek, vice-presidente do conselho. “Penso o seguinte: ‘Nós só passamos dos 15 minutos do primeiro tempo.’”

Epílogo

“Nós fizemos a Fundação Estudar porque acreditamos em gente.”

A

frase foi dita por Beto Sicupira na reunião anual de 2016, quando a organização comemorava seus 25 anos. Durante todo esse tempo, ela se manteve fiel a um objetivo que nem sempre foi explícito: construir uma cultura de excelência no Brasil.

A missão começou com o apoio para formação de executivos no exterior, mas aos poucos se ampliou, com a percepção de que o Brasil tem um grande volume de pessoas interessadas em realizar projetos de valor para si mesmas e para o país. Bem mais do que conceder bolsas de estudos, o objetivo da Fundação Estudar hoje é disseminar seus valores, criar redes de apoio para quem queira progredir na vida, estimular ações de impacto na sociedade.

Nem todos querem ou podem estudar no exterior. Mas qualquer pessoa pode adotar a crença na meritocracia, assumir responsabilidade pela sua história, arcar com suas obrigações antes de pensar em seus direitos, descobrir seu propósito e persegui-lo. Para a Fundação Estudar, é desse tipo de mentalidade que o Brasil precisa para crescer e criar mais oportunidades para seus habitantes.

“Acreditamos que gente bem formada, com uma vontade muito grande e com ética é capaz de fazer qualquer coisa”, disse Beto na reunião. “Se isso é verdade, a transformação do Brasil em um país melhor, mais progressista, mais rico e mais justo só pode ser feita através dessas pessoas

– pessoas capazes de entender sua missão e de escolher seus desafios para transformar o país.”

Este livro foi construído com exemplos disso: pessoas identificadas com os valores da Fundação Estudar que batalharam para realizar seus sonhos. Para usar algumas das expressões comuns da rede, elas sonharam grande, deram um salto, construíram um delta admirável. E começaram a pensar no passo seguinte. Nenhuma das histórias contadas neste livro terminou – a excelência não é um ponto de chegada, é um processo.

Um dos mantras da Fundação Estudar é que se deve começar pelo fim: a meta dá sentido ao caminho. Se você acreditar nisso, a conclusão lógica para este epílogo é que ele deveria ser um início. Que ele ajude a inspirar você a construir um próximo exemplo de sucesso.

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