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Diante desse contexto, vamos à experiência de campo em sala de aula com as turmas dos 1°, 2° e 3° anos do Ensino Médio. Essa experiência partiu das observações de aula, as quais dividi em três momentos, que são: entrada em sala de aula, desen- volvimento e conclusão da aula, conforme será apresentado, iniciando com a turma do 3° ano B.

Observação da primeira aula, Escola Estadual Zila Mamede, 3° ano B, matutino

Tema da aula definido para aquele dia foi: Sociedade tribal

No 1° momento, a professora fez a chamada ao entrar na sala.

No 2° momento, a professora escreveu no quadro as infor- mações sobre o seminário que teria na próxima aula. Enquanto a professora escrevia no quadro, os alunos conversavam. Quando ela terminou de escrever e começou a explicar sobre a apresentação do seminário, os alunos prestaram atenção. A docente destacou sobre a referência do trabalho que teria de ser de acordo com as regras da ABNT. O tema do seminário foi o trabalho na visão dos três autores clássicos da Sociologia: Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber.

No 3° momento, resolução do exercício da aula anterior, a didática da professora consistia em cada aluno socializar suas respostas. Isso fez com que os alunos respondessem, mas nem todos da turma aderiram a essa proposta. Em seguida,

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a professora chamou os alunos para ver seus cadernos, ela verificou as letras para ver se não havia plágio.

Por mais absurdo que possa parecer essa ação de plágio, não se dá apenas em meio acadêmico, mas também chegou a acontecer com essa turma, por isso a total atenção da docente ao corrigir os trabalhos dos seus alunos. Vamos agora, para a próxima experiência com a turma do 2° ano A.

Observação da segunda aula, Escola Estadual Zila Mamede, 2°ano A, matutino

O tema da aula daquele dia foi a tipologia de Estados

No 1° momento, a professora fez a chamada, enquanto os alunos entravam na sala de aula;

No 2° momento, a professora começou a falar sobre o assunto da aula que tratava de tipologias de Estado. Falou sobre o poder político na Idade Média, os alunos aparentavam prestar atenção na explicação sobre a sociedade feudal. Houve alguns questionamentos sobre a separação de poderes – legislativo, executivo e judiciário – com o surgimento do Estado Moderno e que vigora até hoje, porém os alunos não conseguiam responder. Eles não eram participativos, somente um ou outro respondia às perguntas feitas pela professora. Alguns conversavam, outros copiavam uma atividade que podia ser ou não da disciplina. A professora dava sequência à aula falando sobre os quatro tipos de Estado, três subestados: fascista/ nazista/soviético.

No 3° momento, quando iniciou a apresentação sobre as anotações que os alunos fizeram sobre o livro: A revolução dos

na qual fez um grupo, denominado: Discutindo Sociologia, e criou algumas atividades para os alunos, como essa da leitura do livro. A turma permanecia atenta, enquanto um dos alunos relatava suas anotações. Destaco que essa leitura foi proposta a toda a turma, mas só três alunos se dispuseram a participar. Nesse dia, mais uma aluna desistiu e só ficaram dois alunos para dar continuidade às leituras dos capítulos seguintes do livro. O alarme toca e finaliza a aula.

Continuando as observações de aula, seguirei agora, com as turmas dos primeiros anos, que são ministradas em horários subsequentes em uma manhã de sexta-feira. Isso faz com que a docente de Sociologia, disponha de vários argumentos para enfatizar o conteúdo e ministrar suas aulas, já que se trata de um mesmo assunto, o qual é direcionado a um público jovem com idades diferentes e oriundos do Ensino Fundamental, por conseguinte, estão tendo seu primeiro contato com a disciplina de Sociologia. Diante disso, partiremos para nossa última obser- vação de aula, destacando que, para a elaboração deste artigo, trouxemos a observação de uma das três turmas do 1° ano.

Observação da terceira aula, Escola Estadual Zila Mamede, 1°ano B, matutino

Tema de aula definido como Identidade

No 1° momento, a professora fala da revisão para a prova, sua didática, mais uma vez foi fazer com que a turma socia- lizasse as respostas das perguntas passadas na aula anterior.

No 2° momento, a professora explicou o assunto para a turma, ou seja, falou sobre as características da identidade.

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Alguns alunos observaram a explicação, enquanto outra aluna ficou no celular, outra copia a resposta de outro caderno. Havia algumas participações na aula e conversas paralelas entre os alunos.

No 3° momento, socialização das respostas do exercício passado na aula anterior (cada socialização valendo um ponto), em seguida, a professora passa uma música, Máscara, da cantora Pitty, para eles relacionarem com o tema e finaliza a aula. E assim, concluímos as respectivas observações.

Com isso, podemos destacar aqui, nesses três momentos de aula, que os alunos do 1° e 2° anos não demonstram muito interesse pelos assuntos da disciplina, por mais que a professora buscasse interagir, não vimos uma resposta satisfatória por parte dos estudantes, pois eles não têm o gosto e a aptidão pela matéria de Sociologia. Um exemplo disso é que foi proposto a turma do 2° ano, à leitura do livro, A revolução dos bichos, mas apenas três alunos da turma aderiram à leitura, no final ficaram apenas dois alunos para explicar o que entendeu ao ler os capítulos do livro. Isso mostra que esses estudantes não têm o hábito de ler livros com uma linguagem mais densa, o que muitas vezes dificulta a interpretação. Conforme Bourdieu:

O gosto, propensão e aptidão à apropriação material e/ ou simbólica de uma categoria de objetos ou práticas classificadas e classificadoras, é a formula generativa que está no princípio do estilo de vida. Este é o conjunto unitário de preferências distintivas que exprimem, na lógica especifica de cada subespaço simbólico [...] (BOURDIEU, 1996, p. 74).

A escola, por ser um espaço de aprendizagem que dire- ciona os alunos para a leitura, está tendo que se adaptar as novas tecnologias, por exemplo, o celular, que vem atraindo o gosto dos alunos, o que faz com que ele substitua, muitas vezes, o livro didático e os livros literários na preferência dos estudantes.

Um dos fatores que contribuem para esse desinteresse é, também, o fato de que a biblioteca da escola não tem bibliote- cário. Ela é usada apenas para guardar os livros didáticos que chegam para a instituição, os clássico da literatura brasileira, dentre outros, ficam em segundo plano entre os alunos, que apenas utilizam a biblioteca para pegar os livros das disciplinas que são lecionadas em suas respectivas séries.

A cada ida à escola para o estágio, vou conhecendo os estilos de vida dos alunos, suas preferências pelo Teatro, Música, atividades esportivas, como o futebol de salão e judô, a instituição coleciona um grande quadro de medalhas e troféus, ganhos pelos alunos nas competições estudantis estaduais.

Os estudantes têm também a oportunidade de aprender outra língua, o espanhol, curso ministrado por um professor estagiário do IFRN (Instituto Federal do Rio Grande do Norte). Com isso, Bourdieu afirma que a ideia de que as posições sociais e as práticas culturais correspondem e tornam-se inde- pendentes umas das outras; elas definem-se e constituem-se umas em relação às outras e formam, portanto, uma estrutura de relações. É o que podemos observar nessa interação escolar.

Logo, diante de todo esse contexto vivido, cotidia- namente, pelos alunos da EE Zila Mamede, percebe-se a diversidade de gostos e estilos de vida que compõem esse espaço social e interativo escolar. A existência no espaço e as relações que ocorrem nele fazem com que as pessoas se diferenciem umas das outras, o que significa, na visão de

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Bourdieu, uma existência diferenciada dentro do espaço social (CAMPENHOUDT, 2003).

Portanto, um aprofundamento em uma pesquisa como esta, nos traria muito mais subsídios para discussões e descobertas interessantes sobre as preferências dos alunos, o que enriqueceria ainda mais o nosso trabalho. Diante de toda esta explanação, concluímos com esta análise sociológica que o espaço social da EE Zila Mamede, apesar de ser um lugar desenvolvido para o ensino e a aprendizagem, traz em si posições sociais com gostos e estilos de vida diferentes entre seus participantes.