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EXPERIÊNCIA EMOCIONAL VS TEMPO CONSCIENCIALIZADO E TRIPARTIDO:

7. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE

7.1. QUALIDADES DA MENTE

7.1.3. EXPERIÊNCIA EMOCIONAL VS TEMPO CONSCIENCIALIZADO E TRIPARTIDO:

Se tomarmos o tempo como o factor que permite a ligação, ou mesmo só o tempo, tal como o revemos anteriormente, verificamos algumas especificidades. Em primeiro lugar, o tempo não tem correlação nenhuma com a imagem apresentada ao sujeito, aliás tal como Bóris (1994) salienta - a realização do tempo é muito difícil. Como ver a forma como o tempo contribui para organizar a mente no Rorschach? Já falámos na regularidade que o sujeito implica (ou não) no protocolo. Já falamos também que a escrita da resposta a par da relação com o clínico impõe o tempo tripartido, isto é, a sua passagem. O mesmo podemos dizer da sucessão das 10 imagens. Estudámos o tempo através da sua qualidade de ligação pela simultaneidade que cria entre expectativa e realização, no pôr em relações representações mentais e ainda do pensamento à acção. Este é o tempo enquanto ligação, enquanto “criador” de simultaneidade entre mente e imagem, entre expectativa e realização. Já sabemos que esta pode leva sempre a uma continuidade – ou é pela satisfação (retira o sujeito do espaço e do tempo) ou pela frustração, que impõe o sujeito o espaço e tempo da representação (se a elaborar). Há uma descontinuidade aqui que, pela sua transformação em símbolo mantém de certo modo a continuidade. Assim, é no nível da simbolização da resposta, amplamente estudada em investigações anteriores (Chabert, 1997, 2000, Marques, 1999), que se

159 verifica a capacidade de realização negativa, pela conexão simbólica (símbolo apto em si mesmo a simbolizar) e distância, principalmente, entre o símbolo encontrado e a mente que o simbolizou. Aqui estão implicados dois eixos temporais para análise do Rorschach.

Incide-se na procura dos processos de ligação e desligamento da imagem, que já referimos anteriormente, na coerência que definimos interna e externa, e que a partir da conjugação de Bion e Matte-Blanco podemos dizer que o sujeito se encontra e logo a seguir desencontra, isto é, reconhecer a ausência de um objecto ao assumi-lo como representação mental e não como um elemento sensorial (beta) vivido como real. Ou seja, estamo-nos a referir à possibilidade do tempo ser experienciado no presente da experiência, que o Rorschach naturalmente impõe, e pensado no tempo da separação, da ausência, que a representação impõe. A segunda parte do processo nem sempre é possível e já referimos esses casos, que estamos aqui a postular num processo psicótico ou limite, sempre que o sujeito faz da mancha um depósito de evacuações (psicoses), mais ou menos contido, isto é, limitado espácio- temporalmente. Mas pode também reconhecer a ausência em sofrimento, ou ainda como uma expectativa que não pode ser satisfeita, e aqui só o desamparo se manifesta, manifestado nas respostas de queda, abandono, ou sem uma base ou ainda uma base frágil. O recurso ao eixo central da imagem, pode ser assim uma mão-mãe que se estende e impede a queda. Contudo o eixo central pode ter outras manifestações: fálicas ou reflectir uma tripartição espacial da imagem.

Entrando no funcionamento que representa a ausência deve-se, em primeiro lugar, salientar aqueles movimentos mentais que acentuam a representação negativa, ou a descontinuidade entre percepto e representação mental, o que implica um desligamento entre sujeito e imagem. Estamos a referir-nos às respostas que reforçam o seu aspecto irreal e assim é cortado (aparentemente) o vínculo entre expectativa e realização. Aqui algures o encontro que houve entre expectativa e realização é um encontro ansiogénico pelo que o presente só pode ser sentido como perigoso. Este movimento pode ser realizado a nível de conteúdo (significado), por exemplo mítico ou sobrenatural (o tempo primordial) como “duendes”, “abominável homem das neves” ou do continente, por exemplo antigo, ou pequeno e infantil (impotente), ou ainda animal, na medide em que não têm consciente, ou ainda animal primitivo, todo-poderoso pulsionalmente etc.. Pode ainda haver uma desistência de satisfação de forma mais espacializada, reforçando a separação das imagens: “estão

160 afastados” (é de referir que o afastamento pode estar também implicado na impossibilidade de representar a relação), “zangados”, ou de “costas um para o outro”) ou tapando a coerência (significado): “... mas não é um animal preciso”, “por de trás de uma nuvem”, é “apenas uma impressão”, “parece-me” ou talvez”, mas sempre impondo o tempo, pois a resposta ou é remetida para o passado, ou é sujeita directamente ao recalcamento.

Terá necessariamente de haver restrição na resposta, cujos movimentos seguintes determinam a sua qualidade. É no entanto de considerar que o Rorschach é um método de conhecimento feito no presente, ou melhor, é uma sucessão de presentes tal como a vida. É na mente do sujeito que estes se ligam ou desligam (só se pode desligar o que estava ligado) numa sequência, numa narrativa. As respostas onde numa única resposta se vê a tripartição espacial e temporal, o que é feito inter- relacionando espaço e temas (narrativas) podem ser exemplificadas por Martine (18 anos), no cartão III: “A um casal, quando duas pessoas não se entendem... a discórdia, mas que há uma tentativa de... talvez à dificuldade de relação” ou ainda Cartão VII: “A crianças sentadas sobre rochas... a uma divisão, quer-se alguma coisa, depois não se consegue obtê-la”. O que está implícito é que se quer alguma coisa a que se está solidamente agarrado mas não se consegue obtê-la no presente, pela ligação a um terceiro com quem se compete. O passado em Martine só pode ser evocado posteriormente no constante “não ver”.

Através destes três parametros de análise, tão interligados entre si como o tempo e o espaço, mas que tivemos que tentar isolar, iremos agora procurar os modos pelos quais se pode correlacionar as dimensões espaciais (e temporais) e o funcionamento mental no Rorschach, enquanto instrumento que reflecte os modos como a mente se manifesta, ou o como é que ela se transforma (ou não) no contacto com a realidade, estudando a quarta-dimensão, aquela que concebemos para incluir uma interrelação entre inconsciente-consciente.

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7.2. DIMENSIONALIDADE PSÍQUICA