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PERSPECTIVA DIMENSIONAL DA ORGANIZAÇÃO ESPÁCIO TEMPORAL

3. O ESPAÇO E O TEMPO COMO ORGANIZADORES DA MENTE 1 AO LONGO DO DESENVOLVIMENTO

3.3. INOVAÇÕES E PROBLEMAS ENCONTRADOS PELO ESTUDO DO ESPAÇO E TEMPO NA TEORIA E PRÁTICA PSICANALÍTICA

3.3.1. PERSPECTIVA DIMENSIONAL DA ORGANIZAÇÃO ESPÁCIO TEMPORAL

Pela nossa parte, ao realizarmos este trabalho, procurando uma perspectiva dimensional da mente, a partir do espaço e tempo como organizadores mentais, deparámo-nos com muitos problemas. Alguns deles levaram-nos a escolher determinado ponto de vista teórico em detrimento de outro, outros levaram-nos a integrar concepções oriundas de pontos de vista diferentes. Um deles é a não consideração do Édipo por alguns autores nos processos de espacialização e temporalização que formatam e impõe a representação. Algumas teorias, essenciais para o espaço e tempo, e que encontram no paradigma da satisfação-frustração o seu desenvolvimento (de espaço e de tempo), terminam “demasiado cedo”, isto é, não permitindo considerar o Édipo e a importância da adolescência e suas conquistas da realização e do verdadeiro pensamento simbólico-abstracto, fundamentais para a consciência de tempo, e sua resolução através da tripartição temporal, embora de modos diferentes. Assim, tivemos de pressupor a ideia de que o tempo faz com que a satisfação se torne em frustração pelo Édipo (embora sentida a partir de fora, ou seja, a criança explica a sua impotência pelo tempo) e que a adolescência, após a puberdade, é a única altura em que se pode constituir um sujeito histórico, intersubjectivo, o sujeito que procura no mundo a sua própria realização, o sujeito integrador de inconsciente-consciente, virado para o Outro dotado das mesmas potencialidades (inconsciente-consciente). Isto porque só nesta idade é que o pensamento ganha a sua maior competência – a abstracção e a manipulação de ideias em si mesmas, possibilitando a mais simbólica ou maior densidade simbólica na transformação da frustração, e permitindo a ressignificação constante que irá dinamizar o resto da vida.

Outro problema com que nos deparámos foi o termo regressão e o problema da procura de realização na compulsão à repetição. Sobre o primeiro, a regressão, considerada como o sujeito recuperar no presente um dado modo de funcionar, que predominou anteriormente na resolução de problemas com angústias semelhantes à actual, trata-se mais de espacialidade do que de temporalidade. O sistema de relação utilizado é o modo do espaço psíquico no presente, mas foi contudo, aprendido e constituído o seu modo relacionador no passado. Também a compulsão à repetição sofre de problema semelhante; o sujeito recupera uma vivência anterior. A diferença

123 é que o sujeito recupera um estado emocional e não um verdadeiro modo de relacionar (sistema de funcionar, espaço mental). Poderá ser por se associar a um recalcamento originário (lugar sem a mínima significação), que irá atrair e destruir, tal como um buraco negro atrai e destrói (até a própria luz), os processos de relacionar que poderiam significar um dado acontecimento doloroso (e assim elaborar), no sentido em que Amaral Dias refere (2000 e 2009), a partir de Freud, ou poderá ser pela função de eliminação de qualquer sentido, como o que Green postula. Contudo, com Bion a mente procura a realização, na relação com o meio e a partir de dentro. Logo a compulsão à repetição como um ataque tão forte ao tempo que nega a própria negação do tempo, necessita de estar incluída na procura de realização; positiva ou negativa, mas sempre procurar uma forma de se manifestar, tal como tão claramente referido por Pedinielli (2004). Também com Matte-blanco, poderíamos dizer que a compulsão à repetição é um objecto multidimensional que procura uma manifestação.

Na nossa experiência clínica deparámos com sujeitos que propositadamente conduziam alcoolizados nas estradas onde sabiam que iria estar um controlo policial. Assim faz sentido questionar: procuram uma contenção? Ou procuram uma manifestação, uma repetição de algo cuja carga emocional e/ou representacional não foi possível ser manifestada no espaço mental, e têm de recorrer a uma acção, inscrita de dentro para fora e forçando, criando um fora igual ao dentro? Fica a pergunta. Também nos deparámos com sujeito que pareciam nem sequer ter representação de algo, no momento da condução: o espaço onde circulavam era atacado pelo tempo–velocidade: a mente só permite o lugar de partida e o lugar de chegada. Aqui a negação é a da passagem do tempo. E alguns pareciam nem saber que negavam a passagem do tempo, no sentido que Green refere acerca da compulsão à repetição, enquanto a parte destrutiva da pulsão de morte. Em termos teóricos, esta é um discussão antiga, que merece também maior investigação, através da inclusão do estudo do espaço e não só, também através de Bion, que considerava a mente como um espaço que procura realização (positiva ou negativa), um espaço que procura e cria significação sempre em modo de ressignificação.

A importância do espaço e tempo para a organização dos processos mentais é verificada nos modos como os autores concebem o desenvolvimento, a maior parte deles incluindo a espacialidade e temporalidade. Anteriormente definimos as teorias que concebem o desenvolvimento considerando-o a partir do espaço e tempo, mas

124 sabemos que estas se apoiam em outras que não utilizam as noções de espaço e tempo. Alguns autores contudo, basearam-se no espaço e tempo para constituir o modo como a mente se processa em relação com o outro, com o mundo, são eles Grotstein (2003) e Meltzer (1976). Meltzer apoiou-se na ideia de geografia da mente, onde está implícita a noção de que a mente se processa a partir de vários espaços cuja relação entre si possibilita o desenvolvimento. Grotstein parte da noção de correlação entre os processos mentais e as suas relações com o externo. Ambos constituíram um modelo de desenvolvimento da mente através da criação de analogias dimensionais, isto é, com a geometria. Com Matte-Blanco vimos que a mente é um sistema de relacionar. Mas ele vai ainda mais longe quando diz que tudo o que nós conhecemos, tudo o que nós entramos em contacto com, vai reflectir as mesmas operações mentais que a mente realiza. Mais do que uma correlação é uma correspondência bi-univocal, ou seja, uma correspondência onde a cada elemento de um conjunto (mental) existe um e só um elemento de outro conjunto (real) que lhe corresponde através de uma função: a relação que é estabelecida entre os dois.

Temos ainda de assinalar a diferença entre a concepção de mente dimensional de Meltzer e Grotstein e a concepção de Matte-Blanco, de mente multidimensional no inconsciente das vivências que é submetida a uma tridimensionalização da experiência pelo consciente. Matte-blanco incidiu sobre os processos intrapsíquicos. Meltzer e Grotstein incidem nos modos interpessoais que permitem o desenvolvimento: incluem o Outro, mesmo que este Outro seja referenciado à própria mente (é-o pela introjecção, projecção, identificação projectiva, adesiva, introjectiva, sustentadas pelo nível da representação e significação, etc.). Assim, podemos constituir uma continuidade entre estas teorias. Os três procuram entender a mente a partir dos espaços criados para presidir ao acto de relacionar: mas um incide sobre o processo interno, Matte-Blanco, o intrapsíquico em exclusivo, e os outros (Grotstein e Meltzer) incidem nos modos como esses processos se constituem a partir da relação.

É aqui que temos de referir que a intersubjectividade, presente em qualquer relação é uma teoria extremamente reforçada com este estudo, porque esta teoria concebe os modos de relação bi-lógicos (embora não o refira sob uma designação única): a mente que integra consciente e inconsciente, o modo de funcionar que se localiza no tempo sequencial, e que constitui o sujeito histórico e o sujeito narrativo. Assim, temos como objectivo neste trabalho sistematizar os modos como o espaço e

125 o tempo organiza a mente ao longo do desenvolvimento da mente enquanto espaço

relacionador constituído através da necessidade de resolver a frustração do tempo.

Para isso constituiremos uma outra concepção de dimensionalidade psíquica, mas que consideramos totalmente inscrita nestes autores que acabámos de referir e nos que ao longo da parte teórica demos mais importância, através do um processo de selecção e integração teórica.

A nossa concepção da mente recorrendo à analogia geométrica, é justificada nas teorias de Bion, Mate-Blanco, Grotstein e Meltzer (e outros) que definiram ou partiram desse princípio, o princípio de que as relações que encontramos no meio, os conhecimentos, as percepções, etc., sejam elas científicas, culturais, ou de outro âmbito, deve-se ao facto de a mente as relacionar desta maneira. A natureza ou a ciência nunca reflecte relações (princípios ou teorias) que não estejam préviamente estabelecidas na mente. Matte-blanco reforça muito esta ideia: a natureza e as relações que nelas encontramos, a matemática, física, etc., reflectem os mesmo tipo de relações que a mente realiza por si mesma, em correlação com a natureza, que a ciência procura descrever.

Nós iremos estabelecer um modo adimensional, unidimensional, bidimensional e tridimensional, proporemos sobre a existência de uma quarta- dimensão, por comparação às relações encontradas na geometria que caracterizam cada um destes modos. Partiremos de fora da psicanálise, e integraremos nas teorias psicanalíticas aqui revisadas para os inscrever na mente. Assim, a solução que encontramos para compreender o modo como se mente organiza espaço- temporalmente ao longo da vida, é postular a existência de uma ausência de dimensão, um modo unidimensional, bidimensional, tridimensional e quadridimensional. Assim pensamos conseguir integrar as conquistas edipianas, as da adolescência, e o que acontece no adulto. Além disso, estas ideias também integrariam as de Piaget sobre a adolescência e o adulto (no adulto inclui-se Erickson, citado por Colarusso, 1979). As de Piaget (Wadsworth, 2002) são baseadas em estudos experimentais desde a sua concepção teórica. Segundo estas teorias na adolescência é descoberta a lógica e a manipulação do pensamento, que aprende na escola e onde vai experimentar no novo mundo que se lhe apresenta -– a lógica aristotélica, a lógica que Matte-blanco inclui e localiza no consciente. O adulto por seu lado preocupa-se em realizar efectivamente pela via dos derivados simbólicos dos desejos infantis, isto é, ele produz, reproduz e reproduz-se. Sente satisfação na

126 procura de pensar a partir do outro, consegue empatizar (sentir) o outro e ter prazer nisso. Quer cuidar, responsabilizar-se e assegurar um futuro. Só na velhice conclui que o projecto edipiano tem de continuar derivando-se agora pelo desvio cómico- trágico, como considera Green (2000), para os filhos ou das suas produções. Sem considerar a (re)transformação patente na adolescência não poderíamos considerar esta divisão dimensional. Também o conhecimento dos modos de funcionar mentais que é permitido pelo método de Rorschach contribuiu em muito; não só porque é uma forma que há muito tempo permite uma manifestar mais concreta das teorias psicanalíticas (um instrumento de investigação) mas também porque inclui directamente o espaço e o tempo, nos processos mentais que o sujeito vai realizar para responder ao pedido. Desta forma está apto a estudas todas as dimensionalidades que aqui concebemos, bem como a quarta, aquela que é de mais difícil manifestação. Em termos de faseamento dimensional, concebemos aqui a analogia entre processos mentais espácio-temporais e a mente (pelos enquadramentos teóricos anterioremente referidos e sintetizados) da seguinte forma:

No início da vida a criança poderia experienciar o mundo como sendo inicialmente adimensional, como um ponto, um ponto fechado de onde tudo parte e aonde tudo chega; um ponto de vivência infinita e totalmente atemporal. Este é um lugar adimensional, porque não há estabelecimento de nenhuma relação com o mundo. Este seria o lugar onde poderíamos colocar o indivisível, uma total simetria tal como refere Matte-Blanco, o lugar da vivência multidimensional, completamente inacessível à nossa mente. Depois o ponto é “esticado em dor” para comportar as relações com o mundo, com o Outro, com a relação que vai constituindo uma noção de contiguidade e continuidade, mas como parte de si próprio – uma recta, uma linha. A recta é o lugar geométrico (geometria analítica) da primeira dimensão – unidimensionalidade da experiência. As rectas implicam uma relação de distância, (tal como Bion refere, o espaço é a distância entre os objectos fragmentados) em termos quantitativos. Pode-se calcular também as suas direccionalidades, através de uma função proposicional ou equação. Mas o resultado é sempre o possibilitar determinar o valor a cada ponto da recta sucessivamente, e portanto é sempre cumulativa: uma sequencia de elementos estáticos. Aqui todos os acontecimentos, todas as vivências são de contiguidade (e implicitamente de continuidade), como uma linha. A perca desta continuidade e contiguidade levaria à fragmentação da linha, levaria a uma mente onde coexistem vários pontos desconectados e cada um

127 com um potencial adimensional em si mesmo, em termos da sua vivência interna. Podemos assim inserir aqui a teoria de Bion e Matte-blanco: uma experiência vivencial concreta, infinita, personificada onde tudo está em tudo, mas de modo disperso. O esforço do sujeito realizar a experiência (tridimensionalá-la através da falar, que não é bem uma “fala”) revelaria assim palavras como coisas, acções, pessoas, com uma intensidade emocional exponencial e extremamente perturbadora.

Com a consolidação da contiguidade e continuidade é possível constituir uma área, uma área superficial possibilitada pela capacidade progressiva consciencializar a relação ao não-Eu, ao Outro, ao ausente, pela frustração do tempo. A área reflecte- se em geometria por figuras, figuras geométricas, que se representam num plano, num plano bidimensional. Sabe-se que o cálculo da área se faz através da sobreposição dos lados (caso do quadrado que se calcula pela multiplicação de lado, mais lado), ou da base (caso do triângulo que se calcula multiplicando a sua base pela altura e dividindo por dois) ou ainda outras, tendo em conta o tipo de figura. As relações que se podem encontrar nas figuras geométricas caracterizam-se assim pelo cálculo do perímetro, da área, e do seu formato. Poderíamos assim dizer que o plano bidimensional é o sujeito que estabelece as suas relações em termos da superfície, em termos do contorno, em termos do formato, tal como é tão evidente no Rorschach (Chabert, 2000). É um sujeito que procura expandir-se no espaço pela superfície, ampliando o seu limite e não sabendo lidar com o seu fim – o outro separado de si mesmo, o outro que o delimita, o outro que nomeia, o outro que lhe dá existência, o outro que lhe impõe o tempo, e o tempo é o seu fim, tempo da frustração perante a sua finitude e eternidade. Este sujeito também assume diferentes formas de perturbação: ele pode perder a contiguidade e continuidade de “uma” ou mais “rectas” que o compõem (e assim entraria numa vivência adimensional, mas teria de ser sempre limitada a uma determinada área), pode perder a delimitação, o perímetro (que é uma excelente metáfora do envelope psíquico ou pele psíquica) e assim pode ser invadido pelo que está para além dele, o não-Eu, o Outro (criando uma espécie de buracos da superfície mental) ou pode ainda perder a sua formatação, tornando-se indefinido e difuso e procurando uma sistematização. É um sujeito ainda cumulativo, apesar de conseguir relações mais complexas que o cálculo da distâncias, do fim e do início da recta, que estão presentes no mundo unidimensional. Há ainda uma característica fundamental e que é sempre falada em psicanálise: o sujeito é dependente do outro para a sua própria delimitação, significação, é o outro que o

128 representa, o outro que lhe dá sentido e manifestação. Ou seja, só incidindo no lugar que delimita, é que a área pode ganhar um sentido, um nome, uma conjunção constante: Estado-limite é uma psicopatologia que poderíamos inscrever aqui.

Um outro modo de organizar o espaço e o tempo é adquirido quando o sujeito se permite a encontrar um espaço (não uma área) onde pode ele próprio conter o seu fim. A tridimensionalização da experiência é representada pela geometria como um sólido, um sólido que muito mais que delimitar, contém coisas. Em geometria há o cálculo do volume (o volume é a quantidade de espaço ocupado por um corpo) é realizado de modo mais complexo, que pode ser quantificado mas não é necessariamente cumulativo. O que se faz é, no exemplo do cubo, multiplicar três vezes o lado (porque todos os lados são iguais), e outros sólidos assumem outros cálculos, que são sempre realizados a três, porque é necessário incluir a medida do seu interior, da profundidade. Aqui podemos inscrever aquilo que os vários autores da psicanálise incluem para a triangulação edipiana (sujeito em relação com a mãe e pai; em relação com o desejo, impedimento do desejo e um regulador entre os dois) ou a triangulação que as relações de objecto explicam pelo símbolo: sujeito-simbolo- objecto, ou ainda os intersubjectivistas: sujeito-espaço potencial (capacidade de estar só)-objecto ou ainda a original concepção de Bion, em que a mente tem uma pré- concepção da relação de casal: sujeito x pré-concepção de casal (pai x mãe). Poderíamos ainda inscrever de modo menos evidente, a teoria bioniana das concepções/conceitos: “expectativa x realização positiva” cuja frequência permite a “expectativa x realização negativa” que segue para os “conceitos e mais complexas abstracções do símbolo”. Seja como for, a organização a partir daqui é sempre tripartida se agregarmos a geometria às concepções psicanalíticas.

Aqui a experiência pode ser submetida a vários pontos de vista, mas em todos eles há duas incidências específicas: ou focam naquilo que compõem e caracteriza o seu interior, ou focam naquilo que o delimita, na área onde este interior está inserido, o que nos remete também para a relação continente-conteúdo, pois nenhum pode ser pensado sem ser em relação com o outro. Esta última incidência seria o ponto de vista do exterior, o ponto de vista do observador, a acção do sistema percepção- consciência, aquele que se vê a si próprio a partir de fora de si mesmo. O primeiro, o ponto de vista interior, assume também várias qualidades em geometria: densidade, massa, etc.. Podemos também com alguma facilidade calcular um “ponto” interior central do qual o sólido se constituiria (inconsciente submetido depois a relações

129 assimetrizadoras da experiência). Além disso, os sólidos podem ser definidos matematicamente de várias formas extremamente complexas (exemplo; cálculo integral). Aqui o lugar da perturbação será principalmente no dentro, uma vez que a estrutura do sólido dificilmente é abalada se contiver falhas no seu perímetro – a castração -, ou pelo menos teriam de ser falhas muito massivas, para que este objecto perdesse a sua integridade, e esta é outra característica atribuída à neurose, a sua identidade mantém-se estável. Mas ela também é melhor definida no método de Rorschach (Chabert, 2000, refere que a integridade dos objectos nunca é danificada). É no dentro que o sujeito imprime os seus conflitos, visto através da relações entre várias partes que se constituem para a caracterizar. Ou seja, nunca é só desejo, ou só castração, no exemplo da concepção edipiana, mas é o modo como a relação entre desejo e castração se manifestam.

A partir desta caracterização dimensional do modo como o espaço e tempo organizam a mente, nós iremos questionar acerca da existência de modo de funcionar quadridimensional, o objectivo principal da investigação deste trabalho: existirá uma quarta-dimensão no modo da mente se organizar espaço-temporalmente?

Uma quarta-dimensão da mente pelo facto de incluir a espacialização do tempo, permite, em termos lógicos fundamentar o sujeito que se inscreve mentalmente e inscreve o mundo num modo narrativo, sequencial, histórico, numa inter-relação constante entre inconsciente e consciente, da forma como é concebido pelas teorias da intersubjectividade.

Mas iremos incluí-la nas ideias de Blanco, como o sujeito que mais inter- relaciona os seus dois modos de ser, as suas duas lógicas. Os processos inconscientes e conscientes interligados com uma relação espacial de grande espessura simbólica, totalmente inscrita no tempo tripartido e sequencial cujas relações entre si só são acessíveis pela imaginação, tal como o hipercubo. São também os modos pelos quais podemos viver a experiência do outro. Mas tudo isto tem de ser questionado em termos de espácio-temporalização da mente, porque Matte-blanco também nos diz que o símbolo é aquilo que permite a realização do desejo, na sua forma transformada, sublimada e por isso interliga os dois modos de ser. E comunicar, falar, pensar é uma experiência da tridimensionalização da mente, integrada no tempo, mas num tempo como ligação (ou não), como criador de simultaneidade ou

dessimultaneidades, dessimultaneidades estas que o sujeito está apto a realizar por si,

130 restrição e limitação e o futuro como promessa de realização. Portanto é na actividade mental, no espaço psíquico que irão ser criadas conexões que comportam a narrativa e a história, o que implica que seja no modo consciente, no modo tridimensional.

A intersubjectividade será aqui entendida na componente semelhante que tem com a dupla modalidade de ser do Homem, mas não pudemos igualmente esquecer que as funções do Ego, segundo Matte-Blanco são constituídas em forma de acontecimentos, isto é, situações que decorrem num espaço e tempo. São elas que vestem o modo indivisível de acontecimentos, cobrem ou substituem o todo pela parte acessível a essa função egóica (parte que pode ser pensada ou tratada tridimensionalmente). Quanto mais densidade simbólica, mais o sujeito se pode manter na tridimensionalização.

Apesar da dificuldade da analogia com uma dimensão quadridimensional, e salientando que as relações que nela encontrámos podem ser visíveis pela