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Experiências de Educação Popular em Nutrição a partir da Extensão

CAPÍTULO 4 – A EDUCAÇÃO POPULAR E O AGIR CRÍTICO EM NUTRIÇÃO: FUNDAMENTOS E ANTECEDENTES

4.3. Antecedentes do agir crítico em Nutrição

4.3.7. Experiências de Educação Popular em Nutrição a partir da Extensão

No contexto dessas várias experiências, a Educação Popular vai se destacando como uma ferramenta importante. Dentre outros espaços, isso foi se dando em vários projetos de extensão. Na perspectiva da Saúde da Família, muitos estudantes de nutrição começaram a buscar e experimentar práticas, ferramentas, tecnologias sociais e formas de abordar o problema

alimentar e nutricional que fossem ampliadas e que estivessem compromissadas com o enfrentamento da fome e da pobreza, bem como da obesidade, que era um fenômeno que crescia a partir do final dos anos 1990 e se incrementou no início dos anos 2000.

Neste sentido, o Projeto Educação Popular e Atenção à Saúde da Família, da UFPB, se destacou por ser um dos primeiros projetos, neste período, que acolheu estudantes de Nutrição para inseri-los em contextos sociais de exclusão e permitir a eles liberdade, problematização e reflexão para construir caminhos e espaços da Nutrição nesse cenário (OLIVEIRA, 2006; VASCONCELOS, CRUZ, 2011).

Através de alguns estudantes de Nutrição, o PEPASF se tornou um lugar privilegiado dentro da UFPB para o exercício e a elaboração de Agir Crítico em Nutrição, e que certamente construiu bases e deixou semantes para o que depois viria a ser o próprio programa PINAB.

Neste sentido, um dos referenciais fundamentais para a construção do PEPASF, que nasceu em 1997, foi a tese do professor Eymard Mourão Vasconcelos, que foi publicada no ano de 1997 e transformada em um livro intitulado “Educação Popular em Atenção à Saúde da Família” (VASCONCELOS, 2006), que se consolidou como referência na área de Saúde da Família. Nesse livro, o Professor Eymard constrói um processo de pesquisa, a partir de sua inserção participativa cotidiana em uma equipe de Saúde da Família, visando encontrar os caminhos e as possibilidades para inserir a Educação Popular como uma ferramenta orientadora e um princípio orientador das ações e das relações das interações naquele contexto. Por sinal, é nesse estudo em que se apresenta outro importante avanço no tocante a abordagens críticas à questão alimentar e nutricional, particularmente no âmbito da Estratégia Saúde da Família.

Em meio ao cenário de expansão da cobertura do Sistema Único de Saúde (SUS) por meio dos serviços de atenção primária à saúde, Vasconcelos (2006) aponta a existência de um fosso entre a ação médica e a ação popular. De acordo com o autor, os profissionais de saúde pouco conhecem da dinâmica familiar e comunitária de convivência e enfrentamento

dessas doenças. Diante disso, empreendeu pesquisa com o objetivo de contribuir na explicitação da metodologia de educação popular em saúde adequada ao atual contexto institucional, analisando e evidenciando seus significados no combate aos problemas comunitários de saúde.

Para tanto, o professor buscou a inserção em um Centro de Saúde da periferia de Belo Horizonte onde buscou dinamizar as práticas educativas em saúde, observando, interagindo e analisando os limites e as potencialidades existentes no relacionamento entre os profissionais e a população no contexto dos serviços de atenção primária em saúde (VASCONCELOS, 2006).

Esse trabalho possibilitou a difusão de bases sólidas para que diversos profissionais de saúde, inclusive nutricionistas, reorientassem suas práticas comunitárias de saúde a partir da ótica da Educação Popular, a qual ensinava a, nas palavras de Vasconcelos (2006), “inserir, observar, refletir, intervir, observar, refletir e comprometer-se”, como “um processo contínuo reorientador das práticas de saúde”.

Em um contexto onde cresciam as possibilidades institucionais de promoção da saúde no âmbito comunitário, e as práticas de EPS deixavam de ser exclusivamente alternativas, o livro “Educação Popular e Atenção à Saúde da Família” consolidou-se como referência importante.

No que tange especificamente às práticas sociais e profissionais em Nutrição, destaca-se uma experiência central no processo desse trabalho, que foi o grupo de desnutridos do Centro de Saúde Vila Leonina, a partir do qual se desvelou uma experiência educativa em saúde promovida através de uma ação multiprofissional e com a utilização de diferentes estratégias, principalmente o vídeo artesanal como forma de compartilhar problemas comunitários e situações da vida das pessoas da comunidade como elementos geradores de reflexões acerca da saúde e da qualidade de vida. Essa experiência ainda envolveu como abordagem as visitas domiciliares em meio ao território comunitário, desvendando a dinâmica da miséria e da desnutrição. Foram sendo construindo saberes e práticas ao longo dessa experiência, os quais apontaram que

cuidando de forma sistemática e persistente de problemas específicos, dimensões mais gerais destes problemas iam se manifestando e quase sempre tínhamos alguma contribuição a oferecer. Neste cuidado, cuja metodologia foi anteriormente discutida, ocorria progressivamente uma aproximação entre a equipe de saúde e a família, que ampliava as possibilidades de uma ação educativa voltada para a valorização do potencial de criatividade e liberdade de seus membros (VASCONCELOS, 2006).

A partir de tais visitas e de alguns casos muito mobilizadores, essas iniciativas desaguaram em uma proposta de acompanhamento à família, a qual significou então uma referência pioneira para a equipe do programa de combate à desnutrição no território em questão (VASCONCELOS, 2006). Essa experiência gerou diversas reflexões complexas acerca da educação em saúde, e dos desafios exigentes de criar, manter e fortalecer espaços problematizadores e participativos no âmbito da Saúde da Família.