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2 APROPRIAÇÃO DA COMMEDIA DELL’ARTE NA FORMAÇÃO DO

2.2 Experimentações

Por sua ancoragem na afetividade, a improvisação não nega qualquer conduta racional, mas estimula, no contexto de uma formação, a tomar consciência do papel do inconsciente e do sensível na relação do indivíduo com o mundo.

Jean-Pierre Ryngaert28

Neste tópico, tratarei de expor os conteúdos trabalhados em cada um dos 20 encontros realizados com as professoras que participaram do laboratório de investigação cênica. Trarei a proposta de cada aula, comentários e referências bibliográficas, bem como, trechos dos protocolos e outras escritas por elas realizadas.

Sobre os protocolos gostaria de comentar que, para Koudela (2006) o protocolo serve para lançar uma reflexão sobre a aula anterior, fazendo um registro do processo e das ações desenvolvidas, servindo como um importante material de documentação. Seu objetivo é tornar presente o encontro anterior motivando esclarecimentos, desfazendo dúvidas ou possíveis mal-entendidos.

No fim da cada encontro, uma professora ficava responsável por fazer o protocolo dessa aula da forma que desejasse, poeticamente, descritivamente, com ou sem imagens, etc. No início do encontro seguinte, o protocolo era lido e discutido e dávamos um nome para a aula anterior. Os nomes das aulas são os destacados em cada um dos encontros descritos a seguir.

Trago também, ao longo do texto, trechos de escritas solicitadas às professoras, por conta de algum exercício específico ou fruto de algum momento de

28 RYNGAERT, J. Jogar, Representar: práticas dramáticas e formação. São Paulo: Cosac Naify, 2009, p. 97.

avaliação do processo, bem como, imagens que possam ilustrar alguma prática desenvolvida.

Primeiro Encontro: “Despertando Energias”29

Presença das professoras: 17 (95%)30.

Proposta: Criar uma harmonia no grupo, conhecer as participantes, iniciar um trabalho de conhecimento e reconhecimento dos corpos. Acredito que a busca pela aquisição dos códigos da linguagem teatral deve iniciar no trabalho com o próprio corpo, na descoberta de seus limites, de sua expressividade, na observação do corpo do outro, no contato, na ampliação de sua sensibilidade para imersão no processo, no engajamento de seu corpo nas propostas desenvolvidas.

O engajamento com uma atividade pressupõe empenho em sua realização; colocar-se a serviço de uma idéia e sua causa – vai além do envolvimento; potencializa-o. A ação ou efeito de envolver-se com uma situação é condição para expressá-la através da arte. E não há como haver envolvimento sem emoção. A própria ação de cativar e atrair, inerentes ao processo de envolvimento, sugere sua dimensão emocional (CABRAL, 2006, p. 38).

Comentário: No primeiro encontro cada participante trouxe um pouco de sua história e de sua busca através da arte. Algumas com uma maior familiaridade com seu corpo, seus movimentos, seus limites e possibilidades, outras com travas maiores, com falta de atenção e concentração. Aos poucos o grupo abarca todas as diferenças e as dosa. Trabalhei alguns exercícios com lançamento de bolinhas, focando na atenção corporal, na percepção espacial e também exercícios de expressão corporal usando os elementos da natureza (terra, fogo, água e ar) como estímulo a busca por diferentes qualidades de movimento.

29 Os nomes dos encontros foram escolhidos pelas professoras no início do encontro seguinte, após a leitura do protocolo da aula anterior.

30

Como duas das professoras selecionadas não compareceram desde o primeiro encontro, considerei que o grupo era composto por 18 professoras.

Figura 2 – Expressão Corporal Figura 3 – Expressão Corporal

Trecho do protocolo:

“Realizamos uma apresentação individual em forma de desenho ou escrito como chegamos hoje. Depois, uma a uma foi ao centro do círculo para mostrar e falar um pouco de si. [...] Num grande círculo, foi desenvolvida outra dinâmica, onde a concentração e ritmo foram muito exigidos. Diego em seguida foi trabalhando com o grupo a expressão corporal através dos quatro elementos da natureza, ar, mar, fogo e terra. Através da música fomos expressando cada elemento por meio do movimento. Para finalizar, divididas por grupo, onde cada um desenvolveu uma dança de um elemento da natureza [...]”.

Trechos da escrita de apresentação solicitada: “Como você chega nesse grupo, o que você traz?”

“Hoje eu sinto que preciso realizar coisas que sempre desejei e o teatro é uma delas [...]”.

“Hoje sou dúvida, espero encontrar... caminhos... algumas certezas... e quem sabe a transformação”.

“[...] tenho sentido necessidade de me envolver com grupos, pessoas, circular por universos até então tão distantes da minha rotina do dia-a-dia. Quero compartilhar, aprender, sair do casulo onde me isolei por um tempo [...]”.

“Começo este curso com expectativas de me surpreender com o que vai ser desenvolvido e também com um sentimento de estar confortável, pois tendo a ver com o movimento do corpo, estudar o movimento, a plástica é algo que me encanta e interessa [...]”.

“[...] venho para este curso buscando resgatar um pouco de mim mesma adormecida, que gosta de brincar, cantar, contar histórias. Pois acho que algumas vivências

me tornaram muito fechada, inibindo a criatividade e a ação. E acho que busco um pouco disso no teatro, história, imaginação. [...]”.

Em geral os textos e desenhos desse primeiro encontro traziam muitas expectativas de que o teatro pudesse mexer com suas pessoalidades, alterar um pouco o lugar comum em que a arte se encontra no universo da Educação Infantil (contação de histórias, “fantoches”, etc.), entretanto, além das necessidades de transposição dos conteúdos teatrais às práticas educativas, pude perceber a necessidade dessas professoras de que houvesse uma transformação em seus corpos, na sua relação consigo mesmas e com os outros. Alguns desenhos trazem esse desejo de transformação:

A planta que se desenvolve e floresce no final:

Figura 4 – Desenho de Apresentação

A menina apática que passa a sorrir:

A rocha disforme que quer ser lapidada:

Figura 6 – Desenho de Apresentação

Segundo Encontro: “Interagindo Caminhos X Presenças Interligadas” Presença das professoras: 16 (95%).

Uma auxiliar que veio ao primeiro encontro saiu do grupo porque passou em um processo seletivo para cursar uma faculdade.

Proposta: Preparar o corpo para o trabalho. Três elementos são essenciais para serem explorados no início deste trabalho: a busca por um corpo neutro, limpo, preparado para a construção de outros “tipos” nele, precisão nas ações realizadas e a noção de foco da ação.

A ideia de buscar um “estado neutro” inicial interessa ao trabalho corporal que pretendo desenvolver. Costa explicita que:

[...] a máscara neutra propicia a consciência corporal de forma plena, pois desperta no aluno a necessidade de ele aprofundar determinados aspectos de seu ser, e coloca-o ante os limites e como trabalhá-los, visando uma possível superação (COSTA, 2005, p. 32)31.

31

Ainda que não tenha trabalhado com a máscara neutra enquanto objeto, a busca por um “corpo ou estado neutro” foi a base sobre a qual pudemos desenvolver as outras etapas do trabalho.

Buscar caminhar de forma neutra, sentar, deitar, lançar um objeto imaginário com os movimentos necessários a essa ação, perceber como se desenvolve cada ação, como se realiza algumas ações de forma mecânica, como alterar essa mecanicidade, são alguns pontos trabalhados na busca por esse estado de neutralidade, “[...] não se trata de subserviência ou da anulação, mas de exercitar a escuta para exercer o ser. O estado neutro, mais do que um estado interessante para a cena, é principalmente um estado para o ator” (COSTA, 2005, p. 35).

Vinculado ao conceito de neutralidade, encontra-se o conceito de precisão das ações, ou seja, da necessidade de que cada ação realizada seja feita de forma consciente, passível de ser repetida (caso venha a ser incorporada a uma cena, por exemplo) e que todo corpo esteja engajado na realização dessa ação, seja grande ou pequena. Quando eu olho pra alguém, lanço algo (concreto ou imaginário), necessito ter consciência de “onde começa” e “onde termina” minha ação e eu não posso dispersar minha atenção e minha energia, senão essa ação não será precisa, não farei com que meu colega de cena entenda o jogo que se desenvolve entre nossas ações.

Nesse ponto o conceito de foco, e sua assimilação na prática, auxilia o direcionamento da ação: uma ação será mais precisa se o foco dessa ação for claro. “O termo foco equivale a ponto de concentração do ator. O nível de concentração é determinado pelo envolvimento com o problema a ser solucionado” (KOUDELA, 2006, p. 46). Em qualquer jogo ou exercício desenvolvido, esse engajamento na proposta e na resolução do problema proposto, necessita de uma constante atenção no foco. Utilizei-me desse conceito para as professoras perceberem a necessidade de, ao longo de todo processo, terem um ponto de concentração quando estiverem em cena. Pensarem para onde querem conduzir o olhar do espectador, como desenvolverem suas ações de maneira a comunicarem algo, entre si e com a plateia.

Comentário: Vejo uma compreensão maior da proposta do trabalho e ao mesmo tempo uma estranheza na discussão e realização de exercícios com caráter mais técnico (conceitos de precisão, corpo neutro, foco). Há uma crescente disponibilidade dos corpos apesar do cansaço de um dia inteiro de jornada de trabalho com as crianças. Um exercício com uma bola imaginária chama a atenção, pois o mesmo começa de forma descontraída e aos poucos ganha profundidade,

amplia a relação entre os participantes, a concentração aumenta e o jogo torna-se crível.

Trecho do Protocolo:

“No compasso da dança desponta a harmonia. Quanta beleza esta expressão. [...] De repente tudo parou. Agora preciso de foco. E buscar no meu interior, a atitude que outrora desviou. Os vícios coloco no saco, para sentir os movimentos do corpo, em total concentração”.

Terceiro Encontro: “Espaço, Peso, Tempo em Sintonia”

Presença dos professores: 15 (88%).

Proposta: Ainda sob a perspectiva da criação de um corpo com presença cênica, com precisão na execução de suas ações, com foco em tudo que faz e nas relações que estabelece com os outros e com o espaço, utilizarei alguns materiais (como bolinhas e bastões) na realização de exercícios que explorem além dos elementos anteriormente citados a decisão na execução das ações, bem como o engajamento de todo corpo naquilo que se está executando. Busco um processo de ampliação do repertório expressivo, bem como uma “escuta” dos limites do corpo e uma redescoberta ou expansão desses limites. Trabalhar o corpo e as ações físicas aliadas aos conceitos de espaço (direto e indireto), peso (forte ou leve) e tempo (súbito ou sustentado).

Baseio-me, sobretudo, nos estudos de Ciane Fernandes sobre o sistema Laban, para a utilização dos conceitos de espaço, peso e tempo na ampliação do repertório corporal. Esses conceitos são da seguinte forma definidos pela autora:

O fator espaço:

Este fator refere-se à atenção do indivíduo a seu ambiente ao mover- se. Assim, ele pode ter sua atenção concentrada em um ponto, canalizada para um único foco, o que consiste em foco direto. [...] Por outro lado, um indivíduo pode ter sua atenção expandida por milhares de pontos ao mesmo tempo, como se seu corpo tivesse olhos em todos os poros, e se movesse com todos esses simultâneos focos. Neste caso, o foco é indireto ou multifoco (FERNANDES, 2006, p. 126).

O fator peso:

O fator peso refere-se a mudanças na força usada pelo corpo ao mover-se, mobilizando seu peso para empurrar, puxar ou carregar objetos, tocar em outro corpo, etc. Por exemplo, para abrir uma janela emperrada, são necessários movimento fortes. [...] Já para brindar com taças de cristal, o peso leve é necessário. [...] O peso forte e o peso leve são variações do peso [...] (FERNANDES, 2006, p. 131).

O fator tempo:

O fator tempo indica uma variação na velocidade do movimento, que se torna gradualmente mais rápido ou mais devagar. Um movimento é acelerado quando fica cada vez mais rápido, e desacelerado, cada vez mais lento. Um movimento simplesmente rápido ou lento que não varie seu tempo, ou seja, mantenha seu tempo constantemente rápido o lento, não possui ênfase no fator tempo (FERNANDES, 2006, p. 135).

Comentário: Uma surpresa no início do encontro – uma das professoras chega atrasada e está diferente, nos encontros anteriores estava sempre de roupas largas e cabelos presos, neste, chegou de cabelos soltos e escovados, roupas mais justas e com leve maquiagem, uma surpresa para o grupo, algo se alterou naquele corpo, durante todo o encontro se mostrou mais disposta, atenta e consciente de seus movimentos, acredito ser uma pequena mudança ocorrida naquele corpo a partir do processo que ela está vivenciando.

O exercício com lançamento de bastões teve certa dificuldade no início, mas à medida que foram aprimorando sua execução, o exercício trouxe para todas a superação do medo de machucar alguém, de não conseguir realizar o exercício, a compreensão ainda maior de se colocar em relação com o grupo, ampliando suas percepções, a atenção necessária, o foco do exercício, o engajamento de todo o corpo para que a execução da ação fosse precisa.

Figura 7 – Movimento indireto

Trecho do protocolo:

“[...] Parecendo crianças, bolas imaginárias de vários tamanhos e pesos tomaram conta o espaço. Em grupos exercitamos movimentos e expressões relacionadas com o espaço (direto ou indireto), com o peso (pesado ou leve) e com o tempo (rápido ou devagar) que se entrelaçaram à medida que íamos representando [...]”.

Solicitação do Dia: Solicitei que as professoras escrevessem livremente sobre temas que gostariam de abordar em uma apresentação teatral para as crianças. Quais situações do cotidiano da creche poderiam ser postas em cena? O que gostariam de dizer para o público da Educação Infantil?

Temas principais, por mim selecionados: *Necessidade de maior afetividade;

*Respeito ao outro e ao espaço do outro / Individualidade / Indiferença; *Diversidade / Crianças com Necessidades Especiais;

*Rotina dos professores (lidar com conflitos, cuidar do espaço físico, reuniões e conversas com os pais e direção, etc.);

*Cuidados com o meio-ambiente (lixo, cuidar dos recursos naturais, etc.) e com os animais;

*Alimentação;

*Inveja do trabalho de um professor competente; *Brigas, empurrões, mordidas, gritaria;

Algumas transcrições:

“Reunião de Professores – diretora fala, começa a discussão, um fala, outro fala,

daqui a pouco tem um monte de gente falando junto, um pede silêncio, outro fica vermelho, pára tudo pro café”.

“Comer ou comer, é o que temos pra hoje, olha, consome tudo que você colocou no seu prato, só arroz não. O cardápio está variado, arroz, feijão, frango e farofa, e para salada “beterraba”??? Eu não quero, come só um pouquinho é bom! Ah se a criança não quer não obrigue a consumir... O que fazer „faço ou compro pronto‟, que postura tomar?”.

“A falta de atenção de muitas famílias com as crianças que buscam a atenção

através de disputas utilizando a violência, batendo, chutando e xingando o amigo. Falta afeto”.

“A imposição de limites para as crianças e os professores, o que é bom pra mim e pra você? Até onde eu posso ir? O que eu posso fazer? Só o professor deve impor limites ou a criança deve participar da construção dos limites?”.

Quarto Encontro: “Conhecendo a História” Professores presentes: 11 (65%).

Proposta: O objetivo deste encontro teórico é apresentar a proposta de formação de forma mais clara, uma vez que ao longo das aulas anteriores, do contato com o grupo, pude pensar de que maneira os encontro seriam conduzidos com o intuito de obter um processo que seja válido tanto para esta pesquisa quanto para a formação dos professores chegando a uma definição mais estruturada de tal proposta.

Uma mudança de planejamento, por exemplo, diz respeito à necessidade e desejo que as professoras apresentaram de que esse processo culminasse na criação de um espetáculo a ser apresentado para as crianças. Trabalharei, portanto, sobre o processo, mas pensando e articulando a criação de um produto a ser apresentado, acreditando que esse contato com o público também é um conteúdo dessa proposta de formação.

Outro foco do encontro é apresentar a Commedia dell‟arte, sua história, estrutura (improvisação, utilização de máscaras, os conceitos de lazzi, canovaccio,

capocomico, etc.) e principalmente os “tipos” transpostos ao universo da Educação Infantil, que formam o elemento original desta pesquisa.

Para melhor visualizarem a estrutura do teatro realizado na época da Commedia dell‟arte, utilizarei fragmentos de dois filmes: “Um crime de paixão” (Inglaterra – 2003) e “A viagem do Capitão Tornado” (França / Itália – 1990), assim como um fragmento do meu trabalho de conclusão de curso de artes cênicas32, no

qual apresento um histórico da Commedia dell‟arte.

Comentário: O encontro foi bastante proveitoso, uma vez que tornou mais clara a proposta da pesquisa e apresentou de forma mais concreta a estrutura da Commedia dell‟arte e quais elementos da mesma serão repensados e apropriados no processo de formação e na construção de uma apresentação. As cenas dos filmes citados anteriormente também trouxeram concretude acerca da estética do trabalho cênico que busco construir33.

Quinto Encontro: “Envolvimento” Professores presentes: 10 (58%)

Outra professora deixou o grupo, sem apresentar nenhum motivo.

Proposta: Retomar de forma pontual alguns exercícios de expressão corporal utilizados nos encontros anteriores. Explorar a expressividade e a ampliação de qualidades de movimento usando os elementos da natureza como estímulo – movimentar-se como água, como terra, como ar, como fogo. Retomar o conceito de foco, de precisão, de presença, de movimentos necessários para a realização de uma ação – sentar, caminhar, pegar um copo com água, abrir uma janela, lançar uma pedra, colher uma flor. Retomar os conceitos e exercícios referentes ao espaço, tempo e peso e inserir as ações básicas (ou referenciais): flutuar, socar, deslizar, açoitar (ou chicotear), pontuar, torcer, espanar (ou sacudir) e pressionar.

32 PEREIRA, Diego de Medeiros; Universidade do Estado de Santa Catarina. Teatro da diferença e

do diálogo: uma experiência com portadores de necessidades especiais. 2007. 75 p. Monografia

(graduação em Artes Cênicas) – Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. 33 Neste encontro não foi solicitada a escrita de protocolo.

Fernandes explicita que:

Existem oito Ações Básicas de Expressividade, combinando os fatores espaço, peso e tempo. Flutuar – indireto, leve e desacelerado; Socar – direto, forte e acelerado; Deslizar – direto, leve, desacelerado; Açoitar – indireto, forte e acelerado; Pontuar – direto, leve, acelerado; Torcer – indireto, forte, desacelerado; Espanar – indireto, leve, acelerado e Pressionar – direto, forte e desacelerado. (FERNANDES, 2006, p. 153-154).

Comentário: A familiaridade com termos técnicos do teatro tem aumentado, assim como a compreensão das propostas e a disponibilidade corporal para a realização dos exercícios. A exploração dos fatores espaço, peso e tempo ficou mais clara e ampliou-se com a repetição e criação de sequências de ações – divididas em três grupos (cada grupo enfatizando um fator) desenvolveram uma partitura de ações conjuntamente a partir de ações individuais criadas anteriormente. No final do encontro anterior, solicitei que trouxessem objetos para serem explorados junto com os fatores trabalhados.

Foi explorada também a improvisação de cenas, utilizando as diferentes ações básicas de expressividade e os objetos, inserindo o conceito de triangulação (momento no qual o ator se relaciona diretamente com a platéia – no nosso caso por meio do olhar, encarando a platéia, o objeto em cena e a platéia novamente – ferramenta comum no teatro popular, no teatro de rua, na Commedia dell‟arte, no teatro de formas animadas, etc.), Beltrame define esse conceito da seguinte forma:

[...] recurso que se realiza com o olhar e colabora para “dialogar” com o espectador, fazendo-o a “entrar” na cena. Trata-se de um “truque” efetuado com o olhar para mostrar ao espectador o que acontece na cena, evidenciar a reação de uma personagem, destacar a presença de um objeto. [...] Faz-se o triângulo, a personagem que atua, o público e a segunda personagem. Isso também define o foco da cena e capta a atenção do espectador (BELTRAME, 2010, p. 30).

Enfatizei também a necessidade de criação de uma lógica na cena, um “começo”, “meio” e “fim”, pois muitas vezes não deixavam claro para a platéia (outras professoras e eu) quando a cena tinha iniciado e quando finalizava, ou

resolviam um problema posto de forma muita rápida, sem o desenvolvimento de uma narrativa, por mais simples que fosse.

Apesar dos ajustes necessários a compreensão de alguns elementos teatrais, a criatividade está aflorada, percebo em cada uma das professoras uma maior disponibilidade para o jogo, ainda que possuam diferentes níveis de compreensão da proposta e do resultado cênico da improvisação. “[...] A improvisação é uma ferramenta que permite multiplicar as relações entre o interior e o exterior e que leva o sujeito a se confrontar com um objeto variando os ângulos de abordagem” (RYNGAERT, 2009, p. 92).

Trecho do protocolo:

“[...] Fizemos as apresentações dos grupos, fazendo uso dos materiais, bastões, fitas, lenços, bolas, bonecas e chocalhos... Foi um momento muito rico, pois conseguimos expressar com mais veracidade, induzindo a beleza e a suavidade. Na sequencia, esses grupos se intercalavam, criando um novo movimento, uma nova mensagem, triangulando, buscando um novo sentido da apresentação”.

Figura 8 – Exploração do Fator Figura 9 – Exploração do Fator