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2.4 – Exposição da Cristologia Quenótica de Thomasius

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2.4.1 – Introdução

Para Thomasius a vinda de Cristo ao mundo é o grande fato que estava por vir desde o princípio da revelação de Deus à humanidade. É o centro da história da salvação inteira, implantado no centro do tempo; é a conclusão do velho, o começo criativo de algo novo, propagado por tudo aquilo que é anterior, condicionando e determinando tudo aquilo que se segue. Como o centro histórico que é deste modo ao mesmo tempo o fundamento interno da inteira revelação econômica para a humanidade, também é o objeto que medeia a graça divina para a humanidade tanto anterior como posterior: para trás, aponta para a proclamação profética do Antigo Testamento como propósito da obra de Deus eternamente presente no decreto divino; adiante, para a proclamação apostólica que testemunha do que é dado a humanidade em Cristo. Assim o surgimento de Cristo no mundo tem um significado sem precedentes a nenhum outro fato ocorrido, ele é o centro da história do mundo e da salvação.

Agora este fato não é deduzido como simplesmente “necessário”, ou como parte da essência de Deus, ou da idéia de humanidade, ou do desenvolvimento histórico da raça humana, não pode alterar o conteúdo essencial de fé Cristã.113

Não é que uma identidade intrínseca da essência divina e humana alcance a consciência somente neste fato; não há nenhuma identidade intrínseca e nenhum processo ao longo dos quais seria Cristo mediado com Deus que é a personalidade absoluta e como tal está completa nele, e a humanidade é a Sua criatura e como tal não é elemento do conceito de Deus. A humanidade não tem nenhuma relação de essência com Deus, mas é somente o

112 Religion in Geschichte und Gegenwart: Handwörterbuch für Theologie und Religionswissenschaft, p. 931. 113 Gottfried Thomasius, Christi Person und Werk – Darstellung der evangelisch-lutherischen Dogmatik vom Mittelpunkte der Christologie aus, vol. II in Claude Welch, p. 31.

produto da sua aliança, o trabalho das Suas mãos, destinada para representar a personalidade absoluta como uma semelhança com o Criador dentro dos limites da finitude.

Este fato nada mais retifica além da significação da fusão da realização da idéia de humanidade, ou a conclusão do propósito da criação segundo a sua necessidade; embora na criação haja um alvo fixo a ser alcançado pela humanidade, ainda para a concretização daquela meta, o pecado não impedia o alcançar este alvo, nenhum arranjo essencialmente novo da parte de Deus teria sido necessário, ou seja, desde a criação o homem já possuiu todas as condições e virtudes para esta auto-perfeição que está de acordo com o que fora destinado a ele. Ele atingiria o que ele deveria ter se tornado através de um desenvolvimento naturalmente normal.114

O surgimento do pecado só fez necessária a encarnação do Filho de Deus, e até mesmo este não era nenhum meio para solucionar a discórdia entre Deus e a humanidade que foi originada pelo pecado, mas para restabelecer a comunhão de Deus com a humanidade. É o decreto eterno do livre amor compassivo de Deus para com o pecador que é cumprido na encarnação, o ato mais elevado e mais maravilhoso deste amor.

Estar seguro deste ato de amor Deus não só exterminará o pecado com suas conseqüências na humanidade, como também restabelecerá o que estava perdido. A restauração do perdido ao caminho de reconciliação e redenção é ao mesmo tempo planejado para ser o meio principal da humanidade àquela transfiguração espiritual-corpórea para a qual a real possibilidade já era determinada na criação, os meios para o cumprimento completo do decreto eterno de Deus para humanidade e para o mundo cujo centro é a humanidade. O estabelecimento de uma nova humanidade, aperfeiçoada, abrangendo o universo inteiro debaixo de um cabeça como um reino de Deus para que este fato se estenda em seus efeitos. Embora novamente seja relacionado ao pecado que emergiu, Deus tem seu próprio telos que deseja não obstante a reconciliação e redenção do mundo, e por causa disso se demonstra mais maravilhoso e glorioso.

Desta forma já evidente como a pessoa de Cristo e sua obra estão entrelaçadas um ao outro na Cristologia de Thomasius. Os dois somente não estão relacionados como o fim e o meio, mas cada um está contido dentro do outro. A obra nada mais é que o auto-testemunho, a

manifestação viva da sua pessoa; a pessoa, concebida como atual e viva, é nada mais que a mediação pessoal encarnada e reconciliadora.

Para podermos compreender melhor, nós temos que separar os dois para uma exposição própria, e lidarmos primeiro com a pessoa e então depois com a obra do mediador, porque o segundo tem uma relação interna com o primeiro como pressuposição; mas este silêncio só pode ser desfeito de tal maneira que consideremos os dois em conexão constante entre si e que de qualquer modo, há no fundo um mesmo assunto, somente visto de perspectivas diferentes.

E realmente nós conduzimos nosso ponto de partida para sua obra, mais precisamente na comunhão com Deus mediada por Cristo na qual nós experimentamos participando da sua fé. Desta comunhão seguirá as preocupações com a pessoa do mediador. Para Thomasius, assim proceder é requerido pelo princípio da sua confissão, pois, segundo ele, este é o modo no qual a igreja luterana tem desenvolvido sua cristologia.115

A comunhão com Deus, na qual nós somos edificados como cristãos é uma realidade presente e atual, um relacionamento pessoal com Deus. Perdoados e amados por Ele, nós nos percebemos como seus filhos, reconciliados com ele, inspirados pelo seu Espírito; nós temos relacionamento de fé com ele, em um amor responsivo e também na oração. Mas o mediador desta comunhão é Cristo, o Cristo pessoal e vivo. Através dele nós somos reconciliados com Deus, nele nós temos a Deus como nosso pai, a sua ação abundante em nós nos enche do fluxo de graça divina e dos poderes do Espírito Santo; através dele nós oramos ao Pai, nele nós temos relacionamento com o Pai. Pelo mesmo fato que nós somos edificados numa comunhão pessoal com Cristo, nós somos edificados numa comunhão pessoal, atual com Deus. Cristo é o laço vivo desta comunhão.

Porém, esta comunhão presente aponta para um lado e para o outro: para trás fora o aparecimento histórico e atividade redentora de Cristo na carne, através da fé na apropriação da qual nós entramos em relacionamento com Deus no qual nós somos edificados como cristãos; à frente aponta para uma perfeição futura com relação à transfiguração correspondente do mundo.

Agora se nós começamos na comunhão presente, de modo experimental, a relação atual na qual nós somos levantados a Cristo e então através dele para Deus, esta relação é somente manifestadamente possível e atual em virtude do fato de que ele, o mediador, é pessoalmente um com Deus e também um conosco, onde um é reconciliado no outro; um com Deus como membro na Trindade Santa, um conosco como membro de nossa raça, e logicamente pertencendo essencialmente a ambos. O primeiro elemento, a unidade essencial de Cristo com Deus, já está garantida a nós como é geralmente reconhecida na igreja Cristã. É a comunicação da comunhão pessoal de Deus conosco, mediada por Cristo, de um amor de Deus em Cristo a nós, de uma doação de vida divina por Cristo a nós; é a morada experiencial de Cristo em nós que somos ao mesmo tempo a morada do Pai e do Espírito Santo porque ele é da mesma essência divina, personalidade divina, e comporta dentro dele o amor auto- essencial, a abundância absoluta de Deus! O outro elemento, a unidade essencial do mediador conosco, realmente é acentuada freqüentemente como importante para o estabelecimento objetivo da comunhão com Deus por meio da reconciliação, mas não é de nenhuma importância para a existência subjetiva e continuação daquela reconciliação. Precisamente na identidade dele com a fundação e a manutenção continuada e renovada de nosso estado pessoal à graça está no fato de que ele morreu uma vez por nós e agora ele nos dá vida. É mediado o bom prazer de Deus em nós incessantemente pelo bom prazer absoluto dele no homem Jesus como a reconciliação pessoal encarnada; o amor do Pai a nós somente vem através do coração do encarnado, e somente assim nós também temos acesso constante ao Pai por meio dele. Precisamente por causa disto, desde que nós conhecemos a Cristo como igual e agora humanamente relacionado a nós, humanamente próximo, nós ousamos reivindicar a defesa dele junto a Deus quanto a nossos pecados diários, ir diretamente a ele em todas as solicitações, o amigo compassivo; no ser-homem dele mais santo continuamente há o conforto mais tenro para todo coração preocupado. E até mesmo a comunhão mais essencial e real com Cristo que os sacramentos oferecem, a eficácia mística destes meios de graça é que dá a vida do divino-humano aos membros da sua comunidade. Em resumo, é a pressuposição ou somente a condição fundamental de nossa fé Cristã, que Cristo se coloca em comunhão essencial com Deus por um lado e conosco por outro; somente neste aspecto ele é considerado o mediador.116

O resultado é o mesmo quando, secundariamente, nós olhamos a relação presente de comunhão com Deus em Cristo na sua mediação histórica. Esta conexão forma um elemento

integrador de nossa fé. Esta relação pessoal é estabelecida através da justificação; mas justificação não é essencialmente nada diferente da porção dada a nós mesmos que objetivamente fosse adquirida para a raça inteira de uma vez por todas pelo ato reconciliador de Cristo. Neste fato nós sustentamos nossa fé. Mas agora a inteira significação deste fato descansa muito mais em seu ser divino do que na sua ação humana; para isto ele pôde instituir uma relação eterna que abraça o todo da humanidade, e pôde lançar fora e superar a culpa da raça com respeito à morte, o pecado do mundo, somente isto aconteceu por causa do ato do Deus eterno, um ato de quem é o criador, senhor e juiz da raça; e isto só pertence verdadeiramente a nós por causa de sua verdadeira humanidade. Como um ser meramente divino careceria de realidade histórica; como meramente humano necessitaria de poder para reconciliar o mundo. Só como o divino-humano é que de fato pode ser mediatorial. Mas uma ação do divino-humano pressupõe a idéia de que é da mesma maneira essencial com Deus como também essencial com a humanidade, um assunto em que a personalidade divina interpenetra o humano como unidade viva.117

Finalmente, em nossa comunhão presente de fé com Deus nós temos a certeza de nossa perfeição futura relativa ao último ponto mais elevado, em termos éticos e o também pelo lado natural de nossa vida, mais precisamente a certeza de uma liberdade completa de tudo que agora ainda perturba esta comunhão, do poder do pecado, da morte e da maldade. A expectativa de uma transfiguração futura na imagem de Deus em alma e corpo, de um reino futuro de glória em comunhão com todos – este resgate é o conteúdo de nossa esperança cristã. E esta esperança descansa completamente mais uma vez na pessoa de Cristo; é essencialmente esperança nele, no futuro com ele; sim, ele é a esperança de nosso futuro. Porque somente ele instituiu a comunhão que pode conduzir para a vitória de sua meta. Sem esta conclusão o inteiro estado presente de nossa vida cristã e a história do seu reino na terra com suas lutas e sofrimentos, conforme afirma Thomasius, seria um fragmento enigmático, um começo sem um fim, um semear de lágrimas sem uma colheita. A igreja pode estar certa do seu futuro. Tem a promessa para o futuro de ver com seus olhos ao Cristo em quem acredita, de ser tirada por ele para fora do estado de sofrimento em direção à glória.118

Uma pessoa divino-humana acentua um ponto adicional, se não é uma pessoa, Cristo, que essência divina interpenetra a natureza humana como uma unidade pessoal em uma atividade comum? Então todos os elementos previamente notados perdem o sue significado

117 Gottfried Thomasius in Claude Welch, p. 35-36. 118 Gottfried Thomasius in Claude Welch, p. 36.

imediatamente. Estes atos se não são então divino-humanos, mas divididos em divino e humano, eles são como um paralelo, e somente pertencem a um ou outro lado, mas não a ambos - e assim a sua ligação íntima é desfeita. Isto é aplicável a ambos, ao passado, ao presente e aos atos futuros do Mediador. Se a deidade e a humanidade em Cristo dividiram-se à parte, então no presente não há nenhuma comunhão divino-humana completa dos crentes com ele, e nenhuma real imanência espiritual de Cristo neles. Neste caso, o que nós temos de fato e pessoalmente nele é somente o lado divino do seu ser; o que nós recebemos dele são somente influências divinas e são meramente comunicadas; resta apenas uma distância completamente transcendente entre ele e nós. A encarnação perde completamente seu significado duradouro. Somente passa a existir quando é dada a devida importância ao ato historicamente passado da redenção, para o comportamento presente de Cristo em nós e a conseqüente relação presente nossa com ele.119

Assim de todos os modos, os interesses práticos mais profundos nos forçam a conceber a pessoa do mediador como uma unidade viva, como um ego unitário, como uma pessoa divino-humana. Todo dualismo que afirma separadamente o divino e o humano nele de modo que a unidade da pessoa é destruída e sua atividade é separada compromete os elementos mais essenciais de nossa fé; toda representação que não permite a confissão, “Jesus Cristo, o homem, é Deus,” contradiz nossa consciência cristã, dizia Thomasius.120

Segundo Thomasius, agora ele [Cristo] está divino-humanamente perto de nós onde nós o buscamos; agora ele vive no céu como também na sua comunidade na terra, e dá o seu ser divino-humano aos crentes; isto indica uma condição de superioridade para o mundo e de liberdade, uma transfiguração do humano no modo divino de ser e agir. Então ele estabeleceu a reconciliação, enquanto vivendo e sofrendo, enquanto combatendo e morrendo por nós; isso indica um estado de sofrimento, um modo de existência análogo ao qual nós nos achamos no presente. Mas a identidade do assunto tem que continuar ao longo desta diferença de condições, porque precisamente naquela identidade a significação das atividades, aqui como lá, procede somente dele. Nisto nós temos uma diretriz e um alvo para nossa apresentação da pessoa e da obra do mediador.121

119 Gottfried Thomasius in Claude Welch, p. 36-37. 120 Gottfried Thomasius in Claude Welch, p. 37. 121 Gottfried Thomasius in Claude Welch, p. 37-38.

2.4.2 – A base da encarnação

Em primeiro lugar o divino que se tornou o homem em Cristo preexistiu como ego pessoal antes da sua entrada na humanidade. Este fato histórico tem seu fundamento no decreto pre-temporal, não é a determinação do testamento de uma única pessoa divina, mas do Deus Triuno; procede do amor unitário do Pai, do Filho e do Espírito Santo que efetivaram a obra inteira da mediação da salvação. Não obstante o que se tornou homem não é para nós nem o Pai nem o Espírito Santo; ele não é o Pai, porque ele nos reconciliou com o Pai, e não é o Espírito Santo, porque ele derrama em abundância o Espírito a nós, mas o Filho que é a pessoa em ambos. E é o Pai que envia o Filho, e o Espírito Santo que medeia a união do Filho com a humanidade.122

Assim a encarnação corresponde àquela forma universal da revelação; aqui também é encontrada a forma “do Pai pelo Filho no Espírito Santo.” E a salvação-histórica desta forma aponta então para a revelação das relações trinitárias imanentes das três pessoas, com sua base interna. A encarnação não pode ser do Pai porque é a especificidade trinitária do Pai, enquanto permanecendo eternamente nele, ser o princípio do Filho e da ordem econômica de salvação. Não pode ser do Espírito Santo porque a especificidade trinitária dele requer a mediação da antítese entre Deus e a criatura pela sua imanência na criatura. É apropriado para o Filho se tornar o homem; pode-se dizer que o seu estado trinitário o destina para isto.

Porém, esta determinação do Filho é ao mesmo tempo a sua própria autodeterminação, não uma decisão empurrada a ele, mas um ato da sua própria liberdade, do seu amor, amor doador que é dirigido a humanidade da mesma maneira que para o Pai – a humanidade cujo criador e arquétipo é o Filho. É o mesmo amor divino que o Pai destina ao Filho para devoção na humanidade, e que se dá esta determinação no Filho.

Em virtude da tal autodeterminação o Filho mediou o relacionamento da raça humana, desde o princípio caída, com o Pai. Jesus possibilitou o modo para o cumprimento do decreto de redenção ao longo do todo da história, atestou e se apresentou anteriormente a Israel, assim já esteve próximo à humanidade, e apareceu, agora que o tempo tinha sido cumprido, para

estabelecer em primeiro lugar na sua pessoa a comunhão com Deus que fora quebrada por causa do pecado, mas para isto ele também havia se preparado.123

2.4.3 – A possibilidade da encarnação

A possibilidade geral de tal união íntima de Deus com a humanidade na pessoa de Cristo resultante da relação dos dois é estabelecida na criação. Certamente se os dois tivessem estado em uma antítese exclusiva, seria impossível realmente a humanidade; mas como criatura pessoal esta relacionada a Deus, receptiva a comunicação divina, estruturada para relacionamento vivo com Deus; ela, a humanidade, estava originalmente em comunhão pessoal com Deus e foi destinada para atingir um nível ainda mais alto daquela comunhão. Assim quando o Filho entra na humanidade ele não recorre a uma esfera inadequada para ele, mas destina-se a uma natureza que ele criou à sua imagem com a finalidade de sua auto- revelação, da qual ele nunca esteve completamente distante, até mesmo quando da corrupção mais profunda da humanidade. A diferença é que ela não oferece nenhum obstáculo para uma comunhão mais íntima. Porém a distinção situa-se entre o absoluto e a personalidade que pertence à criatura, precisamente da qual constitui a essência anterior, a autoconsciência. Até mesmo a corporalidade não é uma barreira excludente. Porque a corporalidade é o organismo para o espírito, permeável e útil para o espírito, e então também capaz de servir à deidade como um órgão destinado a ser transfigurado no espiritual.

Temos nossa própria experiência de salvação, na medida em que nós (como renascidos) já possuímos os primeiros frutos do Espírito de Deus e há nisso uma garantia para a comunhão perfeita com Deus, abraçando alma e corpo aos quais nós somos chamados como cristãos: uma comunhão na qual nós conheceremos a Deus como nós somos conhecidos por ele, na qual a sua vida nos penetrará completamente, com a sua santa vontade de que nossa própria personalidade seja santificada, e com nossa natureza modificada como instrumento do seu domínio acima de toda natureza material.124

De tudo isso segue agora, primeiro, que o homem não só é estruturado geralmente para uma penetração do divino, uma natureza humana capaz de receber o divino, mas para uma penetração mais íntima e perfeita que acontece nesta fase da vida – e disto surge a possibilidade da encarnação de Deus, mas só em linhas gerais. Quer dizer, é evidente que não

123 Gottfried Thomasius in Claude Welch, p. 39. 124 Gottfried Thomasius in Claude Welch, p. 40.

há nenhum obstáculo na natureza humana para uma real união com Deus; mas isto não explica de nenhuma maneira ou a peculiaridade específica da relação com que nós estamos aqui preocupados ou o ato pelo qual ele entrou no ser. O conceito de um Deus-homem, além da comunhão com Deus que conforma a nossa experiência e esperança; o homem somente consegue ser bom se estiver subordinado a Cristo o Deus-homem, tendo-o como o objeto de fé e adoração.125

2.4.4 – O ato da encarnação

Se Jesus Cristo é uma pessoa divino-humana e se o Filho eterno de Deus for o princípio formativo desta pessoa, então o ato da encarnação pode não ser concebido como se ele, o Filho de Deus, já estivesse unido com um indivíduo humano existente e depois disso transfigurou este indivíduo, por via de penetração gradual, para tornar-se um com ele. Para isso bastaria somente dizer que o homem é elevado à comunhão com Deus, e não que este homem é essencialmente Deus. O ego desta pessoa, o próprio sujeito, sempre permaneceria somente um humano, e a unidade simplesmente ética análoga ao que o Espírito Santo tem com os crentes. O resultado seria um “Deus-homem,” um homem divinizado, uma pessoa humana em quem Deus habita e age, não um homem que é Deus. Mas Cristo é verdadeiro Deus.

Da mesma maneira que pouco pode aquele ato que seja concebido como se o Filho de Deus tivesse transmudado fora dele, ou nele, a humanidade na qual ele historicamente surgiu. Esta definição só pode significar, por um lado, que o Logos eterno é intrinsecamente homem e

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