• Nenhum resultado encontrado

3.1 – O Desenvolvimento do Quenoticismo posterior a Gottfried Thomasius

No documento Download/Open (páginas 91-99)

Após e durante a formulação e exposição da teoria quenótica por Gottfried Thomasius, houve uma grande variação desta teoria em meio aos teólogos alemães e ingleses, principalmente, mas não de somenos importância também na Dinamarca. Esta profusão de pensamentos em torno do desenvolvimento, reação e superação desta teoria, deu-se basicamente durante a segunda metade do século XIX e início do século XX. Neste período muito se levantaram advogando esta proposta. Todavia mencionaremos apenas os teólogos mais influentes, que sejam: Ebrard, Gess, Martensen e Gore.

3.1.1 – O quenoticismo de Ebrard

EBRARD, Johann(es) Heinrich August (1818-1888), nasceu em Erlangen no dia 18 de janeiro de 1818; foi educado na sua cidade natal e em Berlin; trabalhou como professor em Erlangen (Privatdozent, 1841) e Zurich (1844); em 1847 foi escolhido como professor de teologia em Erlangen, ocupando esta cadeira até ele demitir-se em 1861; em 1875 começou a pastorear uma igreja reformada francesa na mesma cidade; morreu em 23 de julho de 1888; apoiou uma posição mediadora entre a ortodoxia e o teólogo F.D. Schleiermacher; sua doutrina da Ceia do Senhor e predestinação foi uma tentativa de reconciliar luteranos e reformados; explicava a justificação à luz da regeneração.154 H. Orton Wiley define o quenoticismo de Ebrard como de “tipo semi-metamórfico absoluto.”155

154 Erwin L. Lueker; Luther Poellot; Paul Jackson (eds.), Christian Cyclopedia, Concordia Publishing House, in http://www.missourisynod.info/ca/www/cyclopedia/02/.; H. Orton Wiley, Christian Theology, in http://encyclopedia.thefreedictionary.com/Johannes%20Heinrich%20August%20Ebrard.

Para Ebrard mesmo o Logos tendo se reduzido às limitações de um homem, ainda e ao mesmo tempo, manteve e exerceu as perfeições divinas essenciais à segunda pessoa da Trindade. Surge então a pergunta de como é possível que uma e a mesma pessoa possua atributos divinos e atributos humanos unidos? Responde nas palavras de Hodge, “que a solução deve ser achada na constituição original e no destino da humanidade.”156 Ainda

continua Hodge:

O homem foi designado para este domínio supremo, perfeita santidade e ilimitado conhecimento. “A glorificação de Deus como Filho, no tempo, é idêntica à culminação do desenvolvimento normal do homem.” Muitos, embora nem todos, defensores de sua teoria sustentam que a encarnação teria ocorrido mesmo que o homem nunca houvesse pecado. Entrava no propósito divino em referência à qual o homem alcançaria assim a unidade com ele.157

Diante da teoria de Ebrard algumas perguntas surgem. Como o Filho eterno de Deus pôde continuar com suas perfeições divinas e, no entanto, despojar-se delas conforme é revelado em sua vida de limitação na terra? “Uma governa o mundo e é onisciente, a outra não é, ele responde que precisamos compreender o problema. Não se trata de duas naturezas se converterem em uma só natureza, e o Filho de Deus, encarnado, Jesus, outra, senão que o Filho encarnado possui as propriedades de ambas as naturezas.”158 Outra pergunta que segue,

como o Logos encarnado sem a natureza divina na forma de Deus pode ser o Logos governante do mundo, que por sua vez existe na forma de Deus? Ou seja, como é possível uma mesma mente possuir as qualidades de finitude e infinitude? “... ele responde dizendo primeiro que a continuidade de existência não depende da continuidade de consciência. Um homem, em um desmaio ou um estado de sono hipnótico, é a mesma pessoa, embora sua consciência esteja suspensa ou seja anormal.”159 Apesar disto ser verdadeiro, uma questão

ainda persiste, como o Logos pode ser uma criança e ao mesmo tempo o Deus onisciente e onipotente que governa o mundo criado? “... ele admite que a resposta anterior não satisfaz plenamente o caso, e portanto acrescenta que toda a dificuldade desaparece quando temos em mente (...) que a Eternidade e o Tempo não são linhas paralelas. Mas (...) visto que isso não é suficiente, ele diz que o Logos Eterno ignora sua forma humana de existência com um relance (...), enquanto o Logos encarnado não age assim, mas, com uma verdadeira

156 Charles Hodge, p. 807. 157 Charles Hodge, p. 807. 158 Charles Hodge, p. 807. 159 Charles Hodge, p. 807.

consciência humana, olha para adiante e para trás.”160 Conclui Hodge, dizendo que “a contradição permanece. A teoria presume que a mesma mente individual pode ser ao mesmo tempo consciente e inconsciente, finita e infinita, ignorante e onisciente.”161

Berkhof sobre a questão se expressa da seguinte forma:

Ebrard, um erudito Reformado, supunha uma vida dupla no Logos. Por um lado, o Logos ter-Se-ia reduzido às dimensões de um homem, tornando-Se dono de uma mera consciência humana; mas, por outro lado, Ele também reteve e exercia Suas perfeições divinas na vida trinitariana, sem sofrer qualquer solução de continuidade. O mesmo “ego” existiria, ao mesmo tempo, na forma eterna e na forma temporal, mostrando-se infinita e finita por igual modo.162

Ao que aprece, é dificil fugir dos conceitos sobre a pessoa de Cristo conforme formulados no decorrer da história dos dogmas, este é o presente caso, a teoria de Ebrard tem traços de eutiquianismo, e este foi expressamente condenado pelo Concílio de Calcedônia, conforme observamos no capítulo primeiro. No seu pensamento, o Logos não assumiu uma natureza humana, apenas atributos próprios da humanidade; apareceu apenas no aspecto externo de homem.

O Logos eterno de Deus, para Ebrard, esvaziou-se ao tornar-se homem, mas não abdicou de qualquer dos seus atributos, sejam eles metafísicos ou morais. Diferindo assim de Thomasius. Para, Ebrard o erro está basicamente no fato de Cristo não possuir uma consciência infinita neste mundo, mas somente permanecer em completa perfeição nas relações com a Trindade. Resolveu esta questão afirmando que Jesus possuiu apenas uma consciência humana. Portanto, o Logos despiu-se de sua autoconsciência divina quando da encarnação.

3.1.2 – O quenotisicmo de Gess

GESS, Wolfgang Heinrich Christian Friedrich (1819-1891). Nasceu em Kirchheim unter Teck, Alemanha. Foi educado em Tübingen; pastor em Grossaspach (1847); professor de teologia sistemática e exegese em Göttingen (1864), e Breslau (1871); membro do consistório salesiano; superintendente geral da província de Posen.163 Foi influenciado por Bengel, Oetinger e Beck. Com o suporte do realismo teosófico bíblico levou a teoria

160 Charles Hodge, p. 807. 161 Charles Hodge, p. 807.

162 Louis Berkhof, A História das Doutrinas Cristãs, p. 110. 163 Erwin L. Lueker; Luther Poellot; Paul Jackson.

quenótica mais adiante que Thomasius, afirmando que o Logos não somente se esvaziou de seus atributos relativos, mas também se despiu dos atributos essenciais. Para ele houve uma transformação concreta do Logos em criatura humana. Cristo assumiu sua carne através de Maria, mas sua alma não, esta foi resultante de sua quenose.164

Sobre a teoria quenótica proposta por Gess, Berkhof afirma:

A teoria de Gess,a qual era mais absoluta e coerente, como também mais popular, dizia que o Logos, na encarnação, literalmente cessou em Suas funções cósmicas e em Sua consciência eterna, tendo-Se reduzido de modo absoluto às condições e aos limites da natureza humana, de tal maneira que Sua consciência tornou-se pura consciência de uma alma humana. Isso se parece muito com a idéia de Apolinário.

Já Hodge nos esclarece mais o pensamento quenótico de Gess dizendo:

Ele afirma que o Filho Eterno, na encarnação, despojou-se da Deidade e fez-se homem. A substância do Logos permaneceu; mas a substância estava na forma de uma criancinha, e não tinha nenhum conhecimento ou poder superiores aos de uma criancinha. Na Trindade, o Pai é pó si mesmo Deus; o Filho é Deus pela comunicação da vida divina do Pai. Durante a carreira terrena do Logos, a comunicação da vida divina foi suspensa. O Logos reduzido às limitações da humanidade recebeu do Pai aquela comunicação de poder supernatural de que necessitava. Quando subiu e se assentou à destra de Deus, recebeu a vida divina em toda a sua plenitude como a possuíra ante de vir ao mundo.

Vejamos esta teoria quenótica pelas próprias palavras de Gess:

A mesma substância que dormiu no ventre da Virgem, sem consciência de si mesmo, ofereceu-se ao Pai em sacrifício, trinta e quatro anos depois, sem mancha nem contaminação, havendo antes revelado à humanidade a verdade que havia compreendido perfeitamente. Na época desse sono já existia na substância aquela vida indestrutível em virtude da qual ele consumou nossa redenção (Hb 7.16), bem como o poder para conhecer o Pai como ninguém mais o conhece (Mt 11.27), porém era uma vida inconsciente. Além disso, a mesma substância que agora dormia em in- consciência existira com o Pai como o Logos, por meio de quem o Pai criara, governara e preservara o mundo, mas já não tinha consciência disso.165

À frente fala Gess que a vontade consciente de um homem é a que coloca as suas capacidades em ação:

164 H. Orton Wiley. 165 Charles Hodge, p. 808.

Na página seguinte lemos que a vontade consciente de um homem é a que põe suas capacidades em ação. "Quando esta cai no sono, todos os poderes da alma ficam dormentes. Era a substância do Logos que inerentemente tinha o poder de chamar o mundo à existência, de sustentá- lo e de iluminá-lo; mas, quando o Logos mergulhou no sono da inconsciência, sua eterna santidade, sua onisciência, sua onipresença e todos os seus atributos realmente divinos se desvaneceram; sendo a vontade propriamente consciente do Logos através da qual todos os poderes divinos residentes nele foram postos em ação. Haviam-se desvanecido, ou seja, estavam suspensos - ainda existiam, mas só potencialmente. Além do mais, quando um homem desperta de seu sono, coloca-se imediatamente na posse de seus poderes e faculdades; mas quando a consciência despertou em Jesus, não foi a do Logos eterno, mas a consciência realmente humana, que se desenvolve gradualmente e só preserva sua identidade através de constantes mudanças.... Foi esta forma humana de existência autoconsciente que o Logos escolheu em sua ação de auto-esvaziamento. Portanto, é claramente patente que não se deve atribuir a Jesus, enquanto esteve na terra, nem a onisciência, que vê e conhece todas as coisas concomitantemente e de um só ponto central, nem a fusão imutável da vontade na do Pai, nem santidade divina; e o mesmo sucede com a imutável bem-aventurança da vida divina. Tampouco foi somente a consciência própria e eterna da qual o Filho se privou, mas ele também 'afastou-se do Pai'. Não devemos entender que a habitação mútua do Pai, do Filho e do Espírito se tenha dissolvido, mas, sim, que o ato de o Pai dar o Filho, que tinha vida em si mesmo, como a tem o Pai, foi suspenso. Uma vez colocadas de lado sua autoconsciência e atividade, ele perdeu com isso a capacidade de receber em si a corrente de vida do Pai, e de enviá-la novamente; em outros termos, já não era onipotente. Também perdeu, ou pôs de lado, sua onipresença, a qual não deve ser, em todo caso, considerada como universalmente difundida, mas como dependente da vontade consciente.166

O quenoticismo de Gess mais parece uma mistura de apolinarismo, o Logos como elemento racional em Cristo, e com o eutiquianismo, Cristo teve apenas uma natureza. Ambas as posições foram condenadas pelos Concílios que trataram sobre a questão das duas naturezas na pessoa de Jesus Cristo.

Enquanto Thomasius afirmava que o Logos, eterno Filho de Deus, esvaziou-se apenas dos atributos relativos ou metafísicos, Gess defendia a tese que na encarnação o Logos auto- esvaziou-se de todos os atributos. Os atributos morais e/ou essenciais também foram despojados quando da encarnação. Estendendo, desta feita, a quênosis à todos os atributos, numa completa metamorfose do Logos em fazer-se homem, possuidor de apenas uma consciência, a humana.

3.1.3 – O quenoticismo de Martensen

MARTENSEN, Hans Larsen (1808-1884). Um dos teólogos luteranos mais proeminentes da Dinamarca. Nasceu em 9 de agosto de 1808, em Flensburg, na Alemanha, uma fronteira próxima da Dinamarca. Estudou em Copenhagen, em 1832 foi aprovado no exame eclesiástico, mesmo ano que recebeu uma bolsa de estudos do governo para viajar. Então visitou Berlin, Munique, Viena e Paris, dedicava atenção especial ao estudo da filosofia da Idade Media. No seu retorno à Dinamarca em 1836 foi licenciado em teologia, defendendo a tese da Autonomia da Natureza Humana. No ano seguinte começou a lecionar a matéria de Ética na Universidade de Copenhagen. A sua popularidade se tornou ainda maior quando em 1845 tornou-se pregador da corte, ai o seu hegelianismo começou a influenciar diretamente a estrutura de pensamento de sua geração. Bispo de Zelandi, principal ilha da Dinamarca (1854). Teve uma tendência marcadamente mística-especulativa. Martensen morreu no dia 3 de fevereiro de 1884.167

Defendeu uma teoria quenótica real, mas relativa. Com isto queria dizer que a despotenciação foi real, mas somente aplicada à vida terrestre de Cristo na carne, e de nenhum modo à sua natureza divina ou os seus atributos. Hägglund diz:

Martensen aceitou a cristologia quenoticista, que desenvolveu de maneira magistral. Foi influenciado não apenas por Schleiermacher mas também por Hegel e por um misticismo teosófico que influiu especialmente sobre sua concepção dos sacramentos.168

Berkhof afirma:

Martensen postulava a existência de uma vida dupla no Logos encarnado, proveniente de dois centros vitais não comunicantes. Permanecendo no seio de Deus, Ele continuava a exercer as Suas funções na vida trinitária e também em Suas relações cósmicas para com o mundo, como Criador e Mantenedor. Mas, ao mesmo tempo como o Logos completamente esvaziado, unido à natureza humana, ignorava as Suas funções trinitárias e cósmicas, e só Se conhecia como Deus num sentido segundo o qual esse conhecimento é possível às faculdades da humanidade.169

A teoria quenótica de Martensen mais parece com um tipo modificado de nestorianismo. Enquanto Thomasius enfatizou a pessoa una de Jesus Cristo, mesmo distinguindo entre as naturezas divina e humana. O quenoticismo de Martensen gerava uma

167 H. Orton Wiley. 168 Bengt Hägglund, p. 319.

pessoa com dois centros de consciência. Na verdade, o redentor era uma pessoa dupla, ou melhor, duas pessoas. É difícil compreender como ele defendeu o esvaziamento, dizia este ter sido real, mas dirigido apenas à vida na carne. Como conclusão, o Logos não encarnou-se, e isto Thomasius não defendia de modo algum.

3.1.4 – O quenoticismo de Gore

GORE, Charles (1853-1932). Nasceu em Winbledon, Inglaterra. Foi bispo de Worcester (1902-1905), Birminghan (1905-1911) e Oxford (1911-1910). Um dos líderes de maior influência na igreja anglicana. Sob sua influência o Movimento de Oxford procurou restaurar os ideais do anglicanismo na linha da erudição moderna e dos problemas morais contemporâneos.

Donald K. Mckim nos diz sobre ele:

Gore é caracterizado como um “católico liberal”. Para ele, tratava-se do anglicanismo no seu melhor aspecto. Notava três marcas do catolicismo, como a sucessão apostólica, o alto conceito do sacramentalismo e uma regra de fé comum. O liberalismo de Gore é visto na sua preocupação em dar à razão um amplo domínio, quer na filosofia ou na ciência, quer na crítica histórica, quer na experiência espiritual da humanidade.170

Como editor da Lux Mundi (1889), pôde levar à efeito as suas idéias e exercer grande influência. Hägglund nos mostra:

O editor de Lux Mundi foi Charles Gore (1853-1932), representante do anglo-catolicismo que procurou combinar seus princípios de autoridade com a aceitação de normas científicas na teologia. Gore elaborou sua posição em conexão com uma série de conferências sobre a encarnação. É em parte devido a sua influência que a doutrina da encarnação passou a ocupar o lugar de maior destaque na teologia anglicana. Isto difere do ponto de vista evangélico, em que a expiação se encontra no centro. Característica de Gore era sua doutrina da quênose: Cristo, dizia, despojara-se dos seus atributos divinos na encarnação, sujeitando-se às limitações humanas. Há certa conexão entre esta idéia e a tentativa de Gore de combinar a autoridade divina da Escritura com a concepção crítica da Bíblia. Como resultado da influência de Gore, a tendência anglo-católica desenvolveu-se em linhas mais modernistas, e ele tornou- se o líder do que foi denominado anglo-catolicismo liberal.171

170 Donald K. McKim in Walter A. Elwell, vo. II, p. 208. 171 Bengt Hägglund, p. 329.

De grande importância na expansão de suas idéias foram as Preleções Bampton que realizou, A Encarnação do Filho de Deus (1891) e as Dissertações sobre Assuntos Ligados

com a Encarnação (1895), onde escreveu:

Nelas, a kenosis ou auto-esvaziamento de Cristo veio a ser a chave da encarnação, a doutrina central do cristianismo para Gore. Isto significava que, durante Sua “vida encarnada e mortal”, Jesus, pelos Seu “amor auto- restritivo” Se limitou voluntariamente, de modo que Suas funções e poderes divinos, tais como a onisciência, não eram exercidos. Gore acreditava que isto era bíblico, e que permitia que o Filho de Deus, sem deixar de ser Deus, entrasse plenamente na experiência humana. Pressuposta em todo o pensamento de Gore estava a união básica entre a natureza e a graça, em que Jesus Cristo é tanto Criador como Redentor. Em Jesus, a intenção criadora da Deidade atingiu sua mais alta realização.172

McGrath também comenta o efeito das Palestras de Bampton, mostrando os efeitos da defesa do quenoticismo por Gore:

Essa abordagem também foi aceita com certo entusiasmo na Inglaterra. Em 1889, no círculo de palestras de Bampton, proferidas na Universidade de Oxford, Charles Gore defendeu que Cristo esvaziara-se dos atributos divinos, especialmente da onisciência, em sua encarnação. Isso levou um dos principais conservadores Darwell Stone, a denunciar que a perspectiva de Gore “contradizia os ensinamentos praticamente unânimes dos pais da igreja, assim como era inconsistente com a imutabilidade da natureza divina”. Uma vez mais, tais comentários apontam para a íntima conexão que existe entre a cristologia e a teologia e indicam a importância das considerações cristológicas para o desenvolvimento da doutrina de “um Deus sofredor”.173

J.I. Packer assim se expressa quanto ao quenoticismo de Gore:

Na Inglaterra, a teoria da Kenosis foi esboçada pelo Bispo Gore em 1889, para explicar porque nosso Senhor era ignorante daquilo que os críticos do século 19 pensavam saber a respeito do Velho Testamento. A tese de Gore defendia que ao tornar homem o Filho desistira de seu conhecimento divino de todos os assuntos embora mantivesses uma completa infabilidade divina em assuntos morais. Dentro dos fatos históricos, entretanto Ele estava limitado às idéias correntes dos judeus, que aceitou sem questionar, não sabendo que nem sempre elas estavam certas. Daí o seu tratamento do Velho Testamento como sendo verbalmente inspirado e completamente verdadeiro, e o ter atribuído o

172 Donald K. McKim, p. 208. 173 Alister E. McGrath, p. 435.

Pentateuco a Moisés e o Salmo 110 a Davi, pontos que Gore julgava insustentáveis.174

Ao que parece, dos teólogos posteriores a Thomasius que utilizaram o conceito de quenose para explicar a encarnação do Logos, Gore foi o mais fiel. Juntamente com Thomasius denfendia que o Filho eterno de Deus ao encarnar-se auto-esvaziou-se dos seus atributos não-essenciais e que também esta é a forma mais coerentemente bíblica de interpretar o hino cristológico de Filipenses 2.

No documento Download/Open (páginas 91-99)