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2.3 – Sobre Gottfried Thomasius (1802-1875)

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Teólogo luterano alemão nasceu em 1802 em Egenhausen na Franconia. Em 1821 concluiu seu curso ginasial em Anspach, logo em seguida prosseguiu com os seus estudos teológicos nas universidades de Erlangen, Halle e Berlim. Em 1829 tornou-se pastor da Igreja do Espírito Santo em Nuremberg, e em 1830 foi instrutor religioso no ginásio da mesma cidade. Em 1842 foi convidado para ser capelão e professor da cadeira de dogmática na Universidade de Erlangen. Ocupando tal cadeira por mais de trinta anos. Morreu em 24 de janeiro de 1875.

Thomasius foi um dos mais importantes representantes do Neo-Luteranismo. Ele tentou combinar a fidelidade às confissões luteranas com o academicismo autêntico sem perder de vista o progresso teológico, também levando em consideração uma fusão de pensamento com Schleiermacher, além de observar a teologia da restauração e o biblicismo. O desenvolvimento de um novo modo de construção e direção teológica era a marca indelével de Thomasius, procurando uma reflexão teológica geral renovada, no entanto, sem abrir mão da sua orientação confessional luterana.107

Para Thomasius o dogma significa tão somente a expressão conceitual para a fé comum da igreja. Para ele a igreja seria edificada quando houvesse uma compreensão dos fundamentos e conceitos básicos de sua confissão de fé, mas sem a repetição de definições

oficiais. Desejava que o dogma fosse revisitado constantemente, no entanto, sem perder suas raízes, sempre tencionando dar uma forma para este que deveria aproximar-se da fé bíblica e eclesiástica. Conseqüentemente a reconstrução cristológica que faz, está intimamente relacionada com as discussões luteranas dos séculos XVI e XVII, pelo menos no escopo do seu desejo. Ao mesmo tempo, na defesa que Thomasius empreende de sua cristologia, existe a insistência, provinda de Schleiermacher, quanto à consciência religiosa como fonte de doutrina.108

Já nos dias atuais John Hick, historiador das religiões e teólogo anglicano nos auxilia na compreensão de Thomasius:

O teólogo luterano do século XIX, Gottfried Thomasius, foi o primeiro a propor que poderíamos reconhecer propriamente a humanidade genuína de Jesus – naquela época novamente enfatizada – supondo que, ao assumir a natureza humana, o Filho preexistente teria posto de lado algumas de suas qualidades divinas. Thomasius sugeriu que “postulamos a própria encarnação precisamente no fato de que ele, o eterno Filho de Deus, a segunda pessoa da divindade, entregou-se à forma da limitação humana, e com isso aos limites de uma existência espácio-temporal, sob as condições de um desenvolvimento humano, nos limites de um ser histórico concreto, a fim de viver, em e através de nossa natureza, a vida de nossa raça no sentido mais pleno da palavra, sem por essa razão deixar de ser Deus” (Welch 1965, 48).109

A motivação de Thomasius era produzir uma síntese entre o conceito das duas naturezas do redentor, conforme expressas pelo Concílio de Calcedônia e o pensamento moderno do século XIX, de modo que a síntese que Hegel tanto insistia entre Deus e humanidade fosse observada sem distanciar-se da ortodoxia luterana. A resposta foi o auto- esvaziamento do Logos divino. Segundo Thomasius a idéia central da teoria quenótica diz respeito ao abandono dos atributos metafísico da divindade (ou atributos não-essenciais: onipotência, onisciência e onipresença) quando da encarnação do Logos divino e, vivendo assim o redentor uma vida segundo os limites, sofrimentos e tentações inerentes à humanidade. Seu interesse era combinar a fé na divindade de Jesus Cristo com a sua vida plenamente humana, ou, a vida de um homem pleno. Esta é a forma como Thomasius tentava interpretar e atualizar o conceito das duas naturezas na pessoa una de Jesus Cristo como formulado pelo Concílio de Calcedônia. Thomasius tomara uma posição contrária à de

108 Claude Welch, p. 11, 12.

Dorner que falava de uma encarnação gradual, Jesus começou o início de sua vida como mero homem, e ao final dela era Deus.

Para Thomasius existem três preocupações essenciais para a formulação da sua teologia. Primeiramente estava interessado em salvaguardar adequadamente a humanidade plena da pessoa de Jesus Cristo. A sua outra preocupação era afirmar que Deus estava verdadeiramente em Jesus Cristo. Aqui nestes dois primeiros pontos encontramos a convergência do pensamento teológico de Thomasius com os credos formulados pelos concílios cristológicos dos primeiros séculos da cristandade. A terceira preocupação de Thomasius está relacionada à primeira, pois “a época em pauta estava aprendendo a pensar em termos das categorias da psicologia. A consciência era uma categoria central. Se a nossa consciência está em nosso “centro”, e se Jesus era tanto Deus onisciente quanto homem limitado, logo, Ele tinha dois centros e, portanto, fundamentalmente não era um de nós. A cristologia estava se tornando inconcebível para algumas pessoas”110, principalmente para

Dorner, seu opositor mais ferrenho. Colin Brown a respeito, diz:

Em Christi Person und Werk I-III (1853-61), Thomasius procurou declarar uma doutrina da encarnação que respondesse às acusações de críticas radicais tais como D.F. Strauss, que diziam que o quadro ortodoxo de Cristo como sendo humano e divino era o de um hibrido historicamente inconcebível. A resposta de Thomasius pretendia demonstrar que se podia conceber de Jesus em termos de Deus, e, porém, ao mesmo tempo, em termos de quem vivia uma vida plenamente humana. Sua resposta, portanto, foi uma nova declaração de idéias dogmáticas, em termos que se condiziriam com as exigências da crítica histórica. Deve-se notar, no entanto, que onde as tentativas mais liberais e radicais no sentido de declarar de novo Quem era Cristo meramente cortavam o nó, dizendo que Ele era um homem inspirado por Deus, de modo comparável com os profetas, a cristologia quenótica era uma tentativa de preservar a doutrina das duas naturezas de Cristo. Onde os radicais diziam que Jesus não era divino, kenōsis respondia que era divino, mas que não possuía, ou não empregava, todos os atributos divinos. Isto porque deliberadamente Se acomodava às condições comuns da humanidade.111

Desde já podemos nos utilizar de algumas questões quanto à teoria quenótica que nos darão as balizas necessárias para a caminhada quanto ao entendimento da mesma:

110 Stephen M. Smith in Walter A. Elwell, vol. II, p. 396.

111 Colin Brown in Colin Brown (ed.), O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, vol. IV, p. 690.

a) A teoria quenótica deve ser entendida como um esvaziar-se dos atributos divinos (mesmo que apenas alguns)? Ou como uma ação soberana do amor divino em descer até o homem?

b) No contexto de compreensão da doutrina da União Hipostática, como compreender o conceito da communicatio idiomatum? Já que tomado de forma simplista, o quenoticismo pode enfatizar a unidade de Cristo em detrimento de uma das pessoas?

c) Quanto á doutrina da Trindade, a teoria quenótica pode mostrar uma base sólida para o estabelecimento desta doutrina?112

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