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2.2 – Questão de Fonte

No documento Download/Open (páginas 58-60)

Neste trabalho nos concentramos na compilação feita por Claude Welch da sistemática de Gottfried Thomasius no que concerne à Pessoa e à Obra de Cristo. Nesta obra de 1965, há muito esgotada, Welch além de editor também é o tradutor, e não somente de Gottfried Thomasius, mas de I.A. Dorner e A.E. Biedermann, proponentes importantes de posições cristológicas na segunda metade do século XIX na Alemanha. Eis a obra: Claude Welch (ed.), God and Incarnation in Mid-Nineteenth Century German Theology, New York, Oxford University Press, 1965.

Esta obra contempla um período teológico alemão durante o século XIX. Seu início é marcado pela morte de Hegel em 1831 e Schleiermacher em 1834, cujas obras depois de Kant, inauguraram a era teológica moderna. Este livro se constitui de uma seleção de obras de autores que são esquecidos neste período próspero no desenvolvimento da teologia alemã, normalmente há um salto de Hegel e Schleiermacher direto a Ritschl. Welch pretende preencher esta lacuna existente na história do dogma.

Os documentos estão intimamente relacionados, são declarações clássicas da cristologia quenótica e da concepção da encarnação gradual, abordando também o tema da imutabilidade de Deus. Todos os tratados teológicos tratam de um problema comum, ou seja, o ser de Deus em Cristo, ou mais explicitamente, a doutrina da encarnação em relação ao conceito de Deus. Thomasius aparece como representante do neo-luteranismo, enquanto Dorner da teologia da mediação.

Welch não pretende abranger a totalidade do período teológico, mas tais autores são centrais em termos de tendência do pensamento teológico daquele período. Thomasius e Dorner possuem afinidades com a teologia de reavivamento nas suas aproximações da experiência religiosa e grande tendência de participação na reapropriação eclesiástica da doutrina ortodoxa. A teologia de Erlangen a qual Thomasius era ligado encarna uma diretriz confessional em uma forma moderada e flexível. Ambos eram teólogos da igreja e desejavam colocar a teologia a serviço da igreja, mostrando que o estudo acadêmico desempenha um papel intensivo em outros aspectos da vida da igreja. Ambos também concordavam que a doutrina cristã tem história, e cada um buscou discernir e construir movido pela tendência dessa história e pela dialética interna, obviamente tomando rumos notavelmente diferentes.

As obras selecionadas por Welch neste volume tiveram como fio condutor o tema comum da pessoa de Cristo e a natureza de Deus relacionada à encarnação do Logos. O problema cristológico é um foco comum nesta seleção, não somente pela posição central do assunto para Thomasius e Dorner, ou pela distinção que fazem do tema, ou pelo debate vigoroso ocorrido entre eles, mas porque a pergunta sobre Cristo tem uma proeminência importante no pensamento protestante com relação ao significado da religião e da natureza do conhecimento religioso (revelação e fé), isto porque a teologia do período tende a construir a partir das fundações estabelecidas por Schleiermacher e Hegel. Para Schleiermacher trata-se da relação direta da teologia com a redenção realizada em Jesus de Nazaré, Hegel por su vez recupera e exalta o conceito de encarnação.

Dentro do âmbito das preocupações cristológicas, o problema fundamental para Thomasius e Dorner é metafísico: é a pergunta do ser de Deus na pessoa histórica de Jesus Cristo. Assim o alvo principal é na “pessoa” e não na “obra” de Cristo. Tanto Thomasius quanto Dorner afirmavam a unidade entre pessoa e obra, de modo que a união de Deus e Cristo é atividade meritória. A estrutura da dogmática de Thomasius fundamenta-se diretamente na sua elaboração da teoria da encarnação, ou teoria quenótica.

A pergunta metafísica sobre o a união entre o divino e o humano na pessoa de Cristo foi moldada segundo o pensamento corrente da época. A humanidade de Cristo se tornou o pivô para a reconstrução teológica do período. A pergunta anterior era: Determinando a deidade de Cristo, como pode ser mantida a autenticidade da humanidade? Agora: Determinada a integridade da existência humana, como é possível falar da presença do divino em Cristo? Ainda permanecia a questão relativa à união do divino no humano, mas agora a realidade e perfeição da existência humana não poderiam ser prejudicadas.

As construções cristológicas de Thomasius e Dorner tomam forma com respeito á consideração da relação entre o divino e o humano, no entanto, eles apresentam respostas radicalmente diferente. Para Thomasius a resposta é uma quenose do Logos, uma perda de poder da segunda pessoa da Trindade para que a vida encarnada dele pudesse ser idêntica à existência genuinamente humana. Para Dorner a solução deve ser encontrada em uma nova avaliação da homogeneidade interna ou compatibilidade do divino com o humano que genuinamente se torna divino na vida humana histórica de Cristo.

Hegel e Schleiermacher foram os pensadores que a teologia alemã do século XIX tomou como base, fixando assim as fundações e abrindo possibilidades para novas construções. Strauss em seu livro A Vida de Jesus, radicalmente pôs em questão o objeto histórico da fé, Jesus Cristo. Feuerbach pôs em questão o objeto metafísico. Questões são empreendidas: a imagem do evangelho é essencialmente mitológica; seria impróprio para o absoluto se manifestar completamente em um único individuo; e a idéia de Deus é uma projeção da consciência humana.

Thomasius tem como objetivo principal reafirmar e restabelecer a doutrina clássica, mas com uma renovação positiva do seu desenvolvimento. Ele possuía o desejo de combinar a fidelidade às confissões luteranas com o trabalho acadêmico.

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