Fatores Internos Associados ao Desempenho dos Alunos

A eficácia escolar e os fatores associados configuram tema de grande importância no contexto educacional atual. Pesquisas como as já citadas foram e estão sendo realizadas no

sentido de entender que fatores determinam o desempenho acadêmico dos alunos. Por meio dessas pesquisas, tem se chegado a descobertas capazes de mudar a estrutura educacional atual.

A ideia propagada no senso comum e no meio educacional é que o meio externo e os fatores socioeconômicos são determinantes no desempenho acadêmico dos alunos, assertiva confirmada por estudos de Coleman (2008) e Jencks (2008), citados anteriormente. Porém, tal concepção se mostra cômoda e retira da instituição escolar e dos seus agentes parte da responsabilidade pelo fracasso escolar de seus alunos. Assim, professores e gestores, e muitas vezes até os pais, acreditam que os alunos se saem mal nas avaliações porque não têm condições econômicas e culturais, isto é, não têm subsídios e pré-requisitos para obterem êxito. Com as pesquisas de fatores associados à eficácia escolar, esta visão é questionada, pois, a partir desses estudos, entende-se que professores e demais envolvidos no processo educativo têm parcela significativa de responsabilidade no desempenho dos estudantes, assim como outros fatores internos à escola os quais também são determinantes para explicar o sucesso ou fracasso destes.

Nesse sentido, é importante ressaltar a pesquisa de Casassus (2007) em seu estudo também realizado pela UNESCO sobre o estado da educação na América Latina e no Caribe. Trata-se do Primeiro Estudo Internacional Comparativo em Linguagem, Matemática e Fatores Associados para Alunos de Terceira e Quarta Séries do Ensino Fundamental (PEIC). O propósito deste estudo era melhorar a compreensão dos fatores que influem no rendimento dos alunos, para a partir daí ter mais subsídios para a criação de políticas públicas destinadas a melhorar a qualidade e equidade na educação.

O estudo de Casassus (2007) salienta variáveis com efeitos positivos e outras, com efeitos negativos no sucesso dos alunos, que podem ser geradoras de igualdade ou desigualdade. Com isso, pretende-se entender porque os alunos da América Latina apresentam nos primeiros anos de escolaridade um desempenho tão abaixo do que se espera deles.

Para compreender a atuação dessas variáveis é necessário situar os países da América Latina em relação ao restante do mundo, concluindo que países com exarcerbadas desigualdades sociais, geram desigualdades educacionais de tamanho proporcional. Enquanto países do chamado Primeiro Mundo se esforçam para garantir uma educação tecnológica, voltada para a era da tecnologia e da informação, a América Latina ainda luta contra o analfabetismo, a falta de emprego para os jovens, a evasão e a repetência.

Casassus (2007) afirma que a educação é um processo extremamente complexo, que envolve muitos atores e não ocorre no vazio. Então, o espaço sócio-cultural é determinante

para que se possa analisar qualquer variável interferente no processo. O autor acrescenta ainda que uma gestão participativa, com autonomia adequada, e um diretor responsável e que consiga atender as demandas da escola certamente podem fazer a diferença, mas por si sós não são capazes de diminuir as desigualdades educacionais. Dessa forma, é necessário adentrar no microcosmo da escola para tentar compreender e melhorar o que ocorre nela.

A partir da pesquisa apresentada por Casassus (2007) consegue-se chegar a conclusões relevantes: o status sociocultural (conjunto de variáveis relacionado com o contexto familiar do aluno) está relacionado com o sucesso discente. Porém, o sucesso acadêmico dos alunos não é só influenciado pelo que ocorre fora da escola, o foco de atenção se aproxima da escola para nela concentrar as ações de melhoria. Diante disto, Casassus demonstrou a importância dos seguintes aspectos internos para a melhoria do desempenho escolar:

1. O âmbito do diretor e da gestão da escola: nesse ponto o autor considerou como aspectos principais o diretor, aliado a uma gestão autônoma, e uma escola com recursos didáticos disponíveis e à infraestrutura adequada.

2. Os docentes: foi ressaltada a formação inicial dos docentes; a capacitação docente, se realizada de forma organizada e produtiva; o estado de satisfação do docente; a satisfação dos docentes com a remuneração que recebem por seu trabalho e a utilização de estratégias adequadas para enfrentar as situações cotidianas em suas salas de aula.

3. O contexto familiar: este aspecto foi analisado por meio do grau de escolaridade dos pais (quanto maior, maior o sucesso escolar do filho); as altas expectativas dos pais a respeito da educação dos filhos; e comportamentos como perguntar sobre o que acontece na escola, ajuda nas lições, enfim, participação na vida escolar dos filhos.

Torna-se claro, por meio deste estudo, que fatores internos à escola têm papel fundamental no desempenho acadêmico dos estudantes. Escolas com gestão adequada, com diretores autônomos e participação comunitária têm melhores resultados acadêmicos. O mesmo se afirma quando os professores são realmente comprometidos, não trabalham com turmas lotadas, recebem salário digno e não mantêm distância dos estudantes, valendo-se da sua especialização profissional como escudo.

Por meio dos diversos estudos realizados na América Latina e Caribe, chegou-se ao quadro 3, que representa uma maneira prática e condensada de apresentar as conclusões das investigações, situando de qual estudo surgiram, pela numeração de um a dez.

Quadro 3 - Fatores de eficácia escolar segundo pesquisas realizadas na América Latina

Fatores Escolares 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Clima Escolar x x x x x x x x x

Infraestrutura x x x x x x x

Recursos da escola x x x x x x x x

Gestão econômica da escola x x x x x x

Autonomia da escola x x x

Trabalho em equipe x x x x x

Planejamento x x x x x

Participação e envolvimento da comunidade

educativa x x x x x x x

Metas compartilhadas x x x x x x x x

Liderança x x x x x x

Fatores da Sala

Clima da sala de aula x x x x x x x x

Dotação e qualidade da sala x x x x x

Relação professor-aluno x x x

Planejamento docente (trabalho em sala) x x x x

Recursos curriculares x x x x x

Metodologia didática x x x x x x x x

Mecanismos de acompanhamento e avaliação do

rendimento do aluno x x x x

Fatores associados ao pessoal docente

Qualificação do docente x x x

Formação contínua x x x x

Estabilidade x x x x x x x

Experiência x x x x x

Condições de trabalho do professorado x x

Implicação x x x x x x x

Relações professor-aluno x x x x x

Altas expectativas x x x x x

Reforço positivo x x x x

Fonte: Brooke, 2008:479

1. CIDE: Muñoz – Repiso et al. (1995) 2. LLECE (2001)

3. Herrera y Lopez (1996) 4. Concha (1986)

5. Cano (1997) 6. Himmel et al.(1984)

7. CIDE: Muñoz – Repiso et al. (2000) 8. Castejón (1996)

9. Piñeiros (1996)

10. Barbosa y Fernández (2001)

A partir da análise do quadro 3 pode-se concluir que muitos fatores coincidem com os estudos realizados no resto do mundo já citados anteriormente como fatores determinantes

para a eficácia escolar, em especial: o clima da escola da sala de aula, a liderança, as metas compartilhadas, as altas expectativas e a metodologia ou o trabalho em equipe do professorado. No entanto, alguns fatores novos aparecem em praticamente todas as pesquisas realizadas na América Latina, demonstrando a importância dos recursos econômicos e materiais da escola, bem como a sua gestão, como fatores diretamente relacionados ao desempenho dos estudantes. Portanto, estes fatores acham-se associados diretamente à qualidade da educação. Outros elementos que aparecem reiteradamente são os relacionados à profissão docente, especificamente sua formação inicial e permanente, sua estabilidade profissional e condição de trabalho.