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Dada a importância da gestão no alcance da eficácia escolar, o presente item será dedicado à discussão da relação entre qualidade educacional e gestão. Portanto, pretende-se discutir o papel que a gestão eficaz tem para a qualidade educacional.

Segundo Brooke (2008), não se tem conhecimento de nenhum estudo que não tenha demonstrado que a liderança seja importante em escolas eficazes, e essa liderança, nesses estudos, quase sempre é exercida pelo diretor.

Liderança “objetiva e firme” tem sido frequentemente mencionada como a primeira exigência para uma liderança eficaz (BROOKE, 2008, p. 313). Portanto, na literatura de melhoramento escolar é destacado o papel do diretor como uma figura forte e firme o suficiente para amortecer e intermediar o impacto de eventos externos e das mudanças repentinas na composição da equipe (BROOKE, 2008).

Outra característica de liderança observada nos estudos de eficácia escolar foi a participação de outras pessoas envolvidas no processo. Tornou-se claro que a liderança eficaz não está centrada somente na figura do diretor “objetivo e firme”, mas, conta com a participação dos demais membros da comunidade escolar na resolução de problemas e deliberação de assuntos. Sátiro (2011) corrobora esta verificação quando explicita que a prática cooperativa de gestores que conseguem articular suas decisões, por meio da consulta à comunidade, promove o exercício de transformação da escola e da sociedade. A motivação também foi ressaltada nos estudos de eficácia escolar apresentados, como componente de uma liderança eficaz. Mostrou-se que o diretor precisa estar motivado, isto é, disposto a alcançar seus objetivos, bem como contar com uma equipe administrativa também motivada e experiente para trabalhar.

Uma terceira característica de um líder eficaz é a liderança pedagógica. Em parte, esta liderança está relacionada com a crença do diretor de que o ensino é o objetivo da escola,

portanto, a preocupação com os aspectos pedagógicos da escola é essencial para uma boa gestão, bem como para a promoção de uma escola eficaz (BROOKE, 2008).

O exame de Murphy (1990), citado por Brooke (2008 p. 314), dá detalhes sobre quatro áreas importantes da liderança pedagógica:

1. O desenvolvimento de um número limitado de objetivos bem definidos e sua comunicação a todos os membros da escola;

2. A gestão da função de produção educacional por meio da supervisão do ensino, alocação e garantia do tempo para o ensino, coordenação do currículo e monitoramento do progresso dos alunos;

3. A promoção de um ambiente de aprendizado acadêmico que envolva expectativas positivas para os estudantes, mantenha uma alta visibilidade pessoal, forneça incentivos para professores e alunos e promova o desenvolvimento profissional dos professores;

4. O desenvolvimento de um ambiente de trabalho de apoio, seguro e organizado que dê oportunidades para o envolvimento significativo do aluno e a colaboração da equipe, assegurando recursos externos para apoiar a escola e a formação de vínculos entre esta e a família.

Outros elementos que caracterizam uma liderança eficaz são: o monitoramento frequente e pessoal do desempenho da equipe e a seleção e substituição proativa da equipe.

Segundo Carnoy (2009), em seu livro que trata da vantagem acadêmica de Cuba em relação ao Brasil e ao Chile, um dos aspectos que beneficiam o referido país e lhe garante uma liderança acadêmica exitosa é o monitoramento frequente dos seus professores. Ainda segundo o autor, além da “liderança” ou “liderança pedagógica”, as escolas eficazes apresentam a “coesão escolar”, que se refere à organização coletiva a fim de alcançar objetivos pedagógicos.

Nas considerações do Movimento de Eficácia Escolar dos países latinos e nos estudos de Casassus (2007) também percebe-se o quanto a gestão se encontra imbuída no processo educativo e aparece nos dois estudos como fator determinante no desempenho dos alunos. No Movimento de Eficácia Escolar, a gestão é citada como um dos fatores associados ao desempenho escolar dos alunos, sendo considerada como fator chave para conseguir e manter a eficácia, desde que seja comprometida e colegiada. No estudo de Casassus a gestão foi apontada como um dos três aspectos internos para a melhoria do desempenho escolar, considerando como pontos principais dessa gestão: o diretor e a sua autonomia, a infraestrutura e os recursos da escola. Os resultados dos estudos referidos tornam evidente que não se trata de qualquer tipo de gestão. A gestão que realmente pode ter influência sobre

aspectos relacionados à qualidade educacional precisa ser comprometida, colegiada, descentralizada e autônoma, portanto, democrática.

A descentralização é um aspecto mencionado por Carnoy (2002) como uma reforma que aumenta a produtividade da educação e, por isso mesmo, contribui de maneira significativa para aperfeiçoar a qualidade dos recursos humanos de uma nação. Isso se deve ao fato de que, ao privilegiar a gestão local e a autonomia financeira das escolas, os pais sentem-se mais implicados, os professores e os administradores trabalham melhor, aprimorando a qualidade do ensino e, ao mesmo tempo, exploram melhor os recursos disponíveis.

A proposição de democratizar a escola aponta para o estabelecimento de um sistema de relacionamento e de tomada de decisão em que todos tenham a possibilidade de participar e contribuir a partir de seu potencial que, por essa participação se expande, criando o empoderamento pessoal de todos em conjunto e da instituição (LÜCK, 2009).

Etimologicamente, gestão se refere ao ato de gerir, gerência, administração (FERREIRA, 1986). Ainda pode ser entendida como conjunto de medidas adotadas pelo sistema educacional no sentido de cumprir o que lhe é próprio, ou seja, administrar os planos e programas de trabalho estabelecidos para o conjunto das instituições que executam a educação.

A palavra gestão refere-se ainda a um novo paradigma, opondo-se ao enfoque limitado da administração escolar. Para Lück (2000), a gestão escolar constitui uma dimensão e um enfoque de atuação que objetiva promover a organização, a mobilização e a articulação das condições materiais e humanas necessárias para garantir o avanço dos processos socioeducacionais dos estabelecimentos de ensino. Sendo assim, a gestão perpassa todos os eixos da escola objetivando a promoção efetiva da aprendizagem pelos alunos, de modo a torná-los capazes de enfrentar adequadamente os desafios da sociedade globalizada e da economia centrada no conhecimento.

Ainda citando Lück (2000), compete à gestão escolar estabelecer o direcionamento e a mobilização capazes de sustentar e dinamizar a cultura das escolas, de modo que sejam orientadas para resultados. Sendo assim, a gestão passa a ser entendida como um modo de ser e de fazer caracterizado por ações conjuntas, associadas e articuladas que visam o bem das instituições educacionais.

Para Libâneo (2004), as competências a serem desenvolvidas para participar especificamente da gestão escolar são:

a) Desenvolver capacidade de interação e comunicação entre si e com os alunos, de modo a saber participar ativamente de um grupo de trabalho ou de discussão e promover esse tipo de atividade com os alunos;

b) Desenvolver capacidades e habilidades de liderança;

c) Compreender os processos envolvidos nas inovações organizacionais, pedagógicas e curriculares;

d) Aprender a tomar decisões sobre problemas e dilemas da organização escolar, das formas de gestão e da sala de aula;

e) Conhecer, informar-se, dominar o conteúdo da discussão para ser um participante atuante e crítico;

f) Saber elaborar planos e projetos de ação;

g) Aprender métodos e procedimentos de pesquisa;

h) Familiarizar-se com modalidades e instrumentos de avaliação do sistema, da organização escolar e da aprendizagem escolar.

Sendo assim, a gestão escolar é um aspecto de suma importância para a educação, pois, por meio dela, se podem perceber a escola e os problemas educacionais globalmente. A gestão é um enfoque de atuação, e não um mero fim, tendo em vista que ela deve objetivar a aprendizagem significativa dos educandos, pois o aluno não aprende apenas em sala de aula, mas na escola como um todo, e suas diversas relações. Portanto, é necessário tratar a gestão como um problema e uma solução para o alcance da eficácia escolar. Isto se justifica, pois a gestão tanto pode engessar o processo educativo, quando autoritária, manipuladora e centralizadora, como pode auxiliar, contribuindo para a garantia de uma educação de qualidade, quando é participativa, colegiada e conta com os membros da comunidade escolar para suas deliberações.

Assim, um olhar sobre a gestão escolar é proporcionado pelos mais variados estudos sobre Eficácia Escolar tanto na América Latina, quanto Estados Unidos e Europa, como os apresentados anteriormente, ressaltando que a escola é um todo e deve funcionar como tal, sendo gerida de forma orgânica, garantindo, assim, a participação e o efetivo envolvimento de todos para alcançar o que lhe é dever: a qualidade educacional para os discentes. Em face ao exposto, fica evidente que a literatura de Eficácia Escolar e fatores associados muito têm se desenvolvido nos países da América Latina e Caribe, e o Brasil vem se esforçando na busca de seus próprios fatores associados ao desempenho dos alunos, para assim, poder intervir para a melhoria do processo ensino-aprendizagem atribuindo à educação a verdadeira qualidade.