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7 ANÁLISE DOS RESULTADOS

7.2 CARACTERÍSTICAS FAVORÁVEIS QUE SE APRESENTAM COMO AS MAIS

7.2.2 Gestão comprometida

Outro aspecto evidenciado como essencial, durante toda a pesquisa, para o bom andamento da escola e para a obtenção de índices acima da média geral no Ideb, foi a gestão.

De acordo com Lück (2009), a gestão educacional corresponde à área de atuação responsável por estabelecer o direcionamento e a mobilização capazes de sustentar e dinamizar o modo de ser e de fazer dos sistemas de ensino e das escolas, para realizar ações conjuntas, associadas e articuladas, visando o objetivo comum da qualidade de ensino e seus resultados. Tendo em vista tal afirmação, fica evidente que a questão da qualidade educacional está inserida no próprio conceito do termo gestão como objetivo a ser alcançado. Nesse enfoque, a antiga direção escolar, envolvida prioritariamente com as questões administrativas da escola, abre espaço para os verdadeiros gestores, capazes de mobilizar e liderar a comunidade escolar, em busca de um objetivo comum.

Para melhor compreensão de fator tão importante no desenvolvimento de escolas bem-sucedidas, o estudo será dividido em tópicos, a seguir.

7.2.2.1 Tempo de Gestão

Nas duas escolas pesquisadas, o tempo de gestão pareceu ser favorável para o bom andamento das mesmas. Enquanto na escola A a equipe gestora (diretor e vice-diretor) já atuava havia seis anos, na escola B, a equipe gestora estava à frente da instituição havia nove anos. O que pode ser considerado um feito, tendo em vista que os profissionais já passaram por processos de indicação de diretores e por gestão democrática, por meio do voto da comunidade escolar. Em tais instituições, ao contrário de muitas em que o gestor percebe a escola como extensão de sua casa, parece estar dando certo um período tão duradouro. Pois, na perspectiva de alunos e professores, a equipe gestora é aprovada e, de acordo com a observação da pesquisadora, inteiramente apaixonada e envolvida com o processo de aprendizagem.

7.2.2.2 Autonomia

Com relação à autonomia, que, para Lück (2009), consiste na ampliação do espaço de decisão, voltada para o fortalecimento da escola e a melhoria da qualidade de ensino do ensino que oferece, vale ressaltar que ambas as unidades educacionais pesquisadas pertenciam ao mesmo órgão governamental, portanto, estavam submetidas às mesmas leis e normas. Com isso, em entrevista com os gestores das escolas, estabeleceu-se um parâmetro para determinar

o seu grau de autonomia, de acordo com o sistema de gestão adotado pela sua região, e do projeto político pedagógico da sua escola.

Segundo as informações da escola A, esta não tinha autonomia de nomeação e demissão de funcionários, tendo em vista que os mesmos eram servidores públicos, regidos por lei específica e contavam com estabilidade. A escola e não somente o gestor tinha autonomia para a distribuição do orçamento de acordo com as necessidades e prioridades da instituição. A escola também tinha plena autonomia com relação à promoção dos alunos para a série seguinte, mas não tinha autonomia plena com relação à admissão, suspensão ou expulsão dos mesmos, devido à burocracia estabelecida pela Direção Regional de Ensino. Quanto à formulação e modificação de regras disciplinares, a escola tinha autonomia desde que não ferisse o Regimento comum da rede escolar pública do Distrito Federal e incluía normas próprias sobre os direitos e deveres da comunidade escolar. Sob o aspecto pedagógico, a autonomia incluía as prioridades pedagógicas, o planejamento e a execução de atividades extra-curriculares.

Na escola B, obtiveram-se informações convergentes, já que ambas as escolas se encontram no mesmo regime. No entanto, com relação à distribuição do orçamento que chega às escolas, a recomendação era de que as verbas logo fossem gastas. Outro fator divergente foi à admissão, suspensão e expulsão dos alunos, pois, com a ajuda do Conselho Escolar e o apoio da Direção Regional de ensino conseguiam ter essa autonomia.

A conclusão a que se chega é que a autonomia, em parte, depende de órgãos extra- escolares. No entanto, a “autonomia pedagógica”, isto é, o poder de decisão com relação aos aspectos da escola e da sala de aula demonstrou ser essencial para uma gestão eficaz, e tal autonomia era exercida pelos gestores das duas escolas pesquisadas, exceto no que tange ao Regimento comum.

7.2.2.3 Liderança carismática

A liderança, citada em todos os estudos de eficácia escolar elencados nessa pesquisa, é essencial a uma boa gestão e ao alcance dos objetivos de qualidade educacional. Para Lück (2009), a liderança é um estilo de atuação pelo qual se toma a iniciativa de contribuir para o bem-estar geral, oferecendo sugestões, orientações e atuando junto, de modo sinérgico. Tal conceito se aplicou aos gestores pesquisados, pois foi possível observar essa sinergia, ou seja,

a vontade e a disposição em “fazer as coisas darem certo” e mais que isso, conseguir mobilizar os demais em função do mesmo objetivo.

Os professores de Português e Matemática das escolas A e B foram questionados quanto à liderança da direção de sua escola. Em ambas a maioria dos docentes relatou que o diretor motivava e apreciava seu trabalho e, o mais importante, que a gestão criava um ambiente educacional flexível, portanto, os docentes confiavam na direção e se sentiam envolvidos com a escola. Vale ressaltar que na escola A a maioria dos docentes relatou que o diretor era predominantemente administrativo e os professores cuidavam do seu trabalho pedagógico, com o apoio da supervisão pedagógica e da coordenação. Todavia, o que ficou mais evidente, aos olhos da pesquisadora, foi a resistência de alguns professores com relação ao plano de ação do gestor, que pareceu totalmente embasado e envolvido com as questões pedagógicas.

Os alunos das duas instituições pesquisadas também percebiam essa liderança dos gestores de suas escolas e relataram que tal fator era importante para o bom andamento da mesma. Informações desses mesmos alunos revelaram que a direção ajudava os mesmos e mantinha um relacionamento de amizade com os estudantes. Portanto, percebemos que se tratava de uma liderança carismática, que segundo Weber (1999) é um tipo de domínio bastante excepcional, uma vez que se fundamenta nos atributos pessoais do líder. Por meio desse domínio é estabelecido um vínculo emocional entre seus componentes, criando laços de confiança.

A liderança carismática se manifestou nas instituições pesquisadas, pois os gestores encontravam-se sempre presentes, recebiam os alunos à porta, e os ouviam, ajudavam e apoiavam quando necessário, fazendo com que os mesmos se sentissem acolhidos e queridos, gerando assim um clima de confiança que favorecia a aprendizagem, conforme os próprios alunos ressaltaram.