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3. Os Sistemas de Formação dos Funcionários Públicos na União Europeia: os casos

3.1 Bélgica: Sistema de Formação da Função Pública

3.1.3 O Sistema de Formação da Função Pública

3.1.3.4 Formação Universitária em Administração Pública

O estudo da Administração Pública na Bélgica foi durante muito tempo meramente complementar à formação em Direito, à semelhança, de resto com o que acontecia na restante Europa. As universidades apenas podiam organizar cursos em Direito público ou Economia Política. Depois de 1859, as licenciaturas em Ciências Políticas e Sociais e em Estudos Diplomáticos foram separadas do Direito, mas permaneceram muito ligadas a esta área de estudo710. Os primeiros estudos sobre o funcionamento da Administração Pública belga datam da segunda metade século XIX e foram

709

LAZAREVICIUTE, Ieva, op. cit.

710 FACON, Pedro, BRANS, Marleen, Teaching Public Administration. The Introduction of guided independent learning and case-

escritos por funcionários públicos, sendo o estudo de Edouard Ducpétiaux “Étude sur la reforme

administrative”, considerado o mais importante711

.

O estudo sistemático da melhoria da organização e funcionamento da Administração Pública, e a sua adaptação à sociedade, apenas teve lugar em 1920. Ainda assim, o seu ensino estava a cargo de juristas, professores de Direito, ou altos funcionários públicos que a partir de 1936 se passaram a encontrar regularmente em congressos organizados pelo Instituo Belga de Administração Pública712. Só se pode falar em efectiva separação do ensino da Administração Pública do Direito a partir de 1950, considerado como a perspectiva não jurídica do estudo da Administração Pública. Na década de 60 surgiram então as primeiras licenciaturas em Administração Pública. Na Bélgica existem actualmente várias universidades com licenciaturas no âmbito da Administração Pública713.

Uma vez que não há lugar a formação inicial para os funcionários públicos, com excepção para o caso de alguns funcionários federais, considerou-se relevante uma síntese da formação universitária em Administração Pública disponível. Assim, a Universidade de Antuérpia tem uma licenciatura em Administração Pública e Ciências Políticas. A Escola Superior Francisco Ferrer tem uma licenciatura em Ciências administrativas. A Universidade Livre de Bruxelas tem uma licenciatura em Administração Pública e um diploma de estudos complementares e outro de estudos superiores em Administração Pública, e um diploma de estudos superiores em gestão pública. A Hogeschool

Gent tem uma licenciatura em Administração Pública, a Vrije Universiteit Brussel e a Ghent University, têm licenciaturas em Ciência Política com especialização em Administração Pública,

bem como a Universidade de Liège que também tem um diploma de estudos superiores sobre Administração Pública. A Universidade Católica de Leuven714 tem um Mestrado em Administração Publica Europeia, e em Gestão Pública e Política Pública, especialmente desenhado para funcionários públicos715. A Universidade católica de Louvain-la-Neuve tem um diploma de estudos complementares em Assuntos Públicos bem como uma licenciatura de Ciências Políticas com especialização na mesma área. Não obstante a variada oferta de ensino, pode observar-se uma falta de interesse dos estudantes pela área da Administração Pública, que poderá estar relacionada com a

711 Edouard Ducpétiaux citado por THIJS, Nick, WALLE, Steven Van de, Administrative Reform movements and comissions in Belgium

1848 – 2004, Public Management Institute, Katholieke Universiteit Leuven, 2005

712 FACON, Pedro, BRANS, op. cit. 713

http://bl.ul.ie/epan/

714http://www.kuleuven.ac.be

perspectiva negativa que a sociedade tem da mesma, com a forte tradição legalista na Administração, e com a ausência de programas de doutoramento em Administração Pública716

Conclusão

A Bélgica é um Estado federal desde a revisão constitucional de 1993. Abarca dois grupos étnicos e três línguas oficiais. O país é constituído por três Comunidades, três Regiões, dez Províncias e 589 Comunas, estando as Comunidades e as Regiões ao mesmo nível administrativo do Estado federal, mas com poderes e responsabilidades diferentes. Esta situação leva à ausência de uma política centralizada de recursos humanos da Administração Pública o que se reflecte no sistema de formação profissional dos mesmos, que difere consoante se fale em nível federal, comunidade ou região. Deste modo, cada um destes níveis administrativos é responsável pela formação dos seus funcionários, sendo difícil por isso de estabelecer uma visão comum da formação empreendida. Embora se sinta a necessidade da existência de uma escola como a École National

d’Administration francesa, tal será pouco provável de acontecer dada a diminuição dos poderes ao

nível governativo. Não existe uma formação inicial específica com excepção da formação inicial para os novos licenciados recrutados a nível federal (nível A). No caso das comunas a formação inicial e permanente é assegurada pelas universidades. Encontra-se legislado que cada funcionário tem direito a 120 horas de formação por ano.

A Reforma Copérnico teve início no ano 2000 e visa apenas a Administração Pública federal. O plano pretende a conversão da função pública federal para um sistema moderno, orientado para o cidadão. Um dos quatro pilares visa uma visão moderna dos recursos humanos, onde tem lugar uma formação especializada em gestão da Administração Pública. No contexto da nova estrutura adoptada com a Reforma Copérnico, não há, contudo, nenhum organismo na Bélgica que analise as necessidades de formação bem como a política de formação para toda a Administração Pública a nível central. O diagnóstico das necessidades de formação é feito, descentralizadamente, por cada director de recursos humanos de cada organismo e pelo Instituto de Formação da Administração federal. Para além deste Instituto existem outras entidades de formação para a Administração Pública; entre elas o IFA, o Instituto de Assuntos Públicos, a Direcção-Geral dos Poderes Locais, o LEDAREL, e o INEMAP, o Instituto de Gestão Pública, o VIOM e o Departement Algemene

Zaken en Financien, Administratie Personeels.