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3. Os Sistemas de Formação dos Funcionários Públicos na União Europeia: os casos

3.1 Bélgica: Sistema de Formação da Função Pública

3.1.3 O Sistema de Formação da Função Pública

3.1.3.1 Suporte Legal da Formação dos funcionários públicos

Devido ao facto de não existir um código da função pública, os princípios gerais do estatuto Camu de 1937 continuam a ser o suporte legal da função pública belga. A Administração Pública encontra-se organizada de acordo com os níveis governamentais, havendo uma função pública federal, uma função pública das regiões e das comunidades e uma função pública das províncias e municípios, como já foi referido. Deste modo, cada um destes níveis administrativos é responsável pela formação dos seus funcionários, sendo difícil por isso de estabelecer uma visão comum da formação empreendida, sendo o sistema de formação descentralizado, como é comum em Estados federais.686

A tradição belga tem sido a formação em gestão nas Universidades para colocar os funcionários em contacto com a investigação científica na área e outra realidade que não a realidade somente administrativa687. A desvantagem é a de que nem sempre os cursos das universidades estão em consonância com as necessidades da Administração. Embora se sinta a necessidade da existência de uma escola como a École National d’Administration francesa, tal será pouco provável de acontecer dada a diminuição dos poderes ao nível governativo nacional688. Não existe uma formação inicial associada a uma formação específica689. No caso das comunas a formação inicial e permanente é assegurada pelas universidades, no quadro do Instituto Administração-Universidade criado em 1962 e financiado pelo orçamento da função pública690. Em 1969, um diploma criou um comité permanente encarregue de promover a formação dos funcionários, junto da Direcção-Geral de Selecção e Formação, que organizaria cursos de formação interministeriais de formação base e

684

DEMMKE, Christoph, op. cit.

685 CNFPT, Les fonctions publiques locales en Europe: Décentralisation et réforme du statut des agents publics en Europe, Mars 2005 686 SIGMA Paper Series, Public Service Training Systems in OECD Countries, n. º 16, OECD, 1997

687 HONDEGHEM, Annie, op. cit. 688 HONDEGHEM, Annie, op. cit. 689

CNFPT, Les fonctions publiques locales en Europe: Décentralisation et réforme du statut des agents publics en Europe, Mars 2005

desenvolvimento profissional, de cursos de formação ministerial, de formação ao nível da informática e línguas, projecto este que viria a ser abandonado691.

A formação contínua é um direito. Actualmente, encontra-se legislado que cada funcionário tem direito a 120 horas de formação por ano. Se a formação for entendida como efectivamente de âmbito profissional, o direito não pode de modo algum ser recusado692. O vencimento relativo a estas, no entanto, é retido693.

3.1.3.1.1 A Reforma Copérnico

Considera-se importante a referência à reforma Copérnico, que teve início no ano 2000. Desde 1999 que a Administração federal belga tem vindo a empreender um processo de reforma. O revolucionário Plano Copérnico foi introduzido pelo Ministro da Função Pública e Modernização dos Serviços Públicos, Luc Van den Bossche694. O âmbito deste plano não se estende para lá da Administração Pública federal, não visando portanto, o nível regional e local da Administração. O plano pretende, de um modo geral, a conversão da função pública federal, de um sistema fechado e burocrático, para um sistema moderno, orientado para o cliente, sendo o centro o cidadão. A realçar a supressão dos gabinetes ministeriais conduzindo a uma maior despolitização da função pública, e a uma maior responsabilidade da Administração Pública695.

O Plano assenta em quatro pilares fundamentais: uma nova estrutura organizacional, uma nova cultura de gestão, novas maneiras de trabalhar e uma visão moderna dos recursos humanos696. Assim sendo, entre outras reformas, os ministérios foram reorganizados em serviços públicos federais, os gabinetes ministeriais foram abolidos, implicando uma maior responsabilidade por parte da Administração. No que concerne ao pilar da visão moderna dos recursos humanos, que é o que nos interessa no âmbito deste trabalho, pretendeu-se o desenvolvimento das competências dos funcionários, e das perspectivas de carreira697. Para realizar estes objectivos, das várias medidas encetadas, uma delas foi a criação de uma formação especializada em gestão da Administração Pública. Com efeito, com o novo processo de avaliação são detectadas as necessidades de formação do funcionário, cabendo ao avaliador estimular o desenvolvimento pessoal do funcionário. É entendido, no âmbito do espírito Copérnico, que a gestão das pessoas começa e acaba com o

691 Idem. 692

Training Needs Analysis Methodologies in Public Administration & Training Activities for European Integration: A Comparative Report in European Union Member Countries, Hellenic National Centre for Public Administration, May, 2003

693 BOSSAERT, Danielle et al., op. cit.

694 PARYS, Myriam, Staff participation and involvement in the public sector reform of the Belgian federal government: the case of the

Artemis-enquiry, EGPA, 2002

695

CARAPETO, Carlos, op. cit.

696 The Copernicus Reform in brief, Federal Public Service Personnel and Organisation, October 2002 697 Idem.

director de linha, isto é, o dirigente mais próximo698. A nova política de carreira e remuneração estimula por seu lado, a aprendizagem contínua (através de testes competitivos tendo em vista o desenvolvimento na carreira)699.

Tendo em vista a Reforma Copérnico, os principais responsáveis pela análise das necessidades de formação e serviços de formação para a Administração Pública são: o Ministro da Função Pública e Modernização; a célula estratégica de cada governo federal na área; o director de recursos humanos de cada organismo; o alto funcionário de cada instituto federal; a direcção do Instituto de Formação da Administração federal700. No contexto da nova estrutura adoptada com a Reforma Copérnico, não há, contudo, nenhum organismo na Bélgica que analise as necessidades de formação bem como a política de formação para toda a Administração Pública a nível central. O diagnóstico das necessidades de formação é feito, descentralizadamente, por cada director de recursos humanos de cada organismo e pelo Instituto de Formação da Administração federal701. Este diagnóstico é feito segundo metodologias distintas, não havendo uma metodologia única comum de trabalho. A avaliação dos resultados da formação não é prática comum na Bélgica702.

3.1.3.2 Estruturas de Formação Profissional