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SEÇÃO 4 – MATERIAIS, MÉTODOS DA PESQUISA E FORMA DE ANÁLISE

4.2 Forma de análise dos resultados

Para estudo dos dados coletados foi utilizada a análise de conteúdo, agregada ainda na terceira fase da pesquisa bibliográfica. A partir das contribuições de Bardin (2016), é possível definir que a análise de conteúdo, enquanto método, pode ser definida como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, realizada por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos, que contribuem para o aumento e propensão à descoberta.

Diante disto, o início da análise de conteúdo do descritor sujeito (s) nesta proposta de pesquisa, incumbiu-se da descrição e análise das três obras selecionadas. Acentuamos que a presença de outros termos com características sinônimas ao sujeito como por exemplo: indivíduo, homem e mulher surgiram como possíveis descritores equivalentes ao sujeito ainda na fase do projeto, porém após uma leitura mais aprofundada das obras, optou-se

por trabalhar com o sujeito enquanto categoria conceitual concebida por Freire (2014a), que o diferencia de outros descritores, como pode ser constatado nos seguintes excertos retirados da Pedagogia do Oprimido (2014a): “...ao ímpeto de transformação e de busca, de que os homens se sentem sujeitos” (FREIRE, 2014a, p. 104) e “ ...ao obstaculizar a atuação dos homens, como sujeitos de sua ação, como seres de opção, frustra-os” (FREIRE, 2014a, p. 91).

Por conseguinte, ser sujeito aparece como um estado a ser alcançado por mulheres e homens durante sua busca de humanização, e a análise dessas concepções de sujeito é tarefa desta pesquisa. Feito isso, foi utilizado o descritor sujeito (s) como representante da unidade de significação, que segundo Bardin (2016, p.134) “(...) corresponde ao segmento de conteúdo considerado unidade de base visando a categorização e a contagem frequencial”. Nesse momento da pesquisa, recorremos aos trechos selecionados anteriormente (coletados durante a investigação das soluções) que continham o descritor estudado nas versões digitais das obras. Os mesmos foram transcritos para um arquivo Word, de forma que facilitasse sua releitura e visualização.

Inicialmente, recortamos apenas o parágrafo que continha nosso descritor de interesse, porém ao longo da leitura desses trechos constatamos que em alguns casos havia a necessidade de coletar também seus anteriores para que a interpretação fosse coerente e suficiente durante a tradução da ideia trazida pelo autor naquele momento. Dessa forma, conscientes de que o tamanho do trecho selecionado nesta fase afetaria diretamente a contagem dos resultados, elegemos como critério a análise individual de cada trecho selecionado, contemplando as necessidades de acordo com cada caso.

Dando sequência aos procedimentos, realizamos a coleta das unidades de contexto, que segundo Bardin (2016), servem como forma de compreensão das unidades de registro, além de que são úteis para compreensão de sua significação, possibilitando, então, no caso desta pesquisa, um melhor entendimento do significado e contexto do termo sujeito apresentados nas obras. Após coleta das unidades de contexto, prosseguimos com uma pesquisa qualitativa e quantitativa para a contagem das ocorrências destacadas no texto, relacionando-as com o descritor sujeito. Esta pesquisa foi operada com auxílio de um software31, o qual nos

indicou a frequência numérica das palavras nos trechos selecionados.

Por meio do software foi possível ter acesso a uma lista das palavras mais recorrentes no texto enviado. Fizemos este procedimento nas três obras separadas, para que os resultados pudessem ser comparados posteriormente. Em um primeiro momento, descartamos

artigos, pronomes demonstrativos, possessivos e outras palavras que não forneciam contribuições diretas à pesquisa, elencando aquelas que a partir de uma rápida leitura apresentasse relação direta com o tema abordado em cada excerto. Neste primeiro quadro (I), não estão estabelecidas relações diretas entre os radicais e o sujeito, visto que este procedimento foi realizado a posteriori na análise dos quadros. Portanto, ele apenas indica em um primeiro momento qual o panorama da coleta em cada obra.

Como quadro de apoio32 ao primeiro, especificamos quais radicais fizeram parte

da contagem, com anseio de que ficasse bem esclarecido o que consideramos em cada categoria para realização do cálculo e ranqueamento das ocorrências. Essa necessidade surgiu a partir de radicais como educa por exemplo, que se ramificou em educação, educador (a), educandos (as), educativo (a), entre outros. Também foi necessário organizar um quadro somente com o termo sujeito e os adjetivos que o acompanhavam, como por exemplo sujeito descodificador, sujeito dialógico, dentre outros. Esse procedimento facilitou o processo de comparação das três obras, na medida em que indicou de forma objetiva as correlações feitas por Freire em cada livro.

Prosseguimos com o agrupamento dos trechos por temas, ou processo de categorização, visto que as categorias não foram dadas a priori. Nas palavras de Bardin (2016, p.147), “a categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação, e seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero com os critérios previamente definidos”. A classificação foi feita a partir da relação dos demais radicais com o sujeito, ou seja, por temas propostos a partir da verificação dos agrupamentos. Para realização desta fase, recorremos à leitura de cada trecho em particular para que pudéssemos constatar qual o tema abordado no excerto e se ele apresentava relação direta com o sujeito.

Em alguns casos em especial, múltiplos radicais apareceram ligados ao sujeito na mesma frase, portanto, foi necessário partir para análise do contexto do trecho como um todo para conseguirmos incorporá-lo em determinada categoria. Ainda assim, as categorias se consubstanciaram abertas à relação com outros termos, como por exemplo no quadro: “A ação humana sob a égide da transformação da realidade”. Inicialmente, somente a relação do sujeito com a transformação foi colocada em destaque durante a montagem dos quadros, porém, posteriormente verificamos a inevitabilidade de agregarmos a ação do sujeito nesta mesma categoria, visto que ambos estão em relação direta com a transformação.

Também é de fundamental importância salientar que alguns casos se materializaram como exceções, visto que no trecho selecionado não havia nenhum conceito de ligação direta com o sujeito que comprovasse sua estadia no respectivo quadro. Porém ao retornar para o texto da obra, foi possível averiguar que o contexto apresentava relação direta com o tema abordado, o que levou a pesquisadora a incorporá-lo nos anexos. É o caso da linha 5 do quadro “Conscientização: criticidade e processo histórico” na análise da Pedagogia do Oprimido (1968/2014a). O trecho não apresenta nenhum outro radical explícito que ligue o sujeito ao processo de conscientização, porém ao retornar para a obra é possível demarcar que o autor está se referindo ao processo de consciência de classe. Outra exceção é a linha 5 do quadro “A dualidade da disposição do indivíduo na educação: sujeito e objeto” da mesma obra, em que o autor aufere o conceito de reificação como condição de objeto pela qual os sujeitos são submetidos.

Após a organização dos trechos em quadros, de acordo com as correlações delineadas entre os conceitos, foi possível despender maior tempo para a análise de cada tema, bem como para escrita das sínteses. No que concerne às análises feitas sobre a primeira obra (Pedagogia do Oprimido), optamos pela escrita fiel àquela utilizada pelo autor durante a produção da mesma. Por esse motivo, redigimos as análises no gênero masculino, visto que a linguagem se constitui como um importante marco de mudança nas produções futuras do educador, o que será explanado a partir da Pedagogia da Esperança (1992/2016).

Por fim, fizemos a triangulação dos conceitos categorizados, juntamente com o sujeito e com a educação ao final de cada obra para então redigirmos a síntese final com a análise das possíveis convergências e divergências localizadas entre as três produções. No momento da triangulação dos dados, apresentamos um quadro de cada obra, com a contagem dos conceitos que apareceram diretamente relacionados ao sujeito em cada trecho, que se diferencia do quadro I, pois agora a contagem é feita somente com os radicais grifados no processo de categorização, efetivando seu vínculo com o sujeito. Ao final da seção 8, unimos os três quadros para facilitar a interpretação dos dados.

Considerando as informações e processos apresentados, a proposta desta pesquisa resumiu-se em um primeiro momento em identificar como a concepção de sujeito é construída por Paulo Freire, a partir da análise de três obras. Para isso, foi necessário recorrer à contagem das ocorrências em cada obra, assim como aos dados qualitativos, para que fosse possível traçar relações entre as obras, de modo que ao final fossem obtidas constatações sobre qual sua concepção e suas possíveis transformações.

SEÇÃO 5 - A ANÁLISE DO CONCEITO DE SUJEITO NA PEDAGOGIA DO