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SEÇÃO 6 A ANÁLISE DO CONCEITO DE SUJEITO NA PEDAGOGIA DA

6.8 Síntese final – O sujeito a partir da análise dos quadros da Pedagogia da

da Esperança

Compartilhando dos mesmos objetivos anteriormente descritos na análise da Pedagogia do Oprimido (1968/2014a), a investigação em torno do sujeito na Pedagogia da Esperança (1992/2016) teve como pretensão analisar suas correlações de forma independente daquelas realizadas anteriormente. Neste sentido, ressaltamos que foi necessário refinar nosso olhar para esta obra, apesar das diversas conexões existentes com a Pedagogia do Oprimido (1968/2014a), em uma tentativa de capturar e trabalhar com suas especificidades, para que posteriormente seja possível delinear suas possíveis aproximações, bem como os distanciamentos constatados a partir da análise das três obras.

Posto isto, destacamos que a grande relevância da Pedagogia da Esperança (1992/2016) para composição desta pesquisa centra-se em seu real reencontro com a Pedagogia do Oprimido, a partir de um olhar mais experiente do educador, momento este em que apresenta um diálogo enriquecedor com o (a) leitor (a). Assente em uma escrita leve e serenamente poética, Freire (2016) revive as experiências de aprendizagem com pessoas de diferentes países que de alguma forma cruzaram os caminhos pelos quais ele percorreu. Isto justifica o fato de que apesar das ocorrências em torno do sujeito serem numericamente pouco expressivas, elas são muito relevantes se analisadas e comparadas ao livro anteriormente estudado.

Nesta obra, percebemos que para além da análise do sujeito enquanto conceito, a Pedagogia da Esperança (1992/2016) se oportuniza enquanto notório instrumento pelo qual o educador refaz seu caminho de construção do seu ser enquanto sujeito, a partir das inúmeras vivências e de contextos pelos quais esteve desde a infância até a produção da obra. Desta maneira, o pano de fundo para constituição de sua escrita baseia-se no reconhecimento de suas aprendizagens, desafios, contradições e experiências que contribuíram para a sua constituição na medida em que se relacionava com os outros, em uma perspectiva dialógica e intersubjetiva. Por fim, é como se a Pedagogia da Esperança (1992/2016) expressasse o movimento de ida e vinda de sua vida, para uma futura retomada referta de conhecimento, amor, fé e esperança.

No que condiz com as ocorrências em torno do sujeito, estas apresentaram relações diretas com os conceitos de: política, conhecimento/cognoscibilidade, diálogo, objeto, transformação, linguagem, criticidade, processo, ensino e aprendizagem. Dentre estes

conceitos, alguns se consubstanciaram com maior amplitude e profundidade dentro do contexto de debate em que o sujeito estava inserido como por exemplo em relação a linguagem, política e diálogo (questão da unidade na diversidade/intersubjetividade). Em um primeiro momento é importante destacar que ambos os conceitos permeiam toda a obra, portanto delineiam relações para além do sujeito em si, da mesma maneira que o inclui direta ou indiretamente no debate.

A transformação da linguagem está presente em toda a obra, bem como as reiterações em torno da reflexão do autor sobre ela. Freire (2016) expande seu olhar para as múltiplas relações existentes entre os sujeitos e a linguagem na medida em que se dá conta da carga ideológica presente em nossa fala. O mesmo se dá com os conteúdos políticos, sobretudo aos presentes na educação, pois sendo a política uma ciência dos humanos, não há como desvencilhá-la de sua concepção de sujeito e de educação, resultando na referida aprendizagem política citada por diversas vezes na obra. Sendo assim, os processos de ensino e aprendizagem também são envolvidos e associados a uma prática política e democrática, cuja tarefa centra-se no despertar dos sujeitos para o entendimento do mundo pelo qual devem lutar.

A Pedagogia da Esperança incide de forma direta na relação dialética existente entre mundo e consciência, pois para o educador a compreensão da consciência enquanto puro reflexo da realidade objetiva, assim como a compreensão desta consciência enquanto determinante da realidade concreta, são ambas ideias descabíveis que têm o futuro como uma entidade domesticada e não a ser produzido por sujeitos. Nesse sentido, a educação adquire importância irrefutável, à medida que promove para além da aprendizagem dos conteúdos, a possibilidade de inserção de seus (suas) educandos (as) no debate em torno da razão de ser dos fatos, para que possam lidar com a dialeticidade existente entre o desvelamento da realidade e sua transformação.

Destarte, como categoria fundamental de sua proposta educativa, o diálogo também adquire grande significação na medida em que Freire (2016) acentua sua dimensão intersubjetiva no processo de construção do conhecimento, assim como enxerga as múltiplas possibilidades de diálogo existentes entre diferentes grupos para assunção de suas semelhanças e luta por suas reivindicações, o que nomeia como unidade na diversidade. Esta, torna-se uma via possível para que os sujeitos construam novos conhecimentos a partir de suas diferenças políticas e ideológicas, sendo o diálogo uma importante ferramenta para promoção da transformação.

Por fim, a Pedagogia da Esperança (1992/2016) discorre a respeito da natureza humana, bem como da vocação ontológica para o ser mais, sob as vestes de uma concepção de indivíduo enquanto sujeito de sua própria história. Isso significa que ao se descobrir inconcluso

e limitado, o ser humano insere-se em um processo de constante construção de si, com o mundo e com outros sujeitos, participando de um processo histórico transformador do mundo. Dessa maneira, para Freire (2016) a compreensão da vocação ontológica para o ser mais e para a humanização perpassa pelo rompimento com as amarras da opressão, sejam elas de ordem social, política ou econômica, revelando a necessidade do sonho e da esperança no processo de libertação enquanto exigência da História.

SEÇÃO 7 – ANÁLISE DO CONCEITO DE SUJEITO NA PEDAGOGIA DA