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SEÇÃO 4 – MATERIAIS, MÉTODOS DA PESQUISA E FORMA DE ANÁLISE

4.1 Material e métodos

“Na verdade, porém, toda docência implica pesquisa e toda pesquisa implica docência. Não há docência verdadeira em cujo processo não se encontre a pesquisa como pergunta, como indagação, como curiosidade, criatividade, assim como não há pesquisa em cujo andamento necessariamente não se aprenda porque se conhece e não se ensine porque se aprende” (Paulo Freire - Pedagogia da Esperança)

Com a finalidade de respondermos à questão proposta nesta pesquisa, investigamos quais seriam os melhores caminhos a serem percorridos, com o anseio de que nos trouxessem ferramentas necessárias para a resolução do problema anunciado. Destarte, consentimos na eleição da pesquisa bibliográfica, com base na descrição de Salvador (1978), bem como Lima e Mioto (2007), como suporte fundamental à primeira etapa da pesquisa, para que em um segundo momento, como método de análise dos dados coletados, fosse utilizada a “Análise de Conteúdo”, desenvolvida principalmente por Bardin (2016).

Com base no livro “Métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica” de Ângelo Domingues Salvador, produzido em 1970, entendem-se os cursos de pós-graduação enquanto potentes programas, responsáveis pelo desenvolvimento da capacidade criadora e do juízo crítico dos pesquisadores e pesquisadoras, a fim de que resultem em uma colaboração efetiva na atividade de pesquisa (SALVADOR, 1978). Nesse sentido, a produção da dissertação, principalmente nos cursos de mestrado, deve apresentar uma contribuição ao progresso da ciência, por meio da sistematização, ordenação e interpretação dos dados coletados durante o processo da pesquisa. Ante essas informações, considera-se que a utilização da pesquisa bibliográfica se efetivou como uma importante fonte de aproximação do objeto a ser estudado nesta pesquisa, principalmente por se tratar de um procedimento elementar para produção de

conhecimento científico, visto que possibilita o amplo alcance de informações (LIMA; MIOTO, 2007).

A referida metodologia enquanto um conjunto de procedimentos de permanente busca por soluções exige certa rigorosidade, que de acordo com Lima e Mioto (2007) resvala por quatro estágios que incidem desde a gestação da pesquisa. A 1ª fase do processo consiste na elaboração do projeto, ou seja, na escolha do problema a ser abordado. Segundo as autoras (id. ibid., p.39) “O primeiro passo se caracteriza pela escolha de determinada narrativa teórica que veiculará a concepção de mundo e de homem responsável pela forma como o pesquisador irá apreender as condições de interação possíveis entre o homem e a realidade”.

Destaca-se neste momento, a importância de formular bem o problema de pesquisa, bem como seu plano de ação, pois nas palavras de Salvador (1978, p. 55) “A formulação de um problema é muitas vezes mais importante que sua solução, afirma Einstein. Um problema bem formulado está meio resolvido”. Nesse sentido, a delimitação do mesmo e das questões a serem discutidas redesenham o próprio cenário da pesquisa em si, à medida que encaminha a pesquisadora ou pesquisador para uma reflexão minuciosa acerca das entrelinhas do problema para sua melhor delimitação. Além disso, os possíveis problemas, decorrentes de sua execução, podem fomentar a curiosidade e o interesse do sujeito pesquisador conforme gera um estado de desequilíbrio e consequentemente a necessidade de reequilibrar-se com a finalidade de resolução dos problemas apresentados (SALVADOR, 1978).

No caso desta pesquisa, que pronuncia como tema central a compreensão acerca do sujeito construído por Paulo Freire a partir do estudo de três obras, notamos que conforme nossas leituras foram adquirindo profundidade na tentativa de transformação deste tema28 em problemas de pesquisa, surgiram diversas outras questões que estavam à margem do enunciado basilar, como por exemplo:

1 - Há alteração desta concepção ao longo de suas produções?

2 – Quais elementos e conceitos são estruturantes para configuração do sujeito em Paulo

Freire que o diferencia da definição de outros autores? Quais suas influências?

3 - Qual a relação entre as possíveis alterações do conceito de sujeito decorrentes dos

diferentes contextos e dos momentos históricos em que se encontrava o autor?

Para que, por fim, elegêssemos como problema central a questão: Como a concepção de sujeito é construída por Paulo Freire a partir do estudo de três obras produzidas em períodos diferentes de sua trajetória?

Frisamos que estas mesmas questões foram as responsáveis por desmontar nossas certezas e ampliar nosso olhar para outros textos e outros problemas, agregando mais conhecimento no processo de pesquisa, refinando nossas constatações pré-concebidas.

Assente em responder aos problemas anunciados, tornou-se necessário explanar o caminho para definição das obras, como busca de soluções a serem apresentadas. Primeiramente, foi realizado um levantamento do período histórico de cada produção, bem como uma pesquisa sobre o número de ocorrências do radical sujeito em cada obra, além da análise da relevância apresentada pelas mesmas, sendo selecionadas: Pedagogia do Oprimido (1968), Pedagogia da Esperança (1992/2016) e Pedagogia da Autonomia (1996/2014b). Similarmente importante frisar que todas as obras estão disponíveis no Repositório Digital do Acervo Paulo Freire29, consubstanciando–se como fontes legais de análise.

A justificativa acerca da Pedagogia do Oprimido (1968/2014a) centrou-se no fato de ser uma obra reconhecida mundialmente e a principal representante dos conceitos fundantes da pedagogia freiriana. Em seu corpo ela apresenta 102 ocorrências do radical sujeito, sendo que 12 excertos foram descartados ainda na seção “Aprender a dizer sua palavra” escrita pelo professor Ernani Maria Fiori, por não apresentarem dados relevantes para análise, considerando que o objetivo central da pesquisa é a compreensão da concepção de Paulo Freire e não a releitura de outrem.

Já no que diz respeito à Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido (1992/2016), apesar de não apontar muitas ocorrências do radical sujeito, apenas 26 (com 3 descartes), a escolha pautou-se no fato de que é nesta obra que o autor retoma conceitos importantes da Pedagogia do Oprimido (1968/2014a), o que possibilita o estudo do avanço de seus ideais em relação a obra selecionada anteriormente. No que concerne a Pedagogia da Autonomia (1996/2014b), trata-se da última obra publicada em vida pelo autor, momento em que refina seus principais temas a partir de um olhar amadurecido pelas experiências educativas. Ela apresenta 57 ocorrências do radical sujeito, com apenas 5 descartes, apresentados no quadro anexo30.

A investigação das soluções é característica principal da 2ª fase citada por Lima e Mioto (2007). Esse momento envolve a coleta de informações necessárias à pesquisa, dados

29Disponível em: < http://acervo.paulofreire.org:8080/xmlui/repositorio-digital>. Acesso em: 31 maio de 2017.

que puderam ser obtidos a partir das obras anteriormente citadas. Salvador (1978) nos alerta em relação a quantidade e qualidade dos dados coletados nesta fase, pois eles influenciarão diretamente nos resultados da pesquisa.

As autoras (2007) sugerem alguns caminhos para realização dessa leitura, sendo eles: a) Leitura de reconhecimento do material bibliográfico; b) Leitura exploratória; c) Leitura seletiva; d) Leitura reflexiva ou crítica; e) Leitura interpretativa. No que concerne a esta pesquisa, após leitura e releitura das obras, foram selecionados os trechos considerados relevantes, no sentido de fornecerem elementos capazes de contribuir para elaboração de respostas para o problema central desta pesquisa. A seleção desses trechos ocorreu por meio de uma pesquisa dos descritores: sujeito e sujeitos, para que fosse possível afirmar o sujeito enquanto conceito construído por Freire a partir de suas bases epistemológicas.

Já a 3ª fase explicitada pelas autoras, consiste em uma análise explicativa das soluções, ou seja, na análise da documentação coletada anteriormente, da qual exige do (a) pesquisador (a) seu posicionamento crítico para justificar as informações obtidas a partir da análise objetiva do material estudado. E para realização desta etapa da investigação, foi necessário recorrer a Bardin (2016) para utilização do método análise de conteúdo, que será explanado com mais detalhes na seção seguinte.

Por fim, retornando à 4ª fase da pesquisa bibliográfica, foi realizada uma síntese integradora das soluções apresentadas, enquanto subproduto da reflexão e análise de todas as soluções encontradas anteriormente (SALVADOR, 1978). Abaixo mostraremos como se deram a análise dos resultados.