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SEÇÃO 5 A ANÁLISE DO CONCEITO DE SUJEITO NA PEDAGOGIA DO OPRIMIDO

5.9 Síntese final – O Sujeito e a Educação a partir da análise dos quadros da

Esta seção teve como pretensão traçar um panorama em torno dos conceitos relacionados ao sujeito na Pedagogia do Oprimido (1968/2014a), para que posteriormente seja possível delinear as convergências e divergências com as obras restantes a serem analisadas. Para que o objetivo fosse contemplado, foi necessário: 1- Reconhecer o conceito de sujeito na obra selecionada; 2- Analisar as relações estabelecidas entre os conceitos; 3- Verificar a relação entre o sujeito, a educação e os demais conceitos encontrados, a fim de elaborar uma resposta para a pesquisa.

Desta maneira, reforçamos a contemporaneidade dos tópicos tratados nesta obra, bem como a importância de suas reflexões gestadas no “contexto de empréstimo” para as futuras produções do autor. Ainda na fase inicial da pesquisa e do processo de organização dos dados coletados, percebemos a impossibilidade de analisar a questão do sujeito e dos conceitos

relacionados a ele de forma isolada. Sendo assim, durante o processo de categorização, percebemos a irrefutável necessidade de complementariedade de outros termos para a configuração desse sujeito em Freire, advindos de diversos âmbitos (educacional, social, político). Então, para atender aos fins desta pesquisa, optou-se por triangular a análise sobre o sujeito, os conceitos que apresentam relações diretas com ele nos trechos selecionados e a educação, visto que é o campo de interesse no qual estamos construindo nossa pesquisa.

É especialmente nesta obra que o educador se encontra próximo das leituras de Erich Fromm (1900/1980) e de Karl Marx (1818/1883), autores de grande relevância para Freire, auferindo diretamente em múltiplas convergências em torno da sua concepção de sujeito, a partir de um conceito marxista de homem. Para Marx (apud Fromm-1962) parte-se de uma visão de homem produtivo, caracterizado pelo seu próprio movimento de busca, que deve ser interpretado como impulso, vitalidade criadora, paixão e energia (FROMM, 1962). Na medida em que esse movimento é entendido de forma mecânica e o homem passa a se comportar de maneira passiva e receptiva, ele já nada é.

Destarte, a partir das análises iniciais concernentes a esta obra, podemos inferir que o sujeito para Freire (2014a) apresenta uma denominação bastante próxima da citada, sendo ele o principal motor de todas as transformações ocorridas ao longo da História. Portanto, parte- se de uma visão de sujeito como um ser histórico-cultural, que ao longo dos anos deixa sua marca no mundo, por meio de sua atividade criadora, sua produção de História e de cultura. Por esse motivo, a relação do sujeito com o mundo em que vive é marcada de possibilidades de ação e não de ajustamento ou adaptação como para os animais. O mundo torna-se então o mediatizador das relações dos sujeitos na medida em que estes incidem sua capacidade crítica e reflexiva sobre ele.

Consequentemente a essa concepção de mundo, pode-se entender a História como um templo de possibilidades, construída e reconstruída pelos sujeitos ao longo de suas gerações. Desta maneira, o mundo se estabelece como um reflexo das ações dos sujeitos na mesma medida em que os sujeitos também se formam a partir desta relação com ele. Será este modo de posicionar-se, atado a consciência de sua inconclusão que permitirá ao homem o desvelamento da realidade opressora, bem como a promoção de sua atividade transformadora. Freire (2014a) também ressalta que somente a identificação da realidade opressora, não é suficiente para a transformação, mas sim o movimento de ação-reflexão-ação, que garantirá aos sujeitos o exercício da verdadeira práxis.

A educação tem participação fundante no processo à medida que se torna uma potente ferramenta capaz de empoderar o sujeito na luta contra a opressão, promovendo então

a sua libertação. É por meio dela que as relações opressoras são desveladas e devolvidas aos educandos de forma problematizada, exigindo deles um novo pensar e uma ação enquanto sujeitos no mundo e com o mundo. A educação também permitirá a superação de uma consciência ingênua sobre a realidade para a crítica, que garantirá o exercício da vocação ontológica dos sujeitos, de ser mais e de humanizar-se, por meio de relações dialógicas, que considerem todos enquanto sujeitos do seu pensar no processo educativo.

A questão do homem e de sua libertação também está presente nos escritos de Fromm (1983) conforme ele descreve que dentre as metas do socialismo está a emancipação do homem e sua assunção enquanto único senhor de seus atos. Desta maneira, o desenvolvimento humano tem seu cerne no desenvolvimento integral do homem, em todas as suas dimensões. O descumprimento desta premissa é a principal crítica de Marx dirigida em torno da conversão do trabalho humano em uma atividade alienante, em que o homem não é capaz de se ver como agente ativo de suas atividades, permanecendo alheio a elas. Freire (2014a) pauta suas observações em uma perspectiva próxima, quando trata da opressão como uma atividade necrófila. À medida que inibe o poder de criar e de atuar dos homens, por meio do controle exacerbado de suas ações, a opressão cria um torpor nestes indivíduos que os leva a um sentimento doloroso de fracasso de sua condição humana.

Neste sentido, notam-se aproximações no que condiz com conceito de liberdade e sujeito de Freire, na medida em que Fromm (1962, p.45) descreve que para Marx o homem só é independente “...quando afirma sua individualidade como homem total em cada uma de suas relações com o mundo, vendo, ouvindo, sorrindo, provando, sentindo, pensando, querendo, amando – em resumo, afirma-se e exprime todos os órgãos de sua individualidade”. Portanto, ser sujeito em Freire (2014) perpassa pelo agir em comunhão, pela capacidade de escolha diante de suas opções, por lutar, transformar e transformar-se, educar-se, mover-se nas possibilidades, ser dono de sua História. Significa ainda, posicionar-se de forma crítica em um mundo que não está posto como superior à capacidade humana de transformação, mas pautado na possibilidade de luta por igualdade e por libertação. E a via possível para percurso deste caminho só poderia ser a dialógica, promotora da denúncia da realidade opressora e do anúncio da esperança.

SEÇÃO 6 - A ANÁLISE DO CONCEITO DE SUJEITO NA PEDAGOGIA DA