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Países Suprimentos de águas

3.1.3. Funções ambientais de ordem econômica e a ruptura do equilíbrio

Os serviços de armazenamento de água e da regulação do ciclo de carbono, entre outros, cria condição para um meio ambiente saudável, oferecendo não só água e ar limpos, chuvas, solo fértil e elasticidade das bacias fluviais, como também funções

imprescindíveis para a manutenção da sustentabilidade, tais como: a) o processamento de resíduos (naturais e industriais); b) a proteção contra os extremos do clima; e c) a regeneração atmosférica (HAWKEN et al., 1999).

O que se tem verificado, é que apesar da maior conscientização da população e da pesquisa ter evoluído significativamente nos últimos tempos, os problemas ambientais vêm se agravando de forma considerável. Nas últimas três décadas se consumiu um terço dos recursos da Terra, ou seja, de seu capital natural. O homem interage com o ambiente à sua volta, modificando-o e transformando-o de acordo com suas necessidades. Os reflexos, geralmente desastrosos, podem ser observados, por exemplo, nas atividades agropecuárias e florestais. Nos sistemas urbanos, também, são encontradas marcas profundas da intervenção humana (BASTOS e FREITAS, 1999).

A Revolução Industrial criou o modelo de capitalismo atual, cujos processos de produção consideravam como pólos excludentes o homem e a natureza, com a concepção desta como fonte ilimitada de recursos à sua disposição. A partir dessa época, a capacidade produtiva humana começou a crescer exponencialmente e a força de trabalho se tornou capaz de fabricar um volume muito maior de produtos básicos, a custos reduzidos. Esse fato elevou rapidamente o padrão de vida e os salários reais, fazendo crescer a demanda dos diversos produtos das indústrias, lançando os fundamentos do comércio moderno (DAHLMAN, 1993).

Com o contínuo aumento da população, alterações dos hábitos de consumo e com a evolução da ciência, estimulados pela própria Revolução Industrial, ficou evidente que o nosso planeta é um sistema econômico fechado em relação aos seus materiais constituintes. À medida que a sociedade amadurece, redobra a consciência de que os seus recursos são finitos e tornam-se cada vez mais escassos. Além disso, para cada ciclo de produção, deve ser fornecida energia durante cada um dos estágios (CALLISTER JUNIOR, 2000; TUNDISI, 2003).

Qualquer produto utilizado terminará no sistema ambiental: não pode ser destruído, pode ser convertido ou dissipado. Caso o sistema se torne deturpado ou desordenado como resultado de um estresse aumenta a entropia do sistema; ou seja, passa a existir uma maior “desordem”. Dessa forma, cria-se um obstáculo físico ou uma limitação para um sistema fechado e sustentável.

Quando se visualiza essas questões sob a ótica econômica, a sustentabilidade, para o caso de recursos naturais renováveis, requer que a sua taxa de uso não exceda sua taxa de regeneração e, também, a disposição de resíduos em determinado compartimento ambiental não deve ultrapassar sua capacidade assimiladora (PEARCE e TURNER, 1989).

Entretanto, tem-se observado que o mau tratamento dos recursos naturais surge porque não são conhecidos, em termos de preços, os valores para estas funções. São funções econômicas porque todas têm valor econômico positivo, caso fossem compradas ou vendidas no mercado. A inabilidade de valorar objetivamente os bens e serviços ambientais é uma das causas do descaso gerencial (GRIFFITH et al., 2003). Deve-se, então, considerar os efeitos dos custos das externalidades negativas.

3.1.4. Externalidades

Para CONTADOR (1981) externalidades são efeitos, favoráveis (desejáveis) ou desfavoráveis (indesejáveis), no bem-estar de outras pessoas e empresas. Tais efeitos são positivos, quando o comportamento de um indivíduo ou empresa beneficia involuntariamente os outros; caso contrário, as externalidades são negativas. Uma externalidade existe quando as relações de produção ou utilidade de uma empresa (ou indivíduo) incluem algumas variáveis cujos valores são escolhidos por outros, sem levar em conta o bem-estar do afetado e, além disto, os causadores dos efeitos não pagam nem recebem nada pela sua atividade.

Assim, a provisão de bens e serviços para um grupo torna possível a outro grupo receber algum benefício sem pagar por ele, ou incorrer em prejuízos sem a devida compensação. Isso caracteriza os danos causados pelos problemas advindos da utilização inadequada dos recursos em regime de livre acesso, ou seja, na ausência de limitação e de controle de acesso, por exemplo, a água e o ar atmosférico.

Outra característica importante das externalidades é que estas resultam da definição imprecisa do direito de propriedade. Uma fábrica polui a atmosfera, provoca distúrbios respiratórios nas pessoas e prejudica a vida animal e vegetal, porque não existem direitos de propriedade sobre o ar puro, ou seja, o ar é um recurso de propriedade comum e de livre acesso. Dessa forma, os direitos de propriedade são indefinidos ou inexistentes, e sempre que assim for os custos sociais serão diferentes dos custos privados (ibidem).

A falta de valor de mercado também é característica das externalidades. Existindo direito de propriedade, envolve uma contratação entre os proprietários e os utilizadores potenciais. Sempre que a contratação e execução de direitos de propriedade forem relativamente baratas, os custos sociais e os custos privados tenderão a ser iguais. Essa é a razão pela qual as externalidades constituem problemas apenas na área de atividades da nossa sociedade que afetam bens de livre acesso e de propriedade comum (entendida como sistema de apropriação comum), quais sejam os bens ambientais - de espaços e recursos (CONTADOR, 1981; BELLIA, 1996; DIEGUES, 1997).

Do ponto de vista econômico, na presença de externalidades, os mercados não distribuem os recursos de forma eficiente, porque normalmente não são registrados os custos de negociação ou de transação. Um empreendedor não recebendo pelas externalidades positivas que produz, não irá atender à quantidade necessária da qual a sociedade deseja, enquanto que aquele que produz externalidades negativas, não sendo punido, produzirá mais do que a sociedade suporta. A principal preocupação com o problema de externalidade, mesmo considerando um mercado de competição perfeito, caso não seja tratada, ela impedirá que a máxima eficiência econômica do ponto de vista social seja alcançada. Assim, na presença de externalidades, sempre haverá divergência entre valores sócio-ambientais e os interesses privados (REZENDE, s.d.).

Na bacia do rio Paracatu externalidades negativas têm surgido, particularmente devido ao consumo de água que aumentou cerca de onze vezes no período 1970- 1996, correspondente ao aumento do consumo pela prática da irrigação. Este fato indica a necessidade de adoção de uma gestão adequada dos recursos hídricos que considere a alta taxa de crescimento da demanda em virtude do intenso desenvolvimento econômico existente na bacia (RODRIGUEZ, 2004). Atualmente evidencia-se que a maioria dos projetos de irrigação da bacia aplica água em excesso, reduzindo sua disponibilidade e contaminando os ecossistemas aquáticos, inclusive o lençol freático (RAMOS e PRUSKI, 2003).

Uma forma de eliminar uma externalidade é por meio de acordos voluntários, como pode ser verificado no exemplo da Figura 10, em que as serrarias diminuiriam a quantidade de corte em troca de parte do ganho social (CONTADOR, 1981).

FIGURA 10 - Comparação entre os custos privados (serrarias) e os custos sociais (reinvindicados pela sociedade que desfruta dos benefícios proporcionados pelas florestas) da produção de madeira. Fonte: OLIVEIRA (1993).

Verifica-se na Figura 10, que os cálculos internos das empresas que exploram madeira, determinam o nível de produção de madeira Q. A quantidade Q e o preço P do produto (madeira) são fixados pela interseção das curvas de demanda e oferta, determinadas pelo livre funcionamento do mercado. Porém, o custo marginal social, que inclui os efeitos (externalidades) da destruição das florestas, ultrapassa o custo marginal privado das empresas e, portanto, o ponto ótimo de produção do ponto de vista da sociedade seria o nível Q”. Sem a devida consideração do excesso dos custos sociais sobre os custos privados, há uma superprodução de madeira igual à diferença entre as quantidades Q’ e Q”. A área sombreada indica o valor total do prejuízo social, em virtude da superprodução de madeira (SCHETTINO et al., 2002).

Apesar das análises econômicas tradicionalmente ressaltarem as variações mensuráveis referentes ao aumento das rendas, não têm sido dedicadas avaliações dos custos e dos benefícios externos referentes ao meio ambiente, em face da sua considerável dificuldade (política, teórica e técnica) que permitam a internalização dos custos e benefícios até agora considerados externos. Caso houvesse essa internalização, como beneficiar “produtores de água” ou irrigantes que adotam o manejo da irrigação, auxiliaria os processos de decisão que afetam o meio ambiente e, conseqüentemente, toda a sociedade.