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Países Suprimentos de águas

3.4. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

3.4.5. Política pública

Na prática, apenas a definição de políticas públicas não são suficientes: é preciso que ocorra uma mudança em todo o campo organizacional e nas práticas educacionais que visem transformações sólidas e duradouras. Devem ter a iniciativa de propor posicionamentos mais coerentes com esse apelo por mudanças, necessitando, portanto, de uma visão estratégica do desenvolvimento em longo prazo, que implicam no projeto de uma gestão mais integrada dos recursos naturais e do meio ambiente (GODARD, 1997; HOFFMAN, 1997).

PURSER (1997) afirma que o desenvolvimento sustentável requererá mudanças fundamentais na percepção cultural, como a consciência de que o meio ambiente não está limitado aos ecossistemas biofísicos, mas incluem uma rede de interações entre a consciência humana, os sistemas sociais e o meio natural, formando um centro integrado. Ou seja, fica caracterizada a importância dessa visão holística do meio ambiente. De acordo com BUTTEL (1998), é necessário que haja uma prática sócio-regulatória decorrente de uma regulação ambiental dentro de uma nova visão de sustentabilidade.

As leis ambientais e políticas públicas no Brasil, em função da percepção surgida a partir da década de 1970. As manifestações e críticas nacionais e internacionais que exigiam uma definição na política ambiental receberam especial atenção, particularmente durante a elaboração da Constituição de 1988, resultando em um capítulo inteiramente dedicado às questões ambientais. Efetivamente, houve a elaboração e implementação de políticas públicas com caráter marcadamente ambiental e com forte tendência descentralizadora (SOUZA, 2004).

De acordo com CUNHA e COELHO (2003), é possível identificar, nitidamente, pelo menos três tipos de políticas ambientais: as regulatórias, as estruturadoras e as indutoras de comportamento:

• Regulatórias - referem-se à “elaboração de legislação específica para estabelecer ou regulamentar normas e regras de uso e acesso ao ambiente natural e a seus recursos, bem como à criação de aparatos institucionais que garantam o cumprimento da lei”. Como alguns exemplos mais recentes: criação da Secretaria do Meio Ambiente (1990); Promulgação da Lei dos Crimes Ambientais (1998); criação da Agência da Água (ANA) (2000) e do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) (2000);

• Estruturadoras - tais políticas “implicam intervenção direta do poder público ou de organismos não-governamentais na proteção ao meio ambiente”. Como exemplo a formulação da Política Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (1999); e

• Indutoras - referem-se “às ações que objetivam influenciar o comportamento de

indivíduos ou grupos sociais, normalmente identificadas com a noção de desenvolvimento sustentável e são implementadas por meio de linhas especiais de financiamento ou de políticas fiscais e tributárias”. Como exemplos: implantação de certificação ambiental (selo verde) e das ISOs (“International Organization for Standardization”), ISO 9000 e ISO 14000; construção da Agenda 21 Local/Regional (a partir de 1992); promoção de ações de educação ambiental e incentiva aos processos de gestão ambiental para a reversão de práticas agropecuárias (década de 1990).

Recentemente, essas políticas têm promovido transformações em todos os segmentos da sociedade, além de cobrar, do poder público, maior atuação na sua fiscalização e monitoramento. Porém, deve-se estar consciente, que o modelo estatal ou tecnocrata de regulação, quando não é acompanhado de políticas estruturadoras e indutoras, corre o risco de não funcionar. Isso acontece frente à carência de pessoal, fundos e equipamentos necessários para a execução dessas atividades, de fiscalização e monitoramento das regras de uso e acesso aos recursos naturais, estabelecidos por leis e decretos, particularmente nos países em desenvolvimento.

Para o relatório do WORLD WILDLIFE FUND - WWF (1999), apesar da posição de destaque do Brasil em face às nossas riquezas naturais e possuindo umas das mais rigorosas legislações ambientais do mundo, afirmam que os órgãos responsáveis pela fiscalização e monitoramento vêm se mostrando ineficazes no combate à devastação, resultando em perda de biodiversidade, por exemplo: o caso da Mata Atlântica no passado e a história atual do Cerrado e da Floresta Amazônica. Considerando as unidades de conservação federais (UCs), esse relatório comenta que: a) das 86 unidades avaliadas, 41% foram consideradas medianamente ou muito vulneráveis à ações antrópicas; e b) aquelas UCs de uso integral (lugar onde o uso dos recursos naturais não é permitido), 41% delas têm mais da metade da área de seu

entorno desmatada e vulneráveis: ocupadas por agricultura intensiva, pólos industriais, centros urbanos ou mineradoras.

Para TUNDISI (2003), as soluções não podem ser desprovidas de embasamento técnico e capacidade real de solução de problemas, desenvolvendo-se parcerias. Para ele, na recente ênfase de gestão de recursos hídricos, a bacia hidrográfica como conceito de estudo e gerenciamento, pode prover esta melhor integração entre ecologia profissional e ativismo ambiental, cujo distanciamento vem trazendo problemas e atraso nas decisões.

O conceito de bacia hidrográfica aplicada ao gerenciamento de recursos hídricos, “estende as barreiras políticas tradicionais (municípios, estados, países) para uma unidade física de gerenciamento e planejamento e desenvolvimento econômico e social” (SCHIAVETTI e CAMARGO, 2002). “A falta de visão sistêmica na gestão de recursos hídricos e a incapacidade de incorporarem/adaptarem o projeto aos processos econômicos e sociais atrasam o planejamento e interferem em políticas públicas competentes e saudáveis” (BISWAS, 1983). Para TUNDISI (2002), o gerenciamento adequado da bacia hidrográfica é fundamental, exigindo que ocorra a integração entre o setor privado e usuários, universidade e setor público.

De acordo com WEID (1997), as políticas públicas voltadas para o meio rural, para que atendam as reais necessidades requeridas para o desenvolvimento sustentável, devem ser direcionadas no sentido de promoverem: a) o acesso à terra, com modelos de associativismo e cooperativismo, incluindo educação ambiental como estratégia de difusão de tecnologia; b) questões no campo técnico e do manejo e conservação dos recursos, visando a mudança do modelo convencional de agricultura para outro que valorize os conhecimentos e a cultura local, com baixo uso de insumos energéticos e de alta diversidade ecológica; c) questões de pesquisa e do conhecimento - exige nova organização em sua execução, posto não poder ser feita em laboratório e nem universalizada, tendo como elaboradores os produtores, os pesquisadores e os técnicos; d) questões econômicas - deve atender os quesitos da sustentabilidade e possibilitar a ascensão do produtor; e) alterações no plano ideológico - apesar do meio científico estar culturalmente ligado ao modelo convencional, a agricultura familiar deve aproveitar o momento de busca pela naturalidade e passar a receber o suporte e o direcionamento de políticas públicas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF); e f) perspectiva político-organizativa - a política ideológica deve ser no sentido da incorporação de práticas agrícolas alternativas, como a agroecologia, pelas organizações representativas.