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Países Suprimentos de águas

3.5. GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS

3.5.2. Os problemas reais

Pode-se afirmar que o movimento em favor da instalação de um sistema nacional de gestão de recursos hídricos começou a avançar com a edição das portarias interministeriais dos anos de 1978 e 1979, que recomendaram a classificação e o enquadramento das águas do país, e criaram e regulamentaram o Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas - o CEEIBH. A partir desse momento o debate em torno da gestão por bacia hidrográfica cresceu sobremaneira, e inúmeros comitês de bacia foram instituídos, ampliando-se o número de técnicos, de usuários da água, de integrantes de ONGs e de outros tipos de

organizações. Gerou-se grande expectativa em torno do estabelecimento do Sistema Nacional de Recursos Hídricos (SNRH), que deveria trazer, em seu conjunto, as normas e diretrizes que permitiriam a colocação em prática de vários instrumentos indutores do uso racional da água (FERNANDEZ e GARRIDO, 2002).

Ocorre que esse sistema novo de gestão trazia consigo o ineditismo da gestão compartilhada, conferindo importante papel aos usuários das bacias, aos poderes executivos detentores de domínio sobre as águas e, principalmente, à sociedade civil organizada, uma das mais importantes revelações do século e milênio que se acabavam. Entretanto, tais recompensas viriam encontrar o Estado brasileiro ainda imergido em um período de arbítrio, que se estendera de 1964 a 1985, espaço longo o suficiente para que o mesmo se houvesse desacostumado ao cumprimento de suas funções básicas de dar sustentação aos sistemas de educação, saúde, segurança e de assegurar o desenvolvimento regional integrado (CEDRAZ, 2003).

Nesse período, o Estado passou a consagrar o seu tempo, talento e prioridades financeiras às atividades que são inerentes, por excelência, à iniciativa e ao capital privado, como a produção petroquímica, a mineração, a irrigação, a construção e operação de sistemas de energia elétrica e de comunicações, entre outros. Assim, ficou evidente a demonstração de que a ênfase maior deveria ser dada ao seu enfoque de estado-empresário. É inegável que a economia brasileira tenha crescido no mencionado período, a taxas invejáveis, concretizando um nível de produção que a colocou na confortável posição de uma das dez maiores economias do mundo. Mas é obrigatório apontar que vários setores tiveram que pagar um elevado preço por esta postura de intromissão do estado na atividade produtiva (ibidem).

A evolução institucional do setor de recursos hídricos, por exemplo, ficou paralisada por longos anos, percorrendo a série dos anos 1980 e parte dos anos 1990, para dar nascimento, de modo concreto, ao SNRH. Os anos que começam com o Presidente Sarney, em 1985, representaram o ponto de inflexão da curva que, a partir daí, permite o aquecimento do rico debate de que resultou a construção do referido sistema de gestão (CARRERA e GARRIDO, 1992).

Os estados federados, mais ágeis e sob a liderança de São Paulo, optaram por avançar na parte que lhes cabia, para tanto se apoiando no fato de que são autônomos para se organizarem administrativa e em termos orçamentários. E foi assim que eles começaram a discutir os termos das leis de organização administrativa para a gestão das águas de seus respectivos domínios. O estado de São Paulo iniciou

o processo editando a Lei no 7.663/91, sendo seguido por várias unidades da

Federação (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2003).

Na seqüência de ações, vários desses estados ainda cuidaram de consolidar ações práticas tais como (GARRIDO, 2004): a) o fortalecimento dos comitês de bacia

já existentes e a criação de novos; b) o aprofundamento dos estudos relativos à criação das agências de bacia e ampliando os estudos e o debate sobre a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, além de acelerarem a aplicação do mecanismo de outorga; e c) sofisticarem, cada um a seu modo, os sistemas de informações para o setor, entre muitas outras providências.

O movimento dos estados atuou como um forte impulso ao Governo da União que, somente a partir de 1995, colocou na ordem do dia a questão do SNRH, do que

resultaram grandes avanços, tendo sido a promulgação da Lei no 9.433/97 a mais

importante dessas conquistas. Mas é ainda a falta de aplicação de alguns instrumentos de política que faz com que o setor não esteja marchando com o vigor que se observa em outros países mais desenvolvidos (FERNANDEZ e GARRIDO, 2002).

Entre os instrumentos por implementar, a cobrança pelo uso dos recursos hídricos se situa como o de maior relevância. Ao lado dos demais, é o único capaz de assegurar, em caráter permanente, os fundos necessários aos programas do setor no espaço da bacia. Este é um dos importantes problemas que a gestão dos recursos hídricos hoje enfrenta, uma vez que as decisões tomadas nem sempre têm sido colocadas em prática pela falta do aporte dos recursos financeiros. O comitê é o verdadeiro fórum no qual os problemas e as necessidades são levantados, subsidiando todos os agentes interessados no processo de gestão e as próprias organizações de governo (GARRIDO, 1996; REBOUÇAS, 2004).

A cobrança pelo uso dos recursos hídricos no Brasil começou a ser posta em prática com a experiência pioneira do Estado do Ceará, iniciada em novembro de 1998, cobrando-se, inicialmente, na Região Metropolitana de Fortaleza, ação que logo se estendeu para todo o estado. Há, também, a cobrança pela geração hidroelétrica, definida pela lei federal que criou a Agência Nacional de Águas – ANA, que está estruturando a sua colocação em prática. Também, a partir do ano de 2002, a implementação da cobrança em algumas bacias que já avançaram na gestão dos recursos hídricos, como as bacias do Paraíba do Sul e do Piracicaba-Capivari-Jundiaí. Esta última um notável exemplo de gestão empreendido por duas importantes instituições, o comitê da bacia e o Consórcio Intermunicipal (GARRIDO, 2007).

Ainda no campo dos problemas reais, as bacias hidrográficas brasileiras sofrem, consoante sua situação geográfica, diferentes tipos de impactos que, para cessarem, requerem sejam atacados em suas causas. Destaque se deve dar aos problemas da contaminação de uma enorme quantidade de rios, lagos e aqüíferos do país, além da crônica série de episódios de secas severas, no semi-árido, e das danosas inundações que costumam ocorrer no sudeste brasileiro, como as que ocorreram no mês de janeiro desse ano de 2008.