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Países Suprimentos de águas

3.5. GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS

3.5.5. Outros instrumentos de gestão

3.5.5.1. Organizações civis de recursos hídricos

O texto final da Lei 9.433/97 agrupou, sob a denominação de “organizações civis de recursos hídricos”, uma série de diferentes entidades. O artigo 47, por intermédio de seus incisos, considera como organizações desta natureza (CABRAL, 1997): a) os consórcios intermunicipais e as associações atuantes no campo dos recursos hídricos; b) as associações de usuários da água, regionais, locais ou setoriais; c) as organizações técnicas, de ensino e pesquisa, com ação voltada para os problemas dos recursos hídricos; d) as organizações não-governamentais dirigindo suas ações em favor do interesse coletivo da sociedade; e e) outras organizações reconhecidas pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

Para serem consideradas como organizações civis de recursos hídricos, as entidades de todas essas categorias devem estar legalmente constituídas. Não se discute a importância de todas elas, pois um dos pontos sagrados do esquema de planejamento e gestão do uso dos recursos hídricos é exatamente a participação de todos os “stakeholders” no processo de tomada de decisão. Daí considerar-se a introdução dessas organizações civis de recursos hídricos como um dos aspectos mais relevantes da PNRH (GARRIDO, 2004).

De acordo com esse mesmo autor, na experiência brasileira, deve-se dar destaque, entre as organizações civis de recursos hídricos, ao papel desempenhado pelos consórcios intermunicipais. Esclareça-se, entretanto, que um consórcio de municípios tem um espaço próprio no qual deve atuar o que faz dele um tipo de entidade com características próprias e diferentes de todas as demais do setor de recursos hídricos. Os consórcios são associações livres dos municípios que fazem parte, integral ou parcialmente, de uma bacia hidrográfica. Normalmente os consórcios canalizam os seus recursos e a sua capacidade para contribuir e reforçar as ações do setor de recursos hídricos em suas respectivas áreas de atuação, preenchendo importantes lacunas não cobertas pelas demais organizações atuantes no setor.

Segundo GARRIDO (2004), um exemplo de consórcio intermunicipal bem sucedido é o consórcio intermunicipal de bacias é o do Piracicaba e Capivari, criado em outubro de 1989, que veio a constituir a iniciativa mais efetiva no sentido da recuperação, valorização e preservação dos recursos hídricos dessas bacias. A região

abrangida pelo Consórcio, com cerca de 14.000 km2, estende-se da Serra da

Mantiqueira (MG) até a Serra Geral (SP), englobando 59 municípios, dos quais 55 são paulistas e 4 são mineiros. O esgoto industrial chega a 310 t dia-1 (70% são tratados) e

os engenhos e usinas liberam quase 1.400 t dia-1 de resíduos (100% tratados).

admitir, como membros, as empresas e organizações usuárias da água, o que lhe tem ampliado as perspectivas de ação, em virtude das grandes possibilidades de reforço de caixa.

3.5.5.2. Medidas de economia no uso da água

A demanda por água deve e pode ser controlada por meio de uma série de

medidas. Os váriostipos de ação que podem ser postas em prática com o objetivo de

reduzir a demanda por água ou mesmo controlá-la, mantendo-a em um determinado nível previamente estabelecido, e por um determinado período de tempo, constituem,

em geral, medidas que devem ser atribuídas aos organismos encarregadosda gestão

de recursos hídricos (SOUZA, 2006).

Alguns desses organismos são de governo, e outros são não governamentais. Aliado a isso, a atitude do próprio usuário final da água é, também, muito importante, como meio de se conter o consumo desse recurso natural. Como medidas que já se demonstraram acertadas no cumprimento dos objetivos pretendidos, destacam-se: a) reuso doméstico da água; b) recirculação em processos industriais e de mineração; c) prática da irrigação noturna; d) manejo da irrigação com o uso de softwares, como o IRRIPLUS; e) recarga de aqüíferos; f) adoção de tecnologias limpas para os processos industriais e cuidados com os rejeitos das minerações; e g) educação ambiental.

A irrigação nessa região onde se dará o estudo merecerá atenção especial, principalmente no que ser refere ao manejo da irrigação. Considerando tal prática, sabe-se que uma das características marcantes das regiões semi-áridas é o seu elevado grau de solaridade. Este, juntamente com outros fatores, é capaz de gerar uma evapotranspiração da ordem de 2.500 mm anuais, portanto, perdas de água bastante elevadas. Dessa forma, nessas regiões, a irrigação pode dar preferência aos períodos noturnos, com isso promovendo uma farta economia de água. Uma medida indutora dessa prática é a adoção da tarifa de energia elétrica diferenciada, cobrando- se preços menores nesses horários (SETTI, 1994). Em recente estudo realizado por MANTOVANI et al. (2006), no Oeste da Bahia, a implementação desse modelo noturno resultou em significativa economia ao irrigante (IRRIPLUS, 2007).

Além dessas, há uma série de outras medidas de ordem prática, via de regra relacionadas à concepção de projetos de engenharia, buscando adequá-los as principais condicionantes de regiões onde há escassez de água, como em regiões semi-áridas. Ainda que oneroso em termos de investimento, o transporte de quantidades de água bruta por meio de tubulações constitui uma forma bastante segura de evitar a evaporação e outras formas de perda de água, particularmente em face ao elevado índice de insolação (GARRIDO, 2004).

Recentemente, com o crescimento do setor de recursos hídricos e do número de organismos de bacias hidrográficas, tem-se verificado o interesse de uma série de agências e bancos tradicionais de fomento ao desenvolvimento, que passou a perceber a gestão dos recursos hídricos como um campo de atividade com identidade própria. Ao lado da nova preocupação das agências financiadoras com os programas no campo dos recursos hídricos começou a aparecer, mais recentemente, o que se convencionou chamar de redes de organismos de bacias hidrográficas (FERNANDEZ e GARRIDO, 2002).

Também, há que se considerar com importante ferramenta de auxílio à gestão dos recursos hídricos, os Organismos multilaterais e agências governamentais estrangeiras de crédito. A cooperação técnica internacional é um elemento importante para as mudanças estruturais em um país que dela se beneficia, pois o know-how técnico e a própria troca de experiência se incorporam, comumente, ao desenvolvimento do país. São vários os setores atendidos pela cooperação técnica internacional no Brasil. No campo do meio ambiente e dos recursos hídricos, o Brasil tem se beneficiado pela cooperação bilateral com a Alemanha, Canadá, Espanha, França, Itália, Japão e Reino Unido. No que concerne à cooperação multilateral são inúmeras as fontes das quais o Brasil tem recebido cooperação (GARRIDO, 2004).

O Ministério de Ciência e Tecnologia mantém um vasto programa de apoio à pesquisa científica e tecnológica por meio de fundos de C&T. São vários fundos que compõem a estrutura do programa, sendo um desses fundos voltado exclusivamente para o planejamento e a gestão dos recursos hídricos, denominado CT-HIDRO. Esse programa já vem aplicando recursos desde 2001, tendo dado uma contribuição muito importante para a ampliação do conhecimento técnico, tecnológico e científico aplicado ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

Por último, devem-se citar as Redes de organismos de bacias hidrográficas. São organizações que não têm, em geral, uma personalidade jurídica definida, sendo formadas pelo conjunto que inclui os comitês de bacia hidrográfica, as agências de água, as organizações de governo com atuação no setor de gestão do uso da água, além das organizações civis de recursos hídricos tal como estabelecidas na Lei Federal no 9.433, de 8 de janeiro de 1997 (ibidem).

Há de considerar, ainda, dois fatores fundamentais como ferramentas de gerenciamento dos Recursos Hídricos: o Licenciamento Ambiental e a implantação de Sistemas de Gestão Ambiental (SGA). Este último deve ser estimulado não somente ao nível de empresas, mas também em caráter regional.

A legislação brasileira de recursos hídricos inclui, entre os instrumentos de gestão, a cobrança pelo uso da água. É uma ferramenta indutora do uso racional dos recursos hídricos, uma vez que alerta o usuário para a deseconomia que

eventualmente seria praticada caso este não sofresse qualquer tipo de penalidade por utilizar a água bruta em quantidades acima da necessária.

O aprofundamento do estudo da cobrança veio mostrar que todo uso capaz de promover alguma alteração no regime hidrológico, aí embutido o conceito hidrogeológico, deve ser cobrado, de forma a inibir tal alteração. Assim, a derivação de água de um rio ou lago, tanto quanto a abstração de águas subterrâneas, sejam para o abastecimento urbano, industrial ou para a irrigação, do mesmo modo que o represamento das águas para a geração hidroenergética, todos constituem exemplos de alteração do regime hidrológico sendo, como tal, suscetíveis de cobrança.

A relação existente entre os serviços de água - abastecimento e esgotamento sanitário - precisa ser colocada na pauta dos governos bem assim no debate com os usuários e com a sociedade. Além da harmonização necessária entre esses serviços de utilidade pública, outra conseqüência direta e relevante do entrosamento dessas políticas é a redução dos custos totais motivada pela economia de escala que daí resulta. O planejamento dos recursos hídricos pode complementar o planejamento do uso e ordenamento do solo, ou por este ser complementado.

Desta forma, os três níveis de governo devem trazer ao debate com a sociedade as possibilidades de consolidar os serviços de gestão do uso da água com os demais serviços da infra-estrutura urbana, buscando fazê-los com eficiência e eficácia. Devem-se combinar as tarefas da hidrologia e hidrogeologia com a dos serviços de saneamento e com a dos planejadores urbanos, paisagistas, tirando-se o máximo proveito da ação conjunta de todas essas categorias. A legislação é, também, um ponto a ser revisto em face da necessidade do entrosamento desses serviços, sobretudo se considerando que os agentes governamentais envolvidos são de diferentes esferas de poder.

Conforme mencionado na seção de abertura desta revisão, o seu objetivo é o de levantar informações de interesse prático sobre as instituições atuantes no setor de recursos hídricos, sejam aquelas que congregam organismos de bacia, sejam aquelas que apóiam os projetos e programas do setor, técnica e, ou, financeiramente. Na verdade o objetivo era verificar como andam as ferramentas tradicionais e aquelas inovadoras para a gestão das águas. Assim, pretende-se inserir os conceitos de Dinâmica de Sistemas e a elaboração do modelo das águas para as bacias do ribeirão Entre Ribeiros e do rio Preto como uma estratégia que venha contribuir e satisfazer de forma ampliada ao princípio da gestão participativa, um dos pontos sagrados do esquema de tomada de decisão sobre o uso dos recursos hídricos.

Esse modelo permitirá aumentar a compreensão acerca das atividades antrópicas e seus empreendimentos existentes na região de estudo, bem como as interferências promovidas em seus diversos ecossistemas. O entendimento da

dinâmica desses sistemas e a elaboração do modelo das águas será uma ferramenta de auxílio à definição de políticas públicas para estimar futuras demandas e ofertas de Recursos Hídricos, contribuindo e servindo de apoio a novas propostas de sugestões aos principais instrumentos de gestão existentes.