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3.4. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

3.4.8. Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável

O conceito de gestão ambiental ganha um maior número de adeptos no início da década de 1990, fruto da crescente conscientização da sociedade pela necessidade da conservação dos recursos naturais e da consolidação das políticas ambientais do tipo indutoras de programas e projetos com caráter ambiental.

Nesse período, aconteceu a Conferência Mundial do Meio Ambiente (ECO-92), realizada no Rio de Janeiro e a edição da série ISO 14000 que certifica o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) da empresa. A implantação dos SGAs nas empresas torna possível a redução e o controle dos impactos causados ao meio ambiente por suas atividades produtivas, compatibilizando o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental (SOUZA, 2006).

Para BELLIA (1996), o objetivo básico da gestão, considerando a consciência de que os recursos naturais são finitos, é a obtenção dos maiores benefícios por meio da aplicação dos menores esforços. Dessa forma, o indivíduo, a comunidade e as empresas, buscam aperfeiçoar o uso dos recursos disponíveis, sejam eles de ordem financeira, material ou humana. Para GODARD (1997), a gestão de um sistema tem por objetivo assegurar seu bom funcionamento e seu melhor rendimento, mas também sua perenidade e seu desenvolvimento.

O SGA busca melhorar o desempenho ambiental e a operacionalização de uma organização, levando a empresa a adotar uma postura preventiva ao invés de corretiva. Dessa forma, são evitados os desperdícios, por meio da redução no uso de matéria-prima e da prática de reciclagem dos resíduos. Com essa medida, economizam-se recursos e a própria produção de resíduos, reduzindo os impactos ao

meio ambiente (SOUZA, 2006). Nesse sentido, a gestão da qualidade ambiental depende do conjunto de questões relativas à apreensão da especificidade dos sistemas vivos nos processos de conhecimento e ação.

Inicialmente, deve ser promovido o conhecimento do capital natural, com enfoque patrimonial, no qual o ponto de partida reside no reconhecimento da complexidade, da globalidade, da totalidade e da interatividade que caracterizam os sistemas vivos e a esfera humana. De acordo com OLLAGNON (1997), essa realidade faz com que sejam consideradas três orientações gerais: a) um enfoque sistêmico; b) o acolhimento a todas as formas de conhecimento; e c) um procedimento centrado num objetivo de ação. Para PURSER (1997), a implantação do SGA deve estar fundamentada e apoiada em três pilares, que garantirão que esta seja viável em seus aspectos econômicos, sociais e ambientais (Figura 25).

FIGURA 25 - Elementos chave do Desenvolvimento Sustentável e suas interconexões. Fonte: ENA (2003).

Considerando a importância no fortalecimento desses três aspectos, a gestão ambiental tende a evoluir do controle centralizado e rígido e do planejamento ineficiente atual, para uma linha de ação que induza a cooperação de um grande número de atores com um comportamento coerente e participativo, contudo, sem a necessidade de constituir uma organização formal (SOUZA, 2006).

Para SACHS (1997), a descentralização oferece importantes espaços de manobra para a implantação de procedimentos de gestão patrimonial, na mediada em que ela amplia a responsabilidade direta dos agentes do setor público sobre aquilo que configura a qualidade cotidiana da vida em suas comunidades, seus estados ou

suas regiões. Para isso, a participação deve ser pensada em todos os seus níveis: a) nos processos de formulação das políticas e nas estratégias de gestão ambiental descentralizada das instituições públicas; e b) nas etapas de implementação dos projetos (CUNHA e COELHO, 2003).

O modelo de gestão das bacias hidrográficas, adotados na legislação brasileira com a criação do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos, pela Lei 9.433/97 (Lei das Águas) e regulada pelo Decreto 2.612/98, é baseado nos pressupostos do co-manejo e da descentralização das tomadas de decisão. A abordagem tradicional sempre foi realizada de forma compartimentada e não integrada. Com o conceito de bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gerenciamento de recursos hídricos, representou um avanço conceitual importante e integrado de ação. Nesse sentido, os comitês de bacia e as agências de água representam (re) arranjos institucionais com o objetivo de conciliar interesse diversos e muitas vezes antagônicos, assim como controlar conflitos e repartir responsabilidades (SILVA, 2002; CUNHA e COELHO, 2003; TUNDISI, 2003).

Desta perspectiva, “a promoção de uma gestão integrada de recursos naturais e do meio ambiente pode nos levar não só ao questionamento de certas modalidades técnicas de exploração, mas também estimular a busca de transformações das condições sociais que cercam seu exercício. A simples gestão de recursos naturais pressupõe certamente que se possam apreender ao mesmo tempo os aspectos técnicos e sócio-institucionais do processo de desenvolvimento” (GODARD, 1997).

Na escala da sociedade, a gestão ambiental aparece como um dos principais componentes da gestão das interações entre sociedade/natureza e de suas transformações reciprocamente impostas ou possíveis numa perspectiva de co- evolução no longo prazo. Portanto, o SGA deve garantir a princípio: a) assegurar sua boa integração ao processo de desenvolvimento econômico; e b) assumir as interações entre recursos e condições de reprodução do meio ambiente, organizando uma articulação satisfatória com a gestão do espaço e aquela relativa aos meios naturais (SOUZA, 2004).

O sucesso dependerá da orientação inicial do SGA que deverá estar de acordo: a) com os interesses sociais representados; b) com os objetivos que estimulam o desenvolvimento sócio-econômico; e c) com os meios e instrumentos que se encontram à disposição dos gestores. Portanto, a gestão ambiental constitui atualmente o centro onde se confrontam e se reencontram os objetivos associados ao desenvolvimento e ao ordenamento, com aqueles direcionados à conservação da natureza ou da qualidade ambiental (SOUZA, 2006).

Para o desenvolvimento do Sistema de Gestão Ambiental, devem ser seguidos os passos constantes na NBR ISO 14.001, que são: o estabelecimento da política

ambiental e o planejamento de sua implantação. Constitui o primeiro passo: a) o comprometimento da alta administração; b) a revisão dos aspectos ambientais envolvidos; e c) a elaboração da política ambiental propriamente dita. Posteriormente, passa-se a fase de planejamento: deve-se orientar pela política ambiental preestabelecida, identificando e avaliando os aspectos ambientais, analisando os requisitos legais, os critérios internos de desempenho e definindo os objetivos e metas ambientais a serem alcançados (NARDELLI e GRIFFITH, 2000).

Percebe-se, entretanto, que a expressão Desenvolvimento Sustentável tem causado controvérsias e gerado polêmica. Afinal, refere-se a um novo modelo de pensamento que visualiza um mundo diferente daquele em que atualmente se vive. O novo modelo, chamado de visão holística, concebe o mundo como um todo integrado, em uma rede de fenômenos interconectados e interdependentes, e não uma superposição de partes dissociadas.

As tendências que apontam para a integração e autodepuração estão presentes em todos os sistemas vivos: caso se dê ênfase a uma em detrimento da outra, gera o desequilíbrio. Os valores atuais e futuros deverão ter uma visão ecocêntrica, reconhecendo a importância inerente da vida em qualquer forma que se adote, posto que todos os seres vivos são membros de comunidades ecológicas ligadas em uma rede de interdependência.

No cenário desenhado pelas mudanças climáticas o ambiente natural foi severamente degradado e visualiza-se a escassez dos recursos naturais, posto serem escassos e limitados. Há de se considerar que a tecnologia atingiu o cotidiano de praticamente toda a população; contudo, verifica-se fortemente, ainda, o atraso sócio- econômico e cultural. Na verdade, os problemas trazidos para o século XXI não podem ser entendidos isoladamente, porque também são sistêmicos, interligados e interdependentes. De fato, a escassez dos recursos e a degradação ambiental se combinam com populações em rápida expansão e sem planejamento. A crença no progresso ilimitado via crescimento econômico e tecnológico se mostraram insustentáveis.

Dessa forma, a tão discutida retomada do crescimento, intensamente discutida nos dias atuais, não é suficiente para a solução dos diversos problemas e não é a melhor alternativa para se chegar ao Desenvolvimento Sustentável. É necessário que haja, paralelamente à transformação da estrutura produtiva que garanta a recuperação do dinamismo econômico, políticas que promovam uma maior eqüidade social. Os critérios de eficiência econômica, orientados apenas pelas forças de mercado não são suficientes para reduzirem as desigualdades sociais e regionais, típicas no Brasil, e ao uso racional dos recursos naturais.

Contudo, o que se percebe, é que apesar de terem ocorrido no Brasil alterações significativas no tratamento das questões ambientais, do ponto de vista político, legal e institucional, o mesmo não pode ser dito do ponto de vista econômico, financeiro, científico e tecnológico, cujas questões estruturais impedem a plena concretização de soluções de curto prazo. O que se tem verificado é a expansão de áreas desmatadas em todo o País, o aumento de áreas de pastagens degradadas, o crescimento de áreas contaminadas por agroquímicos, a ausência de saneamento básico, entre outros. Na verdade, discutiram-se nessa seção quais são os principais procedimentos necessários para se atingir o desenvolvimento sustentável, que na prática não vêm sendo praticados em sua forma plena.