• Nenhum resultado encontrado

O funcionamento da Religião e do Templo, e o papel dos sacerdotes, o grande Sinédrio na Palestina no

CAPÍTULO II O Reino de Deus na perspectiva da Palestina no século I, na Época de

1 A situação política da Palestina na época de Jesus, sob dominação romana

1.2 O funcionamento da Religião e do Templo, e o papel dos sacerdotes, o grande Sinédrio na Palestina no

Em relação a religião e o templo na época de Jesus constata-se que o templo era situado em Jerusalém, e era o centro religioso e político de Israel. O que Jesus conheceu era o que Herodes começou a reconstruir no ano 20 aC cujas obras duraram mais ou menos 64 depois de Cristo. O esplendor no tempo de Herodes era extraordinário. Os portões se achavam recobertos de ouro e prata, exceto a porta de Nicanor que era de bronze e corinto e superava em valor as outras portas. Era também de ouro as pontas de agulhas que havia sobre o templo. A Fachada do santuário, que media 27,5 m2, era toda recoberta de placas de ouro, assim como a porta entre o vestíbulo, a primeira câmara do santuário, (o Santo); as placas tinham a espessura de uma moeda. Das vigas do vestíbulo pendiam corrente do mesmo metal. Sobre a entrada que levava do vestíbulo a primeira câmara, estendiam-se a uma vinha de ouro, que aumentava continuamente com as doações de sarmentos de ouro, que os sacerdotes se encarregavam de carregar. Sobre esta entrada, além de outras oferendas muito valiosas, pendia um espelho de ouro que refletia os raios de sol nascente, doado pela rainha Helena de Adiabene. Na primeira câmara que continha singulares obras de artes que estavam o candelabro de sete braços de ouro maciço, de cerca de 70 quilos de ouro e a mesa de Paes da proposição, de ouro e de maior peso ainda. A segunda câmara (o Santíssimo) era igualmente recoberto de ouro.

No templo celebrava-se culto diário, que consistia de dois sacrifícios de animais, o da manhã e o da tarde. Mas os momentos de esplendor e culto eram as grandes festas religiosas e judaicas, especialmente a da Páscoa, Pentecoste e Tendas (ou Tabernáculos), de que todos os Judeus, a partir dos 13 anos, tinham que participar em peregrinação. Nestas ocasiões, Jerusalém que tinham naquela época de 25 a 30 mil habitantes vinha imensamente multiplicada a sua população. (A população judaica da palestina eram de cerca de meio milhão de pessoas.)

O templo se sustentava graças às contribuições dos judeus de todo mundo. Todos os maiores de vinte anos, inclusive os que moravam no estrangeiro, que eram muitos, tinham que pagar o imposto anual equivalente a dois dias de trabalho (Mateus 17,24).73

Na Palestina os estrangeiro quando chega um mês antes da páscoa coloca-se por todo país junto com as mesas dos cobradores e, dez dias depois, se instalavam as mesas no templo.

Em cada localidade haviam pessoas designadas para cobrar impostos do distrito, embora se pudesse manda-lo diretamente ao templo. Se não pudesse pagá-lo em moeda legítima, devia ser pago uma taxa adicional para os cambistas. Para facilitar o transporte dos estrangeiros para Jerusalém, permitia-se trocar a quantia do imposto em moedas de ouro. A entrega se realizava em três ocasiões do ano. O imposto procedente da Palestina, quinze dias antes da festa da Páscoa. Para as comarcas vizinhas, o prazo terminava quinze dias antes da festa de Pentecostes. O imposto das regiões distantes devia ser entregue quinze dias antes da festa das Tendas, que se celebrava em setembro. Para esta última festa acorria para Jerusalém o maior número de estrangeiros e, sob sua proteção, podia se transportar o dinheiro com maior segurança.

O dinheiro do imposto era depositado no templo, nas câmaras do tesouro. Para emprega-lo no culto, era retirado antes de cada uma das três grandes festas. O tesouro recebia, a prata do resgate dos primogênitos e dos votos e promessas, para os quais existia tarifas ou taxa precisa. Para a manutenção dos clérigos havia a necessidade de pagar ao tesouro 10% dos frutos da terra (Mt 23,23). Além disso, o templo recebia donativos (Mc 7,11) e abundantes esmolas, sobre das pessoas ricas (Mc 12,41), e outros dons voluntários que eram aceitos até quando provenientes de não judeus. Outros recursos procediam do comércio organizado de animais destinados aos sacrifícios e da troca de moedas estrangeiras consideradas impuras por trazer a imagem do imperador, pela moeda cunhada no templo (Mc 11,15).

Na reconstrução do templo realizada por Herodes, este havia situado a sala do tesouro junto do chamado pátio das mulheres. Na fachada exterior deste pátio havia trezes mealheiros, em forma de funil, onde os fiéis colocavam suas esmolas obrigatórias e voluntárias. Sete destes mealheiros, onde se lançavam as esmolas obrigatórias possuíam letreiros em aramaicos indicando sua finalidade. Os reis mealheiros traziam a inscrição “A vontade” especificando a intenção. O dinheiro dos sete primeiros mealheiros era empregado pelos sacerdotes, que ofereciam sacrifícios segunda a quantia arredada. Os seis restantes destinavam-se a outros sacrifícios. Outra parte dos fundos custeava diferentes trabalhos de reparação e conservação do templo e da cidade. Comprava-se também vinho, azeite e farinha, que se vendiam, com o lucro para o templo, aos particulares que desejasse em fazer oferendas.

O tesouro do templo funcionava como banco. Nele se depositavam bens de particulares, principalmente da aristocracia de Jerusalém, em especial das altas famílias Sacerdotais. O fundo do templo, unidos as suas propriedades em terrenos e sítios, faziam dele a maior instituição bancária da época. Era por consequente, grande empresa econômica, administrada pelos Sumos-sacerdotes, que não só detinham o poder político e religioso, mas era ao mesmo

tempo potência financeira importante. A cidade de Jerusalém vivia praticamente do templo, que conseguia grandes lucros, principalmente na época de peregrinação, três vezes ao ano, quando acorriam, além dos judeus da Palestina (João 7,9-10), peregrinos dos estrangeiros (João 12,20). Deve ter sido tão grande a riqueza do templo, junto com as famílias Sacerdotais de Jerusalém, que, depois da conquista e destruição da cidade no ano 70 d.C., o preço do ouro baixou para a metade em toda a província romana da Síria.74

Em relação ao templo. Constata-se que a reconstrução de um deles realizada pelo rei Salomão em Jerusalém. Eram encarregados de oferecer os sacrifícios no templo, os sacerdotes e real função deles atender na parte central interna. Cada qual exercia este ministério durante cinco semanas por ano, e no tempo restante exerciam seus ofícios e atuavam como conselheiros no tribunal de sua aldeia quando havia caso a julgar que requeriam a presença do sacerdote.

No templo se considerava principalmente o sistema mácula, ou seja, o puro-impuro, que com todas as consequências que dai se derivavam para vida prática. O culto é em si mesmo, vivenciado no templo com um instrumento ideológico, baseado sobre tudo no puro-impuro, justo-injusto.75

Em relação ao Sacerdote ocorre uma relação com a volta do exílio da Babilônia. A vida e a organização da sociedade judaica foram determinadas por dois grupos de influência: Os Sacerdotes e os Letrados. Muito tempo depois da época helenista predominaram os Sacerdotes, eles organizaram a nova comunidade, e dirigiram tanto nos assuntos espirituais quanto nos materiais. Depois das guerras de independência empreendidas pelos Macabeus, o papel dos Letrados em relação ao povo cresceu enormemente, embora isto não puseste a perda de influência para os sacerdotes, que continuaram dependendo a preminência política e social. A posição privilegiada do sacerdócio decorria de forma um círculo fechado, que possuía com exclusividade o direito de oferecer o sacrifício.

Segundo a lei, somente os descendentes de Aarão podiam oficiar no culto sacrifical do templo (Sacerdócio Hereditário). Além disso, como a vida civil estava ligada em todos os seus aspectos ao culto religioso, aumentava a importância do sacerdócio. A concentração do culto em Jerusalém fez da classe Sacerdotal unidade compacta e estritamente unida. Segundo a concepção tradicional, o sacerdócio, em virtude de suas funções, constituía classe sagrada. É que para preservar sua dignidade, tinha que se ater certas normas; por exemplo, não podiam

74 CAMACHO, Fernando & MATEOS, Juan. Jesus e a sociedade de seu tempo. São Paulo: Paulus, 1992, p.21-

22.

casar-se com mulher solteira que não fosse virgem, nem com divorciada. O Sumo-sacerdote não podia casar-se com mulher viúva.

Pela mesma razão, os sacerdotes tinham que abster-se de todo o contanto com cadáver considerado impuro. Não podiam entrar em casa onde havia defunto nem tomar parte nos funerais. Esta proibição que absoluta para os Sumos-sacerdotes, para os outros era dispensada unicamente em caso de falecimento de parente muito próximo. A santidade sacerdotal incluía, além disso, ausência de todo defeito físico. Se o sacerdote tivesse alguma enfermidade corporal, não podia oficiar, embora continuasse cobrando os emolumentos correspondentes ao seu cargo. Enumeravam-se até cento e quarenta e dois defeitos físicos que desqualificavam para o exercício do Sacerdócio. Para exercer suas funções cultuais tinha que submeter-se a inúmeras normas de pureza ritual, que, não fosse cumprida e incapacitavam de atuar no templo.

O número de sacerdotes eram tão elevados “O clero, sacerdotes e Levitas, eram uns dezoito mil”, que se estabeleceu um sistema de rotatividade para que se tornassem oficial- no templo. O corpo Sacerdotal fora dividido em vinte e quatro turnos. Os Levitas e Clérigos segunda classe eram encarregados das tarefas secundárias: Serviço de polícia e vigilância no recinto do templo, a degolação de animais para sacrifícios e, em geral, ajuda aos Sacerdotes em todas suas funções, tanto no culto quanto na administração dos consideráveis ganhos e propriedades do alto clero. Da mesma forma que os sacerdotes, eles formulavam um círculo estreito baseado na ascendência familiar; supunha-se que fosse descendência de Levi, embora não da família de Aarão. Também eles se achavam divididos em turno de serviços para o culto.76

Em relação ao grande Sinédrio constatar-se que em Jerusalém no século I existia o grande órgão central destinado ao poder teocrático. No ano 57 aC, o cônsul Aulo Gabínio preside o Sinédrio ele dá este nome. A composição do grande Sinédrio, na verdade compunha-se de 71 membros, incluindo o Sumo-sacerdote. Então eram relacionados, o Sumo- sacerdote. Os Anciãos e Senadores, os Escribas, Doutores da Lei ou Letrados.

Os Sumo-Sacerdotes eram os que estavam exercendo a função, e todos que haviam sido Sumo Sacerdotes, sendo eles os vinte e quatros chefes das vinte e quatro seções semanais, e os cento e cinquenta e seis chefes das seções diárias. Em princípios nem todos pertenciam aos Sinédrios, mas tinham acesso a ele, sendo os três tesoureiros, os setes vigias, e o comandante

76 CAMACHO, Fernando & MATEOS, Juan. Jesus e a sociedade de seu tempo. São Paulo: Paulus, 1992, p.23-

do templo. Estes três últimos grupos, junto com o Sumo Sacerdotes em função, formavam uma comissão de doze, que resolviam permanentemente todas as questões, ao passo que o grande conselho só se reunia para resolver questões extraordinárias.

1.3 O funcionamento da pequena burguesia, da polícia na Palestina na época de Jesus, e a situação dos pobres e marginalizados dessa época

Em relação à polícia do templo, era constituída por um grupo de levitas, sobre a ordem do comandante do templo, segundo em autoridade antes do Sumo-sacerdote, sendo eles considerado um instrumento repressivo do estado.77

Na Palestina do século I, havia várias classes dominantes, mas para que isso acontecesse existia dentro desse contexto, um conjunto de classes dominadas, que faziam parte dos discriminados e marginalizados nesse período. O conceito de pobre não é um conceito científico, mas é útil e importante para nossa compreensão, que os pobres são aqueles que padecem com maior rigor a dominação exercida pela aristocracia leiga e sacerdotal. Nesse período, sabe-se que entre os anos 25 – 35 d.C., a Palestina era constituída de um grupo de 500 mil a um milhão de habitantes. Supondo-se que fossem 500 mil, a distribuição seria a seguinte: aristocracia (15 mil – 25 mil), pobres (400 mil), pequena burguesia (75 mil)78.

Os camponeses e familiares eram um grupo que tinham que trabalhar como assalariados nos latifúndios para poderem subsistir. Em relação aos assalariados, era um grupo de operários que não encontrasse trabalho por vários dias seguidos, ou seja, pessoas que ficavam na miséria absoluta, fazendo com que eles diante da desocupação que era frequente devido à cauda da estiagem e da estabilidade política. Outro grupo que estava relacionado à pobreza era o de escravos, pessoas que ainda não fossem abundantes na Palestina fora da corte real, muitas famílias ricas deviam tê-los como domésticos. Os latifundiários e criadores de gado também os usavam, devido a isso era impossível saber o número deles, mesmo aproximadamente.

Em relação aos artesões de aldeia, era um grupo que só fabricava instrumentos agrícolas, móveis e coisas necessárias para o lar. Às vezes a mesma pessoa atuava como carpinteiro, ferreiro, pedreiro, lavrador no campo. Esses artesões cobravam em gêneros, porque nas aldeias quase não circulava dinheiro, já que vendiam poucos produtos agrícolas ou

77 DOMINGUES, José, SÁEZ, Júlia. O Homem de Nazaré, Petrópolis: Vozes, 1987, p.37-41. 78 DOMÍNGUEZ, José & SÁEZ, Juliá. O homem de Nazaré. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 24.

animais; e quando faziam, necessitavam do dinheiro para comprar roupas e outros utensílios domésticos.

Os pescadores eram formados por um grupo que trabalhava organizadamente em cooperativas, empregando vários barcos. Pedro devia ser o chefe de um grupo de pescadores, mas não se consta que houvesse armadores ricos em Tiberíades ainda que fosse possível de acontecer. Em sua maioria, os pescadores eram pessoas que trabalhavam para sua própria subsistência, e eles eram denominados um grupo de pessoas pobres, e por isso era preciso colocar muitos rabinos.

É notório que todas as marginalizações entre os judeus tinham razões religiosas, sobretudo a impureza legal, o que torna as situações, via de regra, irreversíveis. Afirma-se que Jesus como portador da Boa Nova e de esperança para todos, coloca o máximo empenho em deixar bem claro sua posição sobre a marginalização e sobre os marginalizados.

No mundo da marginalização, na época de Jesus, tem lugar importante para as crianças, pois elas também fazem parte do nosso contexto de reflexão sobre os marginalizados na época de Jesus. Não entendemos bem se não examinarmos no contexto familiar senão estudarmos a situação da mulher, se a situação da criança era semelhante à da mulher.

Nota-se que a grande virada realizada por Jesus para anunciar o seu reino, seria de mudar a situação desses pobres e marginalizados que eram excluídos na sociedade da sua época. Antes da prática de Jesus, os pobres eram condenados, eram considerados impuros, pecadores, eram reprovados e por isso não tinham direito de participar do Reino. Com a presença de Jesus, eles se tornaram bem-aventurados; e foram recebidos na comunhão de vida com Deus e convidados a participar na vida do Reino.

2 O funcionamento e a estrutura do Reino de Deus na Palestina no século I, e os