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O pensamento do Reino de Deus na vertente proféticas

CAPÍTULO II O Reino de Deus na perspectiva da Palestina no século I, na Época de

4 Realidade última e a noção de Jesus sobre o Reino de Deus

4.2 O pensamento do Reino de Deus na vertente proféticas

Em relação a vertente proféticas segundo Pagola118 Jesus não se instala em sua casa de Nazaré, mas dirige-se à região do Lago da Galiléia e começa a viver em Cafarnaum, na casa de Simão e André,dois irmãos que conheceu no ambiente do Batista. Cafarnaum era um povoado de 600 a 1.500 habitantes, que se estendia pela margem do lago, no extremo norte da Galiléia, tocando já no território governado por Filipe. Provavelmente Jesus o escolhe como lugar estratégico onde pode desenvolver sua atividade de profeta itinerante. Foi uma escolha acertada, porque Cafarnaum tem boa comunicação tanto com o resto da Galiléia como com o território vizinho: a tetrarquia de Filipe, as cidades fenícias da costa ou da região da Decápole. Jesus provinha do povo, em cuja religião existiam diversas tradições sobre Deus, fazendo que surgissem a tradição Proféticas, onde Deus aparece sendo parcial com os pobres e os desvalido.Deus é aquele que está claramente contra o pecado histórico que cria situação de injustiça,e que quer implantar a justiça aqui na terra,e fazer com que ocorra a conversão interior e pessoal. Suscita a vocação do profeta, de quem exige tudo, inclusive a própria vida, onde o Deus do conflito toma a causa dos oprimidos, e marginalizados.

Jesus tinha seu lugar preferido, ao chegar ao povoado encontra-se com os vizinhos. Percorre-se as ruas como em outros tempos, quando trabalhava como artesão. Aproxima-se das casas desejando a paz às mães e as crianças que se encontram nos pátios e sai ao

117 MOLTMANN, Jürgem, O caminho de Jesus Cristo – Cristologia em Dimensões Mesianicas, São Paulo:

academia Cristã, 2009, p.240.

descampado para falar com os camponeses que trabalhavam na terra. Seu lugar era sem dúvida, a sinagoga ou o espaço onde se reuniam os vizinhos, sobretudo aos sábados. Ali rezavam, cantavam salmos, discutiam os problemas do povoado ou se informavam dos acontecimentos mais importantes da vizinhança. No sábado liam-se e comentavam-se as Escrituras, e orava-se a Deus pedindo a suspirada libertação. Era o melhor contexto para dar a conhecer a Boa Notícia do Reino.

O povo não precisava sair para o deserto a fim de preparar-se para o juízo iminente de Deus. Pois, o próprio Jesus que percorre as aldeias convidando todos a entrar no Reino de Deus que já está irrompendo em suas vidas. Esta mesma terra onde habitam transforma-se agora no novo cenário para acolher os pobres e a salvação. As parábolas e imagens que Jesus tira da vida destas aldeias vêm a ser parábolas de Deus. A cura dos enfermos e a libertação dos endemoninhados são sinal de uma sociedade de homens e mulheres,e por isso são chamados a desfrutar de uma vida digna dos filhos e filhas de Deus. As refeições abertas a todos os vizinhos são símbolos de um povo convidado a tomar parte na grande mesa de Deus, com o pai de todos.

Jesus vê nessas pessoas de aldeia o melhor ponto de partida para iniciar a renovação de todo o povo. Estes camponeses falam aramaico, como Ele, que se conserva de maneira mais autêntica a tradição religiosa de Israel. Nas cidades é diferente. Ao lado do aramaico fala-se também um pouco de grego, uma língua que Jesus não domina; além disso, a cultura helenista está mais presente.

Provavelmente, existe outra razão mais poderosa em seu coração. Nestas aldeias está o povo mais pobre e deserdado, despojado de seu direito a desfrutar da terra doada por Deus; aqui Jesus encontra como em nenhum outro lugar o Israel mais enfermo e maltratado pelos poderosos; é aqui que Israel sofre com mais rigor os efeitos da opressão. Nas cidades, em compensação, vivem os que detêm o poder, junto com seus diferentes colaboradores: dirigentes, grandes latifundiários, arrecadadores de impostos. Eles são os representantes do povo de Deus, mas seus opressores, os causadores da miséria e da fome destas famílias. A implantação do Reino de Deus precisa começar, onde o povo está mais humilhado. Estas pessoas famintas, pobres e aflitas são as ovelhas perdidas, que melhor representam todos os abatidos de Israel. Jesus tem sido muito claro. O Reino de Deus só pode ser anunciado a partir do contato direto e estreito com as pessoas mais necessitadas de alívio e libertação. A Boa Notícia de Deus não pode provir do esplêndido palácio de Antipas em Tiberíades; nem das suntuosas vilas de Séforis nem do luxuoso bairro residencial das elites sacerdotais de Jerusalém. A semente do Reino só pode encontrar terra boa entre os pobres da Galiléia.

A vida itinerante e profética de Jesus no meio deles é símbolo vivo de sua liberdade e de sua fé no Reino de Deus. Ele não vive do trabalho remunerado; não possui casa nem terra alguma. Não precisa responder diante de nenhum arrecadador;não leva consigo moeda alguma com a imagem de Cesar. Abandonou a segurança do sistema para entrar confiantemente no Reino de Deus. Por outro lado, sua vida itinerante a serviço dos pobres deixa claro que o Reino de Deus não tem um centro de poder a partir do qual deva ser controlado. Não é como Império, governado por Tibério a partir de Roma, nem como o tetrarquia da Galiléia, regida por Antipas a partir de Tiberíades, nem como religião judaica, vigiada a partir do templo de Jerusalém pelas elites sacerdotais. O Reino de Deus vai se gestando ali onde ocorrem coisas boas para os pobres, e necessitados.119

Jesus tinha consciência de ser profeta. Entendeu a sua missão dentro das categorias da religião de Israel e identificou-se com os profetas. Entre Ele e os profetas do Antigo Testamento, embora havendo diferenças, as semelhanças eram grandes, que Ele atribuiu a si próprio o titulo de profeta- do mesmo modo que lhe foi atribuído pelo povo.

Jesus sabia que tinha sido enviado pelo Pai como profeta. No povo de Israel, os profetas eram uma categoria bem conhecida e bem definida. Como profeta podia ser reconhecido e identificado pelo seu povo. Sem essa identificação, Ele não teria sido nada.

Jesus estava em continuidade com os profetas de Israel. Não somente era profeta semelhante a eles, mas realizou o modelo, o exemplo perfeito de profeta. Desse modo, como preparações do papel profético de Jesus. Nessa condição, Jesus inaugurou um novo jeito de ser profeta- que passa a ser modelo desde então e que perdura até os dias atuais. Jesus está no centro da história do profetismo. Ninguém foi igual a Ele, mas todos se referiram ou se referirão como profeta.120

A perspectiva profética, mas a apocalíptica não se explica toda a pregação e ação de Jesus, simplesmente porque, se a apocalíptica anuncia o Reino como mundo futuro, Jesus aponta o presente, e o possível agora. A perspectiva, pois, não é apenas cosmológica. Jesus não apenas aponta para a destruição desse mundo como condição para a chegada do novo, Ele fala mesmo em conversão, transformação. Aponta para uma mudança no mundo e não apenas uma mudança de mundo. Há um outro elemento no pensamento de Jesus que precisa ser

119 PAGOLA, José Antonio, Jesus aproximação histórica, Petrópolis: Vozes, 2011, p.114. 120 COBLIM, José, A profecia na Igreja, São Paulo: Paulus, 2008, p.53.

detectado para que a sua apresentação sobre o Reino de Deus seja mais claramente compreendida. A Ele chamaremos de perspectiva profética.121