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Futuro do Mestrado Profissional da área de Administração, Ciências Contábeis e

4.2 Panorama dos Mestrados Profissionais em Administração, Ciências Contábeis e

4.2.2 Futuro do Mestrado Profissional da área de Administração, Ciências Contábeis e

O ambiente em que os MPAs se encontram pode ser considerado instável. Mesmo com o incentivo atual da CAPES à modalidade, é preciso reconhecer que o tema não é unanimidade entre os tomadores de decisão e, conforme a opinião do Especialista 06, é presente a

possibilidade de a modalidade ser colocada em xeque. Por isso, foi considerada relevante uma reflexão sobre os próximos passos do MPA no Brasil por parte dos participantes da pesquisa. Entre convergências e divergências, alguns elementos emergiram de forma consistente e são destacados e discutidos.

As principais discussões sobre o futuro do MPA estão relacionadas à avaliação, principalmente quanto à valorização da questão técnica e tecnológica, e dos padrões que são direcionados a partir dela. Essa questão é representada, em partes, pelo protocolo batizado pelos entrevistados como Qualis Tecnológico, cuja proposição foi realizada à CAPES por parte de um dos especialistas. Embora pareça haver ressalvas da instituição reguladora em adotar esse nome, algumas das proposições feitas no ano de 2012 passaram a ser consideradas e devem exercer influência significativa em uma versão mais elaborada e personalizada da ficha de avaliação.

A avaliação exerce um papel considerável na consolidação da identidade dos programas e é um fator determinante na busca pelo que se entende por qualidade do curso. Os aspectos identitários são compostos pela proposta do programa, pelos currículos formal e oculto, pelas competências buscadas aos egressos, pelo modelo de pesquisa adotado e muitos outros elementos, dos quais alguns são genuínos e outros ficam limitados a aspectos formais, discursos e registros documentais. Neste contexto, alguns programas exercem a função de desbravadores e criam seus próprios modelo a respeito do que entendem ser adequado, enquanto outros os seguem e buscam alinhar-se ao padrão estabelecido, revelando o isomorfismo da pós-graduação brasileira, apontado pelo Especialista 01.

No entanto, embora existam programas que tomem a frente no desenvolvimento da identidade do MPA, a percepção do Especialista 12 é crítica em relação ao panorama atual e futuro da modalidade. Segundo o entrevistado, “A estupidez impera no Brasil de hoje. Ou a ignorância. Ou a falta de coragem. Ou a facilidade mesmo que é reproduzir cópias” (Esp.12). Aproveita-se pouco a possibilidade de se inovar em termos sistêmicos nos programas e cursos, não se discute efetivamente com a sociedade que tipos de mestres ela precisa e não se regionaliza a demanda (Esp.12). A situação também parece ser alarmante também quando se trata da produção final do curso. Para o especialista, ainda não há um entendimento – nem mesmo a busca genuína – sobre o que pode ser tal produção. Perde-se muito, por exemplo, por falta de criatividade, ousadia e entendimento de que há uma possibilidade de se fazer algo com impacto, inovador e realmente útil à sociedade (Esp.12).

Em relação ao futuro, o especialista demonstra uma visão crítica, condicionando mudanças relevantes à abertura de visão dos envolvidos, para que se desprenda do isomorfismo

e da cópia de padrões, sejam eles advindos dos modelos acadêmicos, de outros países ou dos próprios exemplos internos. “Enquanto isso não ocorrer e todos docentes ficarem na mesmice, nada vai mudar. Vai ser sempre cópia do mesmo, pobreza de produção, e uma tristeza de ver uma massa crítica ser formada com menor poder potencial de transformação da sociedade do que deveria! ” (Esp.12). O entrevistado destaca, entretanto, que existem ‘sopros de mudanças’, mas ainda isolados em alguma disciplina, não no curso e seu projeto, não nos trabalhos finais e nos seus corpos de orientadores, como uma diretriz pré-pensada.

As possibilidades a respeito do que deveria ser e o que é o MPA impactam na percepção da qualidade do curso. Esse talvez seja o item que está mais ligado a fatores que transcendem o órgão regulamentador. A demanda pelos cursos vai além e é diferente dos critérios adotados pela CAPES para classificar um programa como excelente. Embora o Especialista 11 reconheça que os alunos e futuros alunos hoje procuram saber a classificação dos cursos e os motivos para que a avaliação de 1 a 5 tenha sido atribuída, os Especialistas 02, 08 e 10 destacam que os critérios têm pouca relação com qualidade percebida pelos clientes dos cursos. O Especialista 08 entende que a dependência dos mestrados em arrecadar e sobreviver pode representar um desafio com o aumento de cursos e concorrência. “Você convencer o sujeito de que teu projeto é melhor, eu acho muito complicado. Se a gente facilitar o povo vai fazer algo mais fácil sem cientificidade” (Esp.08).

A dimensão da qualidade parece, portanto, estar intimamente ligada à decisão do que será incentivado pelo órgão regulador. Para o Especialista 06, há uma ponderação a ser feita: “Você pode até fazer em quantidade, mas quanto mais quantidade, a probabilidade de você manter qualidade reduz”. A partir dessas duas escolhas, de qual caminho a área vai preferir induzir, via regulação, é o que vai definir o futuro do programa nesta dimensão. Ainda existe, na perspectiva do especialista, grande distância até se definir com clareza o que se pode chamar de ‘bicho do mestrado profissional’. O Especialista 04 vê essa questão como relevante e vislumbra como um próximo passo ao MPA desenredar-se do rótulo de ‘mestrado de segunda categoria’, de um curso em que o aluno diz: “eu paguei, paguei caro. Haja o que houver, eu quero o meu diploma” (Esp.04). Esse desvencilhar depende fortemente da definição daquilo que se espera de um mestrado profissional, das entregas e impactos esperados dele, aspectos direcionados pela avaliação.

A avaliação, a identidade, a definição dos critérios de qualidade são relevantes elementos na construção do futuro do MPA. Entre as projeções a respeito dos próximos passos, um assunto recorrente foi a respeito de sua evolução natural culminando na criação de um doutorado profissional no país. A questão da reflexão da pós-graduação na área da

Administração surge aqui como um fator considerado relevante pelo Especialista 11, que se questiona: “A gente nem definiu para nós mesmos no território acadêmico os critérios de avaliação de jornais acadêmicos nossos. Qual é o critério? É impacto, é citação, é nacional, é internacional? ” E a partir dessa indefinição, compartilha suas dúvidas a respeito do que se faria num doutorado profissional no Brasil. Os entrevistados 01, 02 e 05 veem esse passo como inevitável nos próximos anos, reconhecendo que o desenvolvimento vai depender da definição de critérios claros para a modalidade profissional, característica que depende tanto do regulador quanto da própria área em se mobilizar e realizar proposições consistentes.

Ainda quanto ao futuro dos programas, o Especialista 07 vê a modalidade acadêmica de mestrado em extinção. Para ele, os alunos com propensão à pesquisa vão ser preparados para o doutorado e a tendência é que os cursos de mestrado sejam em sua maioria de modalidade profissional. Essa visão está de acordo com a afirmação de Almeida (2010), no documento que integra o PNPG 2011-2020. Nesse sentido, o Especialista 05 vê que os cursos de mestrado acadêmico têm sentido a diminuição da busca por parte de candidatos. Tal questão envolve aspectos como o aumento de oferta programas de pós-graduação no Brasil e questões logísticas do cotidiano, pois muitos mestrados profissionais são cursados em períodos mais flexíveis, como nos finais de semana, com periodicidade quinzenal e/ou à noite.

A disponibilidade dos alunos em cursar a pós-graduação é um fator contextual que pode influenciar a questão da diferenciação entre Mestrados Profissionais e Acadêmicos. Sobre o contexto atual e futuro, o Especialista 03 recorre ao pesquisador Stephen Fox e aos seus cinco elementos determinantes para a emergência da aprendizagem gerencial na Inglaterra e seleciona algumas dessas características como aderentes ao contexto brasileiro. A primeira questão trata da valorização cada vez maior de profissionais bem preparados academicamente, o conhecimento visto como o motor do desenvolvimento profissional. Além disso, para os próximos anos o especialista vislumbra novos formatos de cursos, o movimento da competência, e a talvez uma mudança na cultura de formação, como aconteceu no Reino Unido. Além disso, o entrevistado pensa que “. . . daqui a cinco anos as organizações vão valorizar não só mestres, mas também doutores, para trabalhar em cargos executivos. Isso penso ser uma tendência no Brasil, como o desenvolvimento tardio que tivemos também acontecerá na educação gerencial”.

Os especialistas demonstram visões particulares sobre o futuro da modalidade profissional de pós-graduação na área de Administração, Ciências Contábeis e Turismo. Das categorias que emergiram na fala dos mesmos a respeito do futuro, foram selecionados quatro pontos sobre os quais a maioria dos entrevistados se posicionou, embora não tenham sido

necessariamente questionados diretamente sobre o tema. A Tabela 17 exibe, em um formato de matriz a condensação dos dados a respeito dos temas, a partir da visão de cada especialista.

Tabela 17: Visão dos especialistas a respeito dos próximos passos para o desenvolvimento do MPA

Especialista

Próximos passos para o desenvolvimento do MPA Avaliação/ Qualis

Tecnológico (QT) Profissional Doutorado Qualidade do MPA Identidade

Esp.01 Participou da elaboração e proposição de protocolo que ofereceu subsídios para o QT em 2012. Já está se tornando realidade, com esse ou outro nome. É o próximo passo na pós- graduação profissional. Basta a CAPES querer. E ela quer.

É avaliada por meio de diversas ferramentas,

assim como pelo acompanhamento do

egresso. Deve gerar contribuição. Precisa focar em contribuir com a realidade. Esp.02 É o próximo passo dos MPAs. Mas a CAPES precisa dar

um tratamento por áreas aos MPs Se o mestrado profissional for caracterizado devidamente, vai surgir. Prazo mínimo de 5 anos

Passa diretamente por dois fatores: qualidade da aula e qualidade da orientação. Visualiza uma verdadeira distinção entre o mestrado acadêmico e o mestrado profissional Esp.03 Gerar transformação para as organizações. Dependência em relação aos atores desse

processo (reguladores, professor, coordenador e a instituição) Formador e transformador. Um modelo integrado (profissional e acadêmico) e com vocação clara. Esp.04 Vê como um processo lento. Mas

que passo a passo será alcançado.

Deve qualificar a mão de obra, criar conhecimento e ser reconhecido por isso

pela CAPES.

Vê a qualificação no sentido de não ser um

mestrado de segunda categoria. Esp.05 É um processo com algumas evoluções. Participa e fomenta discussões para contribuir nesse sentido.

Vai ser criado, assim que a área defina claramente

como avaliar e o que avaliar.

Pesquisas aplicadas e holísticas, que integrem

o conhecimento experiencial do aluno. Os programas devem investir na aprendizagem experiencial. Esp.06 Está trabalhando ativamente nisso. Muitos desafios em desenvolver uma metodologia que consiga discriminar os esforços e os resultados. A qualidade parte de uma proposta consistente. Além disso, é preciso que o MPA não se torne um

‘MBA de luxo’.

É importante que cada programa encontre e fortaleça

Esp.07

Flexibilizar e customizar melhor os programas. Pode haver

uma fase inicial padronizada, mas é urgente a customização. Visão ampla, curricular Esp.08 Melhoria na avaliação proporcionada pela periodicidade quadrienal. Manter cientificidade e ser atrativo aos alunos.

Idoneidade acadêmica e visão

intervencionista. Manter um MPA que

não se torne MBA. Avaliação quadrienal

pode auxiliar a focar nas propostas.

Esp.09

Representa um grande desafio, mas já houve crescimento. O QT está em vias de

acontecer.

Uso da experiência dos alunos no processo de ensino e intervenção na

realidade.

Os MPAs estão tomando corpo e vão

contribuir com a extensão das universidades. Esp.10 Espera estabelecer em breve critérios para avaliação da dissertação, do estudo de caso e da intervenção. Quer criar um DBA, mas ainda

falta firmar medida de qualidade do

MPA.

Expansão dos métodos ativos de aprendizagem e blended learning; O

MPA pode ser uma grande peça para ligar a

academia à prática.

Deixar de lado o estigma de mestrado

de segunda linha.

Esp.11

Há busca por definir critérios para o MPA.

Haverá avaliação mais séria dos trabalhos técnicos

Não tem opinião formada. Nem

mesmo o doutorado acadêmico na área

tem muita clareza

Valorizar a academia aproximando método científico e a sociedade Risco de desvalorização dos professores acadêmicos e valorização apenas dos profissionais Esp.12 A definição pouco clara sobre o trabalho

final faz com que os stakeholders sejam mal orientados, isso afeta o produto e o

processo.

Deve haver diálogo intenso, sobretudo entre as disciplinas, que não deveriam ser

estanques e sim ter uma conexão clara

Notas: Os espaços em branco representam elementos sobre os quais a opinião do entrevistado não foi direta ou clara.

Desenvolvido a partir da condensação dos dados coletados na primeira etapa da pesquisa.

Assim, é possível verificar entre convergências e divergências que o caminho da qualificação técnica e tecnológica da área já começou a ser traçado e tal responsabilidade divide-se entre os componentes da área e o órgão regulamentador. Quanto à identidade e ao doutorado profissional, a responsabilidade também é compartilhada, mas enseja conscientização, mobilização da área e pensamento inovador. Juntam-se a essas questões elementos políticos e de poder, uma vez que dado o impacto na área, o lançamento de um

doutorado profissional provavelmente será feito por uma instituição que tenha uma representação consistente nos meios regulamentadores, cursos de excelência e reconhecimento dentro da própria área.

Outros aspectos estão sendo delineados nos cursos de Mestrados Profissionais da área e devem estar presentes nas discussões durante os próximos passos, como o financiamento, os formatos e conteúdos dos Relatos Técnicos, as abordagens metodológicas ao trabalho final do curso, a relação entre a proposta dos cursos e seus impactos na carreira dos egressos, assim como inúmeros elementos que formam esse contexto peculiar que é o mestrado profissional. Muitos cursos têm demonstrado inovações em suas práticas, quando comparados à maioria seguidora e isomórfica. Algumas dessas inovações são exibidas a seguir.

4.2.3 Inovações organizacionais nos Mestrados Profissionais da área de Administração,