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Modelo pedagógico e as Arquiteturas Pedagógicas

2.2 Modelos Pedagógicos e Arquiteturas Pedagógicas Inovadoras em uma Sociedade do

2.2.2 Modelo pedagógico e as Arquiteturas Pedagógicas

Ao estudar a pós-graduação stricto sensu nas áreas de negócios, Dickie e Jay (2010) apontam que a crescente pressão para reestruturar e reformar o ensino superior está incentivando professores universitários a “usar práticas inovadoras que ajudam os alunos a desenvolver as habilidades que favorecem a empregabilidade” exigida no contexto hodierno (Dickie & Jay, 2010, p. 29, tradução livre).

No caso brasileiro, os programas de Mestrado Profissional em Administração (MPA) são espaços em que existem significativas oportunidades de desenvolvimento da capacidade de inovar e de acompanhar as mudanças tecnológicas. Esta é uma empreitada em que o docente é um stakeholder2 estratégico, mas que encontra diversos desafios em implementar inovações e renovar práticas. Por isso, considera-se neste trabalho que o estudo das Arquiteturas Pedagógicas Inovadoras pode propiciar a clarificação do modelo pedagógico do professor, assim como representar oportunidade e recursos para que este promova o aprendizado e o desenvolvimento de competências exigidas no contexto da sociedade do conhecimento.

Cabe ressaltar que os Mestrados Profissionais em Administração nasceram com o intuito de atender a necessidades de formação às quais as modalidades acadêmicas não estavam voltadas (Ruas, 2003). Considerando as mudanças do mundo moderno, a demanda de competências como a criatividade, a colaboração e a inovação, assim como a emergência dos Programas de Mestrado Profissional em Administração e a necessidade de associar a reflexão crítica e teórica à prática cotidiana, discute-se sobre os modelos de ensino e aprendizagem praticados nestes programas. Embora a modalidade profissional seja objeto de discussão, os modelos de ensino e aprendizagem nestes cursos permanecem pouco estudados ou explorados. Conhecer e compreender as APs de um Mestrado Profissional em Administração, assim como gerar subsídios para atuar sobre elas, constitui por si só um desafio considerável ao docente e aos gestores dos programas.

2 Trata-se de um grupo ou indivíduo que pode afetar ou é afetado pela realização dos objetivos da organização. Para mais informações sobre o conceito, ler Freeman, R. E. (2010) Strategic management: A stakeholder approach. Cambridge, England: Cambridge University Press.

Para que se propicie ao docente ser um ‘catalisador’ das mudanças necessárias, é preciso ir além da análise de metodologias de aprendizagem, compreendendo o que é necessário para a geração de uma “. . . estrutura que favoreça as aprendizagens e as trocas, bem como a participação dos alunos” (Schneider, 2007, p. 114). Este olhar pode ser realizado por meio de diversas abordagens, das quais Behar (2011) destaca o modelo pedagógico.

A palavra ‘modelo’ refere-se a uma imagem ou representação de uma determinada realidade do conjunto de relações que definem um fenômeno. “Trata-se, assim, de uma interpretação manifestada de forma explícita, descritiva ou ilustrativa sobre uma determinada situação” (Bernardi, 2011, p. 51). É possível dizer que cada modelo tem a sua própria expressão dentro de cada paradigma e se diferencia pelos objetivos pretendidos, pelo ambiente e pelos resultados esperados que levam a diferenciar as estratégias utilizadas. O conceito de modelo surge, portanto, como uma tentativa de estabelecer uma relação com a realidade, por analogia. O modelo é um sistema figurativo que reproduz a realidade de uma forma mais abstrata, quase esquematicamente e é usado como referência (Behar, 2009).

Como o foco deste trabalho é a educação, o modelo tratado e discutido aqui é denominado Modelo Pedagógico e tem suas raízes nas teorias de aprendizagem, conforme estudos desenvolvidos por Behar (2009; 2011) e Dabbagh e Bannan-Ritland (2005). O modelo é construído a partir de perspectivas paradigmáticas educacionais, que constituem um sistema de referência que explica um fenômeno educacional determinado. Dessa maneira, aqui se entende que “Modelos Pedagógicos representam uma relação ensino/aprendizagem, apoiados por teorias de aprendizagem cujas bases estão em diferentes campos epistemológicos. Tudo isso aponta para um paradigma determinado” (Behar, 2011, p. 18, tradução livre).

O modelo pedagógico é concebido como um construto teórico que tem seu fundamento em princípios científicos e ideológicos que tornam possível a interpretação, o desenho e o alinhamento da proposta pedagógica. O modelo pedagógico pode, dessa maneira, ser compreendido como instrumento de investigação de natureza teórica, construído para representar no sentido idealizado pelo docente, o processo de ensino e aprendizagem (Ortiz, 2005; 2009). É possível entender que “. . . a construção do modelo pedagógico fornece o embasamento das diretrizes do planejamento por parte do professor. Estas, por sua vez, irão subsidiar a reflexão sobre os papéis a serem desempenhados pelos atores do processo de ensino aprendizagem” (Bernardi, 2011, p. 51).

O modelo pedagógico é relevante no estudo do ensino e da aprendizagem porque consiste em um “sistema de premissas teóricas que representam, explicam e orientam a forma como o currículo é abordado e que se consolida nas práticas pedagógicas e nas interações entre

professor, aluno, objeto de estudo e conhecimento” (Behar, 2011, p. 18, tradução livre). Qualquer modelo construído é nomeado a partir de uma teoria (Piagetiana, Rogeriana, Vygostskiana, Skinneriana, etc) ou de um paradigma (interacionista, humanista, instrucionista, etc.). No entanto, esta terminologia pode não corresponder à epistemologia que o suporta, contrariando as teorias mencionadas (Zabala & Rosa, 1998). Entende-se, portanto, que um modelo pedagógico pode ser baseado em uma ou mais teorias de aprendizagem, sendo híbridos em sua essência e nem sempre construídos somente a partir de uma determinada abordagem ou teoria de aprendizagem.

É possível visualizar o modelo de maneira multidimensional a partir de dois elementos articulados: 1) a Arquitetura Pedagógica (AP); e, 2) as estratégias de aplicação da AP, conforme a Figura 1 a seguir:

Figura 1: Elementos de um modelo pedagógico

Figura 1. Modelo pedagógico composto por Arquitetura Pedagógica, seus elementos componentes, e a estratégia de aplicação.

Modelo proposto por Behar (2009).

A partir da análise da estrutura das Arquiteturas Pedagógicas (APs), é possível estudar não apenas as modalidades de ensino e aprendizagem, mas outros aspectos relevantes do modelo pedagógico. Também é possível realizar a análise de cursos presenciais e a distância, do ensino básico à pós-graduação. Algumas das fontes dos modelos pedagógicos utilizadas neste estudo foram desenvolvidas com foco nas peculiaridades de modelos semipresenciais e a distância. Essa escolha se dá porque estas perspectivas conseguem, consideradas as devidas características, analisar modelos de ensino e aprendizagem presenciais, enquanto o inverso pode ser mais desafiador. Além disso, preza-se pela atualidade do construto teórico em relação

ao contexto, uma vez que iniciativas de programas de pós-graduação stricto sensu a distância já são realidade no Brasil (Pardim, 2011) e, embora estejam em fase inicial, é importante que as APs consigam englobar suas características.

Conforme a visão de Behar (2009; 2011), a AP é composta por:

a) Aspectos organizacionais: bases para o planejamento ou proposta pedagógica, objetivos do ensino e do processo de aprendizagem, organização de espaço e o tempo e as expectativas em relação ao desempenho dos participantes;

b) Conteúdo: o que é trabalhado no processo de ensino e aprendizagem;

c) Aspectos metodológicos: atividades, formas de comunicação e interação, procedimentos de avaliação e organização de todos esses elementos em uma sequência didática para a aprendizagem;

d) Aspectos tecnológicos: tecnologias adotadas para apoiar o processo de ensino- aprendizagem como um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), ferramentas da web, vídeos entre outros.

Além dos quatro aspectos da Arquitetura Pedagógica, um importante elemento do modelo consiste nas estratégias de aplicação das APs no contexto em que o docente atua. Behar (2011) pontua que a aplicação é um ato didático que aponta à articulação e ao ajuste de uma arquitetura para uma situação de aprendizagem determinada (turma, curso, aula), ou seja, as estratégias de aplicação das APs representam a maneira como o professor irá colocar em prática a proposta do modelo pedagógico pessoal que estabeleceu para um determinado contexto ou realidade.

É importante considerar o aspecto das relações entre os elementos componentes do modelo pedagógico. O estilo pessoal do professor, assim como suas concepções e crenças a respeito do processo de ensino influenciam o modo como ele planeja e utiliza as Arquiteturas Pedagógicas no cotidiano. O inverso também pode ser verdadeiro, ainda que em diferente intensidade, ou seja, os elementos da AP também podem influenciar a concepção do modelo pedagógico ou das estratégias de sua implementação.

A partir da verificação das estruturas das APs é possível que se identifiquem e descrevam os elementos que compõem o modelo pedagógico pessoal do docente. A ‘leitura’ e conhecimento das características do modelo adotado pelo professor são relevantes por permitir que ele próprio enxergue se sua proposta educacional é coesa e harmônica. Ressalta-se que visualizar a própria proposta pedagógica é um desafio para o qual muitos docentes não estão preparados e que, este conhecimento por si só, não implica em uma nova postura educacional

frente às mudanças causadas pela sociedade do conhecimento. A nova postura educacional pode ser alcançada a partir da adoção de modelo pedagógico orientado a propiciar Arquiteturas Pedagógicas Inovadoras (APIs), conceito que é tratado e desenvolvido a seguir.