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Gênero Homepage

No documento Karlene do Socorro da Rocha Campos (páginas 82-88)

Capítulo 2 Gênero textual digital homepage e educação online

2.4 Gênero Homepage

Na seção 2.1 deste capítulo, mencionamos a dificuldade de definir se um gênero que emerge no contexto digital é, realmente, um gênero novo, em razão da natureza fluida da Web. Assim, deparamo-nos com variadas visões sobre a constituição desses gêneros, as quais levam alguns autores a considerarem determinados exemplares de textos um gênero textual e outros a enxergarem-nos como um veículo. A homepage pode inserir-se nessa problemática e suscitar relevantes discussões sobre a sua natureza: alguns podem considerá-la um veículo; outros, um gênero.

Com Askehave e Nielsen (2004), defendemos que a homepage é um gênero que surgiu com o advento da Internet e que não tem similaridade com outro gênero fora dela. Trata-se, então, do primeiro texto produzido nesse ambiente a adquirir status de gênero, já que a sua forma e seu conteúdo são convencionalizados. Essa convencionalização decorre, em primeiro lugar, do fato de os webdesigners, ao

construírem “sua própria homepage, de forma consciente, adotaram outras homepages como modelo. Em segundo lugar, esses mesmos designers passaram a se utilizar de livros e cursos disponíveis no mercado sobre a construção de homepages” (BEZERRA, 2007, p. 115).

Em outras palavras, a homepage é um gênero nativo da Web que alcançou o status de gênero no momento em que foi possível estabelecer recorrências nas produções textuais dos usuários, em prol do alcance do propósito comunicativo de introduzir o conteúdo de um site. Ela consiste em um gênero introdutório, que introduz a leitura dos gêneros que apresenta. A expressão gênero introdutório foi utilizada por Bhatia (2004) para designar gêneros que introduzem uma obra acadêmica, como prefácio, prólogo e apresentação. A homepage consiste na porta de entrada oficial do site (ASKEHAVE; NIELSEN, 2004) e possibilita ao usuário acessar um determinado conteúdo.

Com base em Askehave e Nielsen, enfatizamos que, embora a homepage seja um gênero novo, ela traz características de gêneros mais antigos, como o exórdio – um gênero da Retórica Clássica que tinha como função indicar o conteúdo e a estrutura de uma apresentação oral, promovendo o falante. Outro gênero que se parece com a homepage é a página inicial do jornal, que introduz e destaca o conteúdo nele apresentado. Mas, apesar das semelhanças com outros gêneros existentes fora da rede, a homepage não consiste na versão digital desses gêneros, já que, conforme assinalamos, o meio em que é produzida e consumida confere-lhe propriedades singulares.

Como sabemos, a homepage é de natureza hipertextual, constituindo-se de textos encadeados por links, gerando dois modos já mencionados: o de leitura e o de navegação. Assim, esse gênero apresenta dois propósitos comunicativos: introduzir o conteúdo geral do site (no modo de leitura) e permitir ao usuário o acesso a esses conteúdos (no modo de navegação). Todavia, no modo de leitura, o gênero pode apresentar ainda outros propósitos, implícitos ou explícitos, entre eles a criação ou consolidação da imagem do responsável pelo site e a apresentação de notícias.

Em relação aos movimentos retóricos que constituem a homepage no modo de leitura, Askehave e Nielsen (2004) destacam os seguintes32:

• atrair a atenção – cujo objetivo é chamar a atenção do leitor para as informações dispostas na homepage;

• saudação – que tem como finalidade dar boas-vindas ao leitor;

• identificação do proprietário – que orienta o leitor sobre o responsável pela homepage, procurando consolidar a sua imagem;

• indicação do conteúdo – que diz respeito ao menu principal, orientando o usuário para o conteúdo da homepage;

• detalhamento do conteúdo – que traz informação detalhada sobre determinados tópicos abordados na página;

• estabelecimento de credenciais – que visa a estabelecer uma imagem confiável do responsável pela homepage;

• estabelecimento de contato – que permite ao leitor contatar o dono do site; • estabelecimento de uma comunidade discursiva – que leva os usuários a

criarem “uma relação de pertencimento com o website, geralmente através de uma identificação e senha para login” (BEZERRA, 2007, p. 121);

• apresentação de propagandas – que promovem produtos e marcas externas, geralmente por meio de anúncios em forma de banners.

Conforme já observamos, no modo de navegação de qualquer gênero digital, o propósito comunicativo não é realizado por movimentos, mas sim por links, que relacionam os diversos textos que compõem sua natureza hipertextual. De acordo com Askehave e Nielsen (2004), eles relacionam um texto A (nó) a um texto B (âncora), estabelecendo uma relação de sentido entre eles. Nessa perspectiva, o texto A é o link, que, como vimos, pode ser genérico ou específico.

Os links genéricos posicionam-se em destaque na homepage, funcionando como uma barra de navegação, e são meramente descritivos, apresentando-se em forma de expressões nominais. Eles não apresentam conteúdo e são preenchidos pelo texto ao qual remetem (texto B), como exemplificado nas Figuras 2 e 3.

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Embora partam da perspectiva de Swales, as autoras consideram a natureza funcional e não formal dos movimentos, por isso não os apresentam enumerados assim como Swales o faz.

Texto A

Figura 2 – Texto A – link genérico (nó)

Fonte: http://iogurte.danone.com.br/. Acesso em 10/07/13

Texto B

Figura 3 – Texto B (âncora) decorrente de texto A – link genérico

Fonte: http://iogurte.danone.com.br/. Acesso em 10/07/13

As duas porções textuais A e B acima formam, de acordo com Askehave e Nielsen (2004), uma sequência descritiva explorativa, em que o texto A (Receita) é a tematização, já que informa ao leitor sobre o assunto tratado, e o texto B (as receitas

apresentadas) é a aspectualização, uma vez que explicita as receitas que compõem o tópico.

O texto B é introduzido pela mensagem Receitas rápidas e deliciosas que podem ser preparadas com o iogurte Danone que você mais gosta e é composto por diversas fotografias que ilustram um prato pronto, cada uma acompanhada de um texto escrito.

Por se tratar de um hipertexto, ao clicarmos em uma das receitas apresentadas no texto B, somos levados a outra página, conforme demonstrado nas Figuras 4 e 5:

Texto A

Figura 4 – Parte de texto B (âncora) que se transforma em texto A (nó)

Fonte: http://iogurte.danone.com.br/. Acesso em 10/07/13 Texto B

Figura 5 – Texto B decorrente de texto A (antes texto B)

Juntos, os textos A e B constituem uma sequência descritiva expositiva, em que o texto A consiste em uma introdução do objeto “receita” e o texto B constitui os procedimentos/passos a serem observados para sua elaboração (tempo de preparo, ingredientes, modo de preparo). Assim, uma parte do texto B (uma das receitas apresentadas) é, agora, um texto A, que introduz um outro texto B.

Como vimos na seção 2.3, os links específicos têm informações que antecipam o conteúdo do texto B. Ao contrário dos links genéricos, que se apresentam apenas em sequências descritivas, eles podem apresentar-se em sequências descritivas, narrativas, explicativas, argumentativas ou dialogais.

As Figuras 6 e 7, apresentadas adiante, constituem uma sequência narrativa. Nesse caso, o texto A (Figura 6) convida o leitor para conhecer a história da Empresa Danone, sugerindo que ele clique no link para ver como começou a história da companhia. O texto B (Figura 7), por sua vez, apresenta essa história, em uma enumeração de eventos e ações disposta em uma linha do tempo. Em cada período clicado, o leitor encontra informações sobre ações realizadas pela Danone. A sequência não traz em si uma trama narrativa, porém, conforme já explicou Adam (2011 [2005]), as narrativas podem apresentar um baixo grau de narratividade e, sendo assim, nem sempre se constroem em uma trama complexa, que busca restaurar um equilíbrio apresentado em uma situação inicial transformada por uma série de ações.

Texto A

Figura 6 – Texto A – link específico (nó)

Texto B

Figura 7 – Texto B (âncora) decorrente de Texto A – link específico

Fonte: http://iogurte.danone.com.br/. Acesso em 10/07/13

O gênero homepage será analisado, neste trabalho, no contexto da educação online a distância. Nesse viés, importa-nos conhecer aspectos dessa modalidade, que vem crescendo vertiginosamente no cenário educacional brasileiro, gerando novos desafios, demandas e perspectivas. Destacamos a importância do design instrucional, principalmente no que se refere ao planejamento e à implementação de atividades pedagógicas no ambiente virtual, que interferem de maneira positiva ou negativa no envolvimento do aprendiz com as práticas educacionais.

No documento Karlene do Socorro da Rocha Campos (páginas 82-88)