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Gênero e propósito comunicativo

No documento Karlene do Socorro da Rocha Campos (páginas 43-52)

Capítulo 1 Gênero textual na concepção sociorretórica

1.4 Gênero e propósito comunicativo

Com Askehave (ASKEHAVE; SWALES, 2009 [2001]), Swales defende uma abordagem de gênero que privilegia a análise voltada para a compreensão das práticas sociais que determinam as escolhas linguísticas na produção textual. Os autores enfatizam que um texto não deve ser examinado apenas com base em seus aspectos linguísticos, pois, para melhor compreendê-lo, é preciso estudá-lo em seu contexto, observando o perfil dos participantes da cena comunicativa, suas intenções, suas representações de mundo.

Em considerações anteriores, Swales já havia destacado a importância de aspectos sociais, culturais e históricos na constituição de um gênero textual: em Genre analysis – English in academic and research settings (SWALES, 1990), observa que o próprio termo gênero precisa ser esclarecido, por se tratar de um conceito vago, normalmente aplicado como uma fórmula pronta na produção de textos. Para conceber uma definição mais consistente de gênero, parte da perspectiva teórica do Folclore, da Literatura, da Linguística e da Retórica.

Do Folclore, ele destaca o esforço dos estudiosos para formular uma classificação de gêneros que permita o reconhecimento de tipos de texto: uma história pode ser um mito, uma lenda, um conto. No entanto, observa que tal classificação abarca apenas tipos ideais, deixando de levar em conta os textos reais, que podem não coincidir com tais tipos ideais. Mas também ressalta que, nessa área, há uma abordagem que destaca que a forma permanente do gênero pode sofrer transformações, dependendo de fatores sociais, e outra, por fim, que salienta que os gêneros são de natureza sociocultural, haja vista que atendem às necessidades e expectativas sociais dos grupos que os utilizam.

De acordo com Hemais e Biasi-Rodrigues (2007 [2005], p. 111),

as lições que Swales tira dos folcloristas são:

(a) classificar os gêneros pode ter alguma utilidade em termos de oferecer uma tipologia;

(b) uma comunidade percebe e entende os gêneros textuais como meios para alguma finalidade;

(c) a percepção que a comunidade tem sobre como interpretar um texto é muito valiosa para o analista de gênero.

Da Literatura, Swales (1990) ressalta a preocupação de teóricos em evidenciar a não estabilidade que caracteriza a forma dos gêneros textuais, já que as convenções são quebradas pelos autores para assegurar a originalidade em seus textos. Ele destaca, portanto, as variações que podem ocorrer em gêneros da mesma natureza e as ideologias que os permeiam, decorrentes da força dos traços individuais na produção textual. Mas isso não quer dizer que tais variações levem à deformação ou ao desaparecimento de um gênero, pois, com base nos estudos de Todorov17, Swales (1990, p. 36) observa que, “por um lado, a transgressão, para existir, requer normas que possam ser transgredidas. Por outro, as normas somente ganham visibilidade e vitalidade quando são transgredidas”. Swales também enfatiza, nesse campo, para a importância do papel do autor e da sociedade na produção textual, entre outros aspectos.

Da Linguística, o autor ressalta a posição dos teóricos que seguem a linha etnográfica e sistêmica, como, por exemplo, Saville-Troike18, que defende a ideia de gênero como evento comunicativo tipificado (piada, aula, bula de remédio etc.), e

17

TODOROV, T. The origin of genres. New Literary History, 8: 159-170, 1976.

18

Halliday19, que, por meio da Linguística Sistêmico-funcional, explica as relações entre registro e gênero. Conforme explicam Hemais e Biasi-Rodrigues (2007 [2005], p. 112), Saville-Troike procura compreender como os gêneros são tipificados e Halliday destaca que o registro se funde de algum modo com o gênero, entretanto tem suas especificidades e consiste em “uma variação na linguagem, em que grupos de traços linguísticos são correlacionados com traços recorrentes em determinadas situações”.

Da Retórica, o teórico depreende a classificação dos tipos de discurso (expressivo, persuasivo, literário e referencial) para postular que um gênero apresenta um tipo predominante de discurso, dependendo do aspecto em que se concentra: por exemplo, se estiver centrado no autor, apresentará um discurso predominantemente expressivo; se estiver centrado no receptor, apresentará um discurso predominantemente persuasivo. Porém, observa que essa classificação pode ter falhas e ressalta que o contexto discursivo deve ser considerado. Ele remete aos estudos de Miller (2009a [1984]) de gênero como ação social e ratifica que o conhecimento dos gêneros pelos usuários auxilia-os a realizar escolhas mais adequadas ao alcance de suas intenções.

Tendo em vista os ensinamentos propiciados por esses quatro campos do conhecimento, Swales (1990, p. 58) define gênero como

uma classe de eventos comunicativos, cujos exemplares compartilham os mesmos propósitos comunicativos. Esses propósitos são reconhecidos pelos membros mais experientes da comunidade discursiva de origem e constituem a base para o gênero. Essa base molda a estrutura esquemática do discurso e influencia e delimita as escolha de conteúdo e de estilo.

Tal definição salienta o propósito comunicativo compartilhado pelos membros de uma comunidade discursiva como elemento principal para a constituição de um gênero. Os outros traços constituintes, – estrutura, conteúdo e estilo – apesar de serem importantes, estão subordinados ao propósito e, sendo assim, se ele for alterado, o gênero também será outro. Nas palavras de Swales (1990, p. 58),

O propósito comunicativo é um critério privilegiado que faz com que o escopo do gênero se concentre em uma ação retórica compatível com o gênero. Além do propósito, os exemplares do gênero demonstram padrões de similaridade, mas variáveis em termos de estrutura, estilo, conteúdo e público-alvo. Se forem

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realizadas todas as expectativas em relação ao que é altamente provável para o gênero, o exemplar será visto como um protótipo pela comunidade discursiva de origem.

Entretanto, em trabalho posterior publicado com Askehave (ASKEHAVE; SWALES, 2009 [2001]), Swales revê sua afirmação de que o propósito comunicativo é o elemento-chave na constituição de um gênero. Os autores concluem que, por ser menos visível que a forma de um gênero, o propósito não pode ser um critério básico para defini-lo e, além disso, enfatizam que membros mais experientes, em uma comunidade, nem sempre concordam quanto ao propósito de um gênero. Assim, embora reconheçam que o propósito comunicativo seja um conceito central que deva ser destacado nos estudos sobre gêneros textuais, eles postulam que esse aspecto

não pode, por si mesmo, ajudar os analistas a decidirem rápida, tranquila e indiscutivelmente quais dentre os textos A, B, C e D pertencem ao gênero X ou Y, pois esses analistas dificilmente saberão, de saída, quais são realmente os propósitos comunicativos daqueles textos. Antes, o que é imediatamente manifesto ao analista de gênero não é o propósito, e sim a forma e o conteúdo. Além disso, mesmo que um texto se refira ao propósito comunicativo, de forma explícita e evidente, como em ‘o propósito dessa carta é informar que sua conta excedeu o limite de crédito’, diríamos que é temerário interpretar sempre tais enunciados do modo como se apresentam (ASKEHAVE; SWALES, 2009 [2001], p. 228).

Para os autores, o elemento prioritário na definição do gênero é o contexto (os participantes, o lugar e o tempo em que ocorre a comunicação, entre outros fatores), juntamente com elementos linguísticos que compõem o texto. Entretanto, outros aspectos apresentados anteriormente por Swales (1990) também são importantes para caracterizar um gênero e por isso são valiosos para o analista:

• um gênero consiste em uma classe de eventos comunicativos – ele engloba em si uma classe de eventos comunicativos constituídos de discurso, participantes, função do discurso e ambiente em que se produz o discurso;

• tais eventos compartilham um propósito comunicativo – um gênero tem a função de realizar um objetivo (ou objetivos) e esses se articulam a um propósito comunicativo ou a um conjunto de propósitos comunicativos; • um gênero se constitui de um conjunto de exemplares prototípicos – um

gênero só é considerado como tal se apresentar exemplares com traços recorrentes;

• ao gênero subjaz uma razão, uma lógica – que consiste em um conjunto de convenções esperadas diante de um determinado propósito comunicativo;

• um gênero apresenta uma terminologia característica elaborada pela comunidade discursiva que o utiliza – esses termos indicam como os membros mais experientes da comunidade compreendem a ação retórica presente no gênero.

Na última característica mencionada, evidencia-se a importância da noção de comunidade discursiva. Segundo Swales (1990), a comunidade discursiva refere- se a um agrupamento de pessoas que operam com um determinado gênero na esfera cotidiana, acadêmica ou profissional e, desse modo, conhecem bem as convenções que o definem. E é esse conhecimento que lhes permite atuar de forma análoga em situações recorrentes.

O autor aponta para seis características que definem uma comunidade discursiva:

1. apresenta um conjunto de objetivos públicos comuns, compartilhados pelos membros da comunidade.

2. tem mecanismos de intercomunicação entre seus membros.

3. faz uso de mecanismos próprios de participação principalmente para prover informação e feedback.

4. utiliza e, então, possui um ou mais gêneros para a realização comunicativa de seus objetivos.

5. possui um léxico específico, além dos próprios gêneros;

6. tem membros com grau de conhecimento relevante e competência discursiva. (SWALES, 1990, p. 24-27)

Em 1992, porém, ele reconhece que o conceito e os critérios definidores de comunidade discursiva apresentam alguns problemas e, por esse motivo, foram bastante criticados. Entre as críticas, está o fato de o teórico delinear a comunidade discursiva como algo pronto, acabado, que, portanto, não admite o aparecimento de novos gêneros ou novo léxico, por exemplo. De fato, em 1990, o conceito de comunidade remete a “grupos estáveis de pessoas com posições consensuais” e descarta as possíveis tensões existentes em comunidades (SWALES, 2009 [1992], p. 207).

Para torná-lo menos utópico, reducionista e estático, Swales (2009 [1992], p. 207), então, propõe a revisão do conceito e aponta para critérios mais precisos (ele altera

cinco dos seis critérios anteriores), que auxiliam na identificação e compreensão de uma comunidade discursiva. Para ele, uma comunidade:

1. possui um conjunto perceptível de objetivos. Esses objetivos podem ser formulados pública e explicitamente e também podem ser, no todo ou em parte, aceitos pelos membros; podem ser consensuais ou podem ser distintos, mas relacionados (velha e nova guardas; pesquisadores e clínicos [...]);

2. possui mecanismos de intercomunicação entre seus membros (não houve mudança neste ponto; sem mecanismos, não há comunidade);

3. usa mecanismos de participação para uma série de propósitos: para prover o incremento da informação e do feedback; para canalizar a inovação; para manter os sistemas de crenças e de valores da comunidade e para aumentar seu espaço profissional [...];

4. utiliza uma seleção crescente de gêneros para alcançar seu conjunto de objetivos e para praticar seus mecanismos participativos. Eles frequentemente formam conjuntos ou séries (Bazerman);

5. já adquiriu e ainda continua buscando uma terminologia específica;

6. possui uma estrutura hierárquica explícita ou implícita que orienta os processos de admissão e de progresso dentro dela.

Em 1993, o autor afasta a ideia de comunidade discursiva como sendo demográfica e geograficamente situada. Fundamentado na teoria de estruturação de Giddens20 e nos estudos de Miller21 sobre comunidade retórica, concebe comunidade discursiva como um construto retórico, constituída por suas características de ações retóricas conjuntas e seus gêneros de interação e de agir sobre o mundo. Para ele, “uma comunidade retórica constitui-se pela instanciação e pelo engajamento e não pela associação e coletividade”22 (SWALES, 1993, p. 696).

Em 1998, com base em estudos de Killingsworth e Gilbertson23, Swales (1998) rediscute o conceito de comunidade discursiva, destacando a sua natureza vaga, e, para ilustrar sua abrangência, questiona se uma universidade pode ser uma comunidade discursiva ou se essa noção deve se referir a uma faculdade, um departamento ou, ainda, a um grupo específico dentro de um departamento. Além disso, ele assinala que nem todos os discursos são específicos de uma determinada comunidade discursiva e, por fim, observa que o fato de um grupo de pessoas

20

GIDDENS, A. Central problems in social theory: action, structure and contradiction in social analysis. London: Macmillan, 1979.

21

MILLER, C. R. Rhetorical community: the cultural basis of genre. Paper presented at Re-thinking Genre Seminar. Carleton University, Ottawa, April/1992.

22

Tendo em vista as observações de Swales, empregamos, neste trabalho, comunidade discursiva como sinônimo de comunidade retórica.

23

KILLINGSWORTH, M. J.; GILBERTSON, M. K. Signs, genres and communities in technical communication. Amityville: Baywood, 1992.

compartilhar o mesmo tópico de interesse não faz dele uma comunidade discursiva, uma vez que esse tópico pode ser considerado de perspectivas variadas e relacionado a propósitos diferentes.

Swales reconhece também a existência de uma comunidade discursiva global e uma comunidade discursiva local. Nesse prisma, enquanto a comunidade discursiva global consiste em um grupo de pessoas que compartilham variados tipos de ação e discurso, sem importar o lugar onde estão e as pessoas com quem trabalham, a comunidade discursiva local consiste em um grupo de indivíduos que trabalham juntos e compartilham ações e discursos.

Dessas reflexões, o autor propõe a noção de comunidade discursiva de lugar, que diz respeito a um conjunto de pessoas que trabalham juntas de forma regular e que compartilham, de maneira estável – mas sempre em evolução – dos objetivos do grupo. Nessa visão, a comunidade estabelece acordos em relação aos papéis designados pelos membros do grupo, ao vocabulário utilizado nas relações interpessoais, aos valores e ritmos de trabalhos, à sua história e às suas tradições.

Até aqui, apresentamos a concepção teórica de Swales para o estudo de gêneros textuais. Na sequência, tratamos do modelo CARS (Create a Research Space), proposto por ele inicialmente para a análise de introduções de artigos de pesquisa.

O interesse de Swales por uma abordagem de gênero que lhe permitisse caracterizar traços convencionais em um gênero com base em fatores socioculturais e históricos leva-o a criar, em 198124, um modelo para analisar a organização retórica da informação em introduções de artigos de pesquisa em diversas áreas do conhecimento. Ele observa que as introduções se assemelham na forma de organizar a informação e, então, concebe um modelo de análise com base nos movimentos retóricos (moves) recorrentes, que expressam tal organização. Segundo o teórico, em cada um dos movimentos expressa-se um propósito comunicativo do autor do texto, que, para alcançá-lo, segue alguns passos (steps), estratégicos. Mas esses propósitos devem ser estreitamente articulados ao propósito comunicativo do gênero. Conforme enfatiza Bhatia (1993, p. 30),

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SWALES, J. M. Aspects of article introductions. Burmingham/UK: The University of Aston, Language Studies Unid, 1981.

assim como cada gênero tem um propósito comunicativo ao qual tende a servir, de forma similar cada movimento traz em si uma intenção que é sempre subserviente ao propósito comunicativo global do gênero. Para realizar uma intenção comunicativa particular em cada movimento, o escritor pode utilizar diversas estratégias retóricas.

Os movimentos referem-se a um trecho de discurso, que pode englobar uma ou mais sentenças, desde que apresente uma função comunicativa específica. Trata- se, em outras palavras, das informações recorrentes em um gênero. Os passos, por sua vez, são unidades discursivas menores, que consistem em estratégias retóricas utilizadas na realização dos movimentos. Um texto apresenta, então, um conjunto de movimentos e estratégias retóricas que, articulados, constituem a estrutura da informação (MOTTA-ROTH, 1995).

O modelo de Swales para análise de introduções de artigos de pesquisa, de 1981, apresenta-se da seguinte maneira (Quadro 1):

Quadro 1 – Modelo precedente do CARS de 1981

MOVIMENTO 1 – ESTABELECENDO O CAMPO DE PESQUISA

(a) Afirmando a centralidade do tópico (b) Expondo o conhecimento corrente (c) Designando características-chave

ou ou

MOVIMENTO 2 – RESUMINDO PESQUISAS ANTERIORES

(a) Usando forte orientação ao autor (b) Usando fraca orientação ao autor (c) Usando orientação ao objeto (assunto)

e/ou e/ou

MOVIMENTO 3 – PREPARANDO A PRESENTE PESQUISA

(a) Indicando lacunas (em pesquisas anteriores) (b) Levantando questões (sobre pesquisas anteriores) (c) Ampliando uma descoberta

ou ou

MOVIMENTO 4 – INTRODUZINDO A PRESENTE PESQUISA

(a) Apresentando o objetivo

(b) Delineando a presente pesquisa

Fonte: Bhatia (1993, p. 30-31)

Preocupado em determinar a organização retórica de introduções de artigos de pesquisa, Swales pensou em um modelo de análise constituído de movimentos retóricos recorrentes no gênero, capazes de traduzir sua estrutura de composição. Nessa ótica, uma introdução de artigo é composta de quatro movimentos, cuja existência permite reconhecer sua forma esquematizada, convencionalizada por seus usuários, que fazem parte de uma determinada comunidade discursiva.

Em 1990, Swales batiza o modelo de Modelo CARS e o reduz a três movimentos, em razão de alguns pesquisadores terem se deparado com dificuldades em sua

operacionalização, como, por exemplo, para separar o movimento 1 do movimento 2 (SWALES, 1990). O modelo, nesse momento, configura-se desta forma (Quadro 2):

Quadro 2 – Modelo CARS de 1990

MOVIMENTO 1 – ESTABELECENDO O TERRITÓRIO

Passo 1 – Demonstrando a importância da pesquisa Passo 2 – Fazendo generalização do tópico

Passo 3 – Revisando itens de pesquisas anteriores

e/ou e/ou

Diminuir o esforço retórico

MOVIMENTO 2 – ESTABELECENDO O NICHO

Passo 1A – Apresentando contra-argumentações Passo 1B – Indicando lacuna

Passo 1C – Provocando questionamento Passo 1D – Continuando a tradição

ou ou ou Enfraquecer possíveis questionamentos

MOVIMENTO 3 – OCUPANDO O NICHO

Passo 1A – Delineando os objetivos Passo 1B – Apresentando a pesquisa atual Passo 2 – Apresentando as principais descobertas Passo 3 – Indicando a estrutura do artigo

ou

Explicitar o trabalho Fonte: Swales (1990, p. 141)

Como podemos verificar, cada movimento tem um propósito comunicativo, concretizado por meio das estratégias retóricas traduzidas nos passos apresentados. Swales (1990) observa que os movimentos e os passos nem sempre ocorrem na ordem em que aparecem no modelo apresentado. Ele também assinala que nem todos os passos são obrigatórios e observa que tal variação não desconfigura um gênero, em razão de sua estabilidade relativa: trata-se de um evento comunicativo que sofre influências do contexto em que se realiza.

Em 1994, o modelo CARS é novamente reduzido e assume esta configuração (Quadro 3):

Quadro 3 – Modelo CARS de 1994

MOVIMENTO 1 – ESTABELECENDO O TERRITÓRIO

a. Demonstrando a importância da pesquisa (opcional) b. Revisando itens de pesquisas anteriores (obrigatório)

MOVIMENTO 2 – ESTABELECENDO O NICHO

a. Indicando lacuna em pesquisas anteriores, apresentando questionamentos ou ampliando informações (obrigatório)

MOVIMENTO 3 – OCUPANDO O NICHO

a. Delineando os objetivos ou apresentar estado da pesquisa atual (obrigatório) b. Apresentando as principais descobertas (opcional)

c. Indicando a estrutura do artigo (opcional)

Verificamos poucas modificações no modelo de 1994 em relação ao modelo de 1990, embora os passos para realização de cada movimento tenham sido reduzidos para facilitar o ensino e a aprendizagem da produção textual (ARANHA, 2005).

A análise de introduções de artigos acadêmicos por meio da identificação de movimentos retóricos que as constituem gerou um grande avanço na análise de gêneros, já que é possível adaptar o modelo à análise de gêneros não acadêmicos25. Contudo, Bhatia (1993) chama a atenção para o fato de que, embora o modelo seja aplicável a uma variedade significativa de gêneros, isso não quer dizer que ele sempre será aplicável de forma idêntica a textos pertencentes ao mesmo gênero, uma vez que os textos também refletem as intenções particulares de seus usuários.

Desse modo, uma introdução de livro, por exemplo, pode divulgar seu conteúdo, promover seus autores, demonstrar a importância dos assuntos tratados a uma determinada audiência, entre outras possibilidades. Por conseguinte, os movimentos retóricos serão diferentes, dependendo do propósito que a introdução apresentar. Nas palavras de Bhatia (1993, p. 16), “cada gênero é uma instância de comunicação bem-sucedida de um propósito específico em que se utiliza um conhecimento convencionalizado dos recursos linguísticos e discursivos”. O modelo CARS, dessa maneira, traduz-se em uma estrutura esquemática convencionalizada e padronizada por uma comunidade.

Bhatia (1993) sustenta-se nos estudos de Swales (1990) e atribui relevo à ideia de que os gêneros são convencionalizado em contextos sociais e definem-se pelo conjunto de convenções estabelecidas por seus usuários. Enfoca, principalmente, a natureza pragmática dos gêneros textuais.

No documento Karlene do Socorro da Rocha Campos (páginas 43-52)