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Capítulo 3 Metolodogia

3.2 Metodologia

Esta pesquisa é de natureza qualitativa, cujo método se volta para a natureza subjetiva do objeto de estudo do campo das Ciências Sociais, no qual se inserem as áreas de Linguística e Educação (MOITA LOPES, 1996; TRIVIÑOS, 1987). Enfocamos, essencialmente, a produção e o uso da linguagem, embasando-nos na perspectiva dos usuários produtores e consumidores de um gênero textual em um dado contexto social.

Embora nossa pesquisa seja de teor qualitativo, valemo-nos também de dados quantitativos. Atribuímos às estratégias qualitativas e quantitativas o mesmo grau de importância, pois os dois tipos de dados que elas geram relacionam-se de modo estreito, em uma relação lógica de interdependência: os quantitativos servem na interpretação dos qualitativos e, por outro lado, os qualitativos auxiliam na atribuição de significado aos quantitativos. Corroborando essa prática, Flick (2004 [2002], p. 175) afirma que a articulação entre estratégias qualitativas e quantitativas está cristalizada e “pode ser orientada no sentido de transformar dados qualitativos em quantitativos e vice-versa”. Com o autor, compreendemos que tais estratégias são complementares e não competitivas.

O autor assinala que a produção de pesquisas de abordagem qualitativa é muito frequente no universo das Ciências Sociais, e essa frequência explica-se pelas

constantes transformações sociais que marcam a sociedade contemporânea e geram a necessidade de os pesquisadores ampliarem seus métodos de investigação. Segundo ele,

a mudança social acelerada e a consequente diversificação de esferas de vida fazem com que os pesquisadores sociais se defrontem, cada vez mais, com novos contextos e perspectivas sociais; situações tão novas para eles que suas metodologias dedutivas tradicionais – questões e hipóteses de pesquisa derivadas de modelos teóricos e testados sobre a evidência empírica – fracassam na diferenciação de objetos (FLICK, 2004 [2002], p. 18).

Pesquisas qualitativas são, em essência, descritivas (TRIVIÑOS, 1987). E a descrição, nesse caso, não considera os fatos de forma isolada; o pesquisador descreve-os em seu contexto, reconhecendo a relação dialética que os articula. Segundo Triviños (1987, p. 129), o ato de descrever, nesse universo, visa a captar “não só a aparência do fenômeno como também sua essência, e as causas de sua existência, procurando explicar sua origem, suas relações, suas mudanças e se esforça por intuir as consequências que terão para a vida humana”.

Esse viés enfoca a realidade social de uma perspectiva dialética porque parte da necessidade de conhecer a realidade por meio de percepções, reflexões e intuições, com vistas a transformá-la em processos contextuais dinâmicos e complexos. Valemo-nos desse enfoque para compreender e analisar as homepages das disciplinas do curso Matemática – Licenciatura – Modalidade a distância.

Em razão de sua natureza subjetiva, a pesquisa qualitativa não apresenta validade absoluta, mas isso não significa que não seja confiável. Flick (2004 [2002], p. 28) observa que sua confiabilidade reside na escolha adequada de métodos e teorias, no reconhecimento e na análise de variadas perspectivas, na consistência das reflexões dos pesquisadores, que, aliás, fazem parte do processo de produção de conhecimento nesse tipo de abordagem investigativa. Ele reforça que a pesquisa qualitativa “é orientada para a análise de casos concretos em sua particularidade temporal e local, partindo das expressões e atividades das pessoas em seus contextos locais”.

Nossa pesquisa consiste em um estudo de caso: um tipo de pesquisa qualitativa voltado para o estudo e a análise de um fenômeno em uma unidade social (MARTINS, 2008 [2006]; TRIVIÑOS, 1987). Yin (2005 [2003], p. 32) explica que o

estudo de caso é uma investigação empírica, cujo enfoque é um fenômeno contemporâneo inserido em contexto real, realizada, especialmente, quando “os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. Em outras palavras, o pesquisador pode valer-se desse tipo de pesquisa quando observar que condições contextuais se entrelaçam com o fenômeno estudado.

Entre as vantagens para realização de um estudo de caso, com base em Nunan (1997 [1992]), chamamos a atenção para as seguintes:

• é muito ligado à realidade e, portanto, propicia recursos para profissionais, que serão capazes de identificar-se com as questões e preocupações levantadas;

• permite a formulação de generalizações com base em um contexto particular, as quais podem ser ponto de partida para o estudo de outros casos;

• representa múltiplos pontos de vista sobre um fenômeno, possibilitando interpretações alternativas;

• gera uma base de dados que poderão ser reinterpretados por pesquisadores;

• apresenta resultados que servem a diversos propósitos, entre eles feedback em processos de ensino e aprendizagem, avaliação formativa, desenvolvimento de pessoal (staff), entre outros;

• apresenta dados mais acessíveis do que os encontrados em pesquisas convencionais e, portanto, são capazes de servir a diversos públicos.

Em razão da subjetividade que permeia o estudo de caso, dois pontos de vista divergentes são observados em relação à sua validade e confiabilidade. No primeiro, defende-se que a validade interna da pesquisa é importante, mas que sua validade externa pode ser irrelevante. Já no segundo, defende-se que a construção da validade e da confiabilidade é especialmente problemática, em razão, principalmente, de falhas no estudo, que podem inviabilizar o desenvolvimento de um conjunto operacional de medidas que possam ser testadas em outros casos e, ainda, em razão da subjetividade que permeia a coleta de dados (NUNAN, 1997 [1992]).

Yin (1984) compartilha deste último ponto de vista, afirmando que entre as principais críticas a esse tipo de pesquisa estão a falta de rigor no estabelecimento de variáveis adequadas ao estudo do fenômeno; a influência do pesquisador, que pode prejudicar a análise com falsas evidências ou visões muito subjetivas, e o fato de que os resultados alcançados não se repetem em outros contextos.

O estudo de caso é, para nós, potencialmente adequado em pesquisas nas áreas da Linguística e da Educação, visto que os fenômenos investigados nesses campos são parte do mundo real, no qual estão refletidas as condições do contexto em que esses fenômenos se inserem, tais como papéis desempenhados pelos sujeitos, suas crenças, seus valores, suas concepções sobre o fenômeno estudado, entre outras. Nessa ótica, ao estudarmos um caso específico em seu contexto, temos maior chance de compreender sua natureza e suas possíveis implicações na vida dos sujeitos envolvidos na situação. Mas reconhecemos que, por conta de sua natureza subjetiva, o pesquisador deve adotar alguns cuidados para não comprometer a credibilidade do trabalho, entre eles a seleção rigorosa de teorias que auxiliem na compreensão do fenômeno estudado; a descrição detalhada do contexto da investigação; a definição precisa de procedimentos de análise.

Norteamo-nos pelas diretrizes metodológicas apresentadas por Bazerman (2009a [2004]) e pelos passos metodológicos apontados por Bhatia (1993), detalhados, respectivamente, nas seções 1.3 e 1.5 do capítulo 1 deste trabalho.

Com base nas diretrizes de Bazerman, adotamos os seguintes procedimentos metodológicos:

• enquadramento rigoroso dos propósitos da pesquisa – procuramos compreender por que selecionamos nosso tema de estudo e formulamos o problema de pesquisa com base em nosso interesse em aprofundar conhecimentos sobre as possíveis contribuições dos estudos de gêneros textuais para elaboração de designs instrucionais eficientes. Para tanto, estabelecemos as perguntas que norteiam o alcance de nossos objetivos, bem como formulamos uma hipótese, que decorrem de nossa experiência como designer instrucional de disciplinas semipresenciais;

• definição do corpus – procuramos delimitar com clareza os textos que iríamos examinar, de modo que fossem extensos o suficiente para a produção de dados significativos para a pesquisa;

• seleção dos instrumentos e das categorias de análise apropriados para o exame ao qual a investigação se propõe.

Os passos de Bhatia, por sua vez, levaram-nos a adotar estes procedimentos:

• pesquisa, na literatura existente, de tópicos a serem considerados na análise do gênero;

• inserção do gênero em um contexto situacional;

• refinamento da análise contextual, definindo com clareza o contexto do gênero com seus usuários e identificando a relação existente entre o gênero e a realidade que o circula;

• observação de traços linguísticos distintivos relevantes para os objetivos da pesquisa.

No documento Karlene do Socorro da Rocha Campos (páginas 101-105)