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Modo de navegação

No documento Karlene do Socorro da Rocha Campos (páginas 73-82)

Capítulo 2 Gênero textual digital homepage e educação online

2.3 Modelo de análise bidimensional de gêneros digitais

2.3.2 Modo de navegação

Askehave e Nielsen (2004) explicam que o propósito comunicativo no modo de navegação será sempre o mesmo, independentemente do gênero analisado: proporcionar acesso a páginas e sites na Internet. Os links, dessa forma, funcionam como meios de transporte, permitindo ao usuário do gênero mover-se de um local virtual a outro.

b) Links

As autoras enfatizam que, no modo de navegação, o propósito comunicativo realiza- se por meio de links relacionados em uma estrutura hipertextual na Web. Conforme mencionamos, uma vez que esses elementos são propriedades inerentes ao meio virtual e não se referem a um gênero específico, seu valor funcional é organizar as informações no site, relacionando um texto A (nó) a um texto B (âncora), estabelecendo relações de sentido entre eles. Nesse prisma, Askehave e Nielsen (2004) propõem uma tipologia funcional de links (descritivos, argumentativos, explicativos etc.), com base na tipologia sequencial de textos proposta por Jean- Michel Adam31.

Para Adam (2011 [2005]), os tipos textuais são unidades constituídas de sequências estruturadas em uma rede relacional semântica. Por serem autônomas, elas podem ser decompostas e analisadas, caracterizando-se por desempenharem funções pragmáticas de descrever, narrar, argumentar, explicar, dialogar. O autor afirma que um texto pode ser constituído por diferentes sequências, dependendo das necessidades do locutor ao expressar suas intenções comunicativas. E assinala:

as sequências são unidades textuais complexas, compostas de um número limitado de conjuntos de proposições-enunciados: as macroproposições. A macroproposição é uma espécie de período cuja propriedade principal é a de ser uma unidade ligada a outras macroproposições, ocupando posições precisas dentro do todo ordenado da sequência. Cada macroproposição adquire seu sentido em relação às outras, na unidade hierárquica complexa da sequência (ADAM, 2011 [2005], p. 205).

O teórico privilegia as relações que se estabelecem entre as partes de uma sequência, procurando compreender como essas articulações contribuem para a expressão de sentido, garantindo a continuidade textual. Segundo ele, as sequências são “memorizadas por impregnação cultural (pela leitura, escuta e produção de textos) e transformadas em esquema de reconhecimento e de estruturação da informação”. Tendo em vista sua função pragmática, elas podem ser narrativas, argumentativas, explicativas, dialogais e descritivas (ADAM, 2011 [2005]).

31

Askehave e Nielsen (2004) fundamentam-se no trabalho do autor publicado em 1992: ADAM, J. M. Les textes, types et prototypes: récit, description, argumentation, explication et dialogue. Paris: Nathan, 1992. Para melhor compreendermos a proposta das autoras, valemo-nos de trabalho publicado em 2005: ADAM, J. M. Períodos e sequências: unidades composicionais de base. In: Linguística textual: introdução à análise textual dos discursos. São Paulo: Cortez, 2011 [2005]. Neste último, Adam faz uma revisão parcial do modelo de tipologias de sequências, principalmente no que se refere à sequência descrição (cf. ADAM, 2011 [2005], p. 205).

Com base no trabalho de Adam publicado em 1992, Askehave e Nielsen (2004) explicam que a sequência descritiva se classifica em explorativa e expositiva. A descrição explorativa tem como função descrever um objeto, uma pessoa ou um evento, destacando suas propriedades e partes constituintes, e configura-se por duas macro-operações: tematização e aspectualização. A tematização ancora o tópico do texto e informa o leitor sobre o assunto tratado e a aspectualização explicita as propriedades e partes desse tópico. Ampliando essa classificação de descrição explorativa, Adam (2011 [2005], p. 218-225) explica que nela encontramos quatro macro-operações que agrupam nove operações descritivas, conforme demonstrado a seguir.

Operações de tematização

Trata-se da principal macro-operação, uma vez que é a responsável por atribuir unidade a um segmento. Na construção do sentido textual, ela ocorre de três maneiras:

• pré-tematização ou ancoragem – que consiste em uma denominação do objeto descrito, anunciando uma totalidade. Esse é o caso em:

[8] Belém. A cidade das mangueiras,

em que “Belém” é o pré-tema, já que, logo no início da sequência, o leitor tem a noção do “todo” descrito;

• pós-tematização ou ancoragem diferida – trata-se de uma denominação tardia do objeto descrito, que muitas vezes só aparece no final da sequência descritiva. Em:

[9] Antigas mangueiras que confortam com sombras imensas. Belém é a cidade do descanso,

“Belém” é o pós-tema, já que se trata do objeto descrito denominado só depois de uma prévia caracterização;

• retematização ou reformulação – diz respeito a uma retomada do objeto com outra denominação, reenquadrando o “todo” apresentado na sequência descritiva. Voltando ao exemplo [9], acima, a expressão “cidade do descanso” é a retematização de “Belém”.

Operações de aspectualização

A macro-operação de aspectualização fundamenta-se na tematização e constitui-se de duas operações, explicitadas a seguir:

• fragmentação ou partição – refere-se à seleção de partes do objeto descrito, como ocorre neste exemplo:

[10] Em Belém, as lindas e floridas alamedas, as árvores enormes e cheias de frutos, as casas portuguesas do século 19 com seus portões austeros contrastam com os modernos arranha-céus e com as imensas chaminés que saem das fábricas nervosas.

Nesse trecho, o objeto descrito (Belém) é fragmentado em partes que o caracterizam (alamedas, árvores, casas portuguesas, arranha-céus, chaminés de fábricas);

• qualificação ou atribuição de propriedades – apresenta propriedades do objeto e/ou das partes selecionadas na operação de fragmentação. No exemplo [10], acima, observamos a descrição de propriedades das partes que compõem a cidade de Belém:

lindas e floridas alamedas; árvores enormes e cheias de frutos; casas

portuguesas do século 19 com seus portões austeros; modernos arranha- céus; imensas chaminés; fábricas nervosas.

Operações de relação

As operações de relação configuram-se em duas operações, a saber:

• relação de contiguidade – refere-se às relações de contiguidade temporal ou espacial estabelecidas entre o objeto do discurso e outros objetos que podem se tornar o tema de uma sequência descritiva. A relação de contiguidade temporal pode ocorrer na situação de um objeto descrito em um tempo histórico ou individual:

[11] A pré-adolescência permitia ver tudo em cores fortes, alegres, gritantes.

A Belém da minha época era banhada – ou melhor, inundada – pelo amarelo das luzes de rua.

Já a relação de contiguidade espacial ocorre, por exemplo, entre uma fotografia que expressa um cenário que se articula com um texto que descreve um objeto ou,

ainda, entre um objeto e um personagem. Em relação a este último caso, de acordo com Adam (2011 [2005], p. 222), “a contiguidade espacial de um objeto e de um personagem pode ser tão forte que o objeto se torna parte tão constitutiva do todo quanto uma parte do corpo. O chapéu e a bengala de Carlitos, a mecha e o bigode de Hitler, o cachimbo de Popeye [...]”;

• relação de analogia – ocorre quando lançamos mão da comparação para descrevermos um objeto. O exemplo abaixo ilustra essa relação:

[12] Belém é tão bonita quanto Passárgada.

Operações de expansão por subtematização

Essa operação ocorre pela expansão da descrição por meio do acréscimo de operações mencionadas anteriormente: tematização, aspectualização, relação:

[13] Belém, cidade das mangueiras. Linda como Passárgada.

Tematização: Belém (pré-tema)

Aspectualização: cidade das mangueiras Subtematização: linda

Relação: como Passárgada

A descrição expositiva, por sua vez, descreve procedimentos, tal qual ocorre, por exemplo, em manuais de instrução, e também se constitui em duas macroproposições: introdução e procedimentos. A introdução apresenta um objeto; os procedimentos explicitam os passos adotados para responder perguntas do tipo “como proceder ou como fazer tal coisa” (ASKEHAVE; NIELSEN, 2004, p. 28), conforme explicitado em [14]:

[14] Este é o fórum de dúvidas (introdução). Para apresentá-la, clique no botão “Acrescentar um novo item” (procedimento).

Já a sequência narrativa pode basear-se na estrutura de um conto, na qual encontramos uma situação inicial, que desencadeia um processo marcado por um conflito ou complicação, seguido por uma resolução, que “elimina o problema, põe fim ao conflito e traz de volta a situação original ou inicia uma nova série de ações” (ASKEHAVE; NIELSEN, 2004, p. 28).

Adam (2011 [2005], p. 225) assinala que a narração consiste na apresentação de fatos reais ou imaginários, constituídos de ações ou eventos. As ações são caracterizadas pela intervenção de agentes humanos ou seres antropomórficos, que provocam ou evitam mudanças. Os eventos, por sua vez, ocorrem “sem intervenção intencional de um agente”.

Para o autor, as sequências narrativas apresentam diferentes graus de narrativização e, assim, constroem-se por meio de simples enumerações de eventos e ações (o que configura uma baixa narrativização) ou por meio de uma trama que se desencadeia em uma estrutura hierárquica composta de cinco macroproposições:

• situação inicial – consiste em uma sucessão de eventos situados antes do núcleo do processo narrativo;

• nó – traduz-se por um elemento desencadeador do processo narrativo e transforma a situação inicial;

• re-ação ou avaliação – procura restaurar o equilíbrio da situação inicial; • desenlace – constitui a resolução ou o desfecho para o processo narrativo

iniciado com a transformação da situação inicial;

• situação final – apresenta a nova situação decorrente da conclusão do processo narrativo.

No exemplo a seguir, observamos tais etapas:

[15] Na manhã de sol em que os amigos se reuniam para contar lorotas em forma de façanhas heroicas e descabidas, a fumaça do churrasco tomava conta do quintal da casa e a música alegrava o ambiente (situação inicial). De repente, um estrondo fez os presentes levantarem de súbito do lugar que ocupavam, em meio a uma escuridão repentina (nó). Atordoados, procuravam razões para aquela situação e tentavam acalmar uns aos outros com frases de otimismo (reação). Mas era tarde: o fogo que veio do nada tomou conta de todo o ambiente, matando os que ali estavam, exceto Maria Elisa, que escapou intacta – sabe-se lá por que – (desenlace) e agora, catatônica, vagava na rua deserta, pensando no que iria dizer aos convidados que ainda não haviam chegado (situação final).

A sequência argumentativa estrutura-se, conforme explicam Askehave e Nielsen (2004), nas seguintes macroproposições:

• dados – referem-se às premissas a serem contestadas;

• inferências – nem sempre explicitadas no texto, podendo ser captadas pelo sentido que nele se instaura;

• conclusão – evidencia a tese defendida ou uma refutação à premissa anteriormente apresentada.

Adam (2011 [2005]) destaca que a sequência argumentativa tem como objetivo demonstrar ou refutar uma tese e, para tanto, parte de uma premissa nem sempre explícita e procura, por meio de argumentos, apresentar as relações existentes entre essa premissa e uma conclusão, que consiste na tese ou refutação de uma tese adversária. Nessa sequência, o locutor tem como finalidade convencer o interlocutor de uma determinada ideia e, desse modo, vale-se de procedimentos diversos – linguísticos ou não – para apresentar esses argumentos.

A seguir, observamos um exemplo de sequência argumentativa:

[16] Não sou um professor antiquado (dado). De fato, não utilizo computadores e recursos tecnológicos em minhas aulas (inferência), mas abordo assuntos polêmicos atuais, que contribuem para ampliar a visão dos alunos sobre muitos temas contemporâneos controversos, como, por exemplo, a homossexualidade (conclusão).

Nesse caso, temos que o dado consiste em uma resposta a uma tese anteriormente formulada: “O professor é antiquado”. A inferência emerge da frase “De fato, não utilizo computadores e recursos tecnológicos em minhas aulas” e formula-se na asserção “o professor que não utiliza computadores e recursos tecnológicos nas aulas pode ser considerado antiquado”. A conclusão, por sua vez, vem em forma de refutação à tese anteriormente formulada e fundamenta o dado apresentado no início da sequência: “Mas abordo assuntos polêmicos atuais, que contribuem para ampliar a visão dos alunos sobre muitos temas contemporâneos controversos, como, por exemplo, a homossexualidade”.

A sequência explicativa refere-se a uma unidade de texto composta pelas macroproposições causa e efeito, as quais representam uma relação configurada na estrutura por que (interrogativo) – porque (explicativo). De acordo com Askehave e Nielsen (2004), diferentemente da argumentação, a explicação não expressa claramente um julgamento de valor, apenas explicita que determinada causa gera um determinado efeito.

Complementando essa ideia, Adam (2011 [2005]) observa que essa sequência se estrutura em torno das seguintes macroproposições:

• macroproposição inicial – é, geralmente, subentendida e consiste em um objeto a ser explicado;

• problematização – é introduzida por um por que interrogativo;

• explicação – é introduzida por um porque explicativo e refere-se ao fechamento da sequência.

Este exemplo traz em si uma sequência explicativa:

[17] Nós somos os primeiros a utilizar essa tecnologia em sala de aula [macroproposição inicial que introduz o objeto a ser explicado: a utilização de uma determinada tecnologia], (problematização implícita: por que utilizar essa tecnologia?) porque nos preocupamos em motivar os alunos em seu processo de aprendizagem (explicação).

O teórico enfatiza que pode haver inversão na estrutura por que – porque, conforme demonstrado em [18]:

[18] É em razão de (porque) muito trabalho que não tenho como ir à Belém para as festas no final do ano.

Como podemos ver, a sequência explicativa “é em razão de muito trabalho” precede a problematização “por que não posso ir à Belém para as festas no final do ano?”.

Por fim, a sequência dialogal embasa-se na estrutura da conversação face a face, refletindo a interação entre falantes em uma situação comunicativa (ASKEHAVE; NIELSEN, 2004). De acordo com Adam (2011 [2005]), as macroproposições que compõem o diálogo são:

• a sequência fática de abertura – refere-se às intervenções fáticas de abertura, como, por exemplo, atos de saudação (bom dia, olá) ou de apresentação (meu nome é Karlene e o seu?);

• a sequência transacional – corresponde, de fato, ao assunto dialogado e “constitui o corpo da interação”, apresentando-se em pergunta, resposta e avaliação;

• a sequência fática de fechamento – diz respeito às intervenções fáticas de fechamento, tais como atos de despedida (até logo) ou de agradecimento (obrigada).

A sequência dialogal é ilustrada no exemplo a seguir:

[19] - Olá, tudo bem? - Tudo bem e você?

- Tudo indo... Você vai à palestra do professor americano hoje à tarde? - Não sei, talvez eu tenha reunião de departamento.

- Faça um esforço para ir, vai ser um evento produtivo! - Certo, farei o possível. Se eu puder, aviso você. - Ok, até já.

- Tchau.

Nesse caso, os três primeiros turnos contêm uma sequência fática de abertura (“Olá, tudo bem?”, “Tudo bem e você”, “Tudo indo...”). O terceiro turno, além das expressões de saudação, traz também o início da sequência transacional (“Você vai à palestra do professor americano hoje à tarde?”), que continua até o sexto turno. Por fim, temos uma sequência fática de fechamento nos sétimo e oitavo turnos (“Ok, até já”, “Tchau”).

Askehave e Nielsen (2004) partem do modelo de sequências textuais de Adam para propor uma tipologia funcional de links, ressaltando que, ao conectarem um texto A (nó) a um texto B (âncora), atuam como macroproposições em uma sequência hipertextual. Em outras palavras, nessa conexão, formam um modelo semântico que desempenha a função de descrever, narrar, argumentar, explicar, dialogar.

As autoras apresentam duas categorias de links: os genéricos e os específicos. Os genéricos apresentam tópicos gerais, como ocorre, por exemplo, no link Contato, em uma homepage educacional: trata-se de uma expressão curta, que propicia acesso a um importante campo da instituição a que se refere. Geralmente, esses links aparecem no topo da página, trazendo em si uma informação em destaque, e são de natureza descritiva, cuja função é levar o navegador a identificar um tópico geral do site, como contato, produtos, fale conosco, entre outros. Os específicos, por sua vez, têm a função de apresentar ao navegador uma prévia do que verá em um texto B, evocando sua curiosidade. Trata-se de links contextualizados, que funcionam como um guia de leitura, que podem se inserir em qualquer uma das tipologias mencionadas: descrição explorativa, descrição expositiva, narração, argumentação, explicação, diálogo.

c) Estratégias retóricas

No modo de navegação, as estratégias retóricas são verbais ou visuais. As estratégias verbais são, por exemplo, o tipo de link utilizado: narrativo, argumentativo, descritivo etc., ou, ainda, um link apresentado como convite ou recomendação:

[20] Leia mais; Não deixe de consultar o programa da disciplina.

As estratégias visuais, por sua vez, são implícitas ou explícitas. São implícitas quando se deixam revelar apenas pelo cursor do mouse, como, por exemplo, o sublinhado que aparece quando passamos o cursor sobre um link ou, ainda, a mudança de cor de um link, também no momento em que deslizamos o cursor sobre ele. As estratégias visuais explícitas podem ser, entre outras, um ícone, como um envelope indicando o link que dá acesso à equipe de suporte, uma casa indicando o link que leva à página inicial do site, entre outros.

O modelo de análise bidimensional será empregado neste trabalho para a análise da homepage em disciplinas do curso Matemática – Licenciatura – Modalidade a Distância. A seguir, explicitamos as especificidades desse gênero digital.

No documento Karlene do Socorro da Rocha Campos (páginas 73-82)