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2.2 A LINGUÍSTICA TEXTUAL E A ARGUMENTAÇÃO

2.2.4 Texto, textualidade e textualização

2.2.4.4 Gêneros e tipos textuais

São incontáveis os textos que estão à nossa volta, que circulam em nossa sociedade. Os textos são produtos do nosso cotidiano e segundo Decat, em comunicação em sala de aula, suscetíveis a mudanças e adaptações conforme a necessidade de uso dos falantes. Já os tipos de textos são limitados quanto ao seu número e não partem de experiências sociais, estando mais ligados a forma.

Koch (2003) afirma que a competência sociocomunicativa do falante/ouvinte é que o conduz à distinção dos gêneros e, consequentemente, a sua competência textual permite-lhe saber quais sequências predominam em um texto para classificar o seu tipo. Há então uma capacidade metatextual, segundo ela, que provém do contato cotidiano do sujeito com os textos.

Obviamente, os falantes/ouvintes da língua têm a todo instante contato com algum texto, seja ele verbal ou não-verbal. Portanto, entende-se que tendo esse contato, todos eles desenvolvem certa capacidade de diferenciação entre um texto e outro por algumas peculiaridades de cada texto.

Essas especificidades próprias de cada texto são o veículo da comunicação, a linguagem utilizada, entre outras, que vão levar o falante/ouvinte a saber que não se trata de textos do mesmo gênero, ao encontrar-se com diferentes textos, mesmo que talvez ele não saiba ainda a definição do que é um gênero textual. Para Marcuschi:

A expressão gênero textual é usada como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. (MARCUSCHI, 2005, p. 22-23).

Dessa forma, os gêneros estabilizam as atividades comunicativas do nosso dia-a- dia, embora não seja uma materialização textual inflexível, sendo entidades sócio- discursivas bastante dinâmicas, segundo o autor. Provavelmente, por conta dessa maleabilidade é que os gêneros sejam de difícil definição formal, pois não se caracterizam por particularidades linguísticas e, sim, cognitivas e institucionais.

O grande número de gêneros possibilita circular na sociedade maior variedade linguística e ajuda a desfazer o abismo ainda existente entre a oralidade e a escrita, suscitando um hibridismo que [...] inviabiliza de forma definitiva a velha visão dicotômica ainda presente em muitos manuais de ensino de língua MARCUSCHI, , p. 21).

Já a expressão tipo textual é aquela que serve para designar uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição: aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção MARCUSCHI, , p. .

Observa-se, portanto, que se trata de uma definição relacionada à forma e suas características linguísticas e estruturais, o que traz certas limitações tanto para o ensino, quanto para a quantidade de tipos existentes, já que não parte de necessidades advindas dos falantes de se comunicarem, sendo uma estrutura fixa. Portanto, um tipo textual é caracterizado por traços que formam uma sequência e não um texto e quando o classificamos estamos nomeando o predomínio de um tipo de sequência.

É notável, porém, que num gênero textual encontremos geralmente mais de um tipo dessas sequências, cabendo ao gênero uma heterogeneidade que faz dele um instrumento importante para agirmos em situações de linguagem e ensino, potencializando a ação do falante/ouvinte, a ação do educador e do educando.

Desta forma, estabelecer a diferença entre Gênero textual e Tipologia textual é importante para direcionar o trabalho do professor de língua na leitura, compreensão e produção escrita. Gênero textual e Tipologia textual são conceitos que merecem maiores considerações, como as feitas por Marcuschi (2002). Este autor diz que em todos os gêneros os tipos se realizam, ocorrendo, muitas das vezes, de o mesmo gênero ser realizado em dois ou mais tipos. Ele apresenta uma carta pessoal como exemplo, e comenta que ela pode apresentar as tipologias descrição, injunção, exposição, narração e argumentação. Ele chama essa mistura de tipos presentes em um gênero de heterogeneidade tipológica.

Numa bula de remédio, por exemplo, que para Fávero e Koch (1983) é um texto injuntivo, temos a presença de várias tipologias, como a descrição, a injunção e a predição.

Aspecto interessante é ressaltar que os gêneros são artefatos culturais construídos historicamente pelo ser humano e não entidades naturais (MARCUSCHI, 2002). Um gênero, para ele, pode não ter uma determinada propriedade e ainda continuar sendo aquele gênero. Para exemplificar, o autor fala, mais uma vez, da carta pessoal. Mesmo que o autor da carta não tenha assinado o nome no final, ela continuará sendo carta, graças às suas propriedades necessárias e suficientes. Ele diz, ainda, que uma publicidade pode ter o formato de um poema ou de uma lista de produtos em oferta. O que importa é que esteja fazendo divulgação de produtos, estimulando a compra por parte de clientes ou usuários daquele produto. Ou seja, o que importa é que a publicidade apresente tema, forma composicional e estilo (BAKHTIN, 2003) característicos de um gênero dessa natureza. Bakhtin (2003) já caracterizava esse fenômeno como hibridismo.

Para Marcuschi, Tipologia textual é um termo que deve ser usado para designar uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição. Em geral, os tipos textuais abrangem as categorias narração, argumentação, exposição, descrição e injunção (BRONCKART, 1999). Segundo ele, o termo Tipologia textual é usado para designar uma espécie de sequência teoricamente definida pela

natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas (MARCUSCHI, 2002, p. 22).

Gênero textual é definido pelo autor como uma noção vaga para os textos materializados, encontrados no dia-a-dia, e que apresentam características sócio- comunicativas definidas pelos conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica.

Mas todo texto, independente de seu gênero ou tipo, não exerce uma função social qualquer? Marcuschi (2002) apresenta alguns exemplos de gêneros, mas não ressalta sua função social. Os exemplos que ele traz são telefonema, sermão, romance, bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio, etc.

Para Marcuschi (2002), Espécie de texto se define e se caracteriza por aspectos formais de estrutura e de superfície linguística e/ou aspectos de conteúdo. Ele exemplifica Espécie dizendo que existem duas, pertencentes ao tipo narrativo: a história e a não história. Ainda do tipo narrativo, ele apresenta as Espécies narrativa em prosa e narrativa em verso. No tipo descritivo ele mostra as Espécies distintas objetiva x subjetiva, estática x dinâmica e comentadora x narradora. Mudando para gênero, ele apresenta a correspondência com as Espécies carta, telegrama, bilhete, ofício, etc. No gênero romance, ele mostra as Espécies romance histórico, regionalista, fantástico, de ficção científica, policial, erótico, etc. Não sabemos até que ponto a Espécie daria conta de todos os Gêneros textuais existentes. Será que é possível especificar todas elas? Talvez seja difícil, mesmo porque não é fácil dizer quantos e quais são os gêneros textuais existentes.

Este autor discute, também, o conceito de domínio discursivo. Ele diz que os domínios discursivos são as grandes esferas da atividade humana em que os textos circulam MARCUSCHI, 2002, p. 24). Segundo informa, esses domínios não seriam nem textos, nem discursos, mas dariam origem a discursos muito específicos. Constituiriam práticas discursivas dentro das quais seria possível a identificação de um conjunto de gêneros que às vezes lhe são próprios, como práticas ou rotinas comunicativas institucionalizadas. Como exemplo, ele fala do discurso jornalístico, discurso jurídico e discurso religioso. Cada uma das atividades dentro das quais esses discursos se inserem (jornalística, jurídica e religiosa) não abrange gêneros em particular, mas origina vários deles.

Bakhtin (2003) já havia falado sobre a esfera como sendo um lugar social onde a língua é utilizada, sendo nessas esferas que são elaborados os gêneros do discurso. Ele cita esses discursos quando discute o que é para ele tipologia de discurso. Assim, ele fala dos discursos citados, mostrando que as tipologias de discurso usam critérios ligados às condições de produção dos discursos e às diversas formações discursivas em que podem estar inseridos FÁVERO; KOCH, 1987, p. 3).

Segundo Travaglia (1991),

[...] uma tipologia de discurso usaria critérios ligados à referência (institucional – discurso político, religioso, jurídico; ideológica – discurso petista, de direita, de esquerda, cristão etc.; domínios de saber – discurso médico, linguístico, filosófico etc.; à inter-relação entre elementos da exterioridade – discurso autoritário, polêmico, lúdico). (TRAVAGLIA, 1991, p. 454).

Marcuschi não faz alusão a uma tipologia do discurso. Nota-se semelhança de opinião entre esses autores quando falam que texto e discurso não devem ser encarados como iguais. Marcuschi considera o texto como uma entidade concreta realizada materialmente e corporificada em algum Gênero textual MARCUSCHI, 2002, p. 24).

Discurso para ele é aquilo que um texto produz ao se manifestar em alguma instância discursiva. O discurso se realiza nos textos MARCUSCHI, 2002, p. 24) e o texto é o resultado dessa atividade comunicativa. O texto, para ele, é visto como uma unidade linguística concreta que é tomada pelos usuários da língua em uma situação de interação comunicativa específica, como uma unidade de sentido e preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente de sua extensão (MARCUSCHI, 2002).

Para concluir, considero que vale a pena pontuar que as considerações feitas por Marcuschi (2002) em defesa da abordagem textual a partir dos Gêneros textuais estão diretamente ligadas ao ensino. Ele afirma que o trabalho com o gênero é uma grande oportunidade de se lidar com a língua em seus mais diversos usos autênticos no dia-a- dia. Cita os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), dizendo que apresentam a ideia básica de que um maior conhecimento do funcionamento dos Gêneros textuais é importante para a produção e para a compreensão de textos.

Marcuschi (2002) diz que não acredita na existência de Gêneros textuais ideais para o ensino de língua. Ele afirma que é possível a identificação de gêneros com

dificuldades progressivas, do nível menos formal ao mais formal, do mais privado ao mais público e assim por diante.